Após eliminação na Copa do Brasil, Vasco foca na SAF e prepara transição com a 777

Ainda juntando cacos após a eliminação precoce na segunda fase da Copa do Brasil para a Juazeirense, o Vasco reúne seu Conselho Deliberativo hoje (10), a partir das 18h, de forma presencial e online, para mais um importante capítulo em sua tentativa de construção da Sociedade Anônima do Futebol. Enquanto aguarda o desfecho, o clube já se alinha com os executivos da 777 Partners – empresa disposta a comprar a SAF – e monta um comitê de transição.

Os norte-americanos, inclusive, são aguardados na próxima semana no Rio de Janeiro para se encontrarem com os dirigentes vascaínos e acompanhar ainda mais de perto o trabalho que tem sido feito.

Embora estejam nos Estados Unidos, eles estão à par de todas as movimentações que têm sido feitas, inclusive em relação à utilização dos R$ 70 milhões que a empresa transferiu como “empréstimo-ponte”, onde o clube regularizou salários, pendências com fornecedores e acordos com o Governo Federal.

Há também em curso o chamado “due diligence”, que significa “diligência devida” e que consiste num processo onde são levantados vários tipos de informações. Essas informações envolvem a contabilidade, patrimônio, questões jurídicas, processos, atividades, perspectivas futuras, entre outras questões.

Na reunião de hoje, o Conselho Deliberativo votará sobre o rito a ser seguido pelo órgão no processo de possível formatação e venda da SAF do clube (mais detalhes abaixo).

Reforços serão discutidos

O empréstimo-ponte de R$ 70 milhões trouxe alívio e fôlego ao Vasco, que conseguiu deixar o clube em dia com seus compromissos. No entanto, mesmo com o momentâneo fim da asfixia financeira, o Cruz-Maltino ainda precisa de mais R$ 50 milhões para não fechar no vermelho em 2022. E a saída mais viável, principalmente depois da eliminação precoce na Copa do Brasil, será a venda de jogadores.

Atualmente, a análise da comissão técnica é de que o time é competitivo para a Série B, embora necessite de reforços pontuais. Porém, não está descartada a possibilidade de contratações de maior peso com a ajuda da 777 Partners. Isso tudo, no entanto, ainda será discutido.

“Não existe ainda uma definição quanto a contratações futuras. Elas podem acontecer. É fato. Vai depender de entendimentos entre a 777 e o Vasco. Se for necessário fazer esse investimento, vamos levar a eles. Teoricamente, o dinheiro do empréstimo é para cobrir o fluxo de caixa. Temos um déficit de R$ 120 milhões. Mas nada impede de que eles antecipem recursos para investirmos no futebol, se o entendimento for que isso é necessário”, disse o presidente Jorge Salgado.

Assunto Maracanã também já foi abordado com a 777

Outro tema importante que já foi debatido com os executivos da 777 Partners é em relação ao Maracanã. Antes do processo de elaboração da SAF, o Vasco já havia sinalizado a vontade de participar da administração do estádio em uma nova licitação que será lançada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. O clube entende que, mesmo com a possível ampliação e modernização de São Januário, jogos de maior apelo necessitarão do “Maior do Mundo”.

Os americanos concordaram com o posicionamento e pretendem seguir com o projeto caso assumam, de fato, a SAF.

Segundo o presidente do Vasco, Jorge Salgado, atualmente o Flamengo vê com bons olhos a parceria, mas o Cruz-Maltino ainda busca entendimento com o Fluminense.

“O Vasco jogou no Maracanã em praticamente toda sua existência. E de repente o Vasco não está mais no Maracanã. Isso é um fator de enfraquecimento do Vasco, no meu entendimento. Temos que voltar para o Maracanã. Não é uma coisa simples e fácil. Primeiro estamos tentando voltar através da diplomacia e do entendimento entre os clubes”, declarou Salgado, complementando:

“O Flamengo seria favorável à volta do Vasco ao Maracanã. O Fluminense coloca algumas dificuldades, já está lá dentro, acha que será difícil três clubes presentes ao mesmo tempo. Eu acho que tem solução para os três clubes. Vamos procurar esse entendimento e vamos esgotar isso até quando pudermos. Depois, se não houver o entendimento, nós vamos ver o edital e avaliar em que condições a gente pode participar e voltar ao Maracanã.”

Reforma de São Januário interessa à 777, mas não está em contrato

Outro ponto já abordado com os executivos da 777 Partners se refere à reforma de ampliação e modernização de São Januário. Contratualmente, está estabelecido apenas que o estádio segue como propriedade da parte associativa do clube, mas com acordo de arrendamento e custeio do patrimônio.

Documentalmente não há nenhuma obrigação da empresa em custear as obras de São Januário, mas há o interesse por parte dos norte-americanos de que isso ocorra. A reforma está orçada entre R$ 350 milhões a R$ 400 milhões.

“Conversamos sobre São Januário com a 777. O estádio vai permanecer com o Vasco. Eles entendem, como nós, que São Januário é um estádio antigo e precisa passar por uma modernização. Eles estariam dispostos a fazer um investimento para essa modernização. O estádio de São Januário certamente vai passar por uma modernização”, disse o presidente Jorge Salgado, complementando que, independentemente do investimento ou não da empresa, ele quer iniciar a reforma antes do fim de seu mandato:

“Essa modernização ainda vai ser discutida, vamos ver quais condições vão ser negociadas nesse contrato, se eles pretendem explorar o estádio ou não, qual será a cota dessa receita para o Vasco. Tudo isso será negociado. Independentemente disso, eu já vinha construindo, antes da 777, uma viabilização de um novo estádio em São Januário, que está bastante avançado. É a minha meta antes do final do mandato dar o pontapé inicial da reforma do estádio. Estou trabalhando firmemente nisso. Agora com os americanos, mas já vinha trabalhando internamente. É um passo importante que temos que dar”.

SAF pretende ter percentual de folha no patamar dos principais clubes

A meta da SAF do Vasco é a de que, após conseguir obter o sonhado retorno à Série A, utilize um percentual de receita para investimento na folha do futebol no patamar dos clubes mais competitivos do Brasil atualmente, com o objetivo de entrar diretamente na disputa por títulos já a partir de 2023, caso tudo dê certo na Série B desta temporada.

Hoje em dia, o Cruz-Maltino destina cerca de 36% a 37% de sua receita para tal. E o objetivo é que este percentual alcance ao menos 56% da arrecadação da SAF.

Segundo dirigentes vascaínos, a 777 Partners já demonstra amplo conhecimento da atual situação do clube e também seu potencial de crescimento. Ainda de acordo com os cartolas, um dos pontos para os norte-americanos decidirem pelo investimento é por eles considerarem o Cruz-Maltino uma “flagship” no Brasil, um termo em inglês muito utilizado no setor de marketing empregado à empresas consideradas “principais” em seus ramos.

O que será discutido no Conselho Deliberativo hoje?

Após aprovar por ampla maioria o empréstimo-ponte da 777 Partners, o Conselho Deliberativo do Vasco volta a se reunir hoje (10) de forma híbrida (online e presencial) em primeira chamada às 18h. À mesa estará uma proposta de rito a ser seguido pelo órgão para a possível formatação da SAF.

Uma vez com o rito aprovado, uma nova reunião será convocada com o objetivo de votar sobre a formalização de uma SAF 100% do Vasco bem como uma alteração pontual no estatuto para se evidenciar tal mudança. Se a maioria dos conselheiros aprovarem, a primeira Assembleia Geral será marcada e os sócios irão às urnas para concordar ou não com a decisão do Conselho.

Caso os associados aprovem, uma última reunião do Deliberativo será feita. Desta vez para decidir pela transferência em si de 70% da SAF para a 777 Partners. Tendo a aprovação, a derradeira Assembleia Geral será realizada com o objetivo dos sócios votarem pela venda ou não da Sociedade Anônima do Futebol aos norte-americanos.

Além dos R$ 70 milhões já depositados referentes ao empréstimo-ponte, a 777 Partners pretende investir mais R$ 630 milhões, sendo R$ 120 milhões já no ato da assinatura. A empresa também se compromete a assumir a dívida do clube avaliada em cerca de R$ 700 milhões.

Fonte: Uol