Luis Fernandes detalha ideias para o Vasco em entrevista ao Vasco Notícias

O candidato à presidência do Vasco da Gama, Luis Manuel Fernandes, reforçou o discurso pela busca da pacificação no Clube.

Luis Fernandes
Luis Fernandes (Foto: Divulgação)

Com um longo currículo dentro e fora do Vasco da Gama, o grande benemérito e ex-presidente do Conselho Deliberativo, Luis Manuel Fernandes, de 62 anos, foi o 3º a se colocar oficialmente na disputa pela presidência do Gigante na eleição que será realizada no final deste ano, depois de Leven Siano e Fred Lopes. O presidenciável, no entanto, tem adotado um discurso contra fazer campanha eleitoral durante a pandemia de Coronavírus.

Luis Manuel Fernandes é um professor e pesquisador universitário que já foi secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e do Ministério do Esporte, além de coordenador dos grupos executivos da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, competições disputadas em solo brasileiro. O candidato também foi presidente da FINEP por 2 vezes e diretor cinetífico da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).

Para conhecer mais sobre o candidato, o repórter Willams Meneses, do site Vasco Notícias, o procurou para uma entrevista exclusiva. Na longa conversa, Luis Manuel Fernandes, reafirmou a sua posição contra campanha eleitoral durante a pandemia de Coronavírus, reforçou o discurso de busca pela pacificação, e falou sobre as suas ideias para as finanças, aproximar a torcida, para segurar mais as joias da base, caminho para levar o Gigante de volta às glórias, reforma de São Januário, o que pensa em fazer para as demais modalidades e outros assuntos.

– Agradeço o convite para entrevista. Permita-me, em primeiro lugar, esclarecer que não considero adequado desenvolver atividades de campanha eleitoral no clube no contexto atual de escalada da pandemia. O Brasil e o mundo estão enfrentando uma verdadeira tragédia sanitária, que já vitimou milhares de vascaínos, alguns de grande notoriedade no campo da cultura. Fazer campanha eleitoral nesse contexto é fechar os olhos e o coração para o sofrimento e a apreensão que nos cerca. Todo o nosso foco deve estar centrado no enfrentamento da pandemia e das suas consequências. As atividades de campanha só devem ser retomadas quando a crise sanitária for superada e o processo eleitoral do clube for normalizado.

Você é o 3º a se colocar oficialmente na disputa pela presidência do Vasco. Como você avalia o 1º processo eleitoral do Clube sem a presença do ex-presidente Eurico Miranda, que tinha forte influência política, na questão de competitividade pela cadeira de presidente? Acredita numa eleição aberta e que vê como seu grande diferencial?

– As próximas eleições inaugurarão um novo período político no clube. A figura forte e polêmica do Eurico polarizou a vida política do clube por mais de três décadas, mesmo quando ele não era candidato a Presidente. Isso, de certa forma, estruturou e organizou a vida política do clube, opondo os que defendiam e atacavam a sua liderança. Após seu afastamento da presidência e posterior falecimento, a vida política do clube se fragmentou, com uma pulverização de grupos que continuam se degladiando de forma muito polarizada e radicalizada. Entendo que esse quadro de forte fragmentação prejudica muito o clube. Gera instabilidade política e incerteza institucional, o que afasta potenciais investidores. O que defendo é, justamente, a pacificação interna, e a unificação em torno de um projeto estruturante que inaugure um novo ciclo de recuperação e reerguimento do Vasco.

Depois de um tempo sendo especulado, você confirmou que irá concorrer à presidência do Vasco em entrevista concedida na semana passada. Nela, você se apresentou como um candidato com o discurso direcionado na busca pela pacificação do Clube. Como levar um ambiente político, que é repleto de divergências, para uma pacificidade sem que os integrantes se disponham de suas ideias para caminhar todos numa mesma direção?

– Entendo que a pacificação interna é a chave para superar a crise financeira do clube e a crise técnica dela decorrente no plano esportivo. Para tal, é necessário superar, igualmente, os posicionamentos movidos a ódio e preconceito ainda predominantes em muitos grupos políticos do clube. É necessário construir um polo de convergência programática, através do diálogo franco, aberto e construtivo. Tenho convicção que, mais do que possível, isso é absolutamente necessário. O fato de termos conseguido avançar nessa direção nas discussões sobre a reforma do Estatuto, gerando decisões consensuais ou de ampla maioria sobre temas importantes para a modernização do clube, indica que esse caminho é possível.

O Vasco passa por uma longa crise financeira, que tem tido um forte impacto no desempenho em relação ao futebol. São 3 quedas e diversas campanhas ruins num período de 15 ou 20 anos, e raros momentos onde a torcida pôde comemorar grandes campanhas. Como você vê a condução das finanças do Clube nos últimos anos e qual caminho você buscará, caso seja eleito, para levar o Vasco para uma tão esperada estabilidade financeira?

– O principal problema enfrentado pelo Vasco nos últimos anos foi a incapacidade de captar investimentos para alavancar receitas. O resultado foi o prolongamento e, mais recentemente, o agravamento da crise financeira do clube e consequente perda de competitividade esportiva. Nos balanços divulgados recentemente para o ano de 2019, o Flamengo registrou uma captação de receitas mais do que quatro vezes maior que a do Vasco. Temos de viabilizar a captação de investimentos substantivos em período relativamente curto para reverter essa assimetria. Não descarto a adoção de uma alternativa no formato de clube empresa para o futebol, desde que o Vasco mantenha o controle acionário e acerte com o seu parceiro um modelo eficaz de gestão empresarial.

Não é novidade que o Vasco possui uma das maiores torcidas do Brasil e do mundo. O Clube, inclusive, possui uma grande parte de seus torcedores fora do Rio de Janeiro. No entanto, é motivo de reclamação a dificuldade que o Vasco tem de se aproximar e valorizar o vascaíno que, mesmo distante, nutre um grande amor pelo Cruzmaltino. Existe algum projeto seu no sentido de estreitar a relação e trazer para si essas pessoas? Se sim, como pretende fazer?

– O Vasco é, efetivamente, um clube nacional. Quase 90% da sua torcida reside fora do Estado do Rio. Esse é um patrimônio fantástico, que se origina na divulgação dos feitos do Expresso da Vitória pela Rádio Nacional nos anos ’40 e ’50. É um patrimônio que tem de ser cultivado, valorizado e defendido. Isso exige uma ação integrada de comunicação e interação, e a constituição de novos canais para viabilizar a participação desses sócios e torcedores na vida do clube. A proposta de novo Estatuto prevê a criação de “embaixadas” do clube fora do Rio de Janeiro. A nova gestão deverá ativar essas embaixadas. Apresentei uma proposta de emenda ao Estatuto propondo que essas embaixadas pudessem se tornar locais de votação nas eleições do clube, usando, inclusive, urnas eletrônicas, desde que cedidas e monitoradas pela Justiça Eleitoral. Infelizmente, não houve quórum para aprovar essa emenda na reunião do Conselho Deliberativo. Mas essa proposta pode e deve ser retomada. Sou favorável a todas as medidas que facilitem a participação dos sócios de fora do Rio nos processos eleitorais do clube, desde que monitoradas e sancionadas pela Justiça Eleitoral.

As categorias de base são um grande patrimônio do Vasco. De lá saíram grandes craques como Roberto Dinamite, Edmundo e Romário, além de outros grandes jogadores recentes como Philippe Coutinho, Alex Teixeira, Paulinho, Douglas Luiz e Talles Magno. No entanto, quando o assunto é valores, o Cruzmaltino não é conhecido por vendas notórias ao longo dos anos. Como fazer o Clube se tornar um grande vendedor ou até conseguir segurar por mais tempo os seus talentos?

– O trabalho de base é fundamental tanto para qualificar o plantel do clube, quanto para o valorizar visando a geração de receitas. Mas para tal, é necessário consolidar o trabalho de formação na transição para o profissional, evitando a venda precoce de jovens promessas. Infelizmente, temos tido que acelerar a venda de atletas promissores em função da urgência de gerar recursos para tentar aplacar a crise financeira do clube. Para dar mais solidez e estabilidade ao trabalho de formação, é necessário articular esse “investimento” no trabalho de base com um plano emergencial de equacionamento da crise financeira do clube.

O sucesso de uma gestão envolve diversos fatores, mas acaba sendo muito atrelado, principalmente para os torcedores, pelo desempenho no futebol, o que acaba sendo decisivo em eleição. Então, acaba sendo um ponto essencial para ser trabalhado pelo candidato antes, durante e quando eleito presidente do Clube. Hoje, o que você pode dizer ao vascaíno que sonha em ver um Vasco forte novamente nos gramados? Com o que vem sendo trabalhado nos últimos anos e somado com as suas ideias, acredita ser possível brigar por coisas grandes num curto espaço de tempo?

– Como comentei anteriormente, não considero adequado desenvolver atividades de campanha no atual contexto de escalada da pandemia. Minha plataforma será apresentada no momento adequado, quando o calendário eleitoral do clube for retomado. Do ponto de vista conceitual, quanto mais rápido avançarmos na pacificação e unificação do clube, mais rápido avançaremos na sua reconstrução financeira e esportiva. Como também já comentei, entendo que o caminho que pode alcançar resultados mais expeditos e de forma sustentável é o estabelecimento de parcerias no formato clube empresa, sob controle do Vasco. É o equivalente esportivo das parcerias público-privadas.

Com o apoio da torcida, através de uma “vaquinha”, o Vasco está pondo em prática o projeto do sonhado CT. Como você projeta o crescimento do Clube nos próximos anos com a estrutura em funcionamento? Não mudando muito de assunto, agora sobre outro patrimônio, o que pensa sobre a ideia de modernizar São Januário? Tem trabalho em algo no sentido de trazer melhorias ao estádio?

– A construção do CT, evidentemente, é uma bela iniciativa. Diante da dificuldade de captar investidores para o projeto, o Vasco optou pelo caminho de captação descentralizada junto a sócios e torcedores. O mesmo modelo não é capaz de sustentar um projeto de modernização de São Januário. Ao longo dos últimos vinte anos, vi quatro projetos de reforma do nosso estádio serem apresentados e discutidos no Conselho Deliberativo. O último no ano passado. Todos esbarraram na mesma limitação – a inexistência de um investidor para bancar o projeto. Monitorei a construção dos doze estádios da Copa. Desenvolvi relações próximas com os consórcios construtores e gestores. É um capital que será mobilizado para viabilizar a reforma e modernização de São Januário, sem descaracteriza-lo. Exigirá, igualmente, um ousado plano de intervenção urbana para facilitar o acesso ao estádio e a melhoria da qualidade de vida das comunidades no seu entorno.

O Vasco é, historicamente, um clube poliesportivo, que está representado nas mais diversas modalidades esportivas, incluindo o paradesporto. Com a sua experiência no trabalho que realizou na Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016, como você vê o Cruzmaltino no cenário atual em relação à representatividade nos demais esportes? Em seu projeto, pensa em algo para fortalecer o Clube também longe dos gramados?

– Nosso carro chefe é o futebol, modalidade que desperta a maior paixão da nossa torcida. Mas enfraquecemos em demasia nossa participação em outras modalidades olímpicas e paraolímpicas. No remo, esporte de origem do clube, passamos de força hegemônica para o terceiro escalão. Não me conformo com o fim das atividades paraolímpicas. Desenvolvi uma ampla parceria com o COB e o Comitê Paraolímpico Brasileiro no período em que era responsável pela política esportiva do Governo Federal. Esses contatos podem ser canalizados, agora, para o estabelecimento de parcerias que fortaleçam as atividades de diferentes modalidades no clube, sobretudo em um período de restrições e recuperação financeira. Um canal que é explorado, igualmente, é a ampliação de parcerias com os centros responsáveis pelas atividades esportivas nas Forças Armadas, que tem forte presença no Rio de Janeiro.

Quando se fala em futebol, o natural é que a grande maioria pense em relação ao futebol masculino. No entanto, o Vasco possui uma bela história no feminino, tendo, ao longo de sua história, grandes jogadas como Pretinha e a Rainha Marta. Hoje, o Cruzmaltino ainda caminha para figurar entre as principais equipes do cenário nacional entre as mulheres, mas já é notável uma evolução recente. Há algum pensamento seu no sentido de fortalecer modalidade?

– O Vasco foi pioneiro no futebol feminino. No governo, apoiamos fortemente a expansão e consolidação dessa modalidade. Ela é, hoje, uma prioridade na atuação da CBF. O Vasco, e a sociedade, tem muito a ganhar com a ampliação dos investimentos no futebol feminino, e entendo que o momento é favorável para viabilizar esses investimentos.

Um assunto bastante abordado nesse início de campanha eleitoral no Vasco é em relação à entrada de dinheiro. Com o tamanho da sua fanática torcida, história grandiosa e com tudo o que representa no esporte como um todo, é visto que o Clube tem um grande potencial para conseguir receitas e amenizar a sua crise financeira. Quais são os seus planos relativos à captação e geração de novas receitas? Acredita que, mesmo com as cicatrizes causadas pela pandemia, será possível trazer investimento ao Cruzmaltino?

– Já abordei conceitualmente essa questão em respostas anteriores. Volto a esclarecer que apresentarei uma plataforma mais completa de ações integradas quando o calendário eleitoral for retomado no contexto da superação da pandemia. Os contatos que estabeleci com múltiplos atores envolvidos na Copa do Mundo, nos Jogos Olímpicos e em atividades de inovação empresarial apontam forte interesse em parcerias que viabilizem a recuperação do clube, embora as incertezas relativas ao cenário de retomada das competições esportivas gerem maior cautela quanto à tomada de decisões imediatas de investimento.

No final do ano passado, o Vasco viveu mais um momento inesquecível em sua história. A torcida realizou uma impressionante campanha de associação em massa que fez o Clube, em poucos dias, saltar de 33 mil para pouco mais de 180 mil sócios-torcedores, o tornando o clube com mais sócios na América Latina. No entanto, o Cruzmaltino tem encontrado dificuldade de manter esses associados, sendo que já perdeu muitos nos últimos meses. Como evitar uma queda ainda maior e manter o Sócio Gigante com grande aderência?

– Foi uma demonstração de força impressionante da nossa torcida. Eu entendi que o recado passado para a direção do clube foi o seguinte – “nós estamos fazendo a nossa parte para resgatar a grandeza do Vasco, façam a sua”. Infelizmente, o clube não se colocou à altura da mobilização da sua torcida. Na verdade, frustrou as suas expectativas, inclusive ao não canalizar a receita extra do Programa de Sócios para o pagamento dos salários atrasados de atletas e funcionários, como prometido. Na verdade, a situação se agravou. A consolidação e elevação do patamar de adesão ao Programa de Sócio Torcedor depende da reconexão do clube com o sentimento da sua torcida.

Voltando um pouco nos temas vascaínos de fora do Rio de Janeiro e os sócio-torcedores, um tema que em algumas oportunidades entra no debate da torcida é em relação ao direito ao voto. Qual a sua posição em relação ao direito ao voto para o sócio-torcedor e ao voto remoto, feito através da internet para abranger os torcedores que estão distantes de São Januário?

– Sou favorável à extensão do direito de voto para determinadas categorias de sócios-torcedores, alternativa que já foi cogitada no passado. Como mencionei antes, sou favorável à adoção de medidas para facilitar a participação de sócios residentes fora do Rio nos processos eleitorais do clube, incluindo o voto pela internet, desde que monitoradas e sancionada pela Justiça Eleitoral. Tivemos uma importante vitória na democratização da vida política do clube ao aprovar por unanimidade, na proposta de novo Estatuto, eleições diretas para presidente do Vasco, cabendo já no próximo pleito.

É possível perceber uma grande mobilização dos grupos pensando na eleição, que será apenas no final do ano. Espera-se que exista um grande número de pessoas lancem suas candidaturas à presidência, mas, dentro do processo, algumas uniões acabam acontecendo. Hoje, vendo os confirmados e possíveis concorrentes, deixa em aberto uma possível união ou descarta qualquer chance de se unir com outro candidato em busca de mais força na votação?

– Defendo a constituição de um polo de unificação e convergência de forças no processo eleitoral do clube. Isso, evidentemente, inclui a possibilidade de composição com outras pré-candidatura já lançadas ou aventadas.

O site Vasco Notícias reforça o seu compromisso com a torcida pela busca de uma eleição democrática no Vasco. Para isso, estamos cedendo espaço para ouvir todos os candidatos à presidência. Já foi ouvido por aqui anteriormente Fred Lopes e um dos nomes fortes da campanha de Leven Siano, Fabio Cordella, e logo chegará a vez do próprio presidencial. Há também sondagens com possíveis nomes que se lançarão na disputa, onde, através de mensagens, já foi manifestado o interesse em ouvi-los.

Obs. Texto produzido pela equipe Vasco Notícias. Reprodução não permitida.

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