Raio-X compara os estilos de Ramón Díaz e Bruno Lage

O argentino Ramón Díaz e o português Bruno Lage foram contratados por Vasco da Gama e Botafogo, respectivamente.

Bruno Large e Ramón Díaz são as apostas de Botafogo e Vasco
Bruno Large e Ramón Díaz são as apostas de Botafogo e Vasco (Foto: Arthur Barreto/Botafogo e Divulgação/Al-Hilal)

Com dois objetivos completamente distintos, Botafogo e Vasco foram ao mercado internacional para trazer, quase simultaneamente, os novos comandantes após as saídas de Luís Castro e Maurício Barbieri. Enquanto o alvinegro, líder do Brasileirão e focado em manter a alta performance da temporada intacta, buscou um nome da nova geração de técnicos portugueses, o Vasco apostou num dos maiores expoentes do futebol argentino para tentar reverter uma campanha de luta contra o rebaixamento. Dois treinadores sem medo de ser ofensivos, que compartilham certas propostas, mas separados por estilo e experiências.

Apresentado nesta quarta-feira, Lage falou em fazer uma “transição pacífica” em relação ao que era o time de Luís Castro. Até aqui, as circunstâncias permitem muito otimismo: as ideias do português de 47 anos batem em boa medida com o praticado pelo alvinegro neste Brasileiro. Jogo direto, rapidez na criação no campo de ataque, movimentação intensa. Sem Castro, o time mostrou muita consciência para manter a consistência de performance sob o comando de Cláudio Caçapa, que entendeu rapidamente o arsenal da equipe que assumiu interinamente.

— Gosto de ver uma equipe agressiva no ataque. Isso depende muito dos jogadores. Já senti que os jogadores do Botafogo têm esse perfil. Não me interessa se perdemos muito tempo tocando a bola, variar o jogo. É importante que a equipe tenha essa agressividade quando chegar ao terço final. Esses jogadores são fortes nisso. Preciso sentir que somos agressivos no terço ofensivo — afirmou Lage em sua apresentação.

O comandante alvinegro vem de uma nova onda de técnicos portugueses, a mesma de Abel Ferreira, por exemplo. Formada principalmente pela aposta dos times grandes e com melhor estrutura de Portugal — no seu caso, o Benfica — em profissionais oriundos de categorias de base ou de times B, com perfis mais voltados para o do “estudioso da bola”. Em seu perfil no Instagram, Lage exibe vários dos gols e boas jogadas das equipes que comandou, fazendo breves análises de ideias e de conceitos aplicados.

Ramón e os problemas do Vasco

Do outro lado da cidade, está um técnico da velha guarda, mas também um dos raros casos de “medalhão” que se atualizou com certo sucesso. O gap geracional que separa Bruno Lage de Ramón Díaz, de 63 anos, não se reproduz no repertório e na forma de pensar futebol. Dos técnicos de sua geração, foi quem conseguiu melhor implantar os conceitos modernos do jogo em seu próprio estilo. Não à toa, é o treinador argentino mais vitorioso da história.

De Díaz e de seu filho e auxiliar, o fiel escudeiro Emiliano, o torcedor do Vasco pode esperar uma presença forte no vestiário e muito estudo. Em especial dos adversários, alvos de uma estrutura de observação e análise montada por Ramón nos times que assume. O técnico e o elenco assistirão onde acertam, erram e o mesmo em relação aos seus rivais.

Ao contrário de Lage, o cenário não é favorável. O time cruz-maltino sofre com uma evidente falta de confiança em campo. Será preciso reconstruir essa característica antes de aplicar suas ideias de construção de jogo. A intensidade física que marcou o Vasco no início deste Brasileiro também precisa ser recuperada. É algo muito valorizado pelo novo treinador.

Taticamente, o que há de comum e o que difere os treinadores

Lage e Ramón trazem para Botafogo e Vasco ideias de jogo ofensivo, mas sustentadas em modelos de equilíbrio, cada qual à sua maneira. Os dois gostam de espaçar o campo, na sempre mencionada amplitude. Laterais e pontas têm muita liberdade para ganhar território até colarem à linha lateral e se aproximarem da linha de fundo. São eles que se movimentarão rapidamente e trabalharão com os meias e volantes, que atuam por dentro, para encontrar os espaços nas jogadas de ataque.

No caso do português, o natural é uma execução mais rápida, de troca de posições, triangulações e passagens em profundidade. Com o argentino, os jogadores abertos tendem a ter mais liberdade para tentar o um contra um, um último passe ou acionar um meia e entrar na área em movimento diagonal para receber rumo ao gol — jogada que se iguala mais às de Lage.

O resultado dessa obsessão pelo gol da dupla está nas campanhas recheadas de redes balançando: o Al-Hilal de Díaz terminou a temporada da liga saudita com médias de 1,8 gol e 3,4 grandes chances criadas por jogo. Foram 54 gols marcados na última edição da liga e mais de 100 ao longo de toda a passagem. No Benfica, numa liga mais competitiva, Lage viu seu time igualar o recorde (de 1964) de gols marcados em uma única temporada do Campeonato Português, com 103. Naturalmente, terminou campeão.

Na construção, os times de Lage procuram o campo de ataque a todo momento (lançamentos, passes longos, trocas curtas de passe), enquanto os de Ramón são mais pacientes, com grande participação dos volantes, sejam aqueles com características criativas ou os mais dinâmicos — ele chegou a escalar um atacante, Carrillo, para a função no último Mundial de clubes.

Já na defesa, o argentino tende a buscar maior agressividade (são mais de 15 desarmes por jogo), fechando zonas de passe — embora já tenha defendido de forma mais pragmática e compacta, com duas linhas de quatro, quando comandou a seleção do Paraguai — enquanto Lage defende com mais cautela, esperando o adversário mais perto do primeiro terço. No Wolverhampton, usava uma linha de cinco, com três zagueiros.

Experiência

Os dois vêm ao Brasil para suas primeiras passagens — Ramón não chegou a comandar o Botafogo em 2020 — em momentos totalmente diferentes das carreiras. Procurado por clubes de dentro e fora do país, Bruno Lage está em seu quinto ano comandando um time profissional após galgar espaço e chegar ao time principal do Benfica em 2019. O Botafogo será sua terceira equipe, depois de passagem pela Premier League, no Wolverhampton, que acabou não engrenando. Terá longos anos pela frente para desenvolver ainda mais sua identidade de jogo e construir uma carreira ainda mais sólida, como vinha fazendo em Portugal. Ter sucesso num projeto como o do alvinegro pode ajudar muito nesse sentido — mas terá de lidar com a responsabilidade de manter na liderança um time que hoje tem dez pontos de vantagem para o segundo colocado.

Ramón, por sua vez, é uma das grandes lendas do futebol sul-americano. São 28 anos de carreira, quase 15 clubes diferentes e premiações que vão da Libertadores de 1996 a sete títulos argentinos. Por mais que seu jogo tenha passado por mudanças, segue muito perceptível a influência da escola argentina em seu estilo, uma capacidade dos jogadores de entenderem rapidamente o que fazer com poucos toques após dominar a bola — foi como construiu, até 2014, as bases de um multivitorioso River Plate, que seria assumido por Marcelo Gallardo. Vem de uma empreitada num mercado alternativo e agora busca enfim realizar a vontade de tinha de trabalhar no Brasil, mas numa missão ingrata: ajudar a virar a chave no projeto da SAF vascaína, ameaçado por mais uma chance de rebaixamento e muita instabilidade. Se conseguir, tem tudo para virar herói de mais uma torcida.

Fonte: O Globo

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2 comentários
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    Concordo c td q foi falado pelo camarada LIBERATO, e, ainda dg + q essa diretoria SaFada

  • Responder

    Parte da torcida é levada por uma paixão que beira ao incontrolável da razão .veja o caso do treinador Luiz Castro que no principio de seu trabalho foi questionado , mas teve tempo de implantar a sua filosofia de trabalho e seu sistema tático que consiste em ocupar todo espaço do campo com jogadores não esperando seus adversários atacar sem ser combatido e na antecipação das jogadas saindo em rápidos contra ataque pegando seus adversários desprevenido com jogadas rápidas em bloco de 4 a 5 , sistema que faz do Botafogo que pode não ter o melhor elenco , mas tem o melhor time ,os resultados tem mostrado isto ,pois sabemos que elenco é diferente de time .Elenco tem o Flamengo e Palmeiras ,time é a união de todos em um só objetivo .Pois bem treinador a cima de tudo é profissional não torcedor e Luiz Castro depois de tantos sucessos , foi vaiado em sua despedida por parte da torcida alvinegra por ter ele aceitado uma melhor oferta de trabalho , mais pelo legado deixado , pelo sistema que tem sido vitorioso implantado deveria ter sido aplaudido .O que chega , não deve procurar mudar e , sim manter o que está dando certo .Quanto ao que chega no Vasco ,vai encontrar um elenco que si não é espetacular pelo menos não fica atrás dos quinze entre os vinte que estão na seria A , mas vai encontrar um time estraçalhado ,física , emocional e psicologicamente ,vai começar do zero no meio de um campeonato ,vai ter que extrair água de pedreira ,afinal foram sete meses em que uma diretoria inerte e um treinador fraco a jogar o Vasco de volta a serie B , meio ano jogados fora .

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