Com campanhas similares, Vasco e Sport fazem confronto direto e decisivo pelo acesso

Vasco da Gama e Sport têm algumas semelhanças nas campanhas desta Série B e se enfrentam em momento decisivo na competição.

Raniel em ação pelo Vasco contra o Sport
Raniel em ação pelo Vasco contra o Sport (Foto: Daniel Ramalho/CRVG)

Sport e Vasco construíram suas campanhas nessa Série B com algumas semelhanças. E foram essas similaridades que fizeram os times chegarem tão próximos na reta final do campeonato.

  • Tiveram três treinadores diferentes ao longo da campanha;
  • Foram mais fortes, mais consistentes e mais seguros na defesa durante o 1º turno;
  • Mesmo quando tinham melhor aproveitamento entregavam um desempenho questionável;
  • Sofrem pra pontuar quando jogam fora de casa
  • Devem boa parte dos pontos ao apoio de suas torcidas quando jogaram em seus domínios

Ambos se enfrentam domingo, às 16h, na Ilha do Retiro. Confronto direto e decisivo pelo acesso.

O Sport iniciou a Série B com Gilmar Dal Pozzo, que havia herdado um sistema defensivo muito seguro e sustentava sua pontuação, mas tinha uma imensa limitação ofensiva, com baixíssima criatividade e finalização em gol.

Cenário parecido ao do Vasco com Zé Ricardo, num momento de muita força na defesa. Era difícil achar espaço para avançar diante da equipe cruzmaltina.

Mas essa força ficou pelo caminho e os dois times se tornaram mais vulneráveis, por razões diferentes.

No Sport, a saída de Maílson – jovem e talentoso goleiro – e a lesão de Rafael Thyere fizeram a solidez defensiva desabar, especialmente pela insegurança dos dois goleiros que mais jogaram no returno.

Carlos Eduardo fez apenas quatro jogos, o suficiente pra sofrer dez gols, dois a mais que Maílson em todas as 19 rodadas iniciais.

Saulo, o atual titular, fez dez partidas e tomou nove – com um detalhe importante para a análise: o Sport é um time que permite pouquíssimas finalizações em direção ao gol e o atual arqueiro rubro-negro tem um número baixíssimo de defesas.

No Vasco, a solidez desenhada por Zé Ricardo, foi se perdendo com o tempo.

Maurício Souza e o interino Emílio Faro não sustentaram a força defensiva da equipe.

É verdade que Thiago Rodrigues vem oscilando. Um dos destaques da primeira metade do campeonato, o goleiro passou a cometer algumas falhas decisivas que ampliaram os gols sofridos.

Apesar dessa semelhança em relação aos goleiros, é justo pontuar que Thiago ainda é muito mais confiável que Saulo.

Essa capacidade defensiva não se repetia no ataque e os dois times mostravam limitações para agredir o adversário.

Essa pobreza ofensiva custou o emprego de Dal Pozzo, depois de uma sequência de cinco jogos sem vencer, mas, já antes, o Leão se mostrava inofensivo com a bola nos pés e muito dependente das boas atuações de Luciano Juba – destaque do time na primeira metade que acabou caindo de rendimento no returno.

O mesmo caminho de Nenê. O maior nome do elenco vascaíno se mostrou extremamente decisivo, com passes e gols durante boa parte do campeonato. Só que passou a oscilar, apesar de ainda aparecer bem em alguns jogos recentes.

O aproveitamento como mandante é o grande responsável pela boa campanha das duas equipes.

Empurrados por seus torcedores, Sport e Vasco se mostram muito mais fortes em casa: 40 dos 52 pontos rubro-negros foram como mandante.

Já o Vasco somou 39 dos 55 ao lado de seu torcedor – com um detalhe importante: dos 16 pontos conquistados como visitante, o Gigante da Colina fez 13 no 1º turno e vinha de oito derrotas consecutivas fora do Rio de Janeiro, sequência quebrada diante do Operário na penúltima rodada.

Como jogam os times

Por mais que as duas equipes sigam oscilando, aparentemente Claudinei Oliveira e Jorginho encontraram um rumo.

Os times ganharam uma forma mais bem definida e se equilibraram melhor recentemente, mas ainda sem estabilidade ou garantia de bom rendimento.

O Sport ganhou reforços importantes na última janela de contratações, especialmente no ataque, a grande carência do elenco no ano.

Os pontas Wanderson e Labandeira e os centroavantes Vagner Love e Gustavo Coutinho deram poder de fogo ao time e, apesar da lentidão pra definir sua linha de frente ideal, Claudinei encaixou três dos quatro recém-contratados no time titular.

Só Wanderson segue como opção no banco e sempre entrega boas atuações quando entra.

O time, via de regra, alterna entre um 4-2-4 ou 4-4-2, com um losango no meio-campo.

Nas últimas partidas, com Labandeira ganhando a vaga na escalação inicial, passou a jogar de forma mais recorrente no 4-2-4.

Nessa formação, Ronaldo e Fabinho (que faz grande campeonato) são os responsáveis por fortalecer a marcação no meio e iniciar jogadas, com Fabinho tendo maior liberdade pra sair e aparecer pela direita na construção de jogadas.

Na frente, Labandeira ataca e recompõe pela direita, Juba tem a mesma função na esquerda, mas com características diferentes.

O uruguaio é mais agressivo, atacante de lado na essência.

Já o prata da casa tem mais cara de armador e boa finalização de fora da área.

Por dentro, Coutinho joga mais infiltrado entre os zagueiros, com boa mobilidade em momentos específicos da partida.

Enquanto que Vagner Love aproveita sua capacidade de passe e circula mais, recuando e construindo jogadas.

Vale citar também a chegada de Eduardo, lateral-direito que encaixou bem na equipe, tanto na marcação quanto em algumas boas chegadas ao ataque.

A defesa ganhou mais segurança com a recuperação de Rafael Thyere, mas seu sistema defensivo precisa jogar sempre no limite, já que a insegurança do goleiro Saulo não permite vacilos e transforma qualquer finalização do adversário em jogada perigosa.

O time ganhou mais aceleração na transição ofensiva, algo quase que inexistente na maior parte da Série B.

Mas, como se fosse um time ainda em formação, nem sempre funciona bem.

Na penúltima rodada, a vitória por 1 a 0 diante do Brusque, com atuação pobre, seguida por um ótimo jogo tático na vitória diante do Cruzeiro na partida passada, comprovam essa irregularidade.

Apesar desse resultado diante do já campeão da Série B, as características do Vasco indicam que o Sport precisará de uma nova estratégia.

Contra o Cruzeiro era um embate que o time precisava reduzir o potencial do adversário, pressionar a saída de bola, diminuir espaço na construção, ter atenção com a rápida virada de jogo e atuar sem a bola na maior parte do jogo – Sabendo que seria pressionado sempre que recuperasse a posse, mas que teria espaço se vencesse o primeiro combate da marcação cruzeirense.

O Vasco joga, pensa e executa diferente.

Adversários diferentes pedem soluções diferentes.

As últimas três rodadas parecem ter sido de descobertas para Jorginho.

Ele, enfim, percebeu que Quintero havia caído bruscamente de rendimento e Boza ganhou a vaga (mas sua oscilação também preocupa).

O treinador também desistiu de encaixar Nenê e Alex Teixeira, algo que claramente não funcionou. Na sequência, também percebeu algo que gritava desde o início do campeonato: Nenê e Raniel juntos tiravam intensidade na pressão exercida lá no ataque, além da grave deficiência de finalização do centroavante.

No Vasco, os garotos tomaram conta do jogo.

Eguinaldo (18 anos) mostrou grande capacidade pra atuar pelo lado do campo, especialmente na esquerda. Antes centroavante, o garoto tem virtudes que facilitaram sua escalação deslocado para a ponta: habilidoso, rápido, constrói jogadas e, apesar de não ter tido um trabalho de base sólido, mostra bons fundamentos, como a finalização, passe e inteligência pra identificar a melhor jogada.

O versátil Marlon Gomes (18 anos) tem responsabilidades parecidas com as de Fabinho do Sport (mais uma semelhança entre as equipes).

O garoto é formado como segundo volante, joga na ponta direita e, até, como um meia armador mais avançado por dentro, além de ter sido responsável por construir jogadas na ponta esquerda em alguns momentos nessa Série B e também já ter jogado na lateral direita, principalmente na base.

Marlon é um jogador camaleão, sua capacidade de adaptação e leitura de jogo facilitam e fazem o jogo do Vasco fluir. Quando atua pela faixa direita do campo, pode alternar entre um ponta, numa formação de 4-2-3-1, ou sendo o médio numa estrutura de 4-4-2 em losango.

Na última partida, Jorginho ensaiou um ataque mais móvel, sacou Raniel e escalou Figueiredo, reposicionou Eguinaldo e, apesar de não ter sido um grande primeiro tempo e o próprio Figueiredo não ter tido boa atuação, acabou fazendo um golaço no finalzinho da primeira metade da partida e passa a impressão de ser um trio de ataque mais promissor desse atual elenco vascaíno no momento.

O time já não tem a mesma estabilidade defensiva do primeiro turno.

Gabriel Dias não convencia na construção, mas dava segurança na lateral direita, teve grave lesão e só volta em 2023; Quintero passava segurança na zaga e caiu de rendimento; a lateral esquerda ainda é um problema, Edimar marca mais que Paulo Victor, mas tem atuações bem ruins ao longo do ano e Thiago Rodrigues diminuiu seu nível de atuações no gol e vem acumulando erros mais recorrentes que anteriormente, principalmente em bola alçada na área.

O que não mudou ao longo do campeonato foi o alto nível de entrega e regularidade de Yuri, maior responsável por recuperação de posse de bola, que marca, fecha linha de passe, intercepta jogadas e trava aceleração do adversário o tempo inteiro.

O volante é a base do sistema defensivo da equipe.

Pra fechar a análise do Vasco, é preciso descrever uma das melhores notícias dessa Série B.

O surgimento de um garoto incrivelmente talentoso: Andrey Santos.

O elenco vascaíno tem garotos muito talentosos, mas Andrey é bem acima da média.

Versátil e inteligente, ele desarma, cria, tem explosão, finaliza e faz gol, costuma dominar o meio-campo e ditar o ritmo que deseja pra o jogo, parece ter 30, mas tem só 18 anos. Promissor demais.

Fatores em ação

O histórico das duas equipes indica um jogo marcado pelo equilíbrio.

Ambas se mostraram equivalentes em virtudes e defeitos. O gráfico de pontuação sempre foi muito similar.

Individualmente, a maior aposta do Sport são seus novos atacantes, sem esquecer Fabinho, seu mais regular e versátil meia.

O Vasco é sustentado por suas jovens revelações.

E, apesar de entregar menos constância, não dá pra excluir a possibilidade de Nenê voltar a ser decisivo.

A falta de boas opções no banco também preocupa dos dois lados.

No Sport, Wanderson acrescenta quando entra, as outras mexidas são sempre inconstantes.

No Vasco, Alex Teixeira ainda não chegou nem perto da expectativa criada com a sua volta, mas os dois gols na virada contra o Operário no penúltimo jogo podem significar um início de evolução (o jogador cumpriu suspensão na rodada passada). No mais, apenas Pec, reaparecendo nos últimos jogos, tem potencial pra mudar a cara de uma partida.

Um fator que não garante sucesso, mas aponta pra um favorecimento do Sport, é a Ilha do Retiro, onde o time é muito mais forte (ainda não perdeu em seu estádio nessa Série B), além desse histórico de insucessos do Vasco como visitante.

Em um jogo tão igual, qualquer desconforto que seja criado contra o adversário pode ser encarado como uma vantagem e, certamente, a Ilha será extremamente desconfortável ao Vasco.

O fator que favorece o Vasco é a posição na tabela de classificação. A urgência por vitória força o Sport a ter a iniciativa, é ele quem precisa mudar o cenário atual e exige uma postura mais audaciosa dos rubro-negros.

Jogando com essa urgência do adversário, o time da Colina precisa travar o jogo ofensivo do Sport e apostar na geração de espaços como consequência dessa possível exposição.

O resultado desse embate não irá confirmar o acesso de ninguém nem decidirá a posição final do campeonato, mas tem cheiro, forma e cara de final.

Fonte: Blog do Cabral

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