Colunista fala sobre saída de Rodrigo Caetano

O que aconteceu dentro do Vasco com a saída voluntária de Rodrigo Caetano, que ainda tinha mais um ano de contrato.

Muitas vezes criam-se mitos ao redor de determinados assuntos e estes adquirem status de verdade absoluta. O que aconteceu dentro do C.R. Vasco da Gama na última semana, com a saída voluntária do até então inquestionável diretor executivo de futebol profissional, Rodrigo Caetano, que ainda tinha mais um ano de contrato com o clube, é um exemplo disso.

Há um consenso entre torcedores e diretoria do Vasco, além de jornalistas e curiosos de plantão: Rodrigo Caetano foi uma das peças mais importantes no resgate do Gigante da Colina, operado desde que o clube encontrava-se na segunda-divisão do futebol brasileiro em 2009. Profissional de altíssima qualificação, tem o seu trabalho reconhecido por todos, além de uma grande identificação criada com o clube, pelo menos até a última semana.

Como dizem dois velhos ditos populares, “Mares calmos não fazem bons marinheiros” e “Para se chegar na fonte é preciso nadar contra a corrente”, e Caetano não teria chegado ao nível dos melhores profissionais executivos do esporte no Brasil se, também, não fossem as adversidades enfrentadas dentro do Vasco. Para vencê-las, antes de mais nada ele teve que contar com o apoio incondicional do presidente Roberto Dinamite, que lhe deu carta-branca para atuar dentro do clube com irrestrita e total confiança.

Profissional de visão, Rodrigo Caetano venceu as barreiras da desconfiança e do descrédito, que assolavam a todos dentro do Vasco, montando a sua base sólida para atuar com a confiança também dos funcionários do clube, desde os menos remunerados, até os maiores astros da equipe de futebol profissional. Além da sua inquestionável capacidade gestora, ele sempre contou também com o poder da palavra, utilizando este dom natural e polido a seu favor. E, diga-se de passagem, não só pelo Vasco, mas também, ou até principalmente, pelo Executivo de Futebol Rodrigo Caetano.

Na última segunda-feira (12/12), quando a sua demissão do cargo que exercia no Vasco já parecia estar arquitetada, Rodrigo Caetano foi o responsável pela última aula de um curso sobre gestão no futebol, no Rio de Janeiro. Estive presente na palestra, que durou pouco mais de duas horas e na qual o executivo explanou principalmente sobre os projetos executados na sua gestão no Vasco.

Através de uma apresentação no Data Show, a explanação de Caetano foi feita em cima de um arquivo de PDF, do qual todos os presentes tiveram acesso posteriormente. Todos os slides contavam com o escudo oficial do clube na parte superior, além da inscrição da empresa R. Caetano Assessoria Esportiva LTDA, na barra da página. O que justifica a questão é que a empresa do executivo é contratada pelo clube como pessoal jurídica, e não o mesmo como pessoa física.

Rodrigo Caetano também exerce com louvor o poder da oratória, o que ficou claro pra mim ao ouvi-lo em uma das salas do Planetário da Gávea. Porém, alguns pontos atribuídos a gestão da R. Caetano Assessoria Esportiva LTDA no Vasco causam estranheza. Entre as mudanças aplicadas na estrutura do Vasco estão a sala de imprensa, o vestiário do futebol profissional, a sala de musculação, além de algumas obras de revitalização das categorias de base. A explanação sugere que tais ações foram tão somente executadas pelo, então, gestor de futebol profissional do Vasco.

No primeiro momento tudo parece extremamente normal e bastante satisfatório, já que a relação entre Rodrigo e o Vasco não aparenta problemas. Mas, após o pedido de demissão por motivos ainda não explicados com clareza, tudo aquilo mereceu uma análise mais profunda.

Em primeiro lugar, o grande condutor de todas as decisões no Vasco é o presidente Roberto Dinamite, embora alguns teimem em usurpar esse direito inalienável do mandatário vascaíno. Não esqueçamos que o sistema vigente no clube é presidencialista e, assim sendo, qualquer decisão relativa ao Vasco passa necessariamente pelo crivo do presidente.

Em relação as reformas na sala de imprensa, vestiários e sala de musculação, quem capta recursos da área comercial do clube é o departamento de marketing, mas com conhecimento, autorização e gerenciamento do presidente, que determina em conjunto com os poderes do Vasco as prioridades na aplicação dos recursos obtidos.

Todas as reformas de São Januário passam pelo presidente e são um esforço conjunto de várias áreas do clube – marketing e patrimônio, principalmente. Não esqueçamos que o presidente é um democrata convicto, daí muita gente exercer o direito e expressar as suas opiniões, ainda que, muitas vezes, de forma deturpada. A reforma da sala de imprensa era desejo antigo do Roberto, preocupado em restabelecer a dignidade dos jornalistas que cobrem o dia a dia do clube e que passaram por maus momentos na gestão anterior.

Além das questões relacionadas às categorias de base, outro ponto apontado por Rodrigo Caetano como o calcanhar de Aquiles no clube é o programa de sócio-torcedor “O Vasco é Meu”. Sinceramente, nenhum dos dois assuntos seriam motivos para a demissão voluntária do executivo, que teria força suficiente dentro do clube para trabalhar intensamente por mudanças, principalmente nas categorias base.

Como diria Shakespeare “[…] há muito mais coisas entre os céus e a terra, do que possa supor a nossa vã filosofia”, ou seja, caso Rodrigo Caetano anuncie em breve que seu novo emprego será no Fluminense, que vem assediando o executivo já há algum tempo com a proposta de um salário superior ao que recebia na Colina, o real motivo da demissão voluntária dele no Vasco será enfim conhecido por todos nós. Até porque o tricolor carioca possui os mesmos problemas enfrentados pelo Vasco nas categorias de base e no programa do sócio torcedor.

Desde que Roberto Dinamite assumiu a presidência, O C.R. Vasco da Gama diminuiu o passivo, aumentando receitas, melhorando a estrutura física das sedes, ampliando o quadro social, fortalecendo sua relação democrática com torcedores, imprensa e mídia, voltando a disputar títulos e ser temido e invejado pelos rivais. Foram três anos de resgate e muitos desafios, a maioria deles vencidos com louvou. Portanto, não é a saída por motivos menores de uma peça da engrenagem, por mais importante que tenha sido, que irá comprometer todo um processo gigantesco de retomada e glórias de um dos maiores clubes do futebol mundial.

Por Roger Ferreira

Blog Meu Caldeirão – O Globo

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