Campello revela quais foram os principais erros e acertos da sua gestão no Vasco

Alexandre Campello tenta sua reeleição no Vasco da Gama e admitiu que pode acontecer problemas na eleição, como em 2017

Alexandre Campello, presidente do Vasco
Alexandre Campello (Foto: Fred Gomes)

No próximo sábado (7 de novembro), será eleito o presidente do Vasco da Gama para o triênio de 2021 a 2023.


O ESPN.com.br inicia nesta terça-feira (3) a publicação de uma série de entrevistas com os candidatos à eleição do clube carioca.

O 1º entrevistado é o atual mandatário Cruzmaltino, Alexandre Campello, que busca sua reeleição no cargo, concorrendo pela chapa “No Rumo Certo”.

ESPN: Quais foram o principal erro e o principal acerto da gestão?

Alexandre Campello: Acho que o maior acerto foi acreditar que era possível, que os projetos que nós, antes mesmo de entrar no Vasco, vínhamos trabalhando, construindo, entendendo quais eram as deficiências, achando as ações necessárias para corrigir essas deficiências. Então, ter acreditado nesse projeto e lutado para ele ficar de pé, acho que foi nosso maior acerto. Erros, eu diria que tivemos vários erros, alguns pequenos, mas na maioria erros que fazem parte do processo. Não que eu não tenha errado, nós erramos. Mas eu não vejo nenhum grande erro que essa gestão tenha cometido.

Eu acho que a gente está muito firme no propósito de realizar todas essas promessas, todos esses projetos. Talvez, meu maior erro tenha sido me associar a um grupo político que, naquele momento, eu acreditei que tinha boa intenção, mas que, no decorrer do processo, eu vi que, não a totalidade, mas que a maioria, talvez a parte mais central, não tinha boas intenções com relação ao Vasco.

ESPN: Como problemas internos podem atrapalhar o clube?

AC: Eu entendo que é fundamental, em uma democracia, que exista oposição, que exista um contraponto, que existam pessoas que não estão diretamente ligadas à gestão e que sejam fiscalizadores de quem está na gestão estão fazendo. As críticas são importantes, devem existir. Mas o que se espera de uma oposição dentro de um clube de futebol, onde todo mundo que ali está torce para que o clube avance nas suas pretensões, é que seja construtiva. Então, se ela considera que uma coisa não é ideal, que ela aponte o dedo, mas que ela também ajude nos acertos, quando o caminho é um caminho bom para o clube. E não é isso que se vê no Vasco.

O que se vê é uma política rasteira, onde quem está na oposição tenta, primeiro, difamar quem está na gestão, desmerecer o que está sendo feito de bom, criticando de forma desleal qualquer erro que ocorra. Mas mais do que isso, o que a gente tem visto é que a oposição tenta criar situações para impedir a evolução do clube, para fazer com que quem está na frente do clube tenha dificuldades para que eles possam crescer e conquistar o seu espaço. Isso é muito ruim. Nós tivemos isso durante nossa gestão. Nesses três anos, tivemos muitas dificuldades no Conselho Deliberativa, assim como fora dele, com ações que tinham como finalidade barrar algumas iniciativas da gestão. Então, isso cria um cenário muito ruim, até de descrédito para o mercado.

Nós tivemos, só para citar um exemplo, fizemos toda uma demonstração financeira, levamos ao Conselho Deliberativo, mostrando o fluxo de caixa do clube, a necessidade de uma tomada de empréstimos para que pudéssemos honrar os compromissos e diminuir a dívida. E, dentro do Conselho, a oposição fez questão de barrar, de postergar isso. Nós perdemos mais de dois meses, o que implicou na perda de mais de 5 milhões de reais. Isso é uma folha de pagamento. Além de outros serviços que tinham de ser cumpridos e não puderam porque isso comprometeu nosso fluxo de caixa. Ações como essas foram tomadas mesmo sendo mostrados todas as necessidades do clube, tudo que vinha sendo planejado para solucionar os problemas. Em um cenário normal, uma oposição séria certamente teria liberado o empréstimo. Mas não o que eles fizeram? Tudo para ganhar tempo e dificultar.

ESPN: Pode acontecer algum problema na votação como foi na eleição de 2017?

AC: Lamentavelmente, sim. Eu trabalhei, desde que eu assumi o clube, para que tivéssemos uma eleição limpa. Então, uma das primeiras coisas que eu fiz foi tirar todo mundo da secretaria, onde tiveram todos aqueles problemas, inclusive o famigerado HD. Abri um processo de recadastramento de sócios, para que isso fosse público, para que todos vascaínos soubessem que o cadastro de sócio estava passando por uma depuração. Passei a publicar a lista de sócios adimplentes mensalmente, para que qualquer pessoa pudesse acompanhar essa lista de sócio, para ver que não existia nenhuma irregularidade durante o processo eleitoral com mais de um ano.

Aí vem o presidente da Assembleia Geral, comandado por um grupo político e começa a criar uma série de dificuldade. Por outro lado, outros, ligados à Identidade Vasco, também vão lá e criam uma série de dificuldades, barrando os anistiados, incluindo sócios que não foram recadastrados. Parece que com uma necessidade de tumultuar o processo para, dessa forma, talvez, ter êxito nas suas pretensões. Agora, o presidente da Assembleia Geral convoca uma Assembleia extraordinária para aprovar a eleição direta de maneira totalmente irregular, totalmente fora do clube, por uma empresa contratada sabe-se lá por quem? Ou melhor, sabemos por quem, não foi pelo Vasco, não houve menor controle do Vasco, até hoje não sabemos de nada que ocorreu na Assembleia.

Eles que falam tanto de transparência, mas nada foi apresentado ao clube. Agora, eles querem fazer as eleições do clube de forma online, com todas essas irregularidades. Nós da diretoria fizemos um ofício para a COP, que é um departamento da UFRJ, que presta consultoria em relação a própria eleição online. E eles foram categóricos em dizer que não há segurança para se construir um processo eleitoral online nesse curto espaço de tempo. Seria, talvez, necessário um ano para se construir um processo online seguro. Recebi uma carta de um vascaíno de Brasília, que não está ligado em nenhum grupo e que é especialista em eleição online, que é o Eduardo Nery, dissertando sobre a eleição online e a segurança, mostrando que é muito fácil fraudar um processo como esse. E dá exemplos, ensina como fazer. Então, me preocupa muito o que vai vir no dia 7.

ESPN: Como está a questão dos atrasos salariais?

AC: Esse problema vem sendo sanado. Eu assumi o clube com quatro meses de salários em atraso e com oito ou dez meses de atraso nos direitos de imagem. Hoje, o Vasco tem um mês de salário atrasado para os atletas e dois meses para os funcionários. Então, a gente vem, paulatinamente, reduzindo esse problema. Nós não devemos mais direitos de imagem. Então, se a gente for colocar em termos percentuais, o que se deve hoje com relação ao que se devia quando cheguei, creio que não chegue a 30%. Mas pode ser que essa semana a gente consiga resolver isso com esse projeto que eu devo anunciar. Mas, além disso, eu posso garantir que o Vasco pagou na minha gestão 37 salários em 36 meses. E certamente nós vamos entrar em 2021 com os salários em dia.

ESPN: Como vê as críticas à sua gestão?

AC: Interpreto com muita naturalidade. O que é o Vasco? É basicamente o futebol. O que é o torcedor? Torcedor é passional, ele quer títulos, dar show. E a gente sabe que os nossos resultados esportivos estão aquém das expectativas do torcedor. Mas isso não vem de hoje, isso vem de 20 anos. Então, há sempre uma expectativa de quem entre na direção, no dia seguinte resolva esse problema e forme um time campeão. Obviamente, os mais passionais enxergam dessa maneira. Os mais equilibrados, eu acho que eles acabam entendendo que essa é a finalidade de tudo que está sendo feito. E, lamentavelmente, este é o último resultado que chega, o esportivo.

Mas antes, é fundamental que se faça o trabalho que estamos fazendo. Para se ter resultado esportivo, é preciso ter recurso para investir, é preciso ter captação de recursos, tem que diminuir o endividamento. E para isso é preciso ter condições necessárias, como, por exemplo, envolver a torcida, criar um projeto de sócio torcedor como nós criamos, trazer o sócio para junto do clube. É preciso ter um estádio que te dê condições de arrecadar mais. É preciso trabalhar o endividamento, porque ele tem um custo altíssimo. Não se negociam 600 milhões em dívida da noite para o dia. É preciso investir em um centro de treinamento, na base, mudando a filosofia como nós fizemos. Para então, o resultado começar a aparecer.

E ele vai aparecer, já no ano que vem nós teremos condições de investir mais no futebol. Tudo que eu estou falando hoje, eu falei há três anos. Tudo que eu prometi, aconteceu nos meus três anos de gestão. E vai continuar acontecendo nos próximos três anos. Então, o torcedor precisa colocar o pé no chão e entender que o trabalho que está sendo feito é para que nós tenhamos equipes fortes que vão brigar por títulos todos os anos. Não adianta colocar os pés pelas mãos, comprar jogador e não pagar. Obviamente, que o torcedor tem pressa, quer ser campeão todos os anos. Eu entendo isso.

ESPN: Como está sendo o o trabalho com Sá Pinto?

AC: Eu, apesar do pouco tempo que o Ricardo aqui está, eu tenho acompanhado de perto seu trabalho. Posso dizer que ele está completamente integrado com o elenco e o clube. É uma visão diferente, interessante e que foi muito bem aceita pelo grupo. Entendo como sua vinda sendo fundamental para essa retomada do time, mas também para fazer, de certa forma, um intercâmbio com nossos profissionais e os da base. É uma forma diferente de se conduzir e que eu entendo interessante.

ESPN: Como andam o CT e as obras em São Januário?

AC: O Centro de Treinamento da Barra, o que foi entregue hoje, já é suficiente para o profissional. Se a gente quisesse parar por aí, esse CT atenderia perfeitamente o profissional, com o que diz respeito a condição de treinamento. Mas o projeto é muito maior do que isso, ele é um projeto de sete campos, sendo um deles um mini-estádio. A nossa intenção é que nesse espaço nós tenhamos uma construção que vai abrigar um alojamento para a base, um alojamento ou um hotel para o time profissional, o mini-estádio para que possamos mandar os jogos da base. Nesse CT, nós teríamos o profissional, o sub-17 e o sub-20. Isso faz parte da nossa filosofia.

Eu entendo que o futebol profissional tem que estar muito próximo da base. Em especial do sub-17 e do sub-20, porque se tem o treinador do profissional olhando a base, tem a facilidade de pinçar um dos meninos para que possa treinar um ou dois dias no profissional e a transição para o profissional seja mais rápida. Essa é uma filosofia que eu sempre tive, que sempre defendi no projeto de gestão. E as pessoas que compunham esse grupo não tem essa visão, porque não vem do futebol como eu venho. A ideia é que no próximo triênio a gente termine esse projeto da Cidade de Deus.

Com relação ao CT de Caxias, nós vamos entregar três campos, vestiários, departamento médico, sala de musculação e um departamento administrativa. A ideia desse projeto é a criação de uma espécie de Vila Vasco da Gama, em que nós tenhamos, pelo menos, mais dois campos. Para abrigar a base abaixo dos 16 anos e o futebol feminino. Então, dentro dessa lógica, para que a gente possa atender as crianças que não podem ser alojadas, nós construiríamos três ou quatro prédios, simples, mas com apartamentos, mas que seriam cedidos aos talentos que nós buscássemos com os talentos que nós captarmos Brasil a fora. Para que eles venham com suas famílias, tenham uma moradia digna. E, além disso, nós levaríamos um colégio para dentro do CT, para que os atletas tenham, no mesmo espaço, alojamento, escola, lazer e treinamento. Acho que essa é uma condição espetacular, diferente do que existe no Brasil. Em relação a São Januário, está caminhando muito bem, estamos próximos de assinar o acordo definitivo. Não tem aporte financeiro do Vasco, é um fundo de investimento, nós iniciaríamos as obras de ampliação de São Januário no próximo ano.

ESPN: Está tomando medidas para tentar estar mais presente na gestão do Maracanã?

AC: Primeiro, eu acho que isso foi um grande equívoco que o ex-governador cometeu quando, como torcedor do Flamengo, cedeu o estádio ao Flamengo, trazendo o Fluminense meio que como um anexo nesse processo. Eu entendo que, se o Flamengo quer o Maracanã só para ele, não pode ser dessa maneira. O estádio foi construído com verba pública, teve um custo de mais de 1 bilhão de reais. Eu entendo que não deveria estar na mão de um clube, que o estado deveria ter uma gestão que atendesse a todos os clubes do Rio de Janeiro. E nós estamos brigando, inclusive na Justiça, por conta disso”

ESPN: Como vê sua gestão de outros esportes e do futebol feminino?

AC: Em algumas situações, quando se vive dificuldades financeiras, muitas vezes se precisa dar um passo atrás para dar dois ou três passos a frente. Foi isso que foi feito. Em última análise, a gente precisa ter a frieza, a tranquilidade de entender que esses esportes desviam receita do futebol. Isso acaba diminuindo a capacidade de investimento no futebol. Então, em um momento de muita dificuldade, não era possível a captação de recursos, pelo menos em um curto prazo, de leis de incentivo para que esses esportes seguissem de pé, nós demos um passo atrás, fizemos a redução de custo. Agora, a partir de 2021, a gente vem criando projetos para ganhar recursos e voltar a investir nesses esportes, sem que haja um comprometimento das receitas do futebol. Esses esportes precisam caminhar com recursos próprios. Nós mantivemos a base, mas cortamos o basquete profissional, porque isso implicava em um custo elevado anual. Nós demos esse passo atrás, e, agora, a partir de 2021, temos possibilidade de voltar a investir, já investimos no paralímpico, através das leis de incentivo. No futebol feminino, a gente já vem fazendo algum investimento, já vem crescendo. A ideia é continuar buscando receitas para isso, através de marketing, enfim, esse trabalho já vem sendo feito e com resultado.

Fonte: Espn

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