Balanço financeiro do Vasco aponta dívida de R$ 212 milhões; Pedrinho faz críticas a Salgado e 777

Em carta direcionada à torcida do Vasco da Gama, Pedrinho detalha situação financeira do Clube e tece críticas a Salgado e 777 Partners.

Pedrinho, presidente do Vasco
Pedrinho, presidente do Vasco ( Foto: Lucas Figueiredo/Getty Images)

O Vasco associativo apresentou na noite dessa sexta-feira o balanço financeiro de 2023, relativo ao último ano da gestão do ex-presidente Jorge Salgado. O documento apresentado pela administração de Pedrinho saiu com atraso de mais de três meses – o prazo para todos os clubes, previsto por lei federal, era 30 de abril.

Nas demonstrações financeiras, a diretoria de Pedrinho aponta aumento da dívida para R$ 212 milhões do clube associativo – cenário descrito pelo ge em reportagem publicada no dia 24 de abril.

Com muitas críticas à condução do Vasco e a relação com a 777 Partners e o acordo da venda do futebol pela gestão Salgado, Pedrinho também apresenta saldo negativo da corrente do CRVG (associativo) com a VascoSAF – uma operação criada para um dos lados efetuar pagamentos pendentes no contexto de criação da SAF do futebol e de assunção de dívidas.

De acordo com o documento publicado pelo Vasco nessa sexta, o Vasco deve quase R$ 30 milhões ao Vasco SAF – no entanto, a gestão Pedrinho faz a ressalva que este montante estão “pendentes de discussão e entendimento”, sem significar concordância com o débito, que teria R$ 22,3 milhões em 2022 e R$ 6,8 milhões de 2023.

Leia mais abaixo a íntegra da carta Pedrinho aos sócios e aos torcedores.

O aumento da dívida se deve à classificação de processos judiciais cíveis e trabalhistas sob possíveis perdas nas pedidas dos potenciais credores – “a necessidade desse extenso trabalho adicional motivou o atraso na entrega deste relatório dentro do prazo limite de 30 de abril de 2024”, justificou a diretoria de Pedrinho no balanço. O Vasco classificou como “perda judicial provável” a soma de R$ 143 milhões em processos – sendo R$ 118,8 milhões trabalhistas e R$ 24,2 milhões de natureza cível.

O documento das contas vascaínas de 2023 lembra que “o passivo circulante e não circulante do CRVG em 31/12/2023 é de R$ 212,8 Milhões. O saldo das contingências cíveis e trabalhistas classificadas pelos escritórios como risco de perda possível e remota – e por essa razão, não contabilizadas no balanço de 31/12/2023 – que podem vir a se materializar futuramente totaliza R$ 90,5 Milhões”, diz um trecho do balanço, com a ressalva de que ainda há, provavelmente, mais processos judiciais a caminho.

Outros destaques do balanço do Vasco 2023:

Críticas ao futebol sob a 777

  • “Dentre os erros, o mais crítico foi o aumento do valor da folha salarial do futebol como solução para a situação desesperadora que o clube vivia na tabela de classificação. A folha do futebol foi elevada de forma drástica para níveis similares aos clubes que lutavam pelas primeiras colocações do campeonato, mas o desempenho esportivo foi de zona de rebaixamento. Para agravar a situação, não houve nenhum movimento para criar novas receitas para suportar este acréscimo da folha e das despesas. O futuro financeiro do VASCO SAF foi severamente comprometido. A promessa de uma administração profissional, eficaz e responsável deu lugar ao “depois a gente vê como faz”. Nada que o Vasco da Gama não tenha vivido em épocas passadas.”

Críticas a Salgado

  • “Definitivamente, a temporada de 2023 do futebol vascaíno foi muito aquém das expectativas criadas pelo investimento realizado pelo VASCO SAF. Em nenhum momento a Diretoria Administrativa do CRVG na gestão Salgado se fez valer da sua posição de sócio do VASCO SAF para mudar este cenário árido de competência, pelo contrário, confundiu a torcida vascaína com um discurso omisso onde, em todas as vezes que era preciso intervir, abandonou sua responsabilidade com a desculpa que “o controle do futebol ficava totalmente nas mãos da 777 Partners”. Um erro conceitual grave. O futebol vascaíno é controlado pelo VASCO SAF cuja composição societária é de 70% da 777 Partners e de 30% do CRVG. Falar o contrário é ir à contramão da grandeza do Vasco da Gama e reduz o negócio a uma simples operação de compra e venda de ativos, colocando o desempenho esportivo como uma preocupação secundária.”

Contrato com a 777

  • “Novas fontes de receita são extremamente limitadas em função das propriedades transferidas para exploração pelo VASCO SAF. Pelo que rege o contrato, 100% dos royalties são destinados à SAF, que paga ao CRVG um valor fixo anual de R$ 1 Milhão (corrigidos pelo IPCA) mais um percentual variável. Isso praticamente inviabiliza a possibilidade do CRVG desenvolver e licenciar novos produtos para ampliação de receitas.
  • O contrato de aluguel do Estádio de São Januário para o VASCO SAF prevê que toda exploração comercial do Estádio é de propriedade exclusiva da SAF, que paga R$ 1 Milhão (corrigidos pelo IPCA) por ano ao CRVG. Isso também limita totalmente a capacidade do CRVG de desenvolver novas receitas através da exploração do seu principal patrimônio.
  • Existe uma total dependência financeira destes contratos firmados com a SAF para o fluxo de caixa do CRVG. Em 2023, o fluxo de caixa do CRVG foi próximo de zero, mas a Diretoria Administrativa anterior antecipou o recebimento, em 2023, de 1 dos 4 pagamentos trimestrais de royalties, comprometendo assim o fluxo de caixa do clube em 2024.”

Renegociação de “pontos desvantajosos”

  • “O cenário econômico-financeiro do CRVG é extremamente desafiador, considerando as limitações para geração de novas receitas impostas pelo contrato com a 777 Partners e as dívidas que permaneceram sob responsabilidade do CRVG. Entre as iniciativas em andamento para reverter esse cenário, destacamos o potencial de geração de novas receitas decorrentes de novas propriedades e oportunidades criadas a partir da ampliação do estádio de São Januário, cujo projeto de venda do potencial construtivo garante os recursos que precisam ser necessariamente aplicados exclusivamente na obra, conforme determinado pela lei. Temos também a renegociação de pontos desvantajosos do contrato com o investidor, a obtenção de certidões negativas de débito para financiamento de esportes amadores, captação de novos patrocínios, programa de anistia de sócios estatutários e captura de sinergias entre o CRVG e VASCO SAF.”

A carta de Pedrinho:

“Vascaínos,

Me dirijo a vocês com o intuito de refletir sobre o ano de 2023, um período cheio de desafios na história do Club de Regatas Vasco da Gama. O início de 2023 foi marcado pela notícia do falecimento do nosso ídolo Roberto Dinamite, que entristeceu todos os vascaínos. No campo, Dinamite transformou as vitórias e seus gols em marcos eternos na história do clube e na memória dos torcedores, foi muito mais do que o maior artilheiro do Vasco. Figura respeitada no cenário do futebol, inspirou gerações de jogadores e vascaínos, tornando-se exemplo de profissionalismo, de paixão pelo Vasco, e amor à camisa e aos valores da Cruz de Malta, ao dedicar grande parte de sua vida ao nosso clube. Valeu, Roberto!

Em novembro, fui eleito Presidente do Club de Regatas Vasco da Gama, uma honra e uma grande responsabilidade. A partir do fim da eleição, assumi o compromisso de servir a todos os vascaínos, independentemente das preferências ou opiniões políticas. Me comprometi, igualmente, a assegurar transparência e a salvaguardar os interesses e o legado do Vasco da Gama, um clube que ultrapassa o esporte e seus limites físicos. Somos uma instituição com um papelrelevante na sociedade. Desde nossa fundação, representamos valores sociais, culturais e econômicos importantes: combate ao racismo e ao elitismo, inclusão e respeito. Lutamos pelo fim da desigualdade social, promovendo educação e formando cidadãos que façam a diferença.

Sou o exemplo vivo do impacto que o Vasco da Gama proporciona na vida das pessoas. Um menino de 7 anos, vivendo uma situação socioeconômica desafiadora, chega ao clube repleto de sonhos e consegue transformar suas perspectivas a partir das oportunidades que a instituição ofereceu. O Vasco está em mim e em todos que reconhecem que sua história reflete o melhor de nós.

Na sequência, meu time começou a fase de transição entre a gestão anterior – de Jorge Salgado – e a futura, sob minha administração. Era esperado que o diagnóstico inicial apresentasse inúmeras dificuldades, afinal, a premissa principal da gestão Jorge Salgado era um Vasco mínimo – com o sócio apartado do programa de torcedores -, com as atividades esportivas licenciadas para terceiros, uma relação subserviente com o sócio majoritário do VASCO SAF, a ideia do “menos vascaínos e mais profissionais”, muitas vezes sem considerar a identificação e paixão que historicamente caracterizaram nossos grandes feitos e conquistas. E uma dívida oculta que, mais cedo ou mais tarde, baterá na porta do CRVG.

Os prognósticos foram confirmados e a situação geral acabou sendo pior do que o esperado. As certidões negativas, que supostamente seriam liberadas rapidamente, nunca chegaram perto de serem emitidas. Como esperar resultados competitivos dos esportes olímpicos e paralímpicos se estavam abandonados à própria sorte sem o apoio da diretoria anterior ou vivendo de iniciativas individuais? O basquete era um oásis no meio da aridez esportiva do clube. Fica aqui o reconhecimento aos atletas, comissão técnica, funcionários e parceiros que honraram a camisa do Vasco da Gama nas quadras. A manutenção das sedes era reativa e sem pensar nos sócios, os principias usuários destes aparelhos. O risco de acidentes graves era iminente.

Do atendimento à valorização, o quadro de sócios, principal receita do CRVG, encontrava-se à deriva, esperando os seus benefícios nos jogos de futebol e sua vida social serem subtraídos até o dia do seu desaparecimento. As receitas eram verdadeiras migalhas que o VASCO SAF repassava em um desequilíbrio que em nenhuma relação institucional saudável é visto. No todo, não havia horizonte.

Se faltaram recursos ao CRVG, sejam eles financeiros e estruturais, sobrou empenho dos funcionários e colaboradores, que sustentaram o clube com os seus esforços. Fica aqui o meu agradecimento a todos. Sobre o VASCO SAF, principal ativo patrimonial do CRVG, a relação com o sócio majoritário tinha uma clara dificuldade de comunicação. O problema aumentava quando o CRVG solicitava informações inerentes ao negócio VASCO SAF. Números básicos como folha salarial, custos, receitas, investimentos, redução da dívida, planejamento esportivo e objetivos de conquistas e de competições só eram apresentados se o pedido fosse protocolar, uma medida que progressivamente distanciava CRVG e 777 Partners de um objetivo em comum. A cobrança não era bem-vista pelo sócio majoritário, contudo, meu compromisso expresso de campanha de fiscalizar e contribuir com o VASCO SAF é inegociável. Sempre buscarei a defesa dos interesses do CRVG no VASCO SAF.

Por fim, diante do contexto que o CRVG vive, e para que sua perpetuidade aconteça longe dos problemas que viveu nas últimas décadas, alguns projetos serão prioridade na minha gestão: a reforma de São Januário, que vai gerar receitas que diminuirão nossa distância em relação aos nossos rivais e dar o conforto que nosso torcedor merece, sem perder a atmosfera do estádio; a valorização do sócio com um plano de benefícios adequado ao perfil do vascaíno; a obtenção das certidões negativas para impulsionar os projetos incentivados esportivos e sociais; a criação de modalidades olímpicas e paralímpicas capazes de competir ou fazer a diferença através do seu papel social; aumentar os investimentos no Colégio Vasco da Gama para oferecer cada dia mais uma educação de qualidade para nossos alunos; a geração de novas receitas através de novos parceiros e novas oportunidades comerciais ancoradas na marca Vasco da Gama e a manutenção das sedes vascaínas para que atividades sociais sejam oferecidas aos sócios e à família vascaína.

Não posso deixar de lembrar que o Vasco da Gama sempre superou seus desafios quando todos os vascaínos se uniram, portanto, convoco todos os vascaínos a se unirem, com um espírito de determinação, para superar os desafios que o nosso clube enfrenta. Neste momento crucial, é fundamental que deixemos de lado quaisquer diferenças e trabalhemos juntos para fortalecer o Club de Regatas Vasco da Gama. A presidência está aberta para ouvir e acolher a colaboração de todos os vascaínos, reconhecendo que a nossa união é imbatível e essencial para recolocar o Vasco no trilho da sua história.

Saudações Vascaínas,

Pedrinho.”

Fonte: Globo Esporte

1 comentário
  • Responder

    Pedrinho o Salgado nunca foi vascaino e sempre trabalhou com infiltrado da globo para acabar com o vasco.Quando precisava de funcionário contratava um flamenguista como o CEO,psicólogo,médico e etc.A trama foi grande e o vasco tem que juntar provas e entrar na justiça contra estes pulhas.Investigar imposto de renda pq roubaram muito

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