Artilheiro do Vasco na Série B, Raniel tenta retomar boa fase e se firmar no time

Atacante contratado neste temporada, Raniel é maior goleador do Vasco da Gama na atual edição da Série B do Brasileiro.

Raniel durante o jogo contra o Criciúma
Raniel durante o jogo contra o Criciúma (Foto: Daniel Ramalho/CRVG)

Um camisa 8, que vez ou outra chegava na área e finalizava bem de longa distância. Esta é a descrição de Raniel em seu início no futebol de campo, em um projeto social no Recife. Agora artilheiro do Vasco na Série B com cinco gols, o centroavante está no top-3 de goleadores da competição e mira sequência artilheira para se manter no time titular de Maurício Souza, que vai ganhar pelo menos uma opção de peso na janela de transferências que está prestes a abrir.

Ex-treinador lembra início em campo de terra

No Vasco, o atacante já superou a temporada mais goleadora da carreira, mas antes de chegar ao ataque e de assumir a camisa 9, Raniel teve destaque na base do Santa Cruz não tão à frente como joga hoje. E antes disso ainda, deu os primeiros passos em um campo de terra na comunidade Campina do Barreto, próxima ao bairro Rosarinho, onde o jogador foi criado no Recife.

Enquanto jogava futsal no Santa Cruz, Raniel defendia o “Futebol e Recreação Santiago” no campo a convite do idealizador e treinador do projeto social, Luciano Santiago, o Magão. Titular absoluto do time, o atleta jogava como segundo volante, mas já com DNA de atacante.

– Raniel jogava mais na marcação, mas com frequência chegava na área, inclusive o segundo gol que fizemos na semifinal da Copa Ibura Sub-17 foi marcado por ele. Ele batia bem de fora da área. Um cara brincalhão, sem tempo ruim, que unia o grupo. Não gostava de ficar sem jogar. A camisa 8 era dele, e era uma bronca de quem estava no banco, porque não tinha como entrar (risos) – disse o treinador.

– Lembro de um jogo que ele ficou nervoso com o mesário que não o deixou jogar porque ele havia esquecido o documento de identidade no clube. Ele não jogou, ficou chateado, mas ainda bem que a gente ganhou, se não ia levar bronca (risos). Ele já tinha esse jeito para atacante, era o cobrador de falta do nosso time – completou Magão.

Raniel se juntou ao projeto aos 16 anos, participou de alguns campeonatos sub-17 pelo time de Santiago, mas logo depois passou a jogar futebol de campo na base do Santa Cruz, também como segundo volante. O projeto social acelerou o caminho do jogador dentro do clube recifense.

– Em um amistoso que fizemos contra o próprio Santa Cruz, o treinador o puxou para o futebol de campo. Foi logo no início. Um amistoso em Paulista, cidade onde a base do Santa Cruz treinava na época. Aí logo já disputou a Copinha pelo Santa Cruz – contou Magão.

Projeto afasta jovens da criminalidade

Criado há 12 anos, o projeto surgiu com o intuito de afastar os jovens da criminalidade e do convívio com as drogas, problema que tomou grandes proporções na capital pernambucana. Luciano Santiago, que tem curso de treinador social, já havia tentado outro projeto com um amigo em 2009, mas acabou não indo pra frente e ele resolveu dar continuidade ao plano no ano seguinte por conta própria.

– Já passaram mais de quatro mil atletas pelo nosso projeto, temos meninos que estão desde o início. Hoje temos cerca de 190 atletas e treinamos de segunda a sexta, sempre à noite para não atrapalhar os estudos da meninada – afirmou Magão.

Raniel, como é de conhecimento público, é um dos garotos que acabaram salvos pelo esporte depois de decisões equivocadas na adolescência. Afastado dos gramados aos 17 anos, quando defendia o Santa Cruz, depois de testar positivo no exame antidoping por uso de cocaína, o atacante do Vasco havia começado bem antes o consumo de álcool e drogas ilícitas, chegando inclusive a ser traficante no Recife, como o próprio revelou ao “The Players Tribune” esse ano.

Na época, Magão percebeu que Raniel se cercava de más influências, mas não conseguiu ajudar o atleta, que recebeu todo o suporte do Santa Cruz e se recuperou para dar sequência à carreira. Mas assim como Raniel, outros milhares de jovens na periferia do Recife seguem caminhos parecidos em meio às dificuldades enfrentadas no dia a dia.

– Raniel morava numa comunidade ao lado, e eu o conheci num futebol de salão de um amigo. Ele não tinha tanta condição, chegou a morar na sede do Santa Cruz, e eu o convidei para o projeto. Era questão da amizade, mas o Santa Cruz não deixou de lado, ajudou e deu o suporte para que a carreira dele não acabasse ali. Ele teve muitas barreiras e passou por todas, ele é um vencedor. Falo dele sempre, os atletas do projeto se espelham nele, é um exemplo pra gente – observou o treinador.

– A gente lida muito com isso, o nosso projeto fica numa comunidade e, no Recife, se não abrir os olhos, a droga domina tudo. Então o esporte é um meio para fugir disso, porque na droga só tem dois caminhos: cadeia ou morte. Tentamos abrir os olhos deles, tivemos alunos que chegaram a entrar nesse caminho e conseguimos tirá-los. Temos o apoio também da Polícia Militar, que faz palestras educativas para os nossos atletas – acrescentou Magão.

Os treinos do projeto Santiago acontecem em um campo de terra na comunidade, que é cedido pela Prefeitura do Recife. Com poucas bolas e alguns coletes, Magão se orgulha de ter sido campeão da Copa Terra do Sol Sub-17, em 2020, em Fortaleza, passando por clubes de expressão nacional, como Ceará e CRB.

– É o único projeto que representa Pernambuco fora do estado. E o Raniel passou por aqui, temos muito orgulho dele – concluiu o idealizador do “Futebol e Recreação Santiago”.

O centroavante vascaíno recentemente enviou ao projeto uma camisa assinada por todos os jogadores do elenco. Outro uniforme igual foi doado por ele ao Oratório da Divina Providência, que fica localizado em Campina do Barreto. A peça foi leiloada, e o valor arrecadado foi destinado aos moradores da comunidade que sofreram com as fortes chuvas que assolaram a cidade.

Raniel mira sequência goleadora no Vasco

Referência para os meninos do “Futebol e Recreação Santiago”, Raniel tenta se firmar como referência do ataque do Vasco. Após a boa atuação contra o Criciúma no último sábado, em que marcou o único gol da partida no Estádio Heriberto Hülse, o centroavante provavelmente seguirá como titular já que Getúlio não viajou para o Maranhão.

A concorrência promete ficar mais difícil com a chegada de Alex Teixeira, contratado pelo clube nesta semana. O atacante pode ser usado tanto como centroavante quanto pelo lado esquerdo, e a escalação vai depender do treinador. Até lá, Raniel tenta ganhar pontos.

Ao todo, o atacante tem 11 gols na temporada, sendo cinco na Série B, número que o coloca entre os artilheiros da competição, atrás apenas de Lucca e Gabriel Poveda, que têm oito gols cada, e Diego Souza, com sete.

Top-3 artilheiros da Série B em 2022:

  1. Lucca (Ponte Preta) e Gabriel Poveda (Sampaio Corrêa): 8 gols
  2. Diego Souza (Grêmio): 7 gols
  3. Raniel (Vasco), Edu (Cruzeiro), Anselmo Ramon (CRB), Fabinho (CRB) e Ciel (Tombense): 5 gols

Além do gol, Raniel fez um primeiro tempo de muita entrega e movimentação em Criciúma. Incomodou lá na frente, disputou as bolas e teve chances de marcar mais de uma vez. Mas o centroavante tem oscilado na competição e acabou perdendo vaga para Getúlio em alguns jogos. Depois de três gols nas quatro primeiras partidas da Série B, o camisa 9 só voltou a balançar as redes diante do Londrina, na 13ª rodada, e novamente no último sábado, pela 17ª rodada.

Com um gol aqui e outro ali, Raniel tem sido peça importante para o elenco de Maurício Souza, mas longe de ter garantias de titularidade. É provável que o atacante ganhe mais sombras na janela de transferências que abre em 18 de julho e mira uma sequência goleadora para ter tranquilidade.

Fonte: Globo Esporte

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