100 anos dos Camisas Negras é celebrado com presenças ilustres e protesto em SJ
O Vasco da Gama promoveu um evento em São Januário, com presença de torcedores, dirigentes e familiares dos Camisas Negras.
Em homenagem ao centenário dos Camisas Negras, comemorado neste sábado, o Vasco está realizando uma programação especial em São Januário para celebrar os 100 anos do primeiro título carioca. O evento conta com exposição de quadros com informações sobre a campanha, fotos restauradas da época, exibição de documentário e muitas homenagens. Familiares dos Camisas Negras estão presentes e vão receber as réplicas das camisas produzidas pelo clube.
O evento também foi utilizado para falar sobre a interdição de São Januário pela Justiça. “O Vasco e a Barreira do Vasco são uma casa só”.
Familiares de Leitão, Torterolli, Mingote, Adão, Cláudio Destri e Russinho – jogadores que fizeram parte do histórico time – foram homenageados pelo Vasco. Dirigentes daquele momento, inclusive o presidente que firmou a Resposta Histórica, José Augusto Prestes, também foram representados por familiares.
O evento contou ainda com a entrega da Medalha Pai Santana (honraria para causas sociais) para familiares dos Camisas Negras e personalidades que se destacaram na luta contra o racismo. Será inaugurada uma placa comemorativa aos Centenário dos Camisas Negras na entrada da social.
Marcio Ferreira da Costa é um dos familiares presentes no evento. Ele é neto de Russinho, com quem morou junto de 1953 a 1992, ano da morte do ex-atacante.
– O que me marcou no vovô é que ele foi um vencedor, ele dizia que no dicionário dele só tinha a palavra sorte. E tudo que ele queria acontecia – contou Marcio.
O neto ainda lembrou de um episódio em que o jogador perdeu um pênalti de propósito por não concordar com a marcação. A honestidade era outro ponto forte de Russinho, que pouco depois dessa partida deixou o clube. Ele chegou ao Vasco em 1924 para o lugar de Arlindo e teve sua exclusão solicitada pela AMEA em movimento que resultou na famosa Resposta Histórica.
Russinho terá sua história contada pelo historiador Bruno Pagano no livro “Russinho: o inigualável êxtase do gol”, que será lançado em São Januário no dia 25 de agosto.
O presidente da associação, Jorge Salgado, falou sobre a importância de valorizar a história do Vasco de luta contra o preconceito. O evento contou com a participação de dirigentes do clube e da SAF e de autoridades do Rio de Janeiro. Carlos Roberto Osório leu um manifesto na abertura do evento:
– São lutas que ecoam ao longo das décadas. Celebramos com reverência o centenário da conquista dos lendários Camisas Negras, que trouxeram impacto para todo o Brasil e o futebol mundial. O Vasco mostrou que a paixão pelo futebol não tinha cor, classe ou alfabetização – destacou o 1° vice-presidente geral do clube.
Osório também falou sobre São Januário, destacando que “mais uma vez querem excluir o clube”. E afirmou que o Maracanã é um patrimônio público do Rio de Janeiro e que o Vasco merece ter acesso ao equipamento.
– Como nos tempos dos Camsias Negras o Vasco continua a exaltar valores. A história do Vasco não é só sobre futebol, mas sobre defender o que é certo, promover igualdade. Os Camisas Negras são eternos, assim como os valores que representam – completou .
CEO da SAF, Lúcio Barbosa também falou brevemente sobre a história do clube.
– Cada um recebe a cruz que consegue carregar, e o Vasco carregou muitas – Lúcio Barbosa.
Há 100 anos, a equipe do Vasco, formada por negros e pobres em sua maioria, fez história dentro de campo com uma campanha espetacular: 11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota.
Além do título, o Vasco marcou o nome na história com a luta para incluir negros e operários em um esporte até então elitista.
O documentário ‘Camisas Negras – Uma jornada histórica’, feito pelo Ciclo de Oficinas (Projeto Social do CRVG com aulas de Dança, Música, Teatro e Produção Audiovisual) também será exibido.
O Vasco também preparou um ensaio em São Januário com jogadores da base vestindo os uniformes. Participaram o goleiro Phillipe Gabriel, o zagueiro Lyncon e o meia Lucas Eduardo. Na foto acima, Lyncon segura o quadro da “Resposta Histórica”, redigida em 1924 para informar da desistência de fazer parte da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), que só aceitaria a inscrição do Vasco caso o clube excluísse 12 de seus jogadores, em sua maioria negros e pobres.
Fonte: Globo Esporte