Vasco terá longa jornada para se reerguer; veja as finanças do Clube em 2023
Ainda em briga judicial com a 777 Partners, Vasco da Gama apresenta evolução, mas terá longo caminho para se reerguer.
Alvo de disputa judicial e em câmara de arbitragem entre a associação civil e a 777 Partners, a SAF do Vasco fez em 2023 um ano de retomada — em campo, ao escapar do rebaixamento no Brasileirão na última rodada, e com alguns sinais positivos e outros tantos ainda negativos no dinheiro.
O faturamento mais do que dobrou, o que permitiu que a folha salarial do futebol pudesse ser elevada. Além disso, houve injeção de capital por parte do grupo americano. A recuperação no segundo turno do campeonato se explica pelas contratações viabilizadas por esses recursos.
Por outro lado, a dívida não cedeu e permanece na faixa dos R$ 700 milhões — mesmo patamar herdado da associação, antes da migração para o clube-empresa. Os americanos venderam 20% dos direitos comerciais do Brasileirão por 50 anos para investidores da Liga Forte União (LFU), como movimento para reforçar o caixa no último trimestre.
Esse era o quadro até 31 de dezembro de 2023, relatado nas demonstrações contábeis. Muito mudou desde então, com a mudança provisória no comando da SAF, gerida pelo presidente da associação, Pedrinho, que vem remontando a estrutura com novos profissionais.
Para facilitar o entendimento da situação ao torcedor, o ge se baseia no estudo produzido pelo economista Cesar Grafietti, da consultoria Convocados. O especialista também gravou 13 episódios do podcast Dinheiro em Jogo, para analisar individualmente as contas dos clubes.
Rating
As notas foram atribuídas por Grafietti, da consultoria Convocados, com base nas demonstrações contábeis referentes aos últimos 12 anos. O conceito é usado no mercado de capitais para classificar empresas: a partir da combinação de uma série de métricas, gera-se uma nota.
No caso do rating para o futebol, o especialista considera elementos como receitas, custos, EBITDA, investimentos e valores a pagar para bancos, entidades, agentes, fornecedores, parcelamentos etc. Cada um tem um peso pré-determinado para determinar o status de cada clube.
Rating do Vasco: D
Receitas e custos
Em 2023, o faturamento do Vasco aumentou e chegou a R$ 318 milhões. Todas as linhas cresceram de maneira significativa, até porque a base de comparação anterior estava bastante frágil, na Série B. Destaque para transferências de jogadores, que raramente despontam em São Januário.
Os gastos com pessoal — que incluem salários, encargos trabalhistas e direitos de imagem — dispararam entre 2022 e 2023, enquanto despesas administrativas do clube também aumentaram. Na soma de ambos, o Vasco teve um custo de R$ 290 milhões durante a temporada.
Dívidas e alavancagem
Em 2023, o endividamento do Vasco se manteve em R$ 696 milhões. O valor se divide entre dívidas bancárias (R$ 55 milhões), impostos e acordos (R$ 517 milhões) e dívidas operacionais (R$ 204 milhões), que estão ligadas a compromissos presentes, do próprio ano cruz-maltino.
O cálculo de Grafietti para a dívida inclui tudo o que deverá ser desembolsado, menos o que está disponível em caixa. Provisões para contingências (para ações judiciais em andamento) podem fazer com que os valores devidos fiquem maiores, em casos de clubes contestados.
Por outro lado, é possível que o clube tenha valores a receber por direitos de jogadores que vendeu, ou de patrocinadores e parceiros comerciais, o que eventualmente torna a dívida mais fácil de lidar no curto prazo.
No gráfico abaixo, a Convocados mostra a “alavancagem” do clube, isto é, a comparação entre receita e dívida. Quanto menor for o número, menos alavancada a entidade está — o que indica que há condições favoráveis para novos investimentos em atletas, infraestrutura, base etc.
Geração de caixa e investimentos
- EBITDA: R$ 28 milhões (positivo)
- Investimento em base: R$ 600 mil
- Investimento em contratações: R$ 164 milhões
- Investimento em infraestrutura: R$ 5 milhões
EBITDA é a diferença entre receitas e custos, antes de descontar juros, depreciações e amortizações. Menos complicada do que a sigla faz parecer, ele indica a saúde financeira do negócio. E, no caso do Vasco, o número positivo mostra que o ponto de partida é favorável.
A situação fica desconfortável ao incluir no cálculo os juros (R$ 54 milhões em 2023), o pagamento das dívidas em si e os investimentos variados. Como a SAF não tem capacidade financeira para dar conta de tudo, depende dos aportes de seus proprietários — seja a 777 ou outro dono.
Fonte: Globo Esporte