Vasco projeta mais dinheiro em caixa e receitas maiores após acordo com credores
A reportagem mostrou também o caso do Botafogo, que assim como o Vasco da Gama está negociando as dívidas com credores.
Botafogo e Vasco estão adiantados na adesão ao Regime Centralizado de Execuções (RCE), um mecanismo instituído pelo Congresso em 2021 para facilitar a renegociação de dívidas trabalhistas e cíveis.
Os clubes tiveram autorização da Justiça para formular planos de pagamento aos seus credores. Seus dirigentes mandaram ao Judiciário documentos nos quais formalizam promessas e expectativas.
O ge obteve cópias das petições e da tramitação. No caso do Botafogo, são 760 páginas de cartas e balanços. O clube é representado pelo escritório de advocacia Kalache, Chame e Costa Braga.
A documentação do Vasco soma 311 páginas. O clube tem a representação jurídica dos escritórios Andrade Figueira e Ideses.
Ao propor planos para credores, esses clubes fizeram projeções financeiras para os próximos anos. Para demonstrar que têm capacidade de honrar os acordos, seus dirigentes precisaram abrir o fluxo de caixa.
Neste texto, o ge mostra as simulações feitas pelos dirigentes e as compara com o ano de 2020, a partir dos números calculados pelo economista Cesar Grafietti em seu estudo anual no Itaú BBA.
Vasco
O Vasco inscreveu R$ 223 milhões em dívidas no Regime Centralizado de Execuções. Essa quantia precisará ser paga aos credores em até dez anos numa espécie de fila, para a qual o clube dedicará 20% das receitas todos os meses, até que a obrigação zere.
A diretoria de Jorge Salgado montou projeções para diferentes cenários. Havia um quadro que considerava a promoção imediata para o Campeonato Brasileiro, com a disputa dele já em 2022. Como essa possibilidade não existe mais, a reportagem descartou essa simulação.
O quadro a seguir considera o Vasco na Série B em 2022, com a promoção para disputar a primeira divisão somente em 2023 e 2024. A projeção da direção cruz-maltina considera que o plano de pagamento será aceito pelos credores, caso contrário os números seriam piores.
*Em milhões de reais
As entradas representam as receitas do Vasco em cada ano: direitos de transmissão, patrocínios, bilheterias, sócios e atletas, entre outros.
As saídas apontam despesas. A folha salarial é o gasto mais representativo, mas também há terceiros, materiais, manutenções, etc.
O fluxo de caixa operacional é a diferença entre entradas e saídas. Se o Vasco não estivesse endividado, esse dinheiro poderia ser quase todo usado para investimentos em futebol. Como o clube está afundado em dívidas, todos os itens até a sobra de caixa precisam ser descontados.
A partir da comparação entre os números concretizados em 2020 (ano em que a associação disputou a primeira divisão) e as projeções para 2022, 2023 e 2024, é possível chegar às seguintes constatações:
- Mesmo com a permanência na Série B, a diretoria do Vasco afirma que elevará receitas em R$ 33 milhões já em 2022;
- Entre 2020 e 2024, dirigentes esperam mais do que dobrar a arrecadação do clube, algo necessário para cumprir o acordo;
- O montante previsto para investimentos (compras de direitos de atletas e categorias de base) é mínimo nas próximas temporadas;
- Mesmo cumprindo as projeções, a direção prevê captações de empréstimos em quantias elevadas para fechar a conta.
- O que acontece se as promessas não forem cumpridas? O Vasco não terá condições de pagar as despesas correntes (exemplo: salários do elenco atual) ou cumprir com o pagamento das dívidas.
No caso do Regime Centralizado de Execuções, o clube precisará pagar pelo menos 60% da dívida total em seis anos. Se não conseguir, as cobranças voltarão, bem como penhoras e bloqueios.
Botafogo
O Botafogo inscreveu R$ 178 milhões em dívidas no Regime Centralizado de Execuções. Essa quantia precisará ser paga aos credores em até dez anos numa espécie de fila, para a qual o clube dedicará 20% das receitas todos os meses, até que a obrigação zere. Confira detalhes neste link.
A diretoria de Durcésio Mello montou a projeção financeira, conforme o quadro a seguir, considerando que o clube estará no Campeonato Brasileiro em 2022, conquista muito próxima de ser confirmada.
*Em milhões de reais
As entradas representam as receitas do Botafogo em cada ano: direitos de transmissão, patrocínios, bilheterias, sócios e atletas, entre outros.
As saídas apontam despesas. A folha salarial é o gasto mais representativo, mas também há terceiros, materiais, manutenções, etc.
O fluxo de caixa operacional é a diferença entre entradas e saídas. Se o Botafogo não estivesse endividado, esse dinheiro poderia ser quase todo usado para investimentos em futebol. Como o clube está afundado em dívidas, todos os itens até a sobra de caixa precisam ser descontados.
A partir da comparação entre os números concretizados em 2020 (ano em que a associação disputou a primeira divisão) e as projeções para 2022, 2023 e 2024, é possível chegar às seguintes constatações:
- A diretoria do Botafogo afirma que elevará receitas em R$ 37 milhões em 2022, considerando o valor que obteve na elite em 2020;
- Entre 2020 e 2023, dirigentes esperam quase dobrar a arrecadação do clube, algo necessário para cumprir o acordo;
- Despesas (inclusive folha salarial do futebol) precisarão ser menores do que no passado, mesmo com a volta ao primeiro escalão;
- O montante previsto para investimentos (compras de direitos de atletas e categorias de base) é mínimo nas próximas temporadas.
Adicionalmente, a diretoria do Botafogo anexou à petição uma projeção esportiva para os próximos anos. As receitas do futebol têm se tornado cada vez mais variáveis – ou seja, vinculadas à performance em campo, por meio de premiações e pagamentos escalonados.
O que acontece se as promessas não forem cumpridas? O Botafogo não terá condições de pagar as despesas correntes (exemplo: salários do elenco atual) ou cumprir com o pagamento das dívidas.
No caso do Regime Centralizado de Execuções, o clube precisará pagar pelo menos 60% da dívida total em seis anos. Se não conseguir, as cobranças voltarão, bem como penhoras e bloqueios.
Opinião do jornalista
Por um lado, precisamos compreender as situações de dirigentes. Jorge Salgado, no Vasco, e Durcésio Mello, no Botafogo, precisam equacionar dívidas para terem alguma chance de reerguer as instituições.
Se fosse eu o gestor de qualquer um desses clubes, também buscaria a adesão ao Regime Centralizado de Execuções. Para sustentar que haverá condições de pagamento, também faria tais projeções.
Por outro lado, não se deve ignorar a dificuldade evidente em ambos os planos – sendo que o do Vasco, principalmente por continuar na segunda divisão, assume riscos ainda maiores do que o do Botafogo.
O problema dessas contas é que elas estão apertadas. Se algo der errado ou não sair conforme o previsto, elas estouram. O que acontece se o Vasco precisar de reforços acima da capacidade de investimentos para vencer a Série B? E se o Botafogo estiver ameaçado de rebaixamento?
Esse exercício – de comparação entre números realizados e projetados – não é feito para que se tente prever o futuro. Ele nos ajuda a ter um pouco mais de realismo, a criar expectativas minimamente racionais.
O RCE pode ser, finalmente, a solução para dívidas que são acumuladas e postergadas há décadas. Ou pode servir de alívio momentâneo, como aconteceu com o Ato Trabalhista, até que nova renegociação seja necessária. O futuro dependerá do cumprimento das metas acima.
Fonte: Blog do Rodrigo Capelo/Globo Esporte