Vasco é o 5º clube mais endividado do Brasil

Com dívida de R$ 710 milhões, o Vasco da Gama aparece em quinto lugar na lista dos clubes mais endividados do Brasil.

Jogadores do Vasco comemorando gol contra a Ferroviária
Jogadores do Vasco comemorando gol contra a Ferroviária (Foto: Cleber Valera/Futura Press)

Os clubes brasileiros devem, não negam. Alguns pagarão quando puderem. Outros, aparentemente, nem tanto. O endividamento líquido dos que formam a elite do futebol brasileiro ficou em R$ 10,4 bilhões ao fim de 2021, uma ligeira redução na comparação com os R$ 11,2 bilhões de 2020. No topo da lista está o campeão brasileiro, o Atlético-MG, que virou o ano com uma dívida de R$ 1,3 bilhão. O pódio ainda tem o Cruzeiro (R$ 1,020 bilhão) e o Corinthians (R$ 928 milhões).

Ao mesmo tempo que pode ser sinônimo de investimentos, o endividamento, quando descontrolado, traz ameaça de inviabilizar e travar a operação do clube. O número total, por si só, chama a atenção, mas é preciso um olhar mais cuidadoso para os balanços financeiros para verificar quem está em uma situação grave e qual o risco que cada clube enfrenta.

O volume total do endividamento foi calculado pela consultoria Ernst & Young (EY) com o seguinte critério:

Endividamento líquido = passivo total – (ativo circulante + realizável a longo prazo).

Tecnicamente, essa equação soma os compromissos a pagar (passivos) a curto (ano corrente) e longo prazo (anos posteriores). Desse total é descontado o quanto o clube tem em caixa e os ativos — bens/direitos que podem ser convertidos em recursos financeiros — a curto e longo prazo.

Endividamento líquido dos clubes em 2021
Endividamento líquido dos clubes em 2021

Pode ser que um clube com endividamento maior esteja em situação mais tranquila do que outro com dívida, em números absolutos, menor. Trazendo para uma situação cotidiana, o perigo não é comprar um carro de luxo tendo condições de pagar. É entrar na prestação de um carro popular, mais barato, sem poder arcar com as parcelas.

Assim como existem pessoas que se enrolam com cartão de crédito ou impostos, a natureza do endividamento varia de acordo com o clube. O São Paulo tem o sétimo maior endividamento – R$ 642 milhões, sendo R$ 214 milhões com empréstimos. O balanço financeiro indica que ele não conseguiu cumprir compromissos do ano corrente e empurrou a dívida para exercícios posteriores.

“Ao usar apenas um indicador para tirar conclusão, a chance de ter uma análise rasa é muito grande. Se olhar somente o endividamento, não vamos entender se o clube consegue gerar caixa, se essa é uma dívida saudável, se os parcelamentos estão equalizados. É preciso entender mais a estratégia do que a foto de um número, especificamente”, afirma Pedro Daniel, diretor executivo da área de esportes da EY Brasil.

A solução encontrada pelo Galo

No caso do Atlético-MG, a dívida atual tem algumas fatias mais representativas: 38% (cerca de R$ 498 milhões), por exemplo, são formados por uma dívida classificada como onerosa — pendências com empresários, bancos e passivo trabalhista. Esse cenário não é saudável. Em cima desse montante há incidência de juros. Só em 2021, as despesas financeiras com essas contas penduradas pelo Atlético-MG chegaram a R$ 87 milhões. O Flamengo, por exemplo, fechou 2021 com R$ 21 milhões de despesas financeiras e o dobro da receita total do Galo.

“Esse é o ponto mais crítico da estrutura do nosso clube. Precisa de uma ação estrutural. Não podemos ficar ano após ano dizendo que tivemos esse custo. Tivemos um ano maravilhoso, mas o dinheiro que nós ganhamos basicamente vai embora com o custo da dívida”, explicou o diretor financeiro do Atlético-MG, Paulo Braz, na apresentação do relatório financeiro do clube.

Relação dívida/receita

Mas outros elementos dos balanços podem ajudar na compreensão da situação do clube em relação às dívidas. A começar pelas receitas. Isso ameniza um pouco a situação do Atlético-MG no cenário brasileiro, já que o Galo arrecadou R$ 500 milhões em 2021. Ou seja, o índice fica em 2,6 na relação endividamento/receita. Com esse elemento, a situação mais grave se torna a do rival Cruzeiro.

“O problema não é a dívida. O problema é a relação entre dívida e receita. O clube que fica em um corte acima de dois já indica uma situação crítica. É uma situação, se fosse uma empresa regular, de quase insolvência. As soluções aqui passam por reduzir o investimento no plantel e conseguir renegociações”, pontua Gustavo Hazan, gerente da área de esportes da EY.

Endividamento líquido x receita total do clubes
Endividamento líquido x receita total do clubes (Reprodução/ Uol)

Vender parte do patrimônio é a aposta da diretoria atleticana para estancar essa sangria. O plano é negociar os 49,9% que lhe restam de propriedade do shopping Diamond Mall. A estimativa é arrecadar cerca de R$ 300 milhões, no mínimo, com essa operação e quitar as dívidas que alimentam os juros. A proposta da diretoria ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Deliberativo. O presidente do clube, Sérgio Coelho, considera que a venda do shopping é “inevitável”:

“Não é para pagar valores aos nossos apoiadores, os 4R’s [Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador]. É para pagar bancos, fornecedores, empresários. O dinheiro estará carimbado para isso”.

A solução via SAF

Alguns clubes em situação mais complicada nessa proporção entre dívida e receita puxaram a fila de adesão à Sociedade Anônima do Futebol (SAF). É o caso do Cruzeiro, responsável pelo segundo maior endividamento líquido, e o Botafogo. Não por acaso eles têm o pior índice na proporção dívida/arrecadação.

“Eles jogaram a Série B em 2021 e tiveram baixa geração de caixa”, pontuou Pedro Daniel.

O cenário para esses clubes foi amenizado porque conseguiram renegociar dívidas, seja com acordos junto à União ou pela adesão ao regime centralizado de execuções que a Lei da SAF trouxe à mesa – a Justiça aceitou mesmo antes da transformação em empresa. O caminho de buscar investimento privado, como o de Ronaldo e John Textor, também ajuda na parte de capitalização para quitar compromissos imediatos para manutenção e fortalecimento esportivo do time.

Flamengo e Palmeiras vão muito bem, obrigado

Alguns clubes usaram a força das receitas e um processo de reorganização interna para saírem do buraco em termos de dívidas. O Flamengo fechou 2021 com R$ 323 milhões de dívidas. Um problema? Longe disso. Boa parte está financiada no Profut (R$ 218 milhões). Além disso, a dívida total representa cerca de 30% do que o clube teve de receita apenas em 2021 (R$ 1,082 bilhão).

Como é bom pagador, o Fla consegue operações junto a instituições financeiras que resultam em dinheiro na mão a um custo financeiro muito baixo.

“O Flamengo, nos últimos anos, chegou a aumentar o endividamento líquido. Deixou de pagar? Não. Fez caixa, mais investimentos. Se eu vou comprar o carro, e a concessionária faz a 24 vezes sem juros, posso fazer as parcelas. Fazer o financiamento neste caso é mais interessante”, pontuou Pedro Daniel.

O Palmeiras é outro bom exemplo em relação ao controle de dívida, por mais que o processo de reestruturação interna tenha sido diferente em relação ao Fla. O endividamento líquido palmeirense em 2021 (R$ 434 milhões) ficou em menos da metade da receita total (R$ 977 milhões).

Olho nos impostos, Corinthians

O Palmeiras nem aderiu ao Profut, diferentemente do Flamengo. Mas entrar ou não no parcelamento não é decisivo para se ver livre de problemas com a União. O Corinthians, por exemplo, tomou a decisão de deixar acumular os compromissos tributários. Não por acaso lidera, e muito, a lista de dívidas com impostos (em 31 de dezembro, R$ 534 milhões). Isso impulsionou o clube para a parte de cima da lista geral de endividados.

“O que me parece é que as despesas são maiores que as receitas. Logo, é a escolha de Sofia. Alguma conta ele vai deixar de pagar. O Corinthians, pelo balanço, escolheu a despesa tributária e tem alto nível de endividamento com fornecedores. Ficou claro que gasta mais do que arrecada. Pode ser uma estratégia também, visando ao aumento de geração de caixa. Mas é uma estratégia mais agressiva. É um risco mais elevado”, acrescenta Pedro Daniel.

Endividamento tributário  dos clubes em dezembro de 2021
Endividamento tributário dos clubes em dezembro de 2021 (Reprodução/Uol)

Fonte: Uol

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4 comentários
  • Responder

    O problema do Vasco é historico e começou a piorar há vinte e dois a os pra cá. Cartotas que se valeramdos seus cargos eletivos para se locupletarem com conchavos com certos empresários inescrupulosos para ganharem dinheiro às custas do Clube. NÃO CONFUNDIR MODERAÇÃO COM INDIGNAÇÃO!/

  • Responder

    O Vasco é altamente lucrativo, caso a saf seja aprovada os donos em dois ou três anos estarão ricos com setenta por cento e os diretores comerão os outros trinta

  • Responder

    Dizer que o Vasco tem dividas é fácil, quero ver é o jornalista dizer que parte dessas dívidas virou patrimônio no bolso de dirigentes que por lá passaram e muitos que desejam passar e aumentar essas dividas, é muito assunto

    • O problema do Vasco é historico e começou a piorar há vinte e dois a os pra cá. Cartotas que se valeramdos seus cargos eletivos para se locupletarem com conchavos com certos empresários inescrupulosos para ganharem dinheiro às custas do Clube.

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