Vágner relembra passagem pelo Vasco e relação com Eurico Miranda

O ex-volante Vágner relembrou sua passagem pelo Vasco da Gama em ano de 1998 e comentou sua relação com Eurico Miranda.

Vágner quando jogava pelo Vasco
Vágner quando jogava pelo Vasco (Foto: Acervo Pessoal)

O Vasco campeão da Libertadores em 1998 tinha Felipe, Pedrinho, Juninho Pernambucano e Ramon, mas o número 10 estava na lateral-direita. Um dos grandes reforços para o centenário do clube, o volante Vágner chegou da Roma com a responsabilidade de usar a mesma camisa do ídolo Edmundo, que viveu o grande ano de sua carreira na temporada anterior.

A estreia não foi em sua posição de origem. Jogando de meia por conta de lesões dos citados, o camisa 10 fez até gol sobre o Madureira e mostrou ao torcedor que o Cruz-Maltino teria mais um craque em campo no mágico ano de 1998. E a passagem também não teria muitas chances de volante: improvisado na lateral-direita por Antônio Lopes, se eternizou no grande título da história do clube.

“Eu tinha contrato com a Roma por três anos, mas um momento muito importante do Vasco, centenário, era um desafio também para mim, e eu bati no peito e resolvi aceitar. Eu estava preocupado com salários, os times do Rio eram complicados nessa época. Mas o presidente da Roma disse que me pagaria se atrasasse. Não atrasou. O Eurico Miranda era genial. O time começou a encaixar, começou a ganhar e acabamos vencendo a Libertadores, a maior glória do Vasco. Por pouco não levamos também o Mundial”, conta Vágner, ao UOL Esporte.

A relação com o “Delegado” era muito boa. E se não fosse o que hoje chama de “falta de humildade”, Vágner acredita que teria chegado à seleção brasileira na lateral-direita a partir das ideias do treinador.

“Eu sempre tive essa facilidade de jogar em várias posições, isso me ajudou bastante. Mas eu não quis jogar mais de lateral porque eu tinha condições de jogar de volante em qualquer outro time e na seleção, aí como o Antonio Lopes não me deu oportunidade, eu preferi sair. [Lopes] É um homem muito sábio, muito inteligente, e nós jogadores muitas vezes somos mais cabeça dura. Ele disse: ‘Fica na lateral que você vai para a seleção’. Eu não quis ir para a seleção de lateral, eu queria ir de meia. Depois nós vimos alguns jogadores até campeões do mundo que jogavam no meio e na lateral. Isso aconteceu com o Zé Roberto e muitos outros. Faltou humildade da minha parte”, admite.

Antes da Roma, onde pouco jogou no time de Totti, Aldair, Cafu e companhia, o polivalente jogador se destacou pelo Santos, após começar a carreira em pequenos do interior paulista como Arapongas, Paulista de Jundiaí e União São João de Araras.

Na Vila Belmiro, ele foi campeão do Rio-São Paulo em 1997. Vágner guarda com carinho os tempos de Peixe, mas não tira da cabeça a tristeza pela polêmica derrota para o Botafogo na final do Campeonato Brasileiro de 1995.

“Foi o time mais importante do início da minha carreira. O time do Pelé. Faltou aquele título do Brasileiro de 95 porque nós fomos roubados, foi vergonhoso. Depois de muitos anos o juiz [Márcio Rezende de Freitas] assumiu os erros, mas tem coisas que não tem volta. Eu falo que todos os times que eu joguei foram melhores, porque através de cada um deles eu tive a projeção que tive na carreira. O meio campo no Santos era eu, Giovanni, Jamelli e Robert. O time era sensacional, fora do normal. Aquele Santos era um timaço”, recorda.

Início no atletismo

Chamado de craque por muita gente em suas passagens por Vasco, Santos, São Paulo, Atlético-MG, Roma e Celta de Vigo, Vágner começou do lado de fora do campo. E não pelas pontas, mas na pista de atletismo. Foi um projeto social em Londrina que o removeu da situação de pobreza e o transformou em atleta.

“Tinha uma família humilde. Às vezes a gente tinha só feijão com farinha para comer. Aí, comecei a participar de um projeto de atletismo em Londrina, com crianças carentes. Aos poucos fui emagrecendo, pegando gosto pela atividade física e passei a morar lá. Nessa época, o Londrina tinha um timaço, que foi campeão da Taça de Prata, em 1980. Eu era gandula desse time, lavava os carros deles, engraxava chuteira, levava roupa para a lavanderia. Depois, passei a ganhar cestas básicas para jogar nos times da cidade. Nessa época, o Bebeto de Oliveira foi o meu preparador físico. Depois, o reencontrei no Vasco da Gama e na seleção brasileira, olha como é o destino”, relembra.

Pai jogador não registrou nem assumiu

Vágner nasceu em Bauru, foi morar no Rio de Janeiro e cresceu em Londrina, no Paraná. Seu pai era o ex-jogador Zé Rubens, que fez carreira na equipe da cidade onde deu os primeiros passos no futebol.

“Meu pai é o Zé Rubens, que foi jogador. Mas ele não me registrou e não pagou pensão alimentícia. A minha mãe não colocou ele na Justiça. Ele ficou mais conhecido, depois, por ter sido treinador do Juninho Paulista, no Ituano, e ter convencido o Geninho a lançá-lo como profissional apesar de ser magrinho. Ele é o meu pai biológico, mas não temos relação. Se ele precisasse, eu o ajudaria. Não tem problema o que passou. É coisa deles. A minha mãe nunca falou mal dele, me dizia para ficar à vontade se quisesse procurar. Mas não quis. Eu tive uma p… de uma educação mesmo sem ele”, explica.

Os dois não têm nenhuma relação até hoje. O ex-meia-direita não o registrou nem assumiu sua paternidade.

“Sei que ele está vivo e mora em Bauru. Eu não tenho contato, nunca tive. Ele é casado até hoje e tem quatro filhos. Ele só registrou o meu irmão mais velho. Mas ele sabe que eu sou filho dele. A gente já se encontrou. Foi um ‘oi, tudo bem?’, com respeito. Mas não tem mais nada”.

Título no São Paulo e briga com Levir

Ao sair do Vasco campeão da Libertadores para jogar no meio-campo, Vagner acabou no São Paulo. Por lá, participou de mais um grande time, que venceu o to Paulista em 2000.

“De volante, Antonio Lopes falou que eu ia ser o sétimo reserva. O Vasco tinha Alex Oliveira, Paulo Miranda, Nasa, Válber, Luizinho, Juninho Pernambucano e Nelson. Eu entrava de ponta, de meia, de volante e dava conta do recado. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu ia jogar na minha posição e ia mostrar para ele que eu tinha condições de jogar. Foi o que aconteceu, fui para o São Paulo, fui campeão e passei a ser cotado na seleção”, lembra.

Mas aí sim o então volante teve problemas com o técnico. Levir Culpi, para o ex-jogador, era vaidoso demais.

“O Levir [Culpi] queria o Ricardinho, do Cruzeiro, onde ele estava antes. Ele falava que eu não chutava a gol, que eu não fazia gol, que eu não dava assistência, não fazia nada. Quando cheguei, o técnico era o [Paulo César] Carpegiani. Eu estava voando baixo. Levir chegou e me afastou. Eu disse para o presidente Paulo Amaral: ‘Se a gente não for campeão paulista, não precisa pagar os últimos três meses de salário’. Voltei para os jogos decisivos e fomos campeões. É vaidade. Tem treinador que é muito vaidoso. Quando o treinador é mais vaidoso e quer ser mais estrela que o atleta é complicado. Existem muitos. Tem treinador que erra e não quer dar o braço a torcer, culpa o jogador”, diz.

Do São Paulo, ele guarda como memória dupla com Raí e dos elogios do jogador, um dos maiores ídolos da história do clube, registrados no livro de Rogério Ceni, também uma unanimidade entre os são-paulinos.

“Está na entrevista do Raí: ele diz que parou porque eu saí do São Paulo. O Raí ia para a frente, e muitas vezes eu falava para ele não voltar. Eu dizia: ‘Fecha só o espaço’. Foi quando o Raí voltou a crescer no futebol. Não é o que eu acho, é o que ele falou [risos]”, diz.

A vida pós-futebol

Depois da carreira, encerrada precocemente aos 30 anos por conta das lesões, Vágner se formou em administração e hoje faz pós-graduação em Teologia, vivendo em Maringá com a renda de seus imóveis. Mas antes disso, chegou a ser servente de pedreiro.

“Eu me preparei para o fim da carreira. Mas quando parei, tive que me reinventar. Foi cedo, com uma lesão, mas eu não poderia ficar choramingando. Fui trabalhar como servente de pedreiro. Eu queria entender tecnicamente das coisas para cuidar dos meus imóveis. Queria aprender na prática. Foi do dia para a noite. Um dia um cara me perguntou: ‘Você não é o Vágner jogador?’. Eu estava todo sujo ali. No início deu um pouquinho de vergonha. Mas tenho que olhar para trás e agradecer a Deus por ter saúde, trabalhar dignamente e aprender uma outra profissão para cuidar das suas coisas. Não é fácil, mas foi isso. Tinha gente que dava risada, sabe? Mas foi bom para mim”, conta.

Confira mais assuntos da entrevista com Vágner:

Quem era melhor no Vasco de 1998: Vágner ou Felipe?

“Não existe quem era mais ou menos habilidoso. Cada um tinha a sua particularidade. O Felipe, com aquela perna esquerda, era um gênio. Não tem nem o que falar. Ele estava em um momento muito bom. Tudo dava certo naquele time. Quem entrava dava conta do recado. Com a saída do Edmundo, a estrela do time passou a ser o coletivo. O Ramon ficou no banco, eu fiquei no banco, o Juninho ficou no banco, Pedrinho ficou no banco, e todo mundo que entrava estava dando conta do recado. São todos craques demais”.

Relação com Eurico no Vasco

“Vi mais o Eurico Miranda pela televisão do que pessoalmente. Quando joguei no Vasco, ele era deputado federal. Nem parava lá em São Januário. Dá para contar na palma da mão quantas vezes o vi. Sempre que a gente ganhava um jogo importante que ele descia ao vestiário, e todo mundo pedia benção para ele [risos]. Era um apaixonado pelo Vasco, morreu pelo clube, e isso aí é para poucos. O [Antônio Soares] Calçada era o presidente, mas na verdade o Eurico era o presidente. Quem mandava era ele. Ele poderia ter sido melhor, mas é o que eu falo: é o que tinha para aquele momento e para aquela hora. Muito jogador parecia ter medo do homem, quando o Eurico chegava os caras ficavam todos com medo [risos]”.

Qual o jogador mais difícil de marcar que já enfrentou?

“Dener. Joguei contra ele pelo União São João e ele na Portuguesa. Meu amigo, lembro que em Araras eu estava muito bem e acabei com o jogo. Mas aí teve o jogo de volta lá no Canindé. Ele era inacreditável. Não dava para acompanhar. Eu estava grudado nele, e do nada ele já estava dez passos na minha frente driblando. Era uma cena fora do normal, ele era muito rápido, não dava”.

Qual a torcida mais chata que já jogou contra?

“Da Lazio, no clássico com a Roma. O Campeonato Italiano, naquela época, era o melhor do mundo. Um mês antes de a gente ir jogar o dérbi contra a Lazio já começava. A torcida pintava muro, começava a fazer barulho, era muito chata”.

Qual o melhor time brasileiro de todos os tempos?

“Foi o São Paulo de 1992/1993. Não à toa foram campeões mundiais. Depois que vi esse time jogar, teve aquele Palmeiras do [Vanderlei] Luxemburgo, mas nem chegou perto. O São Paulo do Telê Santana jogava que nem time europeu. Mantinha a posse de bola, tinha o Raí… Foi o melhor dos melhores, o São Paulo foi o melhor”.

Qual a seleção brasileira em Copas que mais te irritou?

“Não me irritou, mas a de 2014, do 7 a 1, me decepcionou. Eles ganharam a Copa das Confederações em 2013 contra o melhor time do mundo, que era a Espanha. Aí, eles acharam que iam ganhar fácil a Copa do Mundo. Você não ganha o jogo antes de jogar. Faltou preparo, concentração e humildade. Perder para a Alemanha pode perder, porque são 11 contra 11, mas da maneira que perdeu não”.

Monte o seu time de 1 a 11 com os melhores jogadores por posição que já viu jogar.

“Rogério Ceni, Daniel Alves, Oscar de 82, Aldair e Marcelo; Toninho Cerezo, Rivaldo, Giovanni e Palhinha; Ronaldo e Romário. Treinador: Cabralzinho”.

Fonte: Uol

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