União Cruz-Maltina estreia no Carnaval do Rio e projeta Sapucaí

A escola de samba União Cruz-Maltina fará sua apresentação no dia 29 na Intendente Magalhães, com o enredo 'Camisas Negras'.

O vascaíno poderá ter uma escola de samba para chamar de sua no Carnaval do Rio de Janeiro de 2020. Estreando no Grupo de Avaliação, a União Cruz-Maltina desfilará com o enredo “Camisas Negras, uma linda história de respeito, igualdade e justiça que vai além do futebol”, onde faz alusão ao time da década de 20 que quebrou preconceitos e cravou seu nome no esporte.

A apresentação da agremiação acontecerá no próximo dia 29 na Intendente Magalhães, espécie de “Avenida B” do Carnaval carioca, e que reúne as escolas das divisões de acesso.

Liderada pelo presidente-fundador Rodrigo Brandão e fundada no ano passado, agremiação tem planos ambiciosos para estar na Sapucaí — a “Série A” do samba — dentro de alguns anos.

“Temos um objetivo traçado de chegar até o Grupo Especial. Estamos trabalhando de maneira muito séria, comprometida, respeitando muito a Intendente Magalhães. Temos fantasias novas, a obrigatoriedade no desfile da Intendente é ter um ou dois carros alegóricos e estamos indo com dois. O projeto é bastante robusto. Estamos vindo com muita seriedade para subir a cada ano, de maneira gradativa, e chegar na Sapucaí”, disse Rodrigo ao UOL Esporte.

Além de dois carros alegóricos, a União Cruz-Maltina desfilará com 480 componentes e 18 alas, sendo quatro exclusivas para os moradores da Barreira do Vasco.

Sem ligação com diretoria e organizadas

Apesar de ter a palmeirense Mancha Verde como madrinha, a União Cruz-Maltina não é oriunda de alguma organizada do Vasco, prática comum no Carnaval de São Paulo. A escola também não tem ligação nem apoio da atual diretoria do clube.

“Fundei a escola para unir as minhas duas paixões, que são o samba e o futebol. Eu frequento os jogos do Vasco desde criança, sou de família de portugueses e lá a regra é ser vascaíno”, disse Rodrigo para complementar:

“A escola foi fundada por torcedores do Vasco. Convidei mais duas pessoas para compor comigo e somos torcedores, não temos vínculo com a presidência e nem com nenhum núcleo de organizadas do Vasco. Nós recebemos o torcedor convencional e o organizado da mesma maneira.”

Ensaios ao lado de São Januário

Os ensaios que antecederam ao Carnaval foram realizados pela União Cruz-Maltina nos arredores de São Januário, próximos a comunidade Barreira do Vasco, que é vizinha ao estádio.

A escola de samba também marcou presença em alguns jogos, levando passistas e madrinha de bateria para animar os torcedores do lado de fora.

Recursos próprios

A União Cruz-Maltina promete chegar forte no Carnaval carioca, mas em seu primeiro ano, os recursos foram quase que em sua totalidade próprios de seus fundadores. Caso a escola suba para o Grupo de Acesso da Intendente Magalhães, já passará a receber um incentivo público.

“Não tivemos apoio da iniciativa privada e do poder público nenhum. O Carnaval foi colocado na rua através dos nossos próprios meios.”

Os Camisas Negras

Inspiradores do enredo da União Cruz-Maltina, os Camisas Negras formaram o histórico time de 1923, formado por negros, mulatos e operários que, naquele ano, rompeu com a hegemonia dos então clubes de elite Botafogo, Fluminense e Flamengo, e conquistou o primeiro título carioca da história do Vasco.

Eles receberam tal alcunha da imprensa esportiva da época por conta do uniforme, que era predominantemente preto, com alguns detalhes em branco na gola.

No ano seguinte à conquista vascaína, o trio da zona sul da cidade, com apoio de Bangu e São Cristóvão, abandonou a Liga que o Cruz-Maltino disputava e resolveu criar outra, onde impunha regras que, subliminarmente, impedia que os jogadores vascaínos participassem.

O fato motivou a criação daquela que viria a se tornar a chamada “Resposta Histórica”, que foi uma carta escrita pelo presidente do Vasco na época (José Augusto Prestes) se recusando a participar da nova liga acusando preconceito por parte dos organizadores.

Na concepção do presidente Rodrigo Brandão, o enredo sobre os Camisas Negras será bastante simbólico:

“Camisas Negras são um marco, um motivo de orgulho para o vascaíno. Costumo dizer que estamos unindo o clube do povo à festa do povo.”

Unidos da Tijuca já homenageou o Vasco

Em 1998, ano do centenário e do título da Libertadores do Vasco, a Unidos da Tijuca teve como enredo a história do clube, mas acabou rebaixada. No entanto, o samba é cantado exaustivamente pelos vascaínos até hoje, em todos os jogos.

A agremiação também ganhou a simpatia dos cruzmaltinos, e muitos costumam desfilar na escola.

Escola de samba dos vascaínos

Veja a letra do samba do G.R.E.S. União Cruzmaltina

“Camisas Negras, uma linda história de respeito, igualdade e justiça que vai além do futebol”
Compositor: Leandro Augusto
Intérprete: Juan Briggs

“Hoje peço licença aos mestres do samba
E a todos os deuses com fé vou saudar
Eu sou cruz-maltino e bato no peito meu lema é justiça, igualdade e respeito

Em busca de um novo eldorado, despertou
Na caravela a força de um guerreiro, pioneiro com futuro promissor
Venceu as tempestades e os mistérios do mar
E viu a sua estrela na Vitória brilhar
Destruiu barreiras, limites superou
Um campeão na terra e nas águas assim se consagrou

Um amor de verdade eterna paixão
Construiu sua história no meu coração
Lá em São Januário plantou a raiz
Meu primeiro amigo e só me faz feliz

Silêncio
O teu silêncio mudou toda trajetória
Goleou o preconceito
Exemplo de humanidade
Vasco da Gama, sua torcida é seu maior patrimônio
Na memória trago os mais belos sonhos
Sentimento imortal
Camisas negras
Tua essência é o meu carnaval”

Uol

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