Saiba os motivos por trás da demissão de Carille do Vasco
Ex-técnico do Vasco da Gama, Fábio Carille deixou o Cruzmaltino após a derrota para o Cruzeiro, pelo Campeonato Brasileiro.

A passagem de Fábio Carille pelo comando do Vasco chegou ao fim na noite deste domingo, com a demissão do cargo após a derrota por 1 a 0 para o Cruzeiro, em Uberlândia, pela sexta rodada do Brasileirão.
O resultado negativo foi a gota d’água para colocar um ponto final na relação que já sofria com desgastes ao longo das últimas semanas. Veja abaixo os principais episódios que motivaram o desligamento do treinador.
Postura nos clássicos no Carioca
O início do incômodo com o trabalho do treinador aconteceu ainda no Campeonato Carioca, quando a equipe sofreu três derrotas para o Flamengo. O Vasco perdeu para o rival na Taça Guanabara e nas duas semifinais do estadual. Mais do que os resultados, o desempenho e a postura do time incomodaram a direção do presidente Pedrinho.
Como os reforços para o ataque tinham acabado de chegar ao clube, o trabalho de Carille não foi tão questionado pela direção do Vasco.
Poucas mudanças após período sem jogos
Após a eliminação no Campeonato Carioca, porém, o Vasco teve um período de 22 dias sem jogos oficiais até a estreia no Campeonato Brasileiro, diante do Santos. O hiato era considerado importante para a adaptação dos reforços para o setor ofensivo, contratados no fim da janela de transferências, e para consolidar as ideias de jogo de Fábio Carille com o grupo de jogadores.
Entendia-se que a exigência por atuações melhores seria maior, e mais justa, depois deste período. No entanto, o rendimento depois do começo do Campeonato Brasileiro também não agradou, principalmente nos jogos fora de casa. Não houve um entendimento de que o Vasco apresentava evolução o passar dos jogos.
Partidas como visitante
Três jogos como visitante pesaram bastante para o desgaste da relação entre Vasco e Carille: Melgar, Corinthians e Ceará.
A sequência começou com o empate com o time peruano em 3 a 3, pela Sul-Americana. A equipe vascaína chegou a abrir 3 a 1 no placar no Peru, mas cedeu o empate nos minutos finais. A postura do time, que recuou bastante no fim, e o resultado amargo culminaram em parte da insatisfação.
Contra o Timão, a postura pouco competitiva da equipe durante o confronto, e a maneira como o time foi facilmente batido na derrota por 3 a 0 na Neo Química Arena geraram ainda mais críticas – mesmo pesando o fato de que alguns titulares foram poupados na partida. Foi neste momento que a pressão da torcida contra o treinador também se intensificou.
Por último, Carille acumulou nova derrota fora de casa no Brasileirão diante do Ceará, no Castelão. Na ocasião, o próprio técnico se mostrou incomodado com a postura da equipe no revés por 2 a 1. A coletiva de imprensa do treinador foi marcada por pedidos do comandante por uma mudança de mentalidade da equipe.
O treinador deixou o Vasco sem conquistar uma vitória sequer contra times de primeiras divisões nacionais fora de casa. Foram cinco derrotas e um empate. O time foi derrotado por Flamengo (duas vezes no Carioca), Corinthians, Ceará e Cruzeiro. O empate aconteceu contra o Melgar, na Sul-Americana.
Problemas no sistema defensivo
Um dos motivos que motivaram a contratação de Fábio Carille no Vasco foi a capacidade para arrumar sistemas defensivos, reconhecida em outros trabalhos realizados pelo treinador ao longo da carreira.
No entanto, os problemas na defesa, que assolaram o Vasco nos últimos anos, não apresentavam grande melhora com treinador, e o time acumulava erros coletivos e individuais a cada partida. A equipe deixou escapar pontos importantes e acumulou derrotas com falhas da defesa que aumentaram a pressão sobre o trabalho de Carille e intensificaram as críticas ao treinador.
“Somos avaliados jogo a jogo”
O próprio diretor de futebol do Vasco, Marcelo Sant’Ana, admitiu pressão sobre o treinador em entrevista há menos de 20 dias. Em conversa com os jornalistas presentes na sede da CBF após a realização do sorteio da terceira fase da Copa do Brasil, o executivo citou a cultura do futebol no Brasil e reconheceu que, muitas vezes, há um planejamento para longo prazo, mas que esbarra na pressão pelos resultados.
– No Brasil, todos somos avaliados jogo a jogo. Em algumas situações, fazem um planejamento a longo prazo, mas é nossa cultura. Eu trabalhei em outros clubes e tive essa pressão, Fábio também tem essa pressão. O Vasco tem sua maneira de ser – comentou Marcelo Sant’Ana
“Questões anímicas”
Pedrinho citou as “questões anímicas” para tomar a decisão de demitir Fábio Carille do cargo de treinador na coletiva de imprensa após o duelo contra o Cruzeiro.
A relação da torcida com o técnico tornava a situação ainda mais desgastante. O treinador saiu sob vaias em sequência de jogos em São Januário e chegou a ouvir coro pedindo sua demissão mesmo após a vitória sobre o Puerto Cabello. Nem na comemoração do gol do triunfo por 1 a 0 Carille viu a pressão estancar. Vegetti chamou todos os jogadores para celebrar o gol com o treinador do Vasco, mas a torcida imediatamente, ao perceber a atitude do capitão argentino, vaiou o técnico e o abraço enquanto comemorava.
O presidente citou que avaliou todo o contexto, mas que a pressão da torcida não foi um fator para a troca – e sim aspectos de jogo. Pedrinho também revelou que sentia receio de todo o contexto atingir o ambiente e, sobretudo, os atletas do Vasco.
– Conversei bastante, entender tudo, um processo de avaliação de todo o contexto para tomar a decisão. Pela pressão, já existia há muito tempo. Eu queria tentar plantar alguma coisa para tentar mudar alguma coisa no futebol. Mas acho que é muito forte o contexto. Estava com receio de atingir os atletas, de atingir o ambiente. Por isso, falei da questão anímica para fazer a troca. Me incomoda. Não faço a troca pela pressão, faço a troca por alguns aspectos de jogo.
– Muitas coisas que sempre falei e preguei na TV, sigo tendo como convicções… Mas na hora de aplicá-las, às vezes não é o momento que a gente imagina. Sempre acreditei muito na questão do jogo. Aqui dentro, percebemos que as coisas são diferentes e também há questões anímicas que também precisam ser consideradas. Ambiente interno estava muito bom com os atletas, Carille é um cara muito especial, a comissão técnica. É um trabalho muito sério e duro. Por todo um contexto, infelizmente, todo mundo fala que sempre sobra para o treinador. É uma verdade, mas essa responsabilidade é minha – completou Pedrinho.
Com a demissão de Carille, Felipe Maestro assume a equipe interinamente até a chegada de um novo treinador. A direção já começa o mapeamento do mercado. Fernando Diniz é o nome preferido do presidente Pedrinho para assumir o cargo.
Fonte: Globo Esporte