SAFs de Vasco e Botafogo convergem em desafios, mas vivem momento distintos

SAFs de Vasco da Gama e Botafogo fizeram movimentos parecidos e enfrentam os mesmos desafios, mas vivem momentos distintos.

Pedro Raul e Tiquinho Soares são as referências de Vasco e Botafogo
Pedro Raul e Tiquinho Soares são as referências de Vasco e Botafogo (Foto: Vítor Araújo/Lance!)

Se o futebol passa longe de ser uma ciência exata, o cenário brasileiro o torna ainda mais imprevisível. Hoje, às 16h, no Nilton Santos, Botafogo e Vasco se enfrentam em novo Clássico da Amizade envolvendo duas SAFs que fizeram movimentos parecidos e enfrentam os mesmos desafios, mas viram seus projetos de futebol dispararem em direções contrárias em 2023: para o alvinegro, a euforia da liderança. Para o cruz-maltino, a agonia da zona de rebaixamento.

O Botafogo chegou a sofrer com protestos durante o estadual deste ano, mas é o Vasco de 2023 quem experimenta de forma contundente as contrapartidas de um negócio que envolve a paixão de milhões de torcedores: com apenas duas vitórias em 12 jogos no Brasileirão e uma eliminação precoce na Copa do Brasil, a SAF cruz-maltina já foi alvo de protestos em sua sede e viu São Januário viver uma noite de violência na derrota para o Goiás. O cenário externo insustentável ajudou a cúpula de futebol a decidir pela saída do técnico Maurício Barbieri, uma das principais apostas da gestão da 777 Partners. Com William Batista de interino, o clube segue pressionado na busca por um novo treinador.

— Quando tivermos convicção, ele será apresentado — afirmou o diretor de futebol Paulo Bracks.

Balanço das SAFs de Vasco e Botafogo (Foto: Editoria de Arte)

No Botafogo, John Textor, que na sexta-feira viu Luís Castro ir para a Arábia Saudita, conseguiu segurar o treinador em momentos de pressão e driblou as cobranças pela venda de Jeffinho ao Lyon, clube que também faz parte de sua holding. Agora, mesmo sem treinador (Cláudio Caçapa será o interino), o Botafogo vive um cenário diferente do rival, de estabilidade para projetar seu futuro no novo comandante.

— Se a bola entra, a gestão é ótima. Se não entra, está tudo errado. O futebol sempre vai ser assim. Mas se tudo passa por um time competitivo, é preciso estrutura para formar jogadores, criar processos eficazes para gastar com inteligência e trazer as pessoas certas para comandar, em campo e fora. O resto as SAFs já têm, a paixão, o desejo de consumir e a certeza de que o torcedor não muda sua preferência — avalia Armênio Neto, especialista em negócios do esporte.

— O torcedor brasileiro vai ter que aprender, mesmo que na marra, a apreciar mais o jogo e a equipe do que apenas o resultado. A verdade é que não há espaço para todos brilharem e são poucos que terão sucesso. O Brasileirão deste ano tem alto grau de competitividade, que tende a aumentar com novas SAFs. Se tivermos 20 clubes ricos na Série A, quatro vão cair anualmente. Não tem o que fazer, é a lógica do futebol — adiciona Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito esportivo.

Dívidas e transmissão

Botafogo e Vasco têm perfis diferentes de liderança. Enquanto o cruz-maltino toma suas decisões por meio de um Conselho Administrativo, o alvinegro centraliza mais seus movimentos em Textor. Thairo Arruda, CEO interino do alvinegro, e Luiz Mello, CEO cruz-maltino, vêm mais abaixo na estrutura.

No futebol como negócio, há semelhanças. Ambas as SAFs já ultrapassam a casa dos R$ 100 milhões gastos com o elenco — nomes como Léo Jardim e Jair (Vasco) e Tiquinho Soares e Eduardo (Botafogo) são frutos desse maior poder de mercado, seja em custos de transferências ou em rendimentos mais altos. Os salários, velho problema do futebol brasileiro, são tratados como prioridade e estão em dia. Mas por trás dessa injeção de recursos está um desafio de médio a longo prazo de tornar clubes altamente endividados em sustentáveis financeiramente, ou seja, passar a gastar dentro do que se faz de receita, sem necessidades vitais de aportes de seus donos.

Hoje, alvinegro e cruz-maltino tentam liquidar suas dívidas cíveis e trabalhistas por meio do Regime Centralizado de Execuções (RCE), mecanismo criado pela lei da SAF que impede penhoras à medida que o clube organiza junto à Justiça uma fila de credores (pessoas ou empresas que têm valores a receber) e destina 20% de sua receita mensal a essa fila.

Mas o mecanismo tem falhas, já percebidas por Textor, que em janeiro ameaçou deixar de pagá-lo ao ver o clube não receber premiações, cobradas como dívidas por federações como a própria CBF.

— A lei da SAF está quebrada. Ela não funciona — disse o americano, na época.

Ontem, o Botafogo quitou uma dívida de R$ 6,5 milhões e acabou voltando ao regime.

Pedro Teixeira, especialista em insolvência empresarial e membro de comissão de estudos da SAF da OAB-RJ, explica que, entre as várias falhas do mecanismo estão a indefinição do que se trata de receita de fato e as taxas de juros que podem vir a “aumentar” a dívida dos clubes.

— O RCE estabelece que a dívida vai ser atualizada pela taxa Selic, que aumentou muito. Quando o Botafogo ameaça desistir do RCE e negociar diretamente com seus credores, os gestores estão fazendo contas. Isso deve acontecer com o Vasco também. Se continuarem pagando na fila do RCE, provavelmente vai passar três anos e só vão ter pagado juros.

Enquanto tentam diluir as dívidas, os clubes miram o impulsionamento imediato de receitas. Botafogo, Vasco e Cruzeiro deixaram a Libra, um dos grupos que negocia pela formação de uma liga e venda de direitos de transmissão do Brasileirão, e negociarão de forma independente, algo visto com cuidado por Textor, empresário do ramo de mídia.

—São duas grandes injeções de receita acontecendo em pouco tempo, que vão dar aos clubes mais organizados a chance de colocar a casa em ordem — explica Armênio.

A estrutura também está na mira da dupla que se enfrenta hoje, mas em visões distantes: a 777 Partners, que aluga São Januário do Vasco associativo, mira a gestão do Maracanã. O Botafogo projeta o maior CT do Brasil, com 19 campos, numa cooperação financeira com o Lyon.

Fonte: Extra

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