Rodrigo Mattos comenta dívidas de Vasco e Botafogo

O jornalista Rodrigo Mattos falou sobre as dívidas do Vasco da Gama e do Botafogo, que estão na Justiça e geram controvérsias.

Rodrigo Mattos, jornalista
Rodrigo Mattos, jornalista (Foto: Reprodução)

Vasco e Botafogo tiveram aprovadas pela Justiça a centralização da cobrança de suas dívidas trabalhistas e judiciais. A medida é vista como essencial pelas diretorias dos dois clubes para reestruturação financeira das instituições. Há um questionamento, porém, se as agremiações poderiam usar o mecanismo que foi previsto na Lei da SAF do futebol – clube-empresa.

As Justiças cível e trabalhista estão em processo de análise da homologação do acordo para centralizar os débitos dos dois clubes. Só em ações em processo de execuções, os dois clubes somam cerca de R$ 400 milhões: o Vasco tem R$ 223 milhões, e o Botafogo, R$ 178 milhões.

A Lei da SAF, já válida, prevê a possibilidade de centralização das cobranças desses débitos. Assim, o clube teria descontado 20% de sua receita para o pagamento das dívidas, sem estar mais submetido a penhoras. O pagamento tem que ser concluído em 10 anos. A questão é se clubes associativos também podem usar esse mecanismo.

A Justiça do Rio respondeu positivamente a demanda de Vasco e Botafogo para centralizar suas cobranças. O senador Carlos Portinho (PL-RJ), que é o relator da lei, afirmou que isso foi um erro do judiciário e que a redação do texto não foi feita com o intuito de atender associações civis, apenas clubes que virassem empresas.

“A lei não é tosca. Está escrita no cabeçalho dela: ela é para Sociedades Anônimas do Futebol. Ela tem contrapartidas obrigatórias, a primeira delas é se transformar em uma Sociedade Anônima do Futebol. A lei não foi feita para clubes associação civil”, afirmou o senador Portinho.

Sua alegação é de que os clubes poderiam usar a recuperação judicial para poderem reestruturar suas dívidas, em precedente aberto pelo Figueirense. Portinho só exime o Cruzeiro por partir para a cobrança centralizada porque o clube já deu entrada com a criação de sua SAF.

“Com relação às dívidas trabalhistas e cíveis, o tribunal do trabalho nunca precisou da lei da SAF para, em mais de dez anos, conceder parcelamentos sem contrapartida nenhuma dos clubes. Postura criticada inclusive pelos credores”, observou. E completou: “É um erro do judiciário, uma interpretação extensiva onde não há lacuna na lei, nem autoriza sua aplicação para clubes associativos. É um ativismo judicial se aproveitando de uma lei que não lhe presta.”

O vice-presidente Jurídico do Vasco, José Carlos Bulhões, primeiro a conseguir emplacar essa interpretação na Justiça, discorda do senador. Segundo ele, a recuperação judicial seria mais penosa para credores por criar um período de suspensão de pagamentos. Enquanto isso, o RCE possibilita que cada um ceda descontos na dívida sem que a negociação tenha que se coletiva.

“Além disso, a Lei da SAF é clara no sentido de que cabe ao clube, “a seu exclusivo critério”, optar entre o RCE ou a RJ (art. 13). Em momento algum a lei obriga o clube a se transformar em SAF para requerer, para ter este direito. Nesse sentido, negar ao clube-associação o direito de optar pelo RCE é forçá-lo a seguir o caminho da RJ (medida muito mais drástica para clube e seus credores do que o RCE) ou impor sua transformação em SAF, o que, em ambos os casos, seria contrário à sistemática da Lei da SAF e violaria, ao fim e ao cabo, a isonomia esportiva”, defendeu Bulhões.

Sua posição, portanto, é de que a obrigação de se tornar empresas para obter o benefício não está prevista na lei. “Em outras palavras, o RCE não impõe descontos ao autor da ação: o credor pode optar por aguardar a ordem dos pagamentos previstas na lei, com a atualização do seu crédito pela SELIC, ou conceder desconto para obter prioridade na fila e acelerar o recebimento do seu crédito”, completou.

Ouvido pelo blog, o advogado Bichara Abidão Neto, especializado na área esportiva, disse ter entendimento similar ao do senador Portinho. Em um artigo, ele fez críticas ao fato de clubes tenham obtido o benefício de centralizar as dívidas: entende que isso perpetua más gestões.

“Os clubes endividados e historicamente mal administrados vêm requerendo – e, surpreendentemente, obtendo – medidas liminares que lhes concedem os benefícios da Lei da SAF, com o regime centralizado de execuções, sem que se submetam às demais exigências legais de transformação em empresa, governança e tributação. Ou seja, permite-se que estes dediquem 20% de suas hoje parcas receitas para satisfazer, no longo prazo de seis anos, a dívida acumulada.

E não são necessários grandes esforços para que se perceba que um clube que arrecada 60 milhões ao ano e acumula 1 bilhão em dívidas mal pagará os juros que se acumularão nos próximos seis anos com esses 20% de sua receita.”

Até o momento a Justiça tem dado ganho de causa para Vasco, Botafogo e Cruzeiro, que ainda não concluiu sua transformação em empresa.

Fonte: UOL

Estamos no Google NotíciasSiga-nos!
Comente

Veja também
Philippe Coutinho em visita a São Januário em 2017
No controle da SAF, Pedrinho terá mais força para convencer Coutinho a voltar ao Vasco

O Vasco da Gama esperar fechar um acordo com o meia Philippe Coutinho para a segunda janela de transferências.

Pedrinho e Josh Wander
Saiba quanto a 777 Partners e o Vasco associativo devem à SAF

O balanço da Vasco SAF de 2023 detalha os créditos com o Clube associativo e a 777 Partners devem à empresa.

Josh Wander, sócio-fundador da 777 Partners
777 pede prazo para apresentar defesa em processo movido pela Leadenhall nos EUA

A 777 Partners pediu prazo até dia 24 de maio para apresentar defesa do processo movido pelo fundo inglês Leadenhall.

Jogadores do Vasco em treino no CT Moacyr Barbosa
Paralisação do Brasileiro pode ser benéfica para o Vasco

Com duas rodadas paralisadas, o técnico Álvaro Pacheco terá tempo para desenvolver seu trabalho no Vasco da Gama.

Leven Siano em entrevista ao Lance!
Oposição cobra transparência após Vasco assumir controle da SAF

Conselheiros de oposição reclamaram da falta de aviso e diálogo interno no Vasco da Gama sobre a investida na Justiça contra a 777 Partners.