Resposta Histórica completa 100 anos; veja depoimentos de ídolos e historiadores
Documento histórico do Vasco da Gama mudou para sempre os rumos do futebol brasileiro no início do século passado.
Um dos capítulos mais importantes da história do Vasco da Gama, a Resposta Histórica completa exatos 100 anos neste domingo (7). O episódio marca o combate do Cruzmaltino ao racismo e a discriminação no futebol.
O documento, assinado pelo então presidente Luiz Carlos Prestez, registra o posicionamento contrário do Clube a decisão da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), que havia obrigado o Gigante da Colina, campeão carioca de 1923 a excluir 12 jogadores do elenco, em sua maioria, negros e pobres.
Para além da comemoração, o centenário da data também convida a comunidade do futebol a fazer uma reflexão sobre a importância do movimento feito pelo Vasco naquela época, e sobre os impactos no esporte desde então.
Um dos maiores atacantes da futebol brasileiro de todos os tempos, Reinaldo, ídolo do Atlético-MG, e que sempre chamou atenção pelo poscionamento político, destacou como o gesto do Time da Cruz de Malta inlfuenciou na incusão de negros no futebol.
– O Vasco da Gama é um grande clube do futebol brasileiro. Tomando essa atitude, dando o primeiro passo para combater o preconceito, se tornou maior ainda. É importante que a gente siga lutando contra esse racismo, esse preconceito. É um crime, uma ofensa. Essa luta contra o racismo já é centenária, continua a luta contra o preconceito. Segui o exemplo do Vasco, de José do Patrocínio. Imagina o Brasil sem negros em sua história, o Brasil sem Pelé, que é o nosso rei, exemplo de negritude.
Em 2007, durante entrevista à TV Lance, o Rei Pelé, que teve o início de sua carreira ligada ao Vasco, parabenizou o Cruzmaltino, não só por abrir as portas do futebolbrasileiro só para os negros, mas como ter dado a primeira chance para ele brilhar como o maior jogador de todos os tempos.
– A minha carreira começou praticamente no Vasco. Os mais jovens não se lembram, mas teve um combinado Santos e Vasco, aqui no Maracanã, em 1957, e jogamos com a camisa do Vasco. Fomos campeões. Independente se foi o primeiro para os negros ou não, foi o que abriu as portas para mim na seleção brasileira. Independente de parabenizar o Vasco por abrir as portas para o negros, é o time que me abriu as portas para o mundo – disse Pelé, em entrevista à TV Lance, em 2007.
Um dos líderes do atual elenco vascaíno, o zagueiro Léo falou se identifica com a Resposta Histórica do Vasco e como ela impactou também na sociedade de uma forma geral. O Defensor ainda citou a construção de São Januário, financiada pelos torcedores Cruzmaltinos.
– Eu me coloco no lugar daqueles caras que mudaram a história. Tentaram excluir eles. “Ah, agora tem que construir estádio”. Construíram. As pessoas acham que nós negros queremos ser melhores que alguém. Nós não queremos isso. Queremos ser iguais, ter as mesmas oportunidades. Essa carta não impacta só o meio do futebol, impacta a sociedade. Tem gente que sonha em ser advogado, jornalista, jogador de basquete. Essa carta impacta o cenário mundial. É muito especial. A minha identificação com o Vasco é assim. Em um mês aqui, parecia que eu já tinha um ou dois anos de clube. Eu me via naquela carta, nas leituras ali. Um presidente que teve coragem de escrever aquilo quando tudo estava contra. Eu agradeço muito ao Prestes (presidente da época), porque essa carta, se não fosse ela, eu não estaria aqui. Me incluo na história, e por isso agradeço ao Vasco.
Camisas Negras
Campeão carioca da segunda divisão em 1922, o time do Vasco era formado por jogadores, em sua maioria, negros e pobres. Esse mesmo elenco foi campeão da primeira divisão no ano seguinte, chamando a atenção dos rivais.
Segundo o historiador João Malaia, o dirigente Raul Campos buscou destaques de equipes da liga suburbana, fora dos grandes que disputavam o estadual do Rio de Janeiro. Daí começava a surgir os “Camisas Negras”.
– Antes, o Vasco era uma equipe fraca. O dirigente Raul Campos fez algo que era proibido: os times não podiam pagar os seus jogadores, então ele foi até os principais clubes da liga suburbana que trouxe jogadores para o Vasco.
Malaia conta que logo em sua estreia na primeira divisão do carioca, o Gigante conquistou o troféu da competição. O Vasco surpreendeu os grandes times do Rio de Janeiro da época, que deixaram a Liga Metropolitana para fundar a AMEA.
– A maior parte desses jogadores era negros, ou brancos de origem muito pobre, que recebia dinheiro para jogar bola. Os principais times do Rio não tinham como provar isso, então criaram uma nova liga. Eles aceitariam o Vasco, mas se eles eliminassem vários jogadores, entre eles os principais do clube, que haviam conquistado o Carioca de 1923.
Historiador do Vasco, Walmer Peres conta que a postura do Clube era de mostrar que os times deveriam competir em igualdade de condições, independentemente de raça, etnia ou outro fator.
– O Vasco campeão provou que em condições iguais, não tem etnia ou raça superior. Para vencer, você precisa estar em condições iguais. E aí vence o melhor.
Integrante do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho relata que a Resposta Histórica colocou os negros e brancos pobres na rota do futebol, que antes era jogado, em sua ampla maioria, por menbros da elite carioca.
– O futebol se tornou popular. A entrada de pessoas negras possibilita o fato de que muitos negros começaram a jogar futebol pela questão financeira. O debate sobre isso começa a partir da Resposta Histórica do Vasco.
A força do Time de São Januário foi observada nos números, como diz Maiala, ao revelar o público total do Campeonato Carioca, com e sem a participação do Vasco da Gama.
– Em 1924, a AMEA sem o Vasco, juntando todos os jogos, teve 170 mil torcedores somados os públicos. Em 1925, com o Vasco, o público total foi de mais de 394 mil. Houve então, uma construção política para o Vasco voltar à AMEA.
Vale destacar que o Vasco se recusou a jogar o Campeonato Carioca organizado pela AMEA e seguiu na Liga Metropolitana, onde foi campeão estadual em 1924 mais uma vez.
Quase todos conhecem esta decisão histórica quando o Vasco da Gama enfrentou o preconceito da dupla Fla X Flu , que não aceitavam negros e pobres em seus times ou mesmo entre seus torcedores ,portanto negros e pobres deveriam ler esta Carta ,pois saberiam que não eram benquisto nos elitizados clubes da Gávea e das Laranjeiras .