Ramon e Emiliano voltam a SJ pela 1ª vez após saída com grande missão

Ramón Díaz e Emiliano não tiveram uma passagem tão longa por São Januário, mas ela foi marcante por diversos fatores. Em cerca de nove meses, conduziram a arrancada do Vasco no Brasileirão — fundamental para a permanência na Série A em 2023 — e, ao mesmo tempo, acumularam campanhas ruins no Carioca e no início do Brasileiro de 2024. Entre vitórias e derrotas, a relação da dupla com a torcida e com o clube passou de positiva a desgastada, cercada por polêmicas.

Nesta sexta-feira, Ramón e Emiliano voltarão a São Januário pela primeira vez desde 27 de abril de 2024, dia em que deixaram o Vasco. A dupla poderia ter feito a estreia pelo Corinthians contra o clube carioca no estádio, mas não teve tempo de assumir a equipe paulista a tempo. O reencontro ficou para o jogo decisivo entre seu ex-clube e o atual, o Internacional – ambos lutando para se afastar do Z-4.

O início da relação foi o melhor possível. A dupla foi protagonista na reviravolta do Vasco no Campeonato Brasileiro de 2023. Em episódios marcantes, como o “no va a bajar”, a torcida abraçou os argentinos e comprou o discurso otimista da comissão técnica.

Em 25 jogos, a comissão conquistou 10 vitórias, seis empates e oito derrotas — 36 dos 72 pontos possíveis, um aproveitamento de 50%. A comparação entre o primeiro e o segundo turno de 2023 mostra a evolução: o Vasco saiu de um desempenho de time ameaçado para uma campanha de quem briga por vaga na Libertadores. Uma ótima primeira impressão.

Com promessas de grandes investimentos da 777 e a chegada de Alexandre Mattos, o Vasco entrou em 2024 cercado de expectativas. O time foi bem na primeira fase do Carioca, com boas atuações e invencibilidade nos três clássicos, mas acabou eliminado pelo modesto Nova Iguaçu na semifinal, dominado nas duas partidas. O resultado foi mal recebido por torcida e diretoria, mas Ramón ainda tinha moral e foi mantido.

O início no Brasileirão, porém, foi ruim. Com uma vitória e três derrotas nas quatro primeiras rodadas, a confiança no trabalho despencou. Se antes o nome da dupla era gritado nas arquibancadas, após a goleada por 4 a 0 para o Criciúma vieram vaias e xingamentos.

Início das polêmicas: demissão e declarações

Do apito final do jogo contra o Criciúma até o anúncio da saída de Ramón e Emiliano no Twitter do Vasco foram apenas 14 minutos. Tempo suficiente para surgir o problema: a dupla pediu para sair ou foi demitida? As versões divergem até hoje, e a questão foi parar na Fifa.

O Vasco alega que Ramón e Emiliano pediram demissão, enquanto os dois dizem terem sido demitidos. O Vasco perdeu a ação contra a dupla e foi condenado em primeira instância a pagar mais de R$ 30,5 milhões à comissão dos Díaz. O clube anunciou que recorreria ao Tribunal Arbitral do Esporte (CAS).

O ge apurou, na ocasião, que o Vasco iria mover uma ação de regresso e responsabilizar os antigos gestores do clube – a 777 e a A-CAP, além do ex-CEO do clube, Lúcio Barbosa, e da ex-CFO, Katia dos Santos.

Pouco antes da demissão, Ramón já havia dado uma declaração que havia incomodado o Vasco e os seus torcedores. Em coletiva após derrota para o Red Bull Bragantino, pela segunda rodada do Brasileirão, Ramón criticou a arbitragem daquele jogo e a da estreia da equipe no campeonato com um comentário machista.

Ele disse que era “complicado que quem decida no VAR seja uma mulher”, como foi na partida contra o Grêmio, pela primeira rodada. Ramón se retratou depois da coletiva, mas não assumiu o erro e disse que foi mal interpretado. A declaração do treinador pegou mal dentro do clube, que em nota oficial apontou o equívoco do argentino e pediu desculpas.

No mês passado, Ramón deu mais uma declaração machista no futebol brasileiro. Ele disse que futebol “era para homens, não para meninas”. Desta vez, o argentino se retratou e pediu desculpas às torcedoras coloradas, que protestaram na partida entre Internacional e Santos contra a fala dele.

Mas o capítulo de maior rusga com a torcida do Vasco foi após a saída do clube de São Januário. Em entrevista ao ge, em novembro de 2024, Ramón Díaz comparou a luta contra o rebaixamento vivida no Rio e no Corinthians e sentenciou que o clube paulista é maior que o Vasco. A declaração piorou ainda mais a relação que já vinha deteriorada.

Diante da repercussão negativa, o treinador se explicou dizendo que não faltou com respeito ao seu ex-clube.

– Primeiro que em nenhum momento faltei respeito ao Vasco, pelo contrário. Foi o clube que nos deu a chance de vir ao Brasil, que estava em uma situação muito complicada. É difícil jogar contra o rebaixamento, e nos receberam bem. Algumas coisas eu não gostei, isso faz parte do jogo – disse.

Emiliano, ao contrário do pai, seguiu por um caminho mais amistoso com o Vasco, em entrevistas e outras declarações. O auxiliar técnico também ainda tem ótima relação com Vegetti, por exemplo, e alguns jogadores do elenco vascaíno. A maior mágoa do auxiliar foi com a gestão de Lúcio Barbosa. Emiliano já disse mais de uma vez que tem desejo de voltar ao clube carioca um dia.

Agora, Ramón Díaz tem a mesma missão que teve no Vasco e Corinthians: livrar um grande clube do Brasil do rebaixamento. Em 12 jogos no comando do Colorado, o argentino ganhou três, somou cinco empates e perdeu quatro vezes. O desempenho está em 39% de aproveitamento.

O Vasco é o 13º colocado do Brasileirão com 42 pontos. Uma vitória pode deixar a permanência na Série A muito bem encaminhada. O clube carioca abriria cinco pontos de vantagem contra o adversário, o Internacional, atual 15º com 41 pontos. O Santos é o 17º colocado, com 38 pontos.

Não há mais ingressos à venda para a partida desta sexta-feira. São Januário terá casa cheia para o jogo entre Vasco e Internacional. Fica a expectativa de como será o reencontro entre os Díaz e a torcida vascaína.

Fonte: Globo Esporte