Pressionado, Ricardo Sá Pinto fará seu 1º clássico contra o estreante Marcão
Pressionado, Ricardo Sá Pinto fará seu primeiro clássico e busca a vitória contra o Fluminense, que será comandado por Marcão.
O clássico deste domingo, às 20h30 (de Brasília), em São Januário, deve ter vários nomes de peso como atrações: Cano, Fred, Benítez, Nenê… Porém, desta vez os holofotes estarão voltados para a beira do campo.
A semana começou com uma forte tendência de mudanças em São Januário, mas o Vasco bancou Ricardo Sá Pinto, ao menos até o próximo jogo. A surpresa, no entanto, veio das Laranjeiras. Em um movimento inesperado, Odair Hellmann deixou o Fluminense por uma proposta do Al Wasl, dos Emirados Árabes. Coube mais uma vez a Marcão assumir o time até o fim do Campeonato Brasileiro, só que agora sem a pressão das outras vezes. E fará sua reestreia em São Januário.
Pressão, problemas e cargo ameaçado
Sá Pinto chega a seu primeiro clássico em seu pior momento. A sequência de resultados e atuações ruins, com o time na zona de rebaixamento e eliminado na Sul-Americana, aumentou a pressão sobre o trabalho do português, que ainda não completou dois meses no Rio de Janeiro. No pouco tempo, aliás, já vivenciou o caldeirão que é o Vasco. Não o de São Januário, que ainda não recebeu torcida desde a chegada do treinador, em função da pandemia da Covid-19. Mas sim o dia a dia do clube, com um problema atrás do outro que não têm facilitado sua vida no Brasil.
Ao desembarcar em 15 de outubro no Rio, Sá Pinto sabia parcialmente onde estava pisando. Eram de conhecimento do treinador os problemas financeiros e o elenco com poucos recursos e investimento. O que ele não sabia, por exemplo, era dos constantes atrasos salariais, fato, inclusive, externado pelo português. Essa questão, no entanto, foi minimizada no início de novembro com pagamento de boa parte da dívida com jogadores e funcionários. Esse foi apenas um dos problemas que ele encontrou.
Sá Pinto acompanhou de perto uma eleição judicializada que até hoje ainda não definiu o próximo presidente do clube. O português também viu de perto um surto de Covid-19 esfacelar o Vasco e desfalcar o time por várias rodadas. Inclusive ele e sua comissão técnica foram vítimas. E, em mais de uma oportunidade, deparou-se com protestos de torcedores. No último, membros de uma organizada invadiram o CT no meio do treino. Embora já tenha passado por situações com torcidas ao longo da carreira, foi a primeira vez que vivenciou uma invasão e se surpreendeu. Mas não se intimidou e “meteu a cara”: assumiu as rédeas das conversas, defendeu os atletas e contornou a situação.
Os problemas no Brasil, de fato, têm sido frequentes, mas em momento algum, até agora, Sá Pinto conseguiu dar um padrão ao time. O treinador, que assumiu em 13º no Brasileiro, viu a equipe cair para 17ª colocação e entrar na zona de rebaixamento. Além disso, foi eliminado em casa nas oitavas de final da Sul-Americana, pelo Defensa y Justicia, da Argentina. Com ele, o Vasco mudou o esquema, adotou três zagueiros, mas ganhou só dois dos 12 jogos disputados. No Brasileirão, por exemplo, teve apenas uma vitória e três empates em oito rodadas desde a chegada do português.
A aceitação no elenco até foi boa inicialmente, mas já teve seus momentos conturbados. Na última sexta, por exemplo, desentendeu-se com Fellipe Bastos, um dos mais antigos e influentes no elenco, e o volante não treinou com o grupo desde então. Se Sá Pinto ainda não conseguiu mudar a cara do time e melhorar a situação na tabela, ele não pode se queixar de tédio no Vasco. Em 56 dias, viveu intensamente o clube e seus problemas. E o clássico contra o Fluminense tende a ser um divisor de águas, com uma eventual recuperação da equipe ou talvez o fim de uma curta e intensa relação.
Reestreia, cenário inédito e olho em 2021
O que Sá Pinto busca no comando do Vasco em 2020, Marcão já conseguiu em outro momento no Fluminense: livrar o clube do rebaixamento, como fez em 2019. Desta vez, ao assumir o time para sua quarta passagem como treinador no profissional, entre jogos como interino e efetivado, ele terá como missão buscar uma vaga na Libertadores de 2021. E em um cenário inédito: não precisará atacar de “bombeiro” para apagar incêndios, já que Odair deixou o time em quinto lugar no Brasileiro, dentro da zona de classificação para a Pré-Libertadores, e a um ponto do G-4.
Com o sonho de ser treinador, Marcão passou por vários clubes em estágios, mas foi o Fluminense que abriu as portas para ele, clube onde o ex-volante disputou 397 partidas e conquistou três títulos: os Cariocas de 2002 e 2005 e a Série C do Brasileiro em 1999. Sua primeira oportunidade de comandar o time foi em 2016, quando assumiu após a demissão de Eduardo Baptista, que havia perdido dois clássicos seguidos, para Flamengo e Botafogo, em uma semana conturbada politicamente nas Laranjeiras. Marcão venceu dois jogos e evitou a quase eliminação na primeira fase do Carioca.
A segunda passagem aconteceu no fim do mesmo ano. Na reta final do Brasileirão de 2016, foi a vez de Levir Culpi não resistir a seis jogos seguidos sem vitória e à ebulição às vésperas da eleição presidencial no clube. Com o time em oitavo lugar, Marcão mais uma vez foi acionado e entrou pressionado, tanto pelo clima político quanto pela difícil missão de buscar uma vaga na Pré-Libertadores restando só quatro jogos. Com dois empates e duas derrotas, não conseguiu.
A terceira passagem demorou três anos e surgiu na última temporada. Marcão assumiu um grupo abalado com a turbulenta passagem de Oswaldo de Oliveira e a uma posição do Z-4: o time era o 16º colocado com os mesmos 19 pontos de Cruzeiro e CSA, ambos na zona de rebaixamento. Em 17 partidas, fez 27 pontos, livrou o Fluminense do risco de rebaixamento e ainda beliscou vaga na Sul-Americana com o 14º lugar. Trabalho que deu a confiança para a diretoria novamente apostar no ainda jovem treinador, que já conhece o elenco, do que buscar outro nome no mercado e começar do zero.
Somando as quatro passagens no Fluminense, Marcão tem o dobro de jogos de Sá Pinto no Vasco: 24, com 50% de aproveitamento. Em um ambiente muito mais favorável do que o rival português, o reestreante técnico tricolor terá como desafios: dar mais poder de fogo a um time que cria pouco; reconquistar a torcida, que nunca morreu de amores por Odair; saber aproveitar a base no profissional e gerir um vestiário com nomes de peso como Fred, Nenê e Ganso, evitando casos de vaidades com quem ficar no banco. Se conseguir, passará a ser candidato para seguir no cargo em 2021.
Fonte: Globo Esporte