Léo Jardim exagera na cera, mas Vasco vira vítima de rigor da arbitragem

Vasco da Gama e Internacional empataram por 1x1, no Beira Rio, em jogo agitado da 17ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Léo Jardim é expulso em jogo contra o Internacional
Léo Jardim é expulso em jogo contra o Internacional (Foto: Reprodução)

Apesar das camisas envolvidas, pouca coisa levava a crer que o embate entre Inter e Vasco tornaria contornos dramáticos. Mesmo entrando em campo com titulares, as equipes tinham as antenas viradas para os confrontos copeiros do meio de semana, e o Beira-Rio também estava bastante vazio, devido ao clima hostil de Porto Alegre, com muita chuva antes do jogo.

Mas o Campeonato Brasileiro guarda essas pérolas escondidas sob as nuvens que desabam do céu num fim de tarde de domingo, no tornozelo do continente. Nos primeiros trinta minutos de jogo, o Vasco aplicou contra o time de Roger Machado aquilo que os mais reconhecidos cientistas certamente definiriam como um implacável “arrodião”. Sem ver a cor da bola, o Inter sofreu com a pressão e a velocidade da equipe cruz-maltina. Quando Rayan marcou o gol inaugural, o placar era injusto: poderia ser o terceiro.

Na entrevista após o jogo, Roger Machado afirmou que a equipe não pode entrar tão desligada em um jogo deste nível. Mas é algo que vem marcando seu trabalho, apesar da sequência de vitórias recentes no Brasileiro: o time parece escolher em quais jogos vai ser competitivo. E, depois de sair perdendo, escapando de um vexame, não coube outro caminho a não ser jogar como se não houvesse amanhã, mesmo que o depois de depois de amanhã reservasse um confronto eliminatório diante do Fluminense, pela Copa do Brasil.

E a partir daí é verdade que o Internacional empurrou o Vasco para sua própria área, preso como um inquilino perdido em questões contratuais, mostrou superioridade e teve uma sequência de bolas na trave, a ponto de o placar parecer injusto, apesar da implacável superioridade vascaína do início. O Vasco desperdiçou contragolpes valiosos, com Vegetti em noite muito pouco inspirada, enquanto Carbonero promovia uma série de incêndios na defesa carioca. No entanto, o relógio cadenciava as ações como se jogasse o mesmo esporte (e no mesmo time) que Roberto Dinamite, e o tempo restante para a confirmação da vitória vascaína, fundamental para se aliviar na tabela, se transformava em uma contagem regressiva cada vez mais estreita.

Eis que de repente se armou o entrevero paradigmático da noite. Léo Jardim, arqueiro do Vasco, um dos grandes responsáveis pela vitória momentânea, já havia recebido cartão amarelo por retardar o jogo e, em meio ao rebuliço por algumas substituições, permaneceu tranquilamente sentado no gramado, esperando para ver o que acontecia. O juiz mandou que levantasse, ao que ele respondeu massageando mansamente a própria costela. Tomado por súbita fúria, remota noção de justiça e talvez alguma noção de moral e bons costumes, o apitador Flávio Rodrigues de Souza resolveu expulsar o arqueiro.

Na súmula, o juiz alegou que Léo Jardim havia tido tempo para ser atendido, mas ninguém sabe se o apitador havia autorizado o atendimento. Tínhamos 45 do segundo tempo e aquele evento se mostraria decisivo, já que o Inter empatou logo depois, já com o reserva Daniel Fuzato na meta vascaína. E o jogo inteiro, obviamente, passou a orbitar em torno daquela decisão bastante incomum — para o futebol brasileiro, mas não para o homem do apito: o mesmo juiz expulsou Gustavo, então goleiro do Criciúma, em partida contra o Bahia, no ano passado.

Se o nobre leitor ainda não sabe, gostaria de deixar claro: sou a favor de qualquer forma de amorcegar o jogo. Estou do lado oposto aos que condenam a cera, pois julgo tal artimanha um recurso válido ao jogador que tenta vencer, o que é uma imposição profissional, mas também um instinto a ser preservado. A dissimulação é uma questão de sobrevivência, como já nos mostrou o último homem de Neandertal a se fingir de morto diante de um mamute. Mais importante, muitas vezes é uma forma de forçar o equilíbrio possível num cenário econômico cada vez mais desigual: se o Sporting Cristal enfrentar o Real Madrid, até eu vou me deitar em frente à TV esperando a SAMU.

No entanto, no caso de ontem, surge um problema em relação à ESTÉTICA da cera. Porque Léo Jardim provavelmente protagonizou a pior cera de todos os tempos, permanecendo por eternos dois minutos apenas sentado junto à trave, como quem encara o absurdo da existência humana ou, no mínimo, tenta resolver problemas mundanos graves, como o tarifaço de Trump contra o Brasil ou para onde vão as pombas quando começa a fazer frio. Ele não se retorceu, nem esticou a perna pra cima, oferecendo a panturrilha para um companheiro. Apenas ficou ali, desacreditando do poder da atuação e esperando que a regra jamais cumprida continuasse ignorada. Expulso, saiu caminhando — esquecendo a costela, Trump, as pombas e qualquer questão filosófica.

A decisão parece ter sido certa, mas os vascaínos também têm pleno direito a reclamar, afinal de contas o clube foi eleito como mártir da rodada — quase nenhum goleiro foi expulso por cera até ontem; quase nenhum será expulso a partir de hoje. Após o jogo, o técnico e psicólogo Fernando Diniz criticou a decisão, afirmando que o juiz não é médico. É verdade, mas o juiz muitas vezes precisa ser médium. Ou, mesmo meio perdido, aparentar que está muito irritado com tudo aquilo. E, se nada disso funcionar, assumir que é alguém que não sabe muito bem o que fazer, mas que naquele momento precisa urgentemente fazer algum coisa. Às vezes ele resolver abraçar o caos, e nesse caso corre o risco de até acertar.

Fonte: Lance!

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1 comentário
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    Fala sério. Rigor é aplicar a regra sem nenhum tipo de ponderação, mas com isonomia. O que esse cara fez com o Vasco foi uma canalhice que prejudicou o time. O problema é que a instituição Vasco está se tornando tão pequena que qualquer c*zão, se abaixa em cima e c… e o time virou timinho que ninguém respeita.

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