Ex-jogadores relembram o Bicampeonato Brasileiro do Vasco
Ex-jogadores relembraram o Bicampeonato Brasileiro do Vasco da Gama conquistado em 1989 no Morumbi, com a 'SeleVasco'.
O Campeonato Brasileiro de 1989 trouxe a coroação de uma das muitas gerações históricas do Vasco. Em uma saga digna de um navegador que não teme mares revoltos, o Cruz-Maltino, que já havia saboreado o bicampeonato estadual em 1987 e 1988, fez uma fuzarca que estava presa na garganta havia muito tempo.
– Já se passavam 15 anos sem conquistas no Brasileiro, e a gente vinha de um ano anterior no qual batalhou muito. Tínhamos sido bicampeões cariocas, chegamos às quartas de final no Brasileiro de 1988. Havia cobrança e sabíamos que tínhamos time para vencer o título – detalha, ao LANCE!, Sorato, atacante até hoje não é esquecido por ter feito “de cabeça o gol do bi em pleno Morumbi”, na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, na decisão.
No entanto, o desafio até a caravela chegar ao rumo do título brasileiro foi bem intenso.
– Nosso primeiro semestre foi bem frustrante. A gente não foi bem no Estadual, e deixou escapar o sonho do tricampeonato em um jogo com o Nova Cidade (empate em 2 a 2, em São Januário). Aquilo deixou todo mundo irritado – recordou o volante Zé do Carmo.
O segundo semestre de 1989 na Colina foi marcado por mudanças. Sérgio Cosme deixou o comando da equipe para a entrada de Nelsinho Rosa (que já se destacara como treinador anteriormente por vencer dois estaduais no Fluminense). Só que a novidade da equipe daria o que falar.
– O Roberto Dinamite foi emprestado para a Portuguesa naquele Brasileiro, e o Romário foi negociado no ano anterior (com o PSV). Saíam dois ídolos e o Vasco anunciou a contratação do Bebeto, que era o maior destaque do Flamengo, o maior rival do Cruz-Maltino, e da maneira como a negociação aconteceu – disse Bismarck, um dos jogadores formados na base cruz-maltina.
E tendo como “cereja do bolo” um artilheiro que virou casaca, o Cruz-Maltino se preparava para fazer história.
– Não era à toa esse apelido não. Bebeto dispensa comentários, já naquela época tinha sido campeão da Copa América e era convocado o tempo todo. Acácio, Tita, eu, Bismarck, Marco Antônio Boiadeiro tínhamos passagem pela Seleção. Sorato tinha sido chamado na Seleção Sub-20, Quiñonez na seleção do Equador… Só Marco Aurélio não tinha sido convocado! – garantiu Zé do Carmo.
BEBETO: CONSAGRAÇÃO APÓS O ‘FOGO CRUZADO’ DE UMA RIVALIDADE
A oficialização de Bebeto como reforço do Vasco acirrou os ânimos de uma rivalidade. Após 28 dias de uma negociação marcada por “acordos, impasses e blefes” (segundo destacou a revista “Placar” na época), o mandatário Antônio Soares Calçada e o vice de futebol Eurico Miranda aproveitaram o impasse da renovação do atacante com o Flamengo para tirá-lo da Gávea. O craque. 30 anos depois, não esconde que se emociona por ter feito seu talento com a camisa cruz-maltina falar mais alto do que as polêmicas entre rivais.
– Era mais um desafio na minha vida. Nunca quis sair do Flamengo, mas quando cheguei ao Vasco, fui recebido com tanto amor e tanto carinho pela torcida… Poder conquistar o Brasileiro marcou muito minha carreira, foi emocionante. O time da gente era muito bom – destacou.
Porém, a escolha do jogador quase lhe rendeu dores de cabeça.
– Foi uma troca muito conturbada não só para ele, como também para a vida da família dele. Eu me lembro que o Bebeto estava sempre muito preocupado. Ele recebia ameaças de que iriam fazer besteiras com a família dele – revelou Bismarck que, em seguida, contou:
– Procuramos acolhê-lo da melhor forma possível. Bebeto precisava da nossa ajuda – complementou o meia-atacante.
Bebeto estreou só na terceira rodada com a camisa 9 cruz-maltina. E não demorou a mostrar serviço: abriu o placar para a virada por 2 a 1 sobre o Santos. Seria o primeiro dos seis gols que anotou em 12 jogos na conquista do Brasileirão.
‘MESCLA QUE SEMPRE FUNCIONOU NO VASCO’
A lista de reforços do Cruz-Maltino não se restringiu a Bebeto. O clube acertou o retorno de Tita e anunciou o lateral-direito Luiz Carlos Winck, o volante Andrade, o meia Marco Antônio Boiadeiro e o ponta Tato. Em meio às novidades, a equipe contou com a voz da experiência
– Acho que o fato de Andrade, eu, Bebeto e Tita termos vencido o Brasileiro contribuiu para o elenco. Éramos um pouco mais calejados, passávamos um pouco da nossa experiência para uma equipe repleta de qualidade – disse Tato, que já havia sido campeão brasileiro pelo Fluminense em 1984 e foi titular em boa parte da campanha cruz-maltina.
O Cruz-Maltino tinha em seu elenco o goleiro Acácio, o lateral Mazinho e, na linha de frente, ainda contava com crias da base, como William, Bismarck e Sorato, jovens com muita vivência. Só que um setor ainda trazia preocupação.
– Célio (Silva) e o Marco Aurélio, que tinha muito bom posicionamento, formavam a dupla de zaga com frequência. Em algumas vezes, entrava o Leonardo. Mas a gente dava algumas bobeiras, oscilava um pouco – afirmou Zé do Carmo.
A diretoria buscou no exterior a solução: titular da seleção do Equador, Quiñonez vestiu a camisa cruz-maltina e ficou eternizado tanto por seu estilo de jogo quanto por “balançar a cabeleira”.
– Quando ele chegou no segundo turno (em outubro), o time se encaixou. Tanto que formou muito bem a zaga com Marco Aurélio, que também foi fundamental. A equipe foi embalando do meio para a fase final. A gente tinha uma mescla de jogadores experientes que chegaram ao clube com jovens de qualidade vindos da base. E isto sempre funcionou no Vasco – apontou Bismarck.
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