Crefisa pode virar dona de 20% do Vasco? Entenda acordo entre Clube e empresa
Vasco da Gama acertou nesta semana o empréstimo de R$ 80 milhões junto a Crefisa em meio a processo de recuperação judicial.

O Vasco acertou um empréstimo com a Crefisa na quarta-feira. Por este financiamento, o clube só está autorizado a vender ou negociar a SAF em caso de anuência da instituição financeira. Como o clube e a SAF estão em recuperação judicial (RJ), a direção vascaína também precisaria de aprovação da Justiça.
A anuência é vista como normal pelo clube, na medida em que o credor precisaria saber de quem receberia o dinheiro em caso de uma venda do controle societário. O Vasco entende que qualquer financiador teria que ser comunicado, já que uma venda poderia afetar, de alguma forma, as condições e possibilidades de pagamento.
Como o clube e a SAF estão em recuperação judicial, o Vasco também precisaria de uma autorização da juíza que cuida do processo para qualquer mudança no controle societário. A Justiça e a Administração Judicial (AJ) conjunta nomeada no processo de RJ também precisam aprovar a realização do empréstimo, assim como quaisquer outras movimentações, como antecipações de crédito ou receitas.
No parecer enviado à Justiça na última semana, a AJ reconheceu a urgência do financiamento para garantir a continuidade das operações, mas apontou a necessidade do plano detalhado para a utilização dos recursos, exigido no próprio contrato de crédito. Entre os pontos destacados, a Administração Judicial cita que, por envolver 20% da SAF como garantia, a operação depende de aval do Conselho Deliberativo do Vasco, conforme o estatuto do clube.
No documento, a AJ também explicita alguns “convenants”, que são os compromissos de contratos de financiamento ou empréstimos que servem para proteger os interesses dos credores. Entre eles, o Vasco se comprometeria a não modificar o grupo de controle da SAF e a estrutura societária sem a prévia autorização da Crefisa, até 8 de junho de 2026, como destacado no trecho abaixo do documento:
“Convenants: (i) manter atividade operacional regular e objeto social inalterado; (ii) sem prévia anuência do credor não poderá modificar a estrutura societária ou grupo de controle da SAF até 08.06.2026, nem distribuir lucros ou dividendos; (iii) apresentar mensalmente as informações e documentos contábeis não auditados referentes aos 2 meses anteriores; (iv) direito de preferência do credor para a concessão de novos financiamentos ou dívidas, nas mesmas condições propostas por terceiros, durante a vigência do presente instrumento”
Para conseguir o empréstimo, o clube abriu uma espécie de concorrência para escolher a instituição financeira que cederá cerca de R$ 80 milhões, dinheiro para despesas correntes como salários, fornecedores estratégicos e obrigações trabalhistas e fiscais.
Havia outras instituições financeiras em disputa, mas as condições de negócio da Crefisa foram as melhores, no entender do Vasco. A direção pediu a autorização da Justiça, em petição enviada à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro há duas semanas, para a realização do empréstimo.
Crefisa pode virar dona de 20% do Vasco?
O empréstimo prevê como garantia 20 mil ações ordinárias de classe A, equivalentes a 20% do capital social da Vasco SAF, atualmente de propriedade do CRVG. Essas ações fazem parte do ativo não circulante do clube e só podem ser utilizadas mediante aval judicial.
Em contato com o vice-presidente jurídico do Vasco, Felipe Carregal, o ge apurou que a direção vascaína escolheu os 20% do capital social da SAF, de propriedade do CRVG, como garantia para não comprometer futuras receitas do clube, como cotas de televisão, patrocínio ou vendas de atletas. Segundo Carregal, o valor de 20% de garantia não é baseado apenas nos R$ 80 milhões de empréstimo mais os juros que o Vasco ainda pagará.
— Em operações como essa, em que a devedora está em recuperação judicial, o valor da garantia oferecida sempre supera o montante financiado, considerando, naturalmente, o valor do empréstimo acrescido dos juros fixados e da devida correção. Importante destacar que garantia não é “valuation” nem alienação. São Januário e outras sedes já foram oferecidas como garantia em diversas operações e execuções no passado — disse.
Desta forma, os 20% da SAF do Vasco só seriam da Crefisa em caso de descumprimento das condições do empréstimo. O clube carioca tem 12 meses de carência e deve pagar em amortizações trimestrais e quitações em até 36 meses.
Processo de concorrência
Em contato com o ge, Pedrinho explicou o processo e disse que mais de 60 instituições financeiras foram ouvidas. Ele afirmou que a Crefisa foi a instituição que apresentou as melhores condições. O mandatário do Vasco citou o excelente relacionamento com o José Roberto Lamacchia, marido de Leila Pereira e dono da Crefisa.
— Desde o início, no planejamento da recuperação judicial, já estava prevista a necessidade de um empréstimo para ajustar o fluxo de caixa e garantir que o clube pudesse honrar seus compromissos imediatos, com previsão de captação antes de outubro. No entanto, graças aos esforços pautados na responsabilidade financeira, conseguimos adiar essa captação o máximo possível, ganhando tempo para buscar a melhor alternativa no mercado – disse Pedrinho, para completar:
— Com esse objetivo, o Vasco, por meio de seus assessores financeiros, buscou o mercado e interagiu com mais de 60 instituições financeiras. Destas, 40 assinaram acordos de confidencialidade para discutir e aprofundar os detalhes das possíveis operações. Ao final do processo de negociação, foram recebidas cinco propostas firmes de financiamento, sendo a Crefisa a instituição que apresentou as melhores condições.
Ao ge, Pedrinho revelou que a empresa também disponibilizou recursos para projetos incentivados da associação:
— Além do empréstimo, a empresa também disponibilizou recursos para projetos incentivados da associação, em uma parceria viabilizada pelo excelente relacionamento que mantenho com o Sr. José Lamacchia. Seguimos firmes, com responsabilidade e transparência, como sempre nos comprometemos junto à torcida vascaína.
Fonte: Globo Esporte