Conheça a história do Dom Corvo I e Único, mascote do Vasco nas décadas de 40 e 50
O Vasco da Gama teve o Dom Corvo I e Único como símbolo de sorte nas décadas de 40 e 50, mas que perdeu força a partir de 60.
Em junho de 2021, o Vasco realizou o lançamento de um plano de sócio destinado aos torcedores que querem associar seus bichos de estimação ao clube, com direito até a carteirinha. A relação do clube com um mascote do reino animal, porém, remete a uma era bem mais antiga – e vitoriosa – as décadas de 40 e 50. E nada tem a ver com bacalhau. E, sim, com um pássaro preto, mais precisamente, um corvo. Aliás, o nome é imponente: Dom Corvo I e Único.
O surgimento do corvo como mascote do Vasco data de 1947. Em maio, Álvaro do Nascimento Rodrigues, colunista do Jornal dos Sports, criou a história através de seus textos. E fez uma dobradinha com o chargista Otelo Caçador, que, na véspera de uma partida entre Vasco e Botafogo, pelo Campeonato Carioca, coloca a imagem do pássaro no alto da caravela cruz-maltina.
– O Otelo substitui o argentino Lorenzo Molas como desenhista. E, em sua primeira charge, monta uma caravela que enfrenta o castelo botafoguense, no dia de Vasco x Botafogo. Sobre uma das velas há um pássaro preto. O Vasco ganha o jogo por 2 a 0 (gols de Dimas) e toda essa trama é desenvolvida pelo Álvaro em parceria com Otelo sobre esse novo mascote que acompanhava o antigo, o almirante, formando uma dupla – explica Walmer Peres, historiador do Vasco, ao ge.
O corvo, que desde a Idade Média é uma ave associada ao mau agouro, ironicamente, trouxe sorte ao Vasco. O clube faturou o título estadual invicto em 1947 – foram 17 vitórias e três empates – o que ajudou o mascote a cativou a torcida, já empolgada com mais uma taça conquistada pelo Expresso da Vitória.
– Este título ajudou o Vasco a ser chamado para representar o Brasil no campeonato sul-americano de campeões, de 1948. Era uma época boa para criar uma mascote símbolo de sorte. O corvo vira um amuleto para o Vasco na esteira daquela campanha vitoriosa. Embora fosse ave identificada com azar, este corvo era sambista, malandro, feiticeiro, nascido em Dakar, no Senegal. Ele zicava os rivais ao mesmo tempo que dava sorte ao Vasco. O corvo vai ganhando um conjunto de elementos, passa a ter um cordão com a cruz de malta, passa a comendador, a rei. Vira o Dom Corvo I e Único – conta Walmer.
Corvo é trazido de Portugal e visita rádio
Nos anos 40, o Vasco tinha o Almirante como mascote, enquanto Botafogo, Flamengo e Fluminense eram representados por Pato Donald, Popeye e Cartola. Entretanto, o sucesso do corvo, abraçado pelos cruz-maltinos, já estava no imaginário do povo, conforme explica Walmer Peres. A ave não ocorre no Brasil, portanto, a solução foi trazê-la de Portugal, no fim do ano de 1947, meses após a referida charge.
– A popularização do corvo foi tanta que o próprio Álvaro do Nascimento Rodrigues decide trazer um corvo de Portugal. O corvo do Vasco era senegalês, mas buscaram um em Portugal para fazer a festa da torcida vascaína. O corvo foi uma efeméride no Rio de Janeiro, capital do Brasil na época. O corvo foi na rádio Mayrink Veiga, “falou” no microfone. A torcida acompanhou a chegada da ave em carreata.
O Expresso da Vitória, que conquistou os títulos do Carioca em 1945, 1947, 1949, 1950 e 1952, além do Sul-Americano de 1948, no Chile, chega ao fim em 1953. O Vasco ainda fatura os estaduais de 1956 e 1958, contudo, encara um jejum em toda a década de 60. Curiosamente, após a morte do corvo, em 1959, o Gigante da Colina só reencontra uma taça em 1970.
– A década de 60 foi ruim para o Vasco. E a ideia do corvo, que morreu em 1959, foi perdendo força. Recentemente, por uma pressão boa de parte da torcida, o mascote volta a ter força a ponto de o clube colocá-lo como um dos representantes do plano para pets. Tem que testar em um jogo, que nem naquele Vasco x Botafogo. Se voltar a dar sorte, a torcida vascaína vai abraçar novamente.
Fonte: Globo Esporte