Clima de tensão já cercava Sport x Vasco antes do jogo

Ambiente hostil gerou apreensão nos torcedores antes do duelo decisivo entre Sport e Vasco da Gama, pela Série B do Brasileiro.

Jogadores do Sport correm em direção a Raniel após comemoração do gol
Jogadores do Sport correndo em direção a Raniel após comemoração do gol de empate do Vasco pela Série B 2022 (Foto: Rafael Vieira/AGIF)

A forma como terminou o jogo entre Sport e Vasco , no último domingo, surpreendeu pelas cenas de violência e caos na Ilha do Retiro, mas a tensão já cercava o confronto há dias pelo clima de decisão com as duas equipes no páreo pelo acesso. O empate em 1 a 1 ficou em segundo plano em um jogo que precisou ser encerrado antes do apito do árbitro.

A invasão de campo por alguns torcedores do Sport, após comemoração de Raniel em gol que empatava o jogo aos 48 minutos do segundo tempo, e os conflitos nas arquibancadas do estádio impediram que a partida terminasse dentro de campo. Os jogadores do Vasco correram para o vestiário e não voltaram mais. O sentimento de insegurança tomou conta.

Clima hostil desde muito antes do jogo

Na véspera do jogo, torcedores do Vasco já relatavam o receio pela segurança na Ilha. Vascaínos saíram de vários lugares do Nordeste a caminho do Recife para comprar ingressos apenas no dia da partida, como foi determinado pelo Sport. Teve gente que entrou na fila antes das 7h.

No dia anterior, a reportagem já havia presenciado confusão e ouvido relatos de agressão a pelo menos uma pessoa, que segundo torcedores era um cambista, na troca de ingressos da torcida local. No domingo houve tumultos na venda para visitantes.

A chegada à Ilha do Retiro também não foi tranquila. Já na entrada dos torcedores do Sport houve uso de gás de pimenta. Do lado do Vasco mais confusão. Pessoas relataram dificuldades para acessar o estádio, e alguns vascaínos precisaram ser escoltados. Torcedores do Santa Cruz, rival do Sport, foram abordados pela polícia no entorno da Ilha. Alguns se juntaram à torcida visitante na arquibancada.

– A Polícia Militar realizou uma abordagem a torcedores da Torcida Inferno Coral no entorno da Ilha do Retiro. Os referidos estavam sem ingresso e foram orientados a seguirem outro destino – disse a PM por meio da assessoria de imprensa.

Do lado de dentro do estádio a tensão continuou. A torcida do Sport fez linda festa no primeiro tempo e pressionou o adversário com muito barulho vindo das arquibancadas. Mas já antes do intervalo alguns torcedores locais intimidaram uma equipe de análise do Vasco que estava numa cabine perto da torcida rubro-negra – um torcedor chegou a arremessar uma lata contra os profissionais.

O gol de Labandeira aos 19 minutos da segunda etapa fez a Ilha explodir, e o nervosismo passou a ser o maior adversário do Vasco em campo até o pênalti marcado com auxílio do VAR, já aos 45 minutos. Quando Raniel cobrou e marcou, o atacante partiu rumo à torcida adversária para comemorar. O caos foi instaurado de vez. Rubro-negros tentaram invadir, agrediram outros torcedores e profissionais que trabalhavam no jogo e precisaram ser contidos por policiais.

Não havia mais clima para ter jogo na Ilha do Retiro, mas jogadores, dirigentes e torcedores do Sport fizeram pressão pelo retorno do Vasco e o fim da partida dentro das quatro linhas. O empate era terrível para os planos do mandante. Após quase 60 minutos de paralização o árbitro decidiu por encerrar o jogo, e os relatos posteriores são graves.

O Vasco se trancou dentro do vestiário, e policiais precisaram intervir para que jogadores e dirigentes do Sport não invadissem o local. Mesmo assim houve tentativa de arrombamento e agressão a profissionais vascaínos por parte de profissionais rubro-negros, segundo relataram pessoas do clube carioca.

– Houve uma tentativa de invasão do vestiário, a gente teve profissionais nossos e atletas agredidos, e o árbitro nos convocou para uma reunião, com representantes de cada lado, com a Polícia Militar presente. Por falta de segurança, o árbitro deu o jogo como encerrado, uma decisão sensata para evitar uma tragédia maior – disse o diretor esportivo do Vasco, Paulo Bracks.

Só depois de três horas o Vasco conseguiu deixar a Ilha do Retiro rumo ao seu hotel. Na chegada o clima entre jogadores era tranquilo, com a felicidade pelo resultado apesar do susto, mas profissionais do clube relataram medo. A apreensão era visível. O departamento jurídico vascaíno tomará as medidas cabíveis.

Para a torcida visitante também não foi tranquilo. Após horas de espera dentro do estádio, um ônibus de torcedores do Vasco que vieram de João Pessoa foi alvo de vandalismo antes do retorno à capital da Paraíba. Uma pedra lançada por torcedores rivais quebrou um dos vidros. Um vascaíno aparece em vídeo enviado por uma torcedora ao ge (veja abaixo) com a perna sangrando.

Em campo o empate teve gosto de vitória

Se a confusão ganhou as manchetes, em campo o Vasco conseguiu o que queria. Não perder era fundamental para uma certa tranquilidade nas próximas rodadas. Sem Léo Matos, Jorginho improvisou Miranda na lateral direita. O zagueiro, que não jogava há um ano por uma suspensão da Conmebol, sentiu a falta de ritmo e viu seu lado bastante explorado pelo Sport.

Foi um primeiro tempo de pouco futebol do Vasco. O time apostou nos chutões pra frente e, mesmo com a velocidade de Marlon Gomes, Figueiredo e Eguinaldo, não conseguiu explorar as transições. Errou mais passes do que acertou e contou com o bom jogo da dupla de zaga, principalmente de Danilo Boza. O que se viu foi uma equipe desorganizada, sem estratégia e muito espaçada. E o principal: uma equipe que chutou pouco a gol, com duas finalizações sem riscos para Saulo.

O segundo tempo teve um personagem que deu o que falar. Com Eguinaldo tendo dificuldades de fazer o pivô e segurar a bola na frente, Jorginho optou por Raniel para ser o centroavante. A princípio o que fez mesmo a diferença foi a entrada de Alex Teixeira, que acelerou o jogo e visualizou melhor as transições. No melhor momento do Vasco, quando o time passou a jogar mais próximo e usar a bola aérea, Anderson Conceição carimbou o travessão numa cabeçada.

Foi quando Raniel entregou uma bola para o Sport e viu o adversário abrir o placar após boa finalização de Vagner Love e rebote aproveitado por Labandeira. O camisa 9, que não estava de bem com a torcida do Vasco, passou a ser criticado na Ilha e nas redes sociais. Em sua terra natal foi de vilão a herói com o pênalti convertido já nos minutos finais.

Não é difícil entender às críticas a Raniel, que tem limitações e já errou muitas vezes nesta Série B. Mas dentro das opções que o Vasco tem para a função o camisa 9 cumpre bem seu papel. Faz o pivô, se movimenta, abre espaço e balança as redes-, tanto que é o artilheiro do clube na Série B e na temporada – óbvio que poderia fazer mais gols se não perdesse tantas chances. Entre ódio e amor, a torcida não deixa de ser grata ao centroavante.

O empate deixa o Vasco três pontos à frente do Sport e quatro acima do Sampaio Corrêa e do Criciúma. O Ituano está cinco pontos atrás. O mais favorável é que o time tem dois jogos pela frente em São Januário, onde ainda não perdeu na temporada. Há a possibilidade de garantir o acesso na 37ª rodada e evitar riscos no encerramento do campeonato.

O Vasco terá mais uma vez uma semana cheia de treinos para o jogo contra o Criciúma, às 16h30 do próximo sábado, em São Januário. Jorginho contará com a volta de Léo Matos.

Fonte: Globo Esporte

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