Capelo explica as diferenças entre as SAFs de Vasco, Botafogo, Bahia e Cruzeiro

O jornalista Rodrigo Capelo detalhou quais são as particularidades das SAFs de clubes grandes do Brasil, incluindo a do Vasco da Gama.

Rodrigo Capelo é especialista em finanças do esporte
Rodrigo Capelo é especialista em finanças do esporte (Foto: O Globo)

Fazia alguns anos que o mercado do futebol aguardava a movimentação do City Football Group no Brasil. Sabia-se que procuravam um carro-chefe na América do Sul, porém que evitavam negócios inflacionados e demasiadamente arriscados. Havia conversas com clubes aqui e ali. E só. Até perfil de seus executivos, pouco falantes em público, havia muita especulação e pouco fato. Agora, enfim, o céu clareou.

A proposta para comprar a SAF do Bahia está na mesa e depende apenas da aprovação dos sócios tricolores para que o negócio seja concretizado. Ferran Soriano, CEO global do grupo estrangeiro, fez uma apresentação a portas fechadas para esses associados. Guilherme Bellintani, presidente e responsável por negociar em nome da entidade, abriu números e condições como nenhum outro cartola. Hora de analisar o conteúdo.

Uma diferença entre a empresa de Bahia e City, em relação a outras já abertas, está no tratamento da dívida. O clube não entrará em recuperação judicial, nem extrajudicial, muito menos no Regime Centralizado de Execuções. O City separou R$ 300 milhões para negociar diretamente com credores e se livrar de quase todo o endividamento acumulado pela associação civil de imediato. Isto muda muito.

Botafogo e Vasco entraram no regime e precisarão dedicar 20% de suas receitas para dívidas cíveis e trabalhistas — fora o risco de sofrer execuções de antigos credores, pois este mecanismo, criado via Lei da SAF, ainda é inédito e inseguro. O Cruzeiro, mesmo optando pela confiabilidade da recuperação judicial, também perderá receitas para dívidas. A empresa do Bahia surgirá sem essa obrigação, livre para gastar tudo.

Ainda mais importante, existem diferenças nos perfis dos proprietários. Ronaldo tem conhecimento em gestão do futebol, proporcionado pelo Valladolid e pelo passado como atleta, mas não está disposto a despejar centenas de milhões de reais. John Textor e 777 Partners chegam com dinheiro e discursos modernos, porém lhes falta experiência no ramo. Arrisco dizer que nenhum tem todas as virtudes do City.

O City chega com dinheiro — R$ 500 milhões para adquirir direitos de atletas e R$ 200 milhões para investir em infraestrutura — e a rara experiência de administrar uma rede de clubes no mundo ao longo da última década. Parece estar menos disposto a injetar o capital de uma vez, pois tem contratualmente 15 anos para o aporte, enquanto rivais alternam entre três e cinco anos. Mas entra no Bahia com mais do que só a grana.

Como diferencial em termos de transparência, o Bahia abriu ao público a folha salarial mínima a ser cumprida pelo City na SAF. O grupo terá de gastar pelo menos R$ 120 milhões por ano, ou 60% da receita, exceto transferências de atletas. Botafogo e Vasco também têm mínimos garantidos, mas não revelaram valores. O Cruzeiro não tem. Do Red Bull Bragantino, que esconde até o balanço financeiro, não se sabe quase nada.

A vantagem de saber a folha é que o torcedor tem base para medir expectativas. Considerando que Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG gastam acima de R$ 300 milhões, os R$ 120 milhões do Bahia sugerem que não será um projeto de gastança. Não adianta tomar o Manchester City de Guardiola como referência. Haverá mais dinheiro do que na associação, mas o clube precisará de inteligência para vencer. Mercado e torcidas seguirão curiosos, agora pelos resultados desta nova era tricolor.

Fonte: Coluna do Rodrigo Capelo – O Globo

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