Bruno Gomes detalha desarmes no clássico e revela como Luxemburgo mudou o Vasco
Titular nos últimos jogos, o volante Bruno Gomes resumiu o efeito do técnico Vanderlei Luxemburgo no Vasco da Gama.
Aposta de Vanderlei Luxemburgo, que o subiu em 2019, o volante Bruno Gomes estava encostado com Ricardo Sá Pinto. É bem verdade que sentiu um problema no quadril às vésperas do jogo de volta com o Caracas, pela Sul-Americana, e depois foi convocado para disputar torneio amistoso com a seleção brasileira sub-20. Mas é um fato também que atuou pouco mais de 20 minutos – divididos em três jogos – com o português. Luxa voltou, e a situação de Bruno mudou da água para o vinho.
Foi titular nos dois primeiros jogos de Vanderlei e destacou-se na vitória por 3 a 0 sobre o Botafogo no último domingo, quando terminou como líder de desarmes da equipe (cinco, mesmo número de Henrique) e não precisou cometer uma só falta. Uma dessas intervenções, aliás, foi crucial. Desarmou Barrandeguy na base do “pé de ferro” e iniciou a jogada do gol de Andrey.
– Pude ser feliz no lance do gol. Vi que ele (Barrandeguy) ia puxar o contra-ataque e tinha que ser mais rápido do que ele. Como o Castan disse, naquela bola você tem que ter o pé de ferro. Se eu perco, eles iam ter o contra-ataque, e o jogo estava em 1 a 0. Era uma bola muito decisiva, então eu fui firme, fui feliz de ganhar a bola, e a gente seguiu até o gol.
Bruno já havia feito outro desarme que chamou atenção no fim da primeira etapa. O alvinegro Kelvin, ex-Vasco, vinha em disparada, mas o volante de 19 vascaínos o parou com uma tranquilidade que fez a jogada parecer uma dividida entre um profissional e um juvenil.
– Aquele lance no primeiro tempo é de jogo. O tempo estava acabando, eles estavam vindo para tentar empatar. Esperei, acertei o lugar onde ele ia cortar, fui feliz e consegui roubar a bola.
Que Luxemburgo foi importante para Bruno Gomes voltar a jogar isso é um fato, mas o “efeito Luxa” foi coletivo. O time mudou de postura e, de acordo com o atleta, a principal diferença é que o Vasco voltou a atacar a partir da chegada do treinador.
– Taticamente uma coisa que mudou ao me ver é que a gente propõe mais o jogo. A gente procura mais jogar, tenta sair jogando mais. Ele fala muito da grandeza do Vasco. Um time grande como o Vasco não pode ficar os 90 minutos marcando lá atrás e esperando o erro do adversário. Temos que propor o jogo também, e é isso que estamos fazendo.
– Estamos buscando sair jogando mais. Quando você joga num time que tenta propor o jogo, isso favorece a minha posição. E também favorece as outras. No meu estilo de jogo, isso é bem melhor. E para os outros atletas também. Quando se tenta propor o jogo e ficar mais com a bola, você corre menos. A melhor coisa do futebol é poder ficar com maior posse de bola e sair vitorioso.
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Você acha que essa sua grande atuação com o Botafogo tem a ver com o Luxemburgo?
– Eu sou muito grato a ele. Ele me ajuda bastante, me passa muita confiança. É um treinador que gosta de mim. Desde o primeiro dia de treinamento sempre tenta tirar o meu melhor em relação a tudo. Toda hora vem falando comigo em relação a ter mais confiança no meu futebol, que ele acredita em mim e que eu também que acreditar.
– Isso te faz entrar mais tranquilo no jogo quando um treinador desse peso dá confiança. Acho que ele consegue fazer isso com o grupo todo também. Ele está trazendo a confiança de volta a quem perdeu ou a quem está pouco confiante. Isso vai influenciando no resultado dos jogos.
Qual o poder do discurso do Luxemburgo, com o vocabulário único que ele tem, sobre vocês? Qual a mágica que ele faz para convencê-los? Dá para detalhar isso?
– Cara, acho que não tem uma forma certa. Só por ele ser o Luxemburgo, quando ele fala, você já escuta. Eu particularmente perdi uma bola no treino, e ele me deu um esporro. Eu errei no outro lance, e ele me deu outro esporro. Mas ao mesmo tempo que me deu o esporro, ele disse que gosta muito de mim e que eu tenho de confiar mais no meu futebol. Que se eu tivesse de carregar a bola, eu ia carregar. Se tivesse de lançar, eu ia lançar.
– Esse esporro que ele te dá ao mesmo tempo com confiança que te faz ganhar nisso. Por ele ser o Luxemburgo também. Quando você que ele retorna com o time assim é porque ele confia muito na gente. Quando ele passa confiança, acho que todo mundo escuta. A preleção dele, a forma que ele fala do Vasco, a vontade que ele tem de ganhar. É um treinador que todo mundo sabe que tem uma carreira linda, de muito peso. E a vontade que você vê nele de ganhar acaba te fazendo querer ganhar também.
Como foram esses esporros? Onde você errou?
– Foi um lance num treino que o Henrique tocou em mim, e eu fui dar de primeira no Talles, e ele me pediu para conduzir a bola. Logo depois, alguém tocou em mim, eu dei de primeira, e ele parou o treino, me deu outro esporro falando que eu tinha de conduzir mais a bola. Até porque se eu conduzir o adversário virá mais para cima de mim, e isso puxa a marcação.
– Quando eu tocar, o cara vai estar livre. Se eu tocar de primeira, o cara vai estar do lado dele. Foi esse o esporro. Ele falou que eu tinha de confiar mais em mim, que tem o momento certo de dar de primeira. E também se eu tivesse que ir para cima para fazer o lançamento, eu iria fazer.
E conta uma coisa para nós. Um dos nossos repórteres tem 35 anos e ri com as gírias e palavrões dele nas preleções. Como vocês, de 19 e 20 poucos anos, fazem para não rir? Já pegou algum amigo querendo rir do “apontando para o céu” ou “ralar a bunda no chão”?
– Na hora que ele está falando, acho que ninguém é capaz de rir, não (risos). Você vê que ele está ligado e fica ligado também. Essa gíria dele vai para dentro também. A gente está acostumado no dia a dia, ele fala coisas assim, mas eu nunca vi ninguém querendo rir não. E é bom nem rir, né?
O “efeito Luxemburgo” tornou o clima mais leve?
– A gente estava falando do esporro, mas não é aquele esporro que te deixa para baixo. Uma coisa que sinto bastante nele é que ele consegue tirar todo o peso dos mais novos nos jogos grandes. Às vezes é um jogo grande, com pressão grande em cima da gente, e ele consegue tirar. Ainda mais com os moleques mais novos.
– E foi o que ele fez comigo na minha estreia, contra o Corinthians (em 2019). Lembro que ele falou comigo antes de a gente entrar em campo. Disse para eu jogar tranquilo, como se eu tivesse na pelada da minha rua ou no sub-20. Aquilo ali para mim foi o que eu precisava ouvir. Na hora, me tirou o peso todo do jogo. Parecia que eu estava jogando um jogo do sub-20.
– Se o Luxemburgo pediu para eu jogar tranquilo, eu vou jogar tranquilo. Acho que esse efeito dele, quando ele vem falando com um por um e tirando toda a pressão, ele sabe conduzir. Acho que isso influenciou bastante na melhora disso tudo.
Como ele descontrai vocês com as histórias?
– Ele é gente boa, todo mundo sabe que ele é muito engraçado. Está sempre brincando com a gente quando pode brincar. Ele é mais resenha às vezes com os mais velhos, com a gente da base ele pega mais firme. Vem fazendo as brincadeiras dele mais pesadas (risos). Mas é um cara que consegue descontrair.
– Às vezes a gente acha que ele está tenso, e é nessa hora que ele brinca. Às vezes quando estamos brincando, ele do nada fala sério, e todo mundo começa a ouvir. Ele tem o momento dele: às vezes brinca, às vezes não e vai levando o grupo assim.
Trato de Luxa com a molecada da base
– Dá para ver que ele sabe cuidar muito bem dos moleques que sobem. No ano passado, lembro que era difícil ele me dar um esporro de me tirar confiança. Hoje em dia ele já fala mais comigo, já sei ouvir mais porque já estou mais tempo com ele e no profissional.
– Acho que ele vai fazendo isso. Quando você vai subindo cada vez mais, ele vai mudando um pouco para o melhor. Ele sabe como cuidar do garoto que subiu há um tempo e do garoto que vai subir agora. Para eu, Talles e Pec, que subimos com ele, é um cara que ajudou bastante e vem ajudando de novo.
Vocês também se dedicavam com o Sá Pinto, mas não funcionou. O que você acha que não deu certo com ele?
– Acho que não tem uma coisa específica que não deu certo. Pode ter sido o estilo de jogo dele. Ou então era o momento, o nosso momento estava difícil. Às vezes a gente jogava bem, e a bola batia na trave em vez de entrar.
– Quando Luxemburgo entrou, ele já conhecia muito a gente, então acho que isso facilitou bastante. Acho que não tem uma coisa que o Sá Pinto fez de errado, óbvio que não. Mas o Luxemburgo é um cara que já sabia das condições da gente, das condições de trabalho e do clube. Já sabia o atalho para a gente começar a ganhar.
O Sá Pinto lhe deu alguma satisfação sobre as poucas oportunidades?
– Não, ele conversou comigo às vezes sobre estilo de jogo, que eu tinha de estar preparado porque a qualquer momento poderia haver uma brecha. Nunca me deu uma satisfação e nem nada sobre meu futebol, mas falava eu tinha de estar ligado, e era isso que eu fazia. Eu treinava e esperava o meu momento. Eu entrei em uns três jogos e tentei fazer o meu melhor.
Você ficou chateado ou desestimulado por quase não ter jogado com ele?
– Não digo chateado, mas também não digo feliz porque todo jogador quer estar jogando. Foi muito também muito pelo momento. No momento que a gente estava vivendo, ninguém estava muito motivado. A gente vinha com uma sequência ruim, foi eliminado.
– Por isso digo que o título na Seleção (Torneio Internacional disputado pelo Brasil Sub-20 em dezembro na Granja Comary, em Teresópolis) me ajudou bastante. Foram três jogos em que consegui jogar, e um título pela Seleção me ajuda na confiança. Tenho que seguir trabalhando, a gente sabe que vai passar por momentos difíceis. Nessa horas, os mais experientes ajudam, dizem que vamos passar por momentos assim, mas que temos de estar preparados para oportunidades.
E o que você corrigiu na Seleção e o que aperfeiçoou com o treinador André Jardine na equipe sub-20 do Brasil?
– Não tem algo específico que ele me falou, mas acho que foi mais pelo estilo de jogo. O estilo de jogo do Vasco era muito diferente do estilo da Seleção. E o estilo da Seleção era muito parecido com o nosso do sub-20 do Vasco, com o Marcos Valadares (em 2019). Ele pôde me trazer um pouco desse estilo de jogo do sub-20 do Vasco e tirar algumas coisas que eram diferentes no Vasco (profissional), como acompanhar um lateral.
Qual a sua sensação ao ver o sucesso da Base Forte do Vasco?
– A gente fica muito feliz até porque joga junto desde muito tempo, todo mundo é muito amigo. É bom você ver o cara cresceu junto bem. Ou então um Andrey, que eu sempre vi na base e você vê metendo gols. O Caio, que sempre jogou comigo, ajudando. O Talles… É uma alegria enorme, e você sabe o que cada um passou e a correria de cada um. Muito feliz de ver a gente se dando bem e ajudando o Vasco.
Já que o assunto é base, o Talles também agradeceu aos esporros do Luxemburgo durante o jogo com o Botafogo. Ele pega muito no pé do Talles?
– O esporro que lembro do Talles foi o estilo do meu, foi mais dele puxando o Talles para confiança. Dizendo que o Talles joga pra caramba, que tem que ir para cima do adversário, tem que desequilibrar na parte final e pedalar se tiver que pedalar. Mas na forma dele, gritando com o Talles. É esse esporro junto com a confiança que é bom de ouvir. Qualquer um gosta de ouvir.
Quando o Luxa voltou, ele pediu que os torcedores abraçassem o time nas redes sociais. Você sentiu esse abraço depois da chegada dele?
– É bom você acabar um jogo e ver várias mensagens bonitas, de carinho. Às vezes um textos dos torcedores dizendo que você jogou bem ou até críticas construtivas também. Mas falando de uma forma maneira, que você vai ouvir e vai prestar atenção. Isso é bom, todo mundo gosta de receber elogio. Acho que no último jogo todo mundo teve um engajamento maneiro na rede social, e isso ajuda bastante. As coisas hoje são muito nas redes sociais porque os torcedores não podem ir aos estádios.
Alguma mensagem em especial te chamou atenção?
– São várias, recebi muitas também no “direct”. Procuro ler e responder, não dá para responder todo mundo, mas teve gente falando que me criticava e virou fã do meu futebol. Teve gente que falou que me acompanhar desde o sub-17. É bom ver o carinho do torcedor.
Fonte: Globo Esporte
Bela reportagem, mas deixa aquele português pra lá, quase acabou com o nosso vasco