Austeridade! Vasco passa pelo 1º semestre de 2020 sem piorar as finanças

O Vasco da Gama passou o 1º semestre de 2020 sem aumentar suas finanças, apesar das dívidas e atrasos salariais.

Alexandre Campello
Alexandre Campello (Paulo Fernandes/Vasco da Gama)

No contexto da pandemia do coronavírus, clube de futebol que não piora seu estado financeiro tem mérito. Ainda que a situação de maneira geral continue péssima. Caso do Vasco. Um resumo honesto da gestão de Alexandre Campello no primeiro semestre deste ano vai por aí.

No decorrer desta semana, o ge analisa em textos individuais as finanças dos principais clubes que publicaram balancetes – documento feito pelos departamentos financeiros com a visão parcial das finanças até 30 de junho. Ouça também o podcast Dinheiro em Jogo sobre o assunto.

Dívidas, dívidas

Pandemia do coronavírus, campeonatos suspensos, dificuldades adicionais para conseguir dinheiro. Neste contexto, é um alívio para o torcedor ver que o endividamento não piorou. Os R$ 645 milhões devidos em dezembro de 2019 foram mantidos até junho de 2020.

Ao classificar as dívidas conforme o vencimento, a situação também se manteve no mesmo patamar. Compromissos a pagar no curto prazo – ou seja, em menos de um ano – estão em R$ 263 milhões.

O que não quer dizer que a natureza dessas dívidas seja exatamente a mesma. O blog mostra a seguir as principais variações no semestre.

A vencer no curto prazo:

R$ 17 milhões a mais em salários e encargos
R$ 2 milhões a mais com clubes
R$ 1 milhão a mais em direitos de imagem
R$ 10 milhões a menos em empréstimos
R$ 4 milhões a menos em acordos cíveis e trabalhistas
R$ 3 milhões a menos em impostos parcelados

A vencer no longo prazo:

R$ 3 milhões a mais em parcelamentos
R$ 2 milhões a menos com clubes
R$ 1 milhão a menos em acordos cíveis e trabalhistas

O cálculo do endividamento é simples: tudo o que precisará ser pago, menos o que está disponível em caixa. Se você pegar a calculadora, somar os números acima e encontrar um aumento, saiba que a variação foi zero porque a situação do caixa melhorou um pouco. Havia R$ 876 mil em dezembro de 2019 e R$ 5 milhões em junho de 2020.

Como a maioria dos números oscilou muito pouco neste período, o torcedor só precisa prestar atenção em dois aspectos.

A dívida com instituições financeiras teve uma redução relevante nesses seis meses. Por quê? O Vasco antecipou dinheiro da televisão lá atrás. Pegou empréstimos e deu essas receitas como garantia. O que hoje na prática: esse dinheiro é repassado pela Globo diretamente para os bancos. O clube não vê a cor dele, mas reduz o montante devido.

Esse processo de redução das dívidas bancárias ainda está longe do fim. Em junho, o Vasco ainda devia R$ 72 milhões no curto prazo e outros R$ 41 milhões no longo. Mas não há muito o que fazer. O clube precisa sobreviver enquanto vê suas receitas de tevê irem para os bancos.

Por outro lado, a dívida com jogadores, comissão técnica e funcionários teve um aumento relevante nesse período. Em junho, havia R$ 74 milhões abertos nessa linha, um valor alto demais para uma equipe que não está entre as maiores folhas salariais da primeira divisão.

Esses dois aspectos são importantes para compreender o quadro financeiro. Como é possível que o clube tenha salários atrasados, fato noticiado com frequência, e não tenha piorado o seu endividamento? Justamente porque uma coisa compensa a outra no quadro geral.

Receitas e despesas

No faturamento, as boas notícias são poucas, mas elas existem. No primeiro semestre de 2020, agora em comparação ao mesmo semestre de 2019, a arrecadação do Vasco aumentou e chegou a R$ 93 milhões.

Na televisão, um valor que compreende o Campeonato Carioca e alguma coisa das demais competições, há uma pequena controvérsia sobre a contabilização. Explicaremos adiante. O resumo é que o Vasco contabilizou essas receitas de maneira inadequada à regra contábil. Ela deveria aparecer menor em alguns milhões no quadro acima.

Nas bilheterias e demais receitas de São Januário, houve queda. Não poderia ter sido diferente no contexto desta temporada. Com a suspensão das competições, a venda de ingressos vai a zero.

O departamento comercial conseguiu um ganho interessante em 2020. Principalmente se lembrarmos que a principal propriedade comercial, a cota máster do uniforme, já estava vendida para o BMG desde o ano passado. Outros patrocínios têm reforçado a área.

Nos associados, as conclusões são quase ambíguas. Porque ao mesmo tempo em que é elogiável o aumento da receita no semestre, comparada ao primeiro semestre do ano anterior, ela é pequena para um clube que tinha passado dos 175 mil sócios-torcedores no mês de junho. Isso indica que o tíquete médio (o valor cobrado) é baixo.

Ainda sobre a receita com associações, o valor inclui dois tipos de filiados: o que paga mensalidades para ser sócio-torcedor e o que frequenta as dependências sociais de São Januário. Na comparação com o Flamengo, que arrecada R$ 46 milhões na soma dessas duas linhas, os R$ 10 milhões do Vasco apontam para dificuldades nessa área.

Nas despesas, a direção de Alexandre Campello conseguiu manter o clube no eixo no semestre – apesar de contratações que geraram controvérsia com ex-aliados, como a do argentino Germán Cano.

A folha salarial do futebol baixou de R$ 57 milhões no primeiro semestre de 2019 para R$ 38 milhões no mesmo período de 2020. E o desempenho técnico não foi muito prejudicado – pelo menos no Campeonato Brasileiro, apesar da eliminação na Copa do Brasil.

Despesas administrativas também foram reduzidas. Esses cortes, apesar de ingratos, são necessários para que o clube feche as contas e não deixe o endividamento piorar. As duas questões estão relacionadas.

Para que o Vasco resolva logo seus problemas e volte a competir pelo topo da tabela com consistência, o ideal seria que as receitas disparassem e as dívidas fossem reduzidas com mais rapidez.

No estado atual do futebol e da sociedade, no entanto, com todas as dificuldades impostas pela pandemia, não ter deixado a situação piorar pode ser considerado como vitória. Outros clubes não conseguiram.

Uma pequena controvérsia

No caso dos direitos de transmissão expostos na tabela acima, o Vasco cometeu um erro na contabilização deste primeiro semestre. O clube recebeu pagamentos da Globo pelos direitos do Campeonato Brasileiro e os reconheceu como receita correspondente a este período.

O blog consultou três contadores com experiência em futebol:

Benny Kessel, funcionário do Banco Central e ex-presidente da Apfut (autoridade pública que fiscaliza as contas dos clubes)

Carlos Aragaki, sócio-líder da auditoria BDO

Rodrigo Albuquerque, sócio da auditoria Mazars

Todos afirmam que a maneira correta de registrar a televisão seria como um adiantamento, e não como receita deste período. Eles explicam que o reconhecimento de receitas só pode ocorrer quando existe a contraprestação firmada em contrato – neste caso, o início do Brasileiro.

Quais as consequências práticas desta contabilização incorreta?

O Vasco melhorou artificialmente o seu resultado no primeiro semestre, que aparece no balancete com R$ 7 milhões positivos. Contabilmente, provavelmente teria havido deficit (prejuízo)

Uma vez que dirigentes adotaram critérios diferentes para a contabilização em balancetes, isto impede a comparação entre receitas e lucros/prejuízos com clubes adversários. Não faça!

Fonte: Blog do Rodrigo Capelo

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