Vascaínos relatam como momento do Vasco afeta a saúde mental

Torcedores do Vasco da Gama contaram como a péssima fase do Gigante tem afetado a saúde mental deles no dia a dia.

Torcedores do Vasco em São Januário
Torcedores do Vasco em São Januário

O domingo que havia começado doce para o vascaíno terminou, como tantos outros em 2021, angustiante. A alegria com a derrota do Flamengo na final da Libertadores, no sábado, logo se deparou com os sentimentos ruins que os 3 a 0 para o Londrina, pela última rodada da Série B, despertaram. A colher de chá na saúde mental durou pouco, bem menos do que a torcida do time da Colina precisa.

O futebol, que oferece tantos prazeres, também pode ser um inimigo do aspecto emocional do torcedor. É o outro gume da faca, quando se estabelece um vínculo tão forte com um time: se as vitórias em campo são as vitórias da torcida, a derrota é o fracasso do próprio apaixonado. Quando a fase ruim se prolonga por anos, como é o caso do Vasco hoje, os efeitos podem ser duros.

Flávia Gonçalves de Siqueira trabalha com relacionamento com clientes e vive intensamente o Vasco, seu “amigo mais querido, carinhoso, mas também o mais problemático”. Este ano, sentiu tonteiras depois da derrota para o CSA. Durante o jogo contra o Operário, em que o time foi derrotado no dia de seu aniversário de fundação, sentiu a mão trêmula e as pálpebras dos olhos tremerem:

— Sou uma pessoa isolada? Sim. Tomo remédio para me acalmar? Sim. Mas ninguém vai entender que isso é por causa de um time de futebol. Você acaba sendo grosseiro no trabalho, com sua família. Não consegue fazer suas coisas direito porque está abalado e parte disso é por causa do Vasco. É muito triste ver seu time assim e não poder ajudar.

Não faltam relatos de pessoas que sofrem com distúrbios alimentares, crises de ansiedade e insônia, por causa da má fase do time do coração. Hoje o vascaíno sofre no Rio, enquanto o cruzeirense padece em Belo Horizonte, rumo à terceira temporada seguida na Série B. No passado foram outros na mesma situação.

Propício para depressão

A má fase do time afeta a autoestima do torcedor mais apaixonado, que muitas vezes encontra no futebol um contraponto para frustrações em outras áreas da vida. O clube rico traz a fartura que falta ao torcedor em má condição financeira. Trata-se de uma relação quase erótica, como se o futebol fosse um falo simbólico, afirma a psicóloga do esporte Paula de Paula, doutora em psicologia social, professora da PUC-MG e ex-treinadora de vôlei.

Para ela, características do Brasil, país com desigualdades socioeconômicas muito fortes, atribuem ao futebol a capacidade de passar ao torcedor a sensação de que ele ascende socialmente com a vitória de seu time, e passa a ser alguém mais respeitado na coletividade. Quando isso não acontece, o risco de um quadro depressivo é grande.

— Pelo fato de o futebol ter se tornado algo capaz de representar simbolicamente o brasileiro, ele tem essa capacidade de mexer tão fortemente com o narcisismo das pessoas.

Ainda assim, conversar sobre os males que a má fase de um time pode causar ao torcedor parece ser um tabu. Estudos sobre a psicologia no esporte focam mais nos atletas do que nos torcedores. Quando a torcida é objeto de estudo, muitas vezes o fenômeno das torcidas organizadas e seus aspectos violentos é que estão no centro da reflexão.

Mariana Barata, 20 anos, estudante de psicologia, tinha receio de falar sobre o que sentia por causa de Vasco nas sessões de análise: “eu achava que me achariam doida”. Felizmente, encontrou na terapia um lugar acolhedor para abordar abertamente como o time afeta suas emoções.

Ela acredita que o futebol ainda é um meio pouco propício para tratar de saúde mental da torcida. E que isso dificulta a vida do torcedor que gostaria de expressar mais suas emoções, quando não é o prazer da vitória que está pulsando.

— O ambiente do futebol ainda é cheio de paradigmas, questões que não conseguimos debater: é a torcedora mulher, é o torcedor LGBTQIA+. Em relação à saúde mental, que ainda é um tabu na sociedade em geral, falar dele no futebol é um tabu maior ainda. Porque é um ambiente de homens, para homens, onde só tem gente forte, bem resolvida. O torcedor pensa: será que eu tenho espaço para falar que eu não estou bem de saúde mental e meu time tem parcela disso?

Indefinições

A angústia vascaína se prolonga ainda mais diante da falta de perspectiva para 2022. O clube segue sem definições quanto ao departamento de futebol na temporada que vem, que promete ter novamente uma Série B muito disputada, com os rebaixamentos, no cenário de hoje, de Chapecoense, Sport, Grêmio e Juventude.

Existe a expectativa de o presidente Jorge Salgado anunciar essa semana as contratações do novo coordenador e treinador. Para o cargo à beira do campo, o nome de Zé Ricardo está bem cotado.

Fonte: O Globo

Estamos no Google NotíciasSiga-nos!
Comente

Veja também
Paulo Henrique em ação pelo Vasco contra o Athletico-PR
Dia de Vasco! Gigante enfrenta o Athletico-PR às 16h na Ligga pelo Brasileiro

Athletico-PR e Vasco da Gama se enfrentam neste domingo, ás 16h, jogo válido pela 5ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Paulo Pezzolano em treino do Cruzeiro
Vasco tenta liberação do Real Valladolid para fechar com Paulo Pezzolano

O Vasco da Gama tentar negociar para evitar pagar multa ao Real Valladolid pela contratação do técnico Paulo Pezzolano.

Giovana e seus pais
Torcedora mirim do Vasco viraliza com análises de jogos do Clube

Aos 10 anos, a pequena Giovana são filhos de torcedores do Vasco da Gama e foi batizada na Capela de São Januário.

De virada! Vasco vence o Bauru Basket e sai na frente nas quartas de final do NBB

O Vasco da Gama venceu o Bauru Basket por 84×78, em São Januário e saiu na frente nas quartas de final do NBB.

Rafael Paiva em Fortaleza x Vasco
Escalação do Vasco contra o Athletico-PR

Confira a escalação do Vasco da Gama para o jogo contra o Athletico-PR neste domingo, pelo Campeonato Brasileiro.