Veja relatos do enérgico último Vasco x Bahia em São Januário

O Vasco da Gama venceu o Bahia ano passado, pela Série B, em São Januário, com direito a grande festa da torcida.

Torcida do Vasco durante o jogo contra o Bahia
Torcida do Vasco durante o jogo contra o Bahia (Foto: Daniel Ramalho/CRVG)

A vitória sobre o Bahia no primeiro turno da Série B do ano passado pode perfeitamente ser considerada um marco na campanha do acesso do Vasco. Foi o primeiro grande resultado do time então comandado por Zé Ricardo na temporada. Foi o jogo que garantiu o ingresso no G-4, de onde a equipe nunca mais saiu. Mas principalmente: foi o dia que reestabeleceu a conexão entre torcida e jogadores.

Vasco e Bahia voltam a se enfrentar em São Januário na próxima segunda-feira, pela terceira rodada do Brasileirão. A bola rola às 20h (de Brasília).

Vários e vários vascaínos que estiveram na arquibancada no dia 15 de maio de 2022, mesmo com experiência em jogos mais importantes de competições de maior prestígio, afirmam que nunca haviam visto São Januário daquela maneira.

Ao fim da partida vencida por 1 a 0, com golaço de falta marcado por Figueiredo, os jogadores permaneceram em campo pulando e vibrando com a torcida (veja no vídeo acima). O momento ficou eternizado com a narração de Luís Roberto na transmissão da TV Globo:

“Uma atmosfera impressionante, um jogo que pode marcar o início da retomada desse gigante do futebol brasileiro”.

São Januário estava cheio, com público presente de 19.692 pessoas. Dali em diante, os torcedores do Vasco esgotaram os ingressos em todos os jogos como mandante até o fim da Série B, mesmo com altos e baixos pelo caminho (trocas de técnico, jejum de vitórias…). É como se, ali, um pacto tivesse sido estabelecido: a torcida abraçaria o time independentemente dos resultados em campo.

Antes do reencontro entre Vasco e Bahia em São Januário, o ge reuniu relatos de quem esteve no estádio e viveu a emoção. “Eu nunca me senti tão fundamental numa vitória do Vasco como aquela”, resumiu um torcedor.

Antes, o contexto…

O jogo válido pela sétima rodada da Série B de 2022 estava inicialmente marcado para o dia 15 de maio, um domingo, mas a CBF na véspera determinou a mudança para o dia 16 por uma determinação da Polícia Militar, já que haveria jogo entre Botafogo e Fortaleza no Nilton Santos, no Rio, no mesmo dia.

O Vasco, então, se mobilizou nos bastidores na tentativa de cancelar a mudança. O principal argumento era de que vários ingressos já haviam ido vendidos e que torcedores de outras cidades e estados tinham caravanas organizadas para domingo. Com o apoio de Ferj e CBF, o clube teve seu pleito atendido: a notícia de que o jogo seria mantido no domingo foi confirmada na semana da partida.

O Bahia era o líder da Série B do Brasileiro, enquanto o Vasco de Zé Ricardo patinava na competição e era sexto colocado. Estava invicto com duas vitórias e quatro empates, é verdade, mas as atuações não convenciam. Ferida pelo fracasso na busca pelo acesso no ano anterior, a torcida levou tempo para engrenar e olha a equipe com desconfiança no início do campeonato. O jogo contra o Bahia foi o primeiro com ingressos esgotados na campanha.

Vamos aos relatos

“Deu para sentir a arquibancada explodindo”

“Foi um dia completamente maluco, não tinha um da torcida que estava são. Qualquer lance era cerveja pro alto. E no final a torcida estava cantando a música ‘Nunca vão entender esse amor’ um pouco nervosa por conta dos minutos finais, até que saiu um tiro de meta pra nós e simplesmente deu para sentir a arquibancada explodindo. Todo mundo passou a gritar ao invés de cantar.

Foi um dia tão maluco que eu saí dos arredores de São Januário 3h da manhã. E tinha gente nos ainda bebendo e festejando. A definição perfeita pra mim é que foi um dia realmente maluco”.

Pedro Henrique Duarte, 25 anos.

“Me entreguei à arquibancada”

15 de maio de 2022, por volta de 7h da manhã, recebo ligação do meu tio. ‘Rapha, seu avô faleceu’. Meu avô morreu. Raphael levanta da cama, sua esposa pergunta o que houve. Poucas palavras. ‘Meu avô morreu’.

Daí vem o desenrolar de um dia nada comum, e também nada fácil de lidar. Lidar com a dor da perda, da saudade, da realidade que chega sem ter como mudá-la. Lidar também com a busca pela melhor forma de informar à própria mãe, já frágil com todas as situações recentes, para que ela não desmonte, não desmorone. Força! Precisa encontrá-la em algum lugar, em alguém, de alguma forma. Mas é isso, já fazendo um primeiro link com o Vasco… força. O vascaíno está sempre tendo que encarar as realidades difíceis e buscar forças também.

Pois bem. Força encontrada. Mãe avisada. Agora é a hora da ida ao hospital. Juntar as forças com os parentes. Aos outros filhos (do meu avô) principalmente. Forças novamente encontradas em abraços apertados, em palavras de conforto, em simples olhares. Hora de resolver a parte burocrática da morte. Um pouco mais de força. Um pouco não. Agora precisa de ainda mais. Aqui na família me coloquei sempre como um pilar forte de apoio e sustentação. Sempre à frente, presente e disposto a resolver. Eles precisam de mim. Eles precisam de mim forte para que permaneçam também fortes. Então força, Raphael. Força!

A manhã avança, tudo vai se resolvendo. E a ficha também vai caindo. O dia triste ainda não terminou. Ele vai durar ainda por mais tempo. Não vai acabar no próximo amanhecer. E todos continuarão precisando ser fortes. Resilientes. Assim como os vascaínos sempre. A hora do jogo se aproxima e bate realmente a dúvida. Eu vou para São Januário? Deixo todos aqui juntos sem mim?

Debate interno comigo mesmo. Mas no fim, decido ir. Meu sócio-torcedor tinha ingresso pra mim e mais dois amigos. Eu disse ‘Vamos’. E fomos!

E foi lá onde eu não capotei. Onde não desmoronei. Onde chorei longe de todos por tristeza e por alegria. Onde senti euforia e saudade. Onde vibrei, gritei, pulei e com isso renovei minhas forças. Onde no fim, aquele gol, aquele momento me permitiu deixar a emoção enfim me levar. Me entreguei à arquibancada, à torcida, ao Vasco, assim como me entrego à todos próximos de mim.

O futebol não é só campo. A dúvida no momento de decisão de ir ou não também foi um pouco questionada por quem ficou. Mas é isso. Nem todos compreendem. Estar e viver aquela emoção ali não é só pelo campo. É poder de certa forma ser livre por alguns momentos. É poder compartilhar as suas emoções com quem você nunca viu na vida. E poder em mente sempre lembrar também de quem você mais conhece e ama. É sobretudo o momento de renovar os sentimentos, a energia e voltar pra casa com força.

Aquele dia na Barreira e em São Januário valeu demais. Aquela bomba do Figueiredo no fundo da rede foi uma explosão inimaginável de sentimentos. Ainda bem que eu fui!”.

Raphael Pacanowski, 36 anos.

Suecos em São Januário

“Uma amiga minha é casada com um sueco. Ele morou no Brasil há um tempo atrás e se apaixonou pelo Vasco, mas nunca tinha ido ao jogo. Eles moram hoje na Suécia e uma vez por ano vêm para cá. Ele ficou durante um ano: ‘Pô, me leva no jogo, me leva no jogo’. Eu falei que ia ver quando eles estivessem aqui. Conciliamos as datas direitinho e fomos. Ele levou o irmão e um amigo. São suecos que gostam muito de futebol, eles estavam querendo muito ir num jogo do Flamengo. Eu falei: ‘Não, não vai no jogo do Flamengo coisa nenhuma, vamos no do Vasco’. Chegaram lá, quiseram comer churrasquinho, farofa, latão de Brahma, queriam entrar na favela…

Eles ficaram encantados, aquele jogo foi muita gente. Ficamos no meio de todo mundo na arquibancada. O jogo não foi tão bom assim, mas aquele golaço do Figueiredo coroou tudo, e a torcida naquele dia estava diferente. Só um deles falava português, os outros não entendiam nada, mas tentavam cantar. Enfim, foi uma experiência diferente”.

Pedro Landes, 30 anos.

“Eu estava cantando em lágrimas”

“Foi um dia absurdo. A energia que São Januário estava naquele dia foi inexplicável. Se equipara ao Maracanã no Vasco x Cruzeiro. O estádio todo em uma só voz. Quando saiu o gol do Figueiredo foi uma explosão absurda. Acabou, torcida cantando ‘Na Barreira eu vou festejar’. Quando o juiz apitou, foi lágrima escorrendo. Eu lembro que eu estava olhando para o meu irmão e falei: ‘A gente subiu’.

Eu estava cantando em lágrimas. Acho que no final do jogo, essa música é absurda. E você não tinha delay, o estádio inteiro numa só voz, numa sincronia absurda. Jogadores em campo com a torcida. Foi uma sensação que eu há muito tempo não via em São Januário. Eu digo que é o melhor jogo que eu já vi em São Januário, o mais emocionante de fato”.

Carlos Henrique Batista, 33 anos.

“A energia aquele dia era surreal”

Vasco x Bahia foi um dos jogos mais incríveis que eu vi estando no estádio. Já vi jogos muito mais importantes, que valiam muito mais, mas a energia da arquibancada aquele dia era surreal. Eu achei que isso tinha sido só para mim, mas depois vi todo mundo falando e conclui que realmente a energia estava surreal. Foi o primeiro jogo que fui a São Januário depois da morte do meu pai, no final de 2020, de Covid. Estava muito difícil acompanhar futebol sem ele. Futebol e o Vasco era algo que nos unia, então eu sentia muita falta dele quando via jogo.

Mas naquele dia eu me senti tão próxima dele que eu pensei: ‘Esse é meu lugar, realmente’. Não posso abandonar nunca, não posso deixar de acompanhar. Depois disso, toda vez que acontece algo eu sei que ele está vendo. Foi incrível. Eu queria voltar naquele dia.”

Manuela Freitas Valle, 34 anos

Fizeram a alegria do pai

“Por causa da pandemia, ficamos um tempo sem ir a jogo do Vasco. No final de 2020, começo de 2021, meu pai sofreu um AVC. Ficou internado e tudo mais. Graças a Deus se recuperou e ficou tudo ok. No começo de 2022 ele perdeu a esposa dele, ele é separado da minha mãe. Levamos ele para o jogo do Vasco justamente por causa disso, ele estava sofrendo muito, tinha um mês mais ou menos que ele tinha perdido a mulher. Essa história vai ficar para sempre nos nossos corações”.

Antônio Dantas, 31 anos.

Cadê a água?

“Eu estava atrás do gol assistindo ao jogo lá em cima, estava cheio de sede. Dei R$ 10 para o rapaz que estava na minha frente, e ele foi passando até chegar no rapaz que vende bebida. Compraram a água pra mim e vieram passando de novo, um por um, até chegar em mim. Quando chegou em mim, foi na hora da falta. Nenê tocou para o Figueiredo, e ele meteu um golaço. Eu tinha aberto o copo d’água, mas não tinha bebido. Saiu o gol e eu joguei a água para o alto. Resumindo: perdi os R$10 e não bebi a água, ainda fiquei com sede (risos). Mas a vitória veio”.

Ângelo Dias, 25 anos

Até a namorada sem time chorou

“Ano passado a gente foi no jogo, eu e um amigo, minha namorada e a namorada dele. A namorada dele nunca tinha ido em jogo nenhum, não tinha nem time, a família não liga muito para futebol, ela foi acompanhá-lo para poder conhecer e tal. Fomos nesse Vasco x Bahia, São Januário estava de um jeito absurdo, lotado. O jogo pegando fogo. Quando sai o gol do Figueiredo na falta, São Januário explodindo, a menina se emocionou, chegou até a chorar de tanta emoção na hora do gol. Acredito que, daí para frente, ela virou vascaína. Não tem condição de não virar, né (risos)”.

Luiz Carvalho, 28 anos.

Despedida de solteiro em São Januário

“Foi uma despedida de solteiro de um amigo meu, um casal de amigos ia se casar, e o noivo resolveu fazer a despedida de solteiro lá em São Januário. Foi justamente nesse Vasco x Bahia. Vasco não estava vindo muito bem. A gente foi mais pela amizade mesmo, porque estava P da vida com o Vasco. Falamos: “Vamos cedo que é pra já calibrar, beber bastante e ver a desgraça do jogo”. Aí tivemos a surpresa daquele golaço do Figueiredo, o que nos motivou a beber ainda mais. E era domingo, hein. No dia seguinte todo mundo de ressaca indo trabalhar. Foi flamenguista, botafoguense, tricolor, todo mundo junto assistir ao jogo e deu tudo certo, graças a Deus”.

Tiago Silveira, 30 anos.

“Foi o melhor dia da minha vida”

“Eu sou de Brasília, meu pai empolgou de irmos assistir ao jogo e eu estava um pouco receoso, tanto pelo histórico recente do confronto quanto pela fase do Vasco, que tinha tido um início de campeonato conturbado. Mas no final, decidi ir. Também chamamos o meu avô fanático pelo Vasco, que também mora em Brasília. Fomos de carro e chegamos no Rio dia 14, conseguimos ainda fazer o Tour da Colina para conhecer a estátua do Maior De Todos. Foi um sentimento inexplicável o final do jogo, cantando e abraçando amigos que nunca tinha sequer visto em toda minha vida. Enfim, foi o melhor dia da minha vida. E depois dali eu tive certeza que iríamos subir no final do ano”.

Felipe Teixeira, 18 anos

Fonte: Globo Esporte

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