Vasco tem sofrido com instabilidade de técnicos na era SAF; veja números
Atual treinador do Vasco da Gama, Fábio Carille é mais um que está com o cargo ameaçado no comando do Cruzmaltino.

Pedir paciência à torcida do Vasco não é algo simples. Afinal, trata-se de uma torcida machucada por duas décadas de caos administrativo e financeiro que culminam num jejum que hoje é de 14 anos sem conquistas nacionais. Esse contexto se transformou num desafio que o futebol do clube enfrenta há alguns anos, mas que se intensificou após a volta à Série A, em 2022, e agora assombra o trabalho do atual treinador Fábio Carille: equilibrar os resultados necessários e esperados com um desempenho do time que agrade a torcida.
Na vitória cruz-maltina por 1 a 0 sobre o Puerto Cabello, pela Copa Sul-Americana, os vascaínos xingaram e pediram a saída do treinador. Muito por conta do placar magro e pela dificuldade de ter domínio pleno sobre uma equipe de nível técnico bem menor que o dos cariocas. Carille e os atletas, por outro lado, ressaltaram a vitória no que consideraram um jogo difícil. Essa discordância de visões é o que mantém o trabalho na corda bamba: o treinador segue sob análise interna até a partida contra o Sport, no sábado.
Histórico recente
Para entender como as coisas chegaram a esse ponto, é preciso voltar a 2023, a primeira temporada do cruz-maltino inteiramente como SAF (até então, gerida pela 777 Partners). O primeiro técnico daquela era, Maurício Barbieri, iniciou a temporada com um time renovado, que fazia bons jogos e entregava resultados importantes, mas uma queda vertiginosa no rendimento cortou tanto os resultados como o bom desempenho em campo. O time se afundou na vice-lanterna do Brasileirão. Seu substituto, Ramón Díaz, assumiu já com uma única missão: recuperar os resultados. Entre bons e maus jogos, um Vasco mais reativo e eficiente se salvou do rebaixamento na última rodada e acalmou os ânimos.
No ano seguinte, o clube se reforçou, o que gerou a expectativa de trazer o fator desempenho de volta à equação. Só que até os resultados pioraram. Ramón deixou São Januário após uma eliminação para o Nova Iguaçu no Campeonato Carioca seguida de uma goleada sofrida por 4 a 0 para o Criciúma na Colina, pela quarta rodada daquele Brasileirão.
A passagem do substituto do argentino, o português Álvaro Pacheco, foi curta mas determinante para novamente resetar as expectativas da torcida. Demitido depois do histórico 6 a 1 para o rival Flamengo, o português deu lugar ao então interino Rafael Paiva (posteriormente, efetivado), que desde então foi quem mais chegou perto de “resolver” essa equação.
Paiva chega perto do equilíbrio
O Vasco de Paiva, primeiro técnico apontado pela gestão Pedrinho, apostava fortemente na transição. Sem a exigência de brilhantismo dados o péssimo trabalho anterior e a necessidade de reagir no campeonato, o treinador montou um time que esperava em seu campo para contra-atacar com velocidade e nos momentos certos. Assim, encaminhou uma temporada em que o cruz-maltino venceu algumas das mais fortes equipes do futebol brasileiro, foi semifinalista da Copa do Brasil e 10º colocado no Brasileirão — campanha encerrada por Felipe Loureiro, interinamente, no cargo.
Na reta final do trabalho de Paiva, o ciclo se inverteu novamente. Com a chegada de Philippe Coutinho e lidando com lesões de seus dois pontas titulares, Adson e David, o treinador tentou apostar num melhor desempenho, com uma proposta de linhas mais altas e controle da bola. Não deu certo e acabou culminando em sua demissão.
Com Carille e um elenco reforçado, mais uma natural empolgação do início de uma temporada com calendário internacional, a expectativa voltou a ser pelos dois aspectos, desempenho e resultados. Carille e seu elenco defendem que o segundo justificativa a lenta evolução no primeiro. Mas a perspectiva das arquibancadas já não é a mesma. Afinal, para a torcida, os tempos de terra arrasada teriam ficado para trás. De forma justa ou não, Carille e os atletas têm o campo como melhor cenário para defender o trabalho. Mudar essa perspectiva sem ele é comprovadamente complicado, como seus antecessores experimentaram.
Veja os números dos técnicos do Vasco desde 2023:
Maurício Barbieri (2023)
- 23 jogos
- 9 vitórias
- 3 empates
- 11 derrotas
- 34 gols marcados (1,48 por jogo)
- 29 gols sofridos (1,26 por jogo).
Ramón Díaz (2023-2024)
- 41 jogos
- 17 vitórias
- 11 empates
- 13 derrotas
- 56 gols marcados (1,37 por jogo)
- 50 gols sofridos (1,22 por jogo)
Álvaro Pacheco (2024)
- 4 jogos
- 0 vitórias
- 1 empate
- 3 derrotas
- 1 gol marcado (0,25 por jogo)
- 10 gols sofridos (2,5 por jogo)
Rafael Paiva (2024)
- 35 jogos
- 13 vitórias
- 10 empates
- 12 derrotas
- 42 gols marcados (1,2 por jogo)
- 44 gols sofridos (1,26 por jogo)
Fábio Carille (2025)
- 16 jogos
- 8 vitórias
- 3 empates
- 5 derrotas
- 24 gols marcados (1,5 por jogo)
- 17 gols sofridos (1,06 por jogo)
Fonte: O Globo