Vasco supera obstáculos e presenteia torcida com classificação

Vasco da Gama passou por cima de adversidades antes e durante a partida contra o Botafogo e carimba vaga para as semis da Copa do Brasil.

Festa dos jogadores do Vasco após a classificaçaõ na Copa do Brasil (Foto: Matheus Lima/Vasco)

A publicidade argentina joga sujo quando o assunto é futebol — tão sujo que nos faz chorar. Anos atrás, um comercial resgatou a história de Victor Dell’Aquila, torcedor que assistiu à decisão da Copa do Mundo de 1978, no Monumental de Núñez. Ao fim do jogo, para comemorar o primeiro título da Argentina, ele invadiu o gramado a chegou até Tarantini e Fillol, que estavam ajoelhados no gramado. Acontece que, por um acidente na infância, Victor havia perdido os dois braços e, portanto, apenas permaneceu junto aos campeões, contemplando a cena — abraçava sem ter os braços. A imagem ganhou capa da revista El Gráfico, com o título “El abrazo del alma”.

Pode parecer um disparate, mas essa foi a primeira imagem que me ocorreu após o desfecho da noite no Estádio Nilton Santos, ainda que por motivos enviesados. Esse abraço invisível, que ao mesmo tempo é perceptível para todos, é o que a torcida do Vasco há anos busca fazer com seu time — os vascaínos tomam as arquibancadas de São Januário à procura de uma equipe que, por motivos diversos, não consegue retribuir tamanho afeto. Sem ganhar nada há anos, com dificuldades inclusive de se manter na Série A, o Gigante da Colina parece não acordar da hibernação — perdão se me repito, mas é uma repetição necessária: é um absurdo precisar explicar aos jovens afoitos nascidos neste século a importância do Vasco da Gama. O abraço, contudo, sempre está lá, esperando.

Ontem, esse abraço invisível novamente estava armado. Pela segunda partida das quartas da Copa do Brasil, contra o Botafogo, os jogadores vascaínos entraram no gramado do Estádio Nilton Santos sem quase nada de Fernando Diniz. Por opção ou por necessidade, o time entrou para sobreviver. E aguentou, na carne e no osso, sobretudo pela ancestralidade vascaína, durante os cem minutos de jogo e também por décadas passadas e mais dois punhados de pênaltis. Há um par de dias, o português Nuno Moreira falou sobre sua paixão por xadrez e se comparou à peça de um bispo, que pode andar impunemente pela diagonal. Também comparou Coutinho à dama, peça mais polivalente do xadrez, que pode fazer todo o resto do tabuleiro se ajoelhar.

Pois uma combinação de dama com bispo rende xeque mate, e isso quase aconteceu quando Coutinho cobrou falta e viu o arqueiro Neto se enroscar na trave para o enxadrista Nuno, o bispo português, surgir em diagonal das entranhas do tapetinho e cabecear para as redes. Seria um golpe fatal surpreendente, mas foi momentaneamente suspenso porque Léo Jardim, de enormes serviços prestados à Cruz de Malta, inclusive nessa mesma noite, por algum momento também se afobou e cometeu o pênalti que, convertido por Alex Telles, resultou no empate do Botafogo.

O que vimos a partir daí tomou contornos dramáticos. Sob o comando de Davide Ancelotti, com jogadores que voltavam de convocação e um time ainda sem solidez, o Botafogo não está perto da sua melhor versão, mas impôs ao Vasco, especialmente no começo do segundo tempo, um predomínio tão feroz que causava perturbação mesmo em nós, Os Alheios, a maior torcida do Brasil. Como se fosse um time somente de peões, sem cavalo nem bispo e nem nada, o Vasco segurava-se nas cordas do tabuleiro. O centroavante Pablo Vegetti, tendo participado pouco do jogo no setor que lhe compete, já havia virado uma espécie de Odvan consumido pelo caos, chutando pra cima e ao mesmo tempo correndo pra cabecear.

Saber sofrer também é virtude e método — que me perdoem os vascaínos por escrever algo que certamente lhes parece redundante. Mas martelo também cansa, e assim o Botafogo, impositivo mas mentalmente estropiado, acabou sufocado pela própria empolgação no período final do jogo, enquanto o Vasco fazia o que fazem aqueles que peregrinam na beira da estrada: pedia carona para o relógio e fingia alguma cãibra. A reversão de expectativas já era tanta que nos pênaltis era possível cheirar no ar o favoritismo vascaíno — nada no futebol é mais perigoso que um gigante que resolveu sobreviver.

Quando a situação se encaminhou para a marca da cal, a história já estava contada: sem precisar de redenção, Léo Jardim se redimiu, enquanto Robert Renan enfim entendeu o movimento das marés e a gravidade do momento e cobrou pênalti como se libertasse a América, ou ao menos a Guanabara. E o Vasco, meus caros, aquele que pouco promete e, mesmo assim, tudo deve à sua torcida, na situação de um quase náufrago, de um músculo contraído, mas músculo contraído também esperneia, enfim pôde correr para a arquibancada e oferecer aquilo que todo torcedor espera: a intenção de um abraço para compartilhar uma vitória da alma.

Fonte: Globo Esporte

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