Vasco admite problemas na base, mas projeta time feito em casa no futu

Diretor de base do Vasco, Humberto Rocha, afirma que no clube a transição da base para o profissional é feita com cautela para que não haja o risco de “queimar” algum jovem.

São Januário foi um verdadeiro celeiro de craques. Nos anos 70, 80 e 90, jogadores como Roberto Dinamite, Carlos Germano, Romário, Edmundo, Jardel, Felipe e Pedrinho deram seus primeiros passos no futebol e construíram belas trajetórias até se tornarem ídolos da torcida do Vasco. Mas desde a virada do século, a história mudou. O Vasco revelou Bóvio, Morais, Ygor, Phillipe Coutinho, entre outros, mas nenhum chegou a fazer grande sucesso com a camisa cruz-maltina. Neste ano, por exemplo, além de Felipe, outros seis pratas da casa estão no elenco profissional, mas todos com poucas oportunidades. Últimas revelações com passagens por seleções brasileiras de base, Allan e Romulo já foram negociados para o exterior.

Para o Maestro da Colina, o aproveitamento de jogadores feitos em casa está longe do ideal. Promovido ao time principal em 1996 após apenas dois treinos antes da estreia diante do Botafogo, Felipe citou o exemplo do rival Flamengo, que tem 12 jovens saídos da base no elenco. Destes, oito já foram utilizados neste Brasileiro e alguns, como Luiz Antônio, Marllon, Airton, Diego Maurício e Adryan, têm sido titulares com frequência.

– O Flamengo tem um número considerável de jogadores formados na base que atua com regularidade nos profissionais. Na minha opinião, cada clube deve ter no mínimo quatro ou cinco atletas dos juniores treinando com os profissionais para adquirir experiência e se adaptar. Claro que há situações em que essa ambientação é rápida, como foi o meu caso e, mais recentemente, o do Romulo. Aqui no Vasco isso precisa melhorar. Não é a situação ideal – comentou o experiente jogador.

E Felipe parece ter razão. O Vasco é, entre os grandes do Rio de Janeiro, o que menos utilizou garotos da base na edição deste ano do Campeonato Brasileiro. E os cinco aproveitados tiveram poucas oportunidades, apenas 14 jogos (confira tabela abaixo). Além disso, dois deles, Allan e Romulo, foram negociados para o exterior e não fazem mais parte do grupo. Já o Flamengo, como lembrado pelo meia cruz-maltino, é o time que dá mais chances a seus jovens talentos. O volante Luiz Antonio, por exemplo, atuou em oito das nove rodadas disputadas até o momento. No Botafogo, Lucas Zen e Jadson também são bem aproveitados, como Samuel e Wellington Nem no Fluminense. O Tricolor, aliás, já escalou dez crias da casa, sendo que quatro deles atuaram apenas uma vez cada.

Info Garotos Base - Clubes RJ (Foto: infoesporte)

De acordo com o diretor de base do Vasco, Humberto Rocha, tudo é “questão de oportunidade”. O dirigente afirma que no clube a transição da base para o profissional é feita com cautela para que não haja o risco de “queimar” algum jovem. Segundo ele, o clube vem se estruturando para dar melhor qualidade de trabalho a seus meninos e o objetivo é que em um futuro próximo cerca de 70% do time principal seja formado por atletas formados em casa, como deseja o presidente, também prata da casa, Roberto Dinamite.

– Os jogadores estão chegando aos poucos. Temos uma preocupação muito grande de não criar uma expectativa. Queremos que o jogador chegue bem formado. Não queremos que ele se queime no profissional. Sempre falamos em gerações. A ideia nossa é que subam gerações, oito, nove jogadores que possam integrar o profissional e subam para serem os donos de suas posições. Mas essa integração sempre houve e, com o Cristóvão, mais ainda. Até porque essa é uma meta do presidente Roberto Dinamite. Ele quer que o Vasco tenha no futuro 70% dos jogadores formados na base. Tenho certeza de que eles estão esperando a hora certa – explicou Humberto.

Para ele, o fato de o Vasco ter um time formado por jogadores experientes pode fazer com que os mais jovens tenham menos chances:

– Nesses últimos anos fizemos uma equipe experiente no profissional e os mais jovens têm de esperar oportunidade. Nos outros clubes, de repente, os jovens tiveram chance maior. É questão de oportunidade e, na hora que ela aparecer, tenho certeza que os meninos vão corresponder.

Ainda de acordo com o diretor da base vascaína, além dos jogadores promovidos oficialmente, como Jonathan, Douglas, Diego Rosa, Dieyson, Max e Luan, outros têm treinado constantemente com o time principal. São os casos de Jordi, Jomar, Guilherme, Marlone, Romário, Jhon Cley, Paulista (os três últimos chegaram a atuar no Campeonato Carioca), além de Romarinho, Andrey e Rodrigo. O volante Renato Augusto, que completou 22 anos nessa terça-feira, voltou de empréstimo ao Atlético-GO e também trabalha com a equipe de cima.

Comandante do time do Vasco desde que Ricardo Gomes sofreu um AVC, em agosto do ano passado, Cristóvão Borges adotou discurso parecido com o de Humberto Rocha ao falar da base. O técnico lembrou que não se pode jogar muita responsabilidade sobre os ombros de um menino recém-saído das categorias inferiores e que a integração é feita, especialmente através do auxiliar Gaúcho, que foi técnico da base por muito tempo. Cristóvão disse ainda que há garotos sendo preparados para serem lançados e também falou em oportunidade.

– A valorização dos juniores é muito importante para qualquer clube. Mas num campeonato difícil como o Brasileiro, é preciso ser cuidadoso para lançar um jogador da base. Não pode ser dele a responsabilidade, pois é importante não queimar etapas. Aqui no Vasco existe uma integração entre profissionais e juniores. Constantemente fazemos jogos-treinos contra a equipe e a comissão técnica observa as competições. O Gaúcho é quem normalmente faz essa ponte, passando as informações. Há jogadores sendo preparados, mas vamos promovê-los quando houver uma oportunidade adequada – disse o treinador.

Há dois anos, o Vasco conquistou seu último título na categoria. Do time titular (Cestaro, Max, Genilson, Matheus Avelar e Carlinhos; Elivelton, Renato Augusto, Allan e Jonathan; Nilson e Alan Jr.), Allan foi o único que se destacou e acabou no Udinese, da Itália. Renato Augusto, como ressaltado, foi emprestado ao Atlético-GO e retornou recentemente. Jonathan foi integrado ao profissional, mas não tem atuado. Já Max jogou duas vezes neste Brasileiro, sendo titular da lateral direita na vaga de Fagner na vitória sobre o Atlético-GO. O lateral-esquerdo Dieyson e o zagueiro Luan, que não estavam nessa conquista por serem mais novos – têm 19 anos -, foram os últimos a serem promovidos.

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