Vasco: Eurico nega candidatura, e contesta década perdida

Apesar dos boatos, Eurico nega e garante que não retornará mais à presidência do Vasco.

 

urico miranda vasco 
Eurico diz que não volta à presidência do Vasco
(Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)

No escritório particular onde despacha no Centro do Rio, Eurico Miranda ainda fuma o velho e tradicional charuto e mostra o mesmo vigor de antes. Agora com barba, 66 anos e, garante, recuperado dos problemas de saúde que enfrentou, o polêmico dirigente voltou a disparar a metralhadora giratória. Assim que começou a conceder entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, contestou logo a década perdida do Vasco, da qual fez parte como presidente por oito anos.

– Vocês que dizem… 2001 faz parte de que década? O Vasco foi campeão brasileiro em 2001 – afirmou Eurico, sem levar em consideração que o campeonato em questão era o de 2000, terminado apenas em janeiro do ano seguinte.

Apesar dos boatos de que vai apoiar o amigo Fernando Horta nas próximas eleições do clube, em 2011, Eurico nega e garante que não retornará mais à presidência. Sobre as acusações da atual diretoria de que deixou uma “herança maldita” – na qual há o contrato com uma rede de lanches na manga que rende R$ 350 mil por ano -, defende-se partindo para o ataque.

– Dizer que o contrato da manga é herança maldita, um problema, é diminuir tudo. É só olhar o que o Vasco fez. Quem foi o último carioca campeão brasileiro antes de eu sair? Foi o Vasco. Eu contribuí como, se deixei o Vasco em oitavo no Brasileiro? E mais, faltavam seis ou sete rodadas para acabar e eu publicamente dizia que comigo o Vasco não caía. E não caía. Caiu pela incompetência deles, que levaram o Vasco a isso – afirmou Eurico, para quem a imprensa o persegue e acoberta os problemas da gestão Roberto Dinamite.

Veja aqui a entrevista completa de Eurico Miranda.

Essa última década foi a que o Vasco teve menos conquistas, ao contrário da década anterior, em que o Vasco ganhou praticamente tudo. O que acha que aconteceu para essa mudança?
Vocês que dizem… 2001 faz parte de que década? O Vasco foi campeão brasileiro em 2001…

Na verdade, o Campeonato Brasileiro era o de 2000…
Terminou em 2000 ou em 2001? Em 2001. Se tiver que aplicar as coisas como elas devem ser, a gente aplica. Mas você quer saber as razões? A década anterior, a de 90, esteve toda comigo. A gente está falando de futebol, mas o Vasco teve uma série de outras conquistas. Foi campeão sul-americano e brasileiro de basquete e futsal, fora outras modalidades. No futebol, nem se fala. Fiz na época parceria com o Nations Bank, que permitiu a montagem de grandes times. Em 2000, foi rompida a parceria. E tivemos um problema forte de relacionamento com a Globo, detentora de direitos de TV, a maior receita. Fiquei 18 meses sem receber do patrocinador. Fiz as coisas todas sem recurso, até que a gente depois conseguiu se acertar. Então, enxuguei o departamento de futebol. Quando já estava numa posição em que podia fazer investimentos, saí. E a minha saída veio com uma coisa terrível, que foi cair para a Segunda Divisão. Houve um interesse muito grande por parte da mídia.

Da mídia? Como assim?
Eu sou, queiram ou não queiram, uma pessoa que contesta, que tem posições, e isso não agrada. E a mídia colaborou para que o Vasco estivesse hoje na posição em que está. Por quê? O pessoal que assumiu desconhece futebol e tinha uma desculpa que a mídia estampou, essa história de herança maldita. Que herança maldita? O Vasco teve um passado de conquistas. Essa é que é a herança. Aí vem com isso e acha que podia julgar para poder fazer as barbaridades cometidas no Vasco, acobertadas por grande parte ou totalidade da imprensa, porque eles continuam com o problema que chamaram de fantasma do Eurico. Eu já disse trezentas mil vezes que não volto, que não tem hipótese.

Mas dizem que você vai apoiar o Fernando Horta, seu amigo e presidente da escola de samba Unidos da Tijuca…
Pode-se dizer o que quiser, mas eu não volto à presidência do Vasco.

Por que rompeu com o Bank of America?
Porque eles ficaram meses sem pagar e nos deviam US$ 12 milhões.

E esse valor foi pago?
Não. Foi feito um acordo.

O contrato com o Habib´s, por exemplo, rendeu pouco ao Vasco e entra na lista do que foi denominado de herança maldita pela atual diretoria.
Qual é a herança maldita? Se disser que o contrato da manga é herança maldita, não dá nem para começar a discutir, nem argumentar, seja o que for. Tem que analisar. Dizer que o contrato de manga é um problema é diminuir tudo. É só olhar o que o Vasco fez. Quem foi o último carioca campeão brasileiro antes de eu sair? Foi o Vasco. Eu contribuí como, se deixei o Vasco em oitavo lugar? E mais, faltavam seis ou sete rodadas para acabar e eu publicamente dizia que comigo o Vasco não caía. E não caía. Caiu pela incompetência deles, que levaram o Vasco a isso.

Eurico: ‘Roberto nunca ocupou cargo no Vasco’
(Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)

O que foi feito de errado, na sua opinião?
Tudo o que eles fizeram foi errado. Como que você pega um time e a primeira coisa que fala é que ele é fraco? Que você tem um time ruim, se não pode melhorá-lo? E depois fizeram as contratações do jeito que fizeram. Foram eles que levaram o Vasco a cair. O Vasco, eu afirmo, comigo, não havia hipótese de cair.

Como pode ter tanta certeza? O que podia fazer para que o Vasco não caísse?
O que eu fiz: me ofereci para voltar com plenos poderes nas últimas seis rodadas.

Mas o que faria de concreto?
Tenho 40 anos nisso. Isso se chama competência. Medidas que deviam ser tomadas. Não é nada extracampo. As pessoas dizem que é coisa de arbitragem, mas não tem nada a ver com isso. Quem está fora tem que respeitar quem manda. Se quem está lá dentro, se quem está em torno não respeita quem manda, aí você pode fazer o que quiser que não tem jeito. O sujeito no futebol te respeita não é porque você se impõe, não é pelo dinheiro. Ele te respeita pela bagagem que você tem. Pela maneira como você procede. E sabe que tem uma pessoa acima que vai fazer. Que, num momento de dificuldade extrema, vai fazer o possível e o impossível para que realmente a desgraça não aconteça. Se você comparar o time do Vasco a outros que permaneceram, o Vasco não devia nada. Então voltam aquelas questões: é que o time era muito fraco? Não. É que não era fraco, não; o comando não existia. E, quando não existe comando, leva a isso.

Voltando ao assunto do Habib´s… Não acha pouco R$ 350 mil por ano?
Foram os que mais ofereceram. E tinham um projeto de construção de restaurantes. É nefasto, não é? Mas era a mesma coisa que o São Paulo recebeu. Só que no São Paulo eles desenvolveram o que estavam desenvolvendo no Vasco. Fizeram os restaurantes lá. Isso estava embutido no contrato. Paga R$ 20 mil, R$ 30 mil reais por mês, mas não era só isso. Todos os bares teriam que ser feitos no estádio, assim como o restaurante no Calabouço (sede do clube). Vai no Morumbi e vê se não tem o restaurante do Habib´s lá.

Pelos anos que o Vasco ficou sem conquistar títulos e com as fracas campanhas no Brasileiro, o clube foi perdendo um pouco a força…
Perdendo a força onde? O Vasco não perdeu força nunca. Onde ele perdeu? Diga-me qual foi a força que o Vasco perdeu.

As campanhas no Brasileiro…
Em 2006, deixei de ir à Libertadores por causa de uma bola na trave (no último jogo do Brasileiro, contra o Figueirense, o Vasco ficou sem a vaga por empatar por 0 a 0, depois que Leandro Amaral chutou no travessão já no fim do jogo). Agora os caras querem ir buscar outras coisas. Mas é o seguinte: com toda essa dificuldade, eu tinha uma opção que era a única maneira de começar a recuperar, que era fazer um trabalho na base. Mesmo enfrentando essa famigerada Lei Pelé. E as coisas estavam evoluindo, tanto que está aí a demonstração. Eu saí e deixei o Philippe Coutinho vendido com dez milhões em caixa para receber. Depois venderam o Alan Kardec, o Alex Teixeira. Tinha outros jogadores surgindo e sendo preparados…

E o episódio da barração do Roberto Dinamite da tribuna de honra do Vasco?
Que barração? Não teve barracão nenhuma. A tribuna, comigo, teve ordem. A tribuna fica a 30 metros da presidência do Vasco. Se o Roberto caminhasse até lá e me pedisse para entrar, eu barraria? Nunca. Claro que eu não ia negar. Nem era eu que estava lá. Era um vice-presidente. O Calçada (ex-presidente) chamou o Roberto para ir para a tribuna. Quando ele foi ingressar na tribuna, foi informado de que precisava do ingresso. E ele disse que fui eu que mandei tirá-lo.

Mas acha que o Roberto precisava disso? Ele é o maior ídolo do Vasco.
Mesmo se fosse o presidente da República. Qualquer pessoa, secretário de Estado, ministro, não tem acesso direto. O Roberto não pediu para entrar no Vasco. Entrou, sem problema. Mas a tribuna comigo voltou a ser respeitada. Tem que entender a história do clube. Getúlio Vargas fez pronunciamentos ali.

Não foi um divisor de águas para o Roberto vir a se candidatar?
Foi explorado. Ninguém vira dirigente assim. O que acontece é que os caras que o empurraram não tinham coragem de colocar a cara. O Roberto não tem a menor condição de ser presidente do Vasco. E não é porque ele foi jogador de futebol. Isso não tem nada a ver. Podia ter sido qualquer coisa. Não tem condição porque nunca ocupou um cargo sequer no Vasco.

Quando você era presidente, concentrava os poderes, e a sua cara era a cara do Vasco. Hoje, o Rodrigo Caetano ganhou uma força grande com a torcida e passou a ter uma imagem pouco comum para um diretor de futebol. Como vê isso?
Sem tirar nenhum mérito dele, até porque acho que tem qualidade, mas não dá para cair nisso. As pessoas podem fazer o que elas quiserem. Mas e daí? Os caras que estão embaixo sabem que não é ele que paga. Entendam isso… Do que adianta o Rodrigo Caetano ser isso ou aquilo, ter abaixo-assinado, se o jogador sabe que não é ele que paga? Como você pode aceitar que o clube fique três meses sem pagar? O cara vai perguntar para o Rodrigo que dia vai sair o salário. Ele responde que vai sair no dia 10 e não sai. Ai fica sem credibilidade para continuar.

Mas a sua administração também deveu salários.
Lá atrás, nesse um ano e meio que eu tive de asfixia financeira. Mas o que eu fazia? Dava minha cara e dizia que não tinha. E tinha mais: para os necessitados, eu dava vale para muita coisa.

Qual foi o máximo que atrasou?
Nunca cheguei a dois meses.

Na época, se falou mais de três meses…
Nada disso. Nunca atrasei mais de dois meses. Cheguei a atrasar até cinco meses de gente que não tinha problema, que ganhava bem. Mas para funcionário que depende daquilo para comer e pagar conta, não atrasei nem um mês. Jogador que recebia menos recebia na frente. Você escalona.

globoesporte.com

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