Ricardo Sá Pinto é apresentado como novo técnico do Vasco
Ricardo Sá Pinto foi apresentado oficialmente online como novo técnico do Vasco da Gama para a sequência da temporada.
Ricardo Sá Pinto foi oficialmente apresentado, nesta sexta-feira, como novo técnico do Vasco. Logo na primeira resposta, disse que o seu trabalho, ao lado dos jogadores, será fazer a torcida feliz e explicou o que sente com a oportunidade:
– Quero muito ajudar o Vasco, quero ajudar a torcida a ser feliz. Me sinto em casa.
No Rio desde quinta, o novo treinador ainda não comandará o time diante do Internacional, domingo, em Porto Alegre – tarefa para o interino Alexandre Grasseli. O português recebeu apoio de torcedores logo no desembarque no aeroporto e, nesta sexta-feira, conheceu o grupo de atletas. Afirmou que viu alma neles:
Isso é fundamental. Isso temos de ter em todos os jogos. Senti que há compromisso dos jogadores. Isso é meio caminho andado.
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Sentimento pela oportunidade
Ainda antes de chegar ao Vasco, senti esse carinho pelas minhas redes sociais. Eu recebi muitas mensagens de incentivo, elas me mostraram que eu seria uma boa alternativa. O clube foi fundado por portugueses, isso diz muito. O carinho foi realmente muito importante na minha decisão. O que eu sinto isso desde que cheguei. Faz dois dias, foi lá no aeroporto, eu ouvi, li, me sinto em casa. Quero muito ajudar o Vasco, quero ajudar a torcida a ser feliz. Somos muitos.
O senhor conversou com outros técnico portugueses sobre trabalhar no Brasil?
Sim, falei. O campeonato é talvez o mais competitivo do mundo. Está recheado de grandes equipes, quase todos já foram campeãs do torneio. A diferença entre vitória, empate e derrota é o detalhe. É por um jogador estar inspirado ou não, por exemplo. O equilíbrio é muito grande. Sempre acompanhei o Vasco, sempre ambicionei trabalhar aqui. E não hesitei. A pandemia não me assustou, mas eu sei que não terei muito tempo para trabalhar. Há que se trabalhar uma ideia de jogo, eu não consigo diferenciar o processo defensivo do ofensivo. Então, não temos tempo. Vamos jogar já e sabemos da importância dos pontos. Temos muito trabalho pela frente, espero que os jogadores assimilem a minha ideia e que unidos a gente possa fazer com que o Vasco possa progredir e obter bons resultados.
Vai a Porto Alegre?
Não vou faltar. Serei mais um torcedor, vibrando para a gente buscar os três pontos. Foi isso que disse ao Alexandre e aos jogadores. Quero deixar isso público: ele tem feito um bom trabalho, foi campeão do sub-20. Vamos todos apoiá-lo para que possamos ganhar.
Primeiro contato com o elenco
Foi muito bom, positivo. Senti eles com disposição conseguirmos juntos termos resultados positivos. Eles sabem que venho de realidade diferente, mas eles estão receptivos. O time está bem mentalmente e isso é meio caminho andado. Além dos jogadores, fui bem recebido por todo o staff. Todos. Eles estão querendo ajudar para eu e minha equipe nos adaptarmos o mais rápido possível. Sobre a questão financeira, não cabe a mim falar.
Que pontos positivos pode destacar do time?
Eu observei muitos jogos. Quando vi, conheci boa parte do elenco. Vi coisas boas e, principalmente, atitude. É um time que quer fazer as coisas bem, quer ganhar o jogo. Claro que contra o Atlético-MG as coisas não deram certo. Mas contra o Flamengo, sim. Vi alma. Isso é fundamental. Isso temos de ter em todos os jogos. Senti que há compromisso dos jogadores. Isso é meio caminho andado, depois as questões táticas poderão ser melhoradas. Pequenos detalhes impediram de o time não ter melhores resultados. Não foi pelo adversário ou pela nossa falta de volume. É na concentração e na organização defensiva que podemos melhorar, nossa agressividade nos duelos. Podemos melhorar no último terço para fazer mais gols. Pouco a pouco e passo a passo para podermos chegar ao que melhor que queremos.
Qual o objetivo: título, Libertadores ou não cair?
Nesta altura, penso sempre no próximo jogo, meu objetivo é vencer o primeiro jogo. Eu me foco jogo a jogo. Depois naturalmente, com aquilo que formos conquistando, vamos falando em objetivos.
Como conseguiu a camisa do Romário que usou em vídeo falando do acerto com o Vasco?
Jogamos contra na Espanha, penso eu. Sempre foi um dos jogadores que admirei e que me identificava pela qualidade que tinha e pelas decisões que tomava. Era um jogador diferente. Dominguez jogava com ele. Disse Zé, manda um abraço ao Romário e peça uma camisa para ele. Ele veio à Espanha depois e me trouxe a camisa.
Estar em São Januário
Me sinto em casa, e isso se deve a esse gente fantástica desde que cheguei. Assim espero me sentir sempre. Agora com os resultados e com as coisas a correrem bem, será assim. Mas não é surpresa.
Treinadores portugueses no Brasil
Certo que tivemos três aqui. Augusto Inácio, Jesualdo Ferreira e o Jesus. Houve quem ficasse mais tempos do que outros, mas é majoritariamente reconhecido o valor do técnico português. Exijo sempre a mim primeiro, para depois exigirem de mim.
A responsabilidade não é só no Brasil e no Vasco, é em todo lado. Tenho trabalhado mundo afora e conquistado coisas importantes. Na Liga Europa, conseguimos ser a melhor equipe. Conseguimos vencer o Wolverhampton, que tem 10 vezes o nosso orçamento, conseguimos vencer o Besiktas. Ganhamos uma Taça da Liga.
O que fez após deixar o Braga em dezembro do ano passado?
Saio de um Braga a fazer um excelente trabalho, e esse tempo me ocupei a ver futebol ora de visualização de jogos, ora em leituras inspiradas em grandes treinadores, como é Bielsa, Guardiola e Mourinho, com quem tive a oportunidade de estagiar duas vezes.
Participei de congressos e convenções. Ocupei o tempo assim, mas sempre com vontade. Tive algumas propostas, algumas do Oriente Médio, outras da Europa, mas o convite do Vasco era um sonho antigo que eu tinha e não hesitei. O risco está sempre em nossa profissão. E ainda mais quando é observado de cerca de 35 milhões de apaixonados, então farei de tudo para satisfazê-los.
Jesualdo Ferreira disse que o Brasil é o lugar mais difícil de trabalhar…
Foram importantes as palavras do Jesualdo, um treinador experiente que viveu essa realidade em um clube grande. É uma realidade. Nós, portugueses, somos organizados e trabalhamos com critério e não contamos com a sorte. É claro que a sorte é inerente ao jogo, mas não serve como desculpa, assim como os erros dos árbitros.
Impaciência da torcida
A paixão é tão grande das pessoas que, por vezes, não conseguem entender resultados menos positivos. O Vasco é um dos melhores da história do futebol e, portanto, a impaciência é normal em um período sem vitória nos últimos sete jogos e que, nos últimos anos, só tenhamos ficado melhor do que o décimo lugar em 2017. O clube tem dificuldade, a direção tem feito um esforço para poder colocar o clube onde merece. Agora, temos de saber a realidade. É hora de trabalho, é hora de lutar e é hora de unir.
No Braga, você teve uma média de gols sofridos superior a um por partida. Isso o caracteriza como um treinador ofensivo? E o elenco do Vasco o possibilitará montar um time mais ofensivo ou defensivo?
Para mim, uma equipe tem que ser equilibrado, quer no processo ofensivo, quer no processo defensivo. Não concordo com o que você disse que o Braga tinha um jogo direto. Um jogo direto é a bola ir do central para o ponta de lança. E depois irmos lutar pela segunda bola e ver o que dava.
Não, o Braga era uma equipe que tinha na sua organização ofensiva e na sua primeira fase de construção e preparação uma ideia de jogo muito clara. Em que passávamos por todos os setores até chegar à fase de criação e finalização. Com um futebol curto, apoiado e de posse.
Majoritariamente, é uma equipe que tinha muita qualidade, que jogava um futebol positivo. E na sua largura e na sua profundidade criava muitas oportunidades de gols. Essa diferença tem a ver com isso. Chegávamos a criar 15 ou 20 oportunidades, mas muitas vezes sofríamos inesperadamente, principalmente no campeonato. Esses números do campeonato são diferentes, mas sempre fomos 80% ou 90% superiores ao adversário. Éramos uma equipe que sempre jogávamos nos últimos 30 metros do campo adversário.
Se você ver a estatísticas, quando eu saí éramos a equipe com mais oportunidades, arremates, criação, mais chegadas e cruzamentos juntamente com o Porto. Portanto eram dados relevantes.
Agora, não dissocio o aspecto defensivo do ofensivo. Prefiro ganhar por 5 a 4? Não prefiro, eu gosto é de ganhar. Primeiro é ganhar. Agora se puder ganhar e juntar a qualidade e a não sofrer gols, fantástico. Isso é o ideal.
Gosto de equipes equilibradas. Vais poder ver jogos em que vamos poder jogar melhor do que o adversário, ter posse e controlar. Vais ver também jogos que teremos de ser humildes e reconhecer que o adversário está num dia melhor ou que tem mais qualidade. E que temos de saber defender bem nesses dias. E explorar nesses dias também outros tipos de lances que não pudemos explorar quando não estamos fortes.
Quer nas bolas paradas ofensivas, quer no contragolpe. Há muitas formas hoje em dia de ganhar. Essa versatilidade que quero na minha equipe. Saber interpretar todos os momentos do jogo. Saber como reagir ao jogo no contexto que ele está a nos dar.Prefiro ganhar por 5 a 4? Não prefiro. Se puder ganhar e juntar a qualidade e não sofrer gols, melhor. Gosto de equipes equilibradas. Vais poder ver jogos em que vamos dominar o adversário, vais ver também jogos que teremos de ser humildes e defender bem. E explorar nesses dias também outros lances em dias que não estamos fortes. Quer nas bolas paradas ofensivas, quer no contragolpe. Essa versatilidade que quero na minha equipe. Saber interpretar todos os momentos do jogo. Saber como reagir ao jogo no contexto que ele está a nos dar.
Modelo de jogo
A ideia de jogo que quero logicamente é que a equipe saiba defender, saiba atacar… E para saber defender é preciso estar organizado. Dentro da organização defensiva que temos, há várias formas. Sabemos interpretar esses momentos e preparar a equipe para esses momentos, onde entra o lado estratégico. Sobre transições, quando ganhamos a bola é saber ligar o jogo para dar soluções, não perdermos logo e podermos continuar com a posse.
Algumas vezes vamos ser mais verticais, em outras explorar o lado contrário. Ensinar a equipe a poder solucionar e a chegar na área adversária. Quando perdermos a bola, temos que estar sempre equilibrados e não deixar que o adversário pense que pode nos surpreender.
Em organização ofensiva, queremos que a equipe entenda quando pode jogar atrás. A equipe precisa entender os ritmos do jogo. No Brasileirão, existe uma perda constante, existe a pouca paciência com a bola, mas em todas as equipes. Claro que há condicionantes aos adversários. Há equipes que têm mais paciência com a posse. Gostaria de melhorar o não saber de entender o ritmo do jogo e a questão da posse de bola.
Melhorar a tomada de decisões
Temos dinâmicas de como chegarmos em termos ofensivos através de alguns movimentos que vamos trabalhar. E nas zonas de finalizações temos que saber ocupá-las. Quando entramos nesses últimos 20 metros quer através cruzamentos ou de combinações táticas. Quero ajudá-los a tomar as melhores decisões.
Exemplos de possibilidades de tomadas de decisão
Por muitas vezes você tem quer ser mais simples, em outras vezes temos que levantar a cabeça e ver o colega ao lado. Não podemos fazer um contra dois jogadores. Melhorar a decisão dos jogadores é algo que quero desenvolver não só em termos individuais, mas também melhorar no jogo coletivo ofensivo da equipe. Em termos de bola parada, vai variar com o adversário. Aquilo que estudarmos do adversário, vamos explorar naquilo que sejam mais débeis. Em termos ofensivos, identifiquei algumas coisas de como temos de estar. Seja em longos ou arremates de perto. Tudo isso faz parte do modelo de jogo.
Mesmo isto, o modelo de jogo vai ser explicado, mas depois nunca será algo muito fechado. Esses são os princípios básicos das minhas ideias, mas estou aberto para outras coisas. Defensivamente não há negociação. Porque se não fizerem o que penso, não conseguiremos evoluir.
Questão mental dos jogadores
Todos nós treinadores estudamos, lemos e temos as nossas ajudas. Para ajudar individual e coletivamente a equipe naquilo que achamos importante para concentrar mais, motivar mais. Há diversas estratégicas, logicamente que o mais adequado será ser o mais sincero sempre possível e mais positivo com a equipe. E comunicar sempre o essencial.
Acho que as questões psicológicas não podem ser levadas para o banal. Há alguma razão para isso. Há um trabalho sempre a fazer com a equipe. Por vezes o jogador muda o comportamento ou estado de espírito.
Tudo isso, juntando uma vitória aqui e acolá, e as coisas mudam rapidamente. O futebol é isto. Numa semana, havendo três jogos, às vezes uma equipe muda de um estado de espírito para o outro. Do mal para o bom, mas também muito rapidamente ultrapassamos a questão de sair de não tão animados para uma questão positiva.
Não é qualquer um que joga no Vasco
Não é um jogador qualquer que chega ao Vasco. Não é só por sua capacidade técnica, mas por sua capacidade mental de aguentar a pressão da exibição ruim, do mau resultado. Eles estão preparados para isso, e eu só vou guiá-los. Mas não encontrei, e digo isso sinceramente, uma equipe depressiva ou triste. Vi uma equipe com fome de ganhar. Espero que demonstrem já contra o Internacional e consigam a vitória.
Carlinhos, com quem jogou na Bélgica
O Carlinhos foi meu jogador no Standard Liége, eu o que levei de Portugal. Foi muito bem em Portugal na posição 8, aqui diz meia. E no meia-atacante, que aqui é 10. Foi muito utilizado. Não é um jogador de corredor, é jogador de jogo entre linhas, de combinação, drible e de arremates. Tem um arremate muito bom.
Parece-me também que tem muita qualidade. No futebol belga, jogou algumas vezes comigo, mas teve lesões. Era um futebol muito rápido, intenso e vertical. Os times poucos privilegiam a posse de bola. Isso impunha dificuldades à qualidade dele, é um jogador de muita qualidade.
Muito feliz de vê-lo, mas ainda não falei com ele. Não falei individualmente. Carlinhos será mais um da família, como eu. Vamos todos remar para o mesmo objetivo, e espero eu poder ajudar todos individualmente para depois coletivamente ajudar a equipe.
Como gere o grupo?
Eu sou um líder democrático, não sou autocrático. Liderar é das coisas mais difíceis. Liderar pessoas não só no futebol, mas no nível empresarial também. Talvez seja o segredo da maior parte dos treinadores. Fiz uma dissertação na faculdade sobre liderança, tive a felicidade de estudar muito essa matéria. E aprender muito.
Uma das situações que gosto muito de atualizar é o relacionamento com os jogadores. Quanto mais conhecermos os jogadores e como se sente, e o contexto em que ele vive, mais estamos perto de entender os próprios jogadores. Tenho algumas estratégias para perceber quando estou com alguém que não conheço.
Procuro saber o lado social, o lado profissional, saber o máximo dele.
Tenho estar próximo da equipe porque entendo que eles querem ganhar tanto quanto eu quero. Somos uma família. Faço minha parte, e eles fazem a deles. Não gosto de ser um líder autocrático. Não quero que me sigam “porque sim”. Quero que me sigam porque acreditam na mensagem que lhes dou. Gosto de compensá-los sempre. Algumas vezes com abraço, palavra e outros detalhe.
E principalmente ajudá-los nos momentos não tão bons, principalmente quando acontecem os erros. Gosto de ajudar no dia seguinte a se manterem fortes. Gosto de ter essa relação com a minha equipe.
A minha forma de liderar e de estar no futebol com eles é aquela liderança transacional. Nada na vida se consegue sem sacrifício. Nessa profissão que tivemos a felicidade de estar entre milhões… Milhões queriam a minha posições, milhões queriam estar no Vasco. Agora é a hora de sacrificar para colhermos os frutos.
Fonte: Globo Esporte