Ricardo Gomes quer renovar contrato e ficar pra Libertadores

Segundo Gomes, o Vasco ganha força no Campeonato Brasileiro e a Libertadores é a motivação para a renovação de um contrato.

Nem nos melhores sonhos Ricardo Gomes viu a consagração tão próxima. Em quatro meses, ergueu um time massacrado pelas derrotas, deu-lhe carinho, força e um brilho de campeão. Aos 46 anos, com boa bagagem do futebol francês nas costas, o técnico do Vasco jamais sentira emoção tão forte quanto a de ontem, quando, ao chegar de Curitiba, olhou pela janela do ônibus e não enxergou nem mesmo um pedacinho de asfalto que não estivesse encoberto por um pé vascaíno. Segurou o choro com dificuldade, mas não aguentou o ritmo da comemoração. Nem mesmo subiu no trio elétrico que conduzia o time pela cidade. Deu um pulo em São Januário, pegou umas “coisinhas” e seguiu para casa. Estava na história do Vasco.

Essa entrevista exclusiva ao MARCA BRASIL foi feita com atraso de uns 10 dias. Por telefone, Ricardo Gomes recusara a primeira tentativa:

“Não posso falar agora porque não quero mentir. Vamos marcar para o dia 9, após a decisão do título. Na vitória ou na derrota, porque não sou homem de fugir da raia”, prometera, por telefone. Assim, Ricardo evitava comentar as conversas tentadoras que vinha tendo com o Bordeaux.

Descartado o clube francês, e tendo sua escolha abençoada com a Copa do Brasil, Ricardo Gomes já pode falar sobre o futuro. Juninho Pernambucano será titular de seu time, o Vasco ganha força no Campeonato Brasileiro e a Libertadores é a motivação para a renovação de um contrato que termina em dezembro.

MARCA BRASILH: Essa conquista é a mais marcante da sua vida?

Ricardo Gomes: Foi uma das mais marcantes. Mas o primeiro título marca muito, e eu ganhei a Copa da França (em 1998, pelo Paris Saint-Germain), na inauguração do Stade de France. Mas, claro, no nosso País o sabor é melhor.

MBH: Você já tinha sofrido tanto para conquistar um resultado positivo?

RG: Eu me lembro de um jogo do Paris Saint-Germain contra o Liverpool, pela semifinal da Copa Europeia, em 1997. Tínhamos vencido o primeiro jogo em Paris por 3 a 0 e perdemos na Inglaterra por 2 a 0, sofrendo muito. E fomos à final, mas depois de muito desespero, muita bola alçada na área.

MBH: Você tem laços estreitos com o Fluminense por causa do seu passado de jogador. A Copa do Brasil fortalece sua relação com o Vasco e sua torcida?

RG: Não sei… Já estava me sentindo em casa antes mesmo desse título, mas uma conquista sempre fortalece. Não vou esquecer o que vi quando chegamos de Curitiba. Estávamos no ônibus, ilhados, muito emocionados com a torcida. Os jogadores filmavam as pessoas que estavam na rua… Foi uma coisa de maluco.

MBH: Você chorou?

RG: Não cheguei a chorar, mas as lágrimas quase escorreram.

MBH: Chegou a ficar balançado com a proposta do Bordeaux?

RG: Agora posso falar que a aproximação foi forte. O presidente me ligou, fiquei mesmo balançado, mas não seria legal sair no meio do trabalho. Era o melhor momento para eu voltar para o Bordeaux, mas, não, para sair do Vasco, entende? Já tinha feito uma cagada em 2007 quando saí do Bordeaux depois de ser campeão em cima do Lyon, do Juninho. Acabamos com a hegemonia deles… E eu fui para o Mônaco. Deu errado.

MBH: Já está convicto de que tomou a decisão certa?

RG: O futuro a Deus pertence, mas era o que tinha que ser feito. Falei com o presidente do Bordeaux umas mil vezes. Ficamos três ou quatro dias conversando… E decidi assim.

MBH: Seu contrato com o Vasco vai até dezembro. E depois, com a disputa da Libertadores?

RG: É lógico que quero disputar a Libertadores. Não tenho vontade de sair do Vasco. E o título da Copa do Brasil nos dá a possibilidade de fazer algo ainda mais forte. Eu saí de uma Libertadores por causa do calcanhar do Alecsandro (autor do gol do Internacional que eliminou o São Paulo, em 2010). Você acha que eu ia conviver com esse negócio na garganta? Ele me devolveu a Libertadores. Tinha essa dívida comigo.

MBH: Qual é o seu objetivo agora? É o título brasileiro?

RG: Esse seria o melhor dos mundos, mas é difícil falar sobre o Campeonato Brasileiro. Temos que esperar umas 12 rodadas para saber onde se vai brigar. A margem de erro é muito grande para eu falar sobre isso agora com você.

MBH: O Vasco vai atrás de reforços?

RG: O Juninho já é um grande reforço, mas temos a ideia de trazer outros. Não posso falar.

MBH: Algum nome de peso?

RG: Não, nenhum nome tão forte.

MBH: Dedé vai ficar?

RG: A informação que me passaram é que ele fica até o fim do ano.

MBH: A perda da Taça Rio para o Flamengo, nos pênaltis, está superada?

RG: Depois daquele jogo, reuni o time no vestiário — e raramente faço isso. Eu disse aos jogadores que não levaria muito tempo para conquistarmos alguma coisa. Se não dá cedo, dá tarde. A tristeza era grande, mas não foi maior do que a minha confiança naquele dia.

MBH: Por que tinha essa certeza da volta por cima e de um título a curto prazo?

RG: Porque sentia o ambiente. Você sabe ao longo do dia se o seu jornal no dia seguinte estará bacana. Assim como deve sentir de vez em quando que o jornal estará uma cagada. Os jogadores não chegam no clube sonolentos. Sinto neles a vontade de trabalhar. As coisas fluem bem.

MBH: Acabou a síndrome de vice?

RG: Isso só acaba com uma série de conquistas. Mas, sinceramente, acho que há um terrorismo nessa história toda. A história do Vasco contradiz o terrorismo que foi feito nesses últimos anos.

MBH:Quando chegou ao Vasco, que caía pelas tabelas, sonhava com esse momento de consagração?

RG: Não sonhava, não. Mas não sou de projetar para a frente. Não sou de sonhar com as conquistas. Isso aí você constrói no dia a dia. Quando cheguei no clube, faltava confiança e autoestima. A comissão técnica foi muito eficiente em resgatar a confiança dos jogadores. Trabalhamos mais com isso do que até com a parte tática. Atacamos nesse ponto nas três primeiras semanas.

MBH: Já conversou com Juninho Pernambucano?

RG: Não, e somente ontem eu soube pelo Roberto (Dinamite) que ele já chegou. Mas o Rodrigo Poletto (preparador físico) está mantendo contato e passando orientações para ele.

MBH: Qual é a importância do Juninho nesse elenco campeão?

RG: É um jogador com quem nunca trabalhei. Na verdade, ele foi meu adversário (na França). Seria uma perda de tempo falar agora das qualidades que todos conhecem. Ele me parece ser um profissional extremamente dedicado. É vitorioso. Briga pela vitória, assim como o Felipe, o Alecsandro, o Diego Souza…

MBH: Em entrevistas recentes, Juninho já deixou clara sua aversão a concentração e ao excesso de jogos. Você pretende fazer alguma concessão a ele?

RG: Não há a menor chance. Ele vai cumprir o que for determinado para o grupo. Essa negociação não vai rolar. Ele terá que fazer o que todo mundo faz. É inegociável.

MBH: Juninho vem pra ser titular?

RG: É claro que sim.

MBH: Ele vai entrar no lugar de quem?

RG: Vou entrar com um recurso na Fifa pedindo para o Vasco entrar em campo com 12 jogadores. (risos).

MBH: Mesmo não querendo revelar agora, você já sabe quem vai sair do time para a entrada do Juninho?

RG: Vou entrar com 12… Tô dizendo pra você (risos)…

Fonte: marca brasil

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