Presidente da Associação de Moradores critica Justiça: ‘Não conhece a Barreira’

Vânia Rodrigues da Silva comentou a relação com o Vasco da Gama e afirmou que Justiça tem uma ''visão distorcida da realidade''.

Faixa de protesto posicionada nos arredores de São Januário
Faixa de protesto posicionada nos arredores de São Januário (Foto: Daniel Ramalho)

O Vasco da Gama cuida da Barreira do Vasco como se fosse a sua família, da mesma forma que a favela cuida do Clube.

A definição, refletindo um elo histórico entre o clube e a comunidade de aproximadamente 20 mil moradores em seu entorno, é de Vânia Rodrigues da Silva, mais conhecida como Vaninha, que, há 19 anos, está à frente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco (AMBV).

Ela diz que, em quase duas décadas como presidente, enfrentou muitos desafios em busca de soluções para os problemas comuns a qualquer comunidade popular, tais como distribuição irregular de água e falta de saneamento básico e de abastecimento de energia elétrica. E o Vasco, como regra, sempre foi aliado nessas lutas. ”O Vasco faz parte da nossa vida, faz parte da história de todos os moradores, das crianças aos mais antigos”, define a dirigente.

Em tom leve, Vaninha reconhece que a relação nem sempre é harmônica. ”Tem seus altos e baixos, como numa família, numa empresa, numa igreja”. Houve momentos, segundo ela, em que o Clube teve mais presente na favela e vice-versa. E até existiram momentos em que os dois ficaram meio esquecidos um do outro, acrescentou brincando. ”Na história, entretanto, ambos estiveram juntos na luta por algo melhor para um e para outro. A favela precisa do Clube, e o Vasco precisa da Barreira”.

Conflito Justiça x São Januário

No momento, há um objetivo comum que fortalece essa relação histórica: a defesa da imagem da comunidade. Essa luta deve-se às palavras usadas pelo juiz de plantão do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, no processo judicial contra o Vasco que apura os acontecimentos após o jogo Vasco e Goiás, em junho. As palavras usadas pelo juiz no despacho causaram revolta nos moradores. Escreveu ele:

”Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde se ouve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado, o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio”.

A Associação emitiu nota rebatendo as palavras do magistrado, considerando que há uma ”visão distorcida da realidade”. A interdição do estádio de São Januário, conforme o comunicado, gera prejuízos aos comerciantes locais, que tiram grande parte de seu sustento em dia de jogos, em virtude do fluxo de mais de 20 mil torcedores por partida.

”No meu ponto de vista, são pessoas que não têm carinho no olhar ao avaliarem uma situação, não conseguem ver que, por atrás de uma favela que tem problemas de esgoto, de falta de luz de estruturas adequadas de saúde e de educação, há mães e pais que lutam para que seus filhos sejam alguém na vida”, afirma Vânia Silva. Ela desafia a quem duvida a ir à favela e constatar.

De lá, disse orgulhosa, saem professores, diretores de escolas, policiais – e, entres esses últimos, há vários que moram na Barreira. ”Quem duvida, costuma perguntar: como pode isso? Eu respondo, com simplicidade: eles nasceram e cresceram na favela, e decidiram, quando adultos, seguir a carreira militar. O que há de errado nisso?”.

Da Barreira do Vasco, reforça, surgiram juízes, promotores e outros ligados ao Judiciário. ”Então, isso dói no meu coração, no coração dos moradores antigos, porque é triste você ser taxado com um rótulo que não é seu. É muito duro você dormir como uma pessoa trabalhadora e acordar levando o nome de bandido. E foi o que aconteceu: eu dormi ciente que vivo numa favela de paz e acordei sabendo que a minha favela foi rotulada como um lugar perigoso. Quem fez isso realmente não conhece o que é a favela Barreira do Vasco”.

A presidente da Associação de Moradores aproveitou seu discurso na solenidade dos 125 anos de fundação do Clube para fazer um apelo, não só para a Barreira do Vasco, mas por todas as favelas do Rio de Janeiro. Vaninha lembrou que a cidade cresceu no meio de favelas e morros e é preciso que os governantes olhem com mais carinho para essa população, especialmente a mais humilde.

”Não é possível pensar na hipótese de que, a qualquer momento, as pessoas se recolham dentro de suas casas porque as favelas e morros oferecem perigo a quem mora perto. É bem melhor pensar em coisas boas, como por exemplo que as crianças pobres, que estão lá brincando descalças hoje, podem ser um médico, um profissional de saúde, que pode salvar a vida de alguém amanhã. Vamos pensar sobre isso?”.

Em 2021, o Vasco estampou na testeira da social em São Januário sua relação com a Barreira: ”Barreira do Vasco: Casa do Legítimo Clube do Povo”.

Idealizador da ação, o atual vice-presidente de Marketing, Francisco Kronemberger, comenta: ”Comunidade e clube são partes de um todo, e como tal absolutamente indissociáveis. A relação do Vasco com a Barreira é a mostra real de que o DNA inclusivo do Clube está presente em tudo, desde a nossa casa até as ações e iniciativas que abraçamos para além de nossos muros. A comunidade recebeu seu nome em alusão ao clube, mas o fato é que não é a Barreira que é do Vasco. O Vasco é que pertence à Barreira”.

Fonte: Site Oficial do Vasco

1 comentário
  • Responder

    Belas palavras, é isso mesmo.
    O Vasco pertence a Barreira e a Barreira pertence ao Vasco.
    Força Vasco!!!

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