Pedrinho revela que obra de SJ não começa em janeiro e analisa reforços da 2ª janela
Sem comprador para o potencial construtivo de São Januário, as obras não terão início em janeiro de 2025; Pedrinho analisa novos reforços.
As obras de São Januário não vão ter início após o Campeonato Brasileiro, como antes previa a diretoria do Vasco. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, o presidente Pedrinho assumiu que a reforma vai atrasar por causa de trâmites burocráticos.
– Eu assumo essa responsabilidade. Eu falei que iria iniciar em janeiro, fiz muita força com a Prefeitura do Rio de Janeiro, fui muitas vezes na Câmara pedir para acelerar os processos, porque eu tinha 100% de certeza que a gente estava fechado com um comprador total. Estava tudo muito certo, só que a gente não tinha nada assinado. E abriram outras possibilidades de outros locais de potencial, o possível comprador saiu da mesa. Estava muito certo, só que negócio é negócio. Não estava assinado. Por isso que eu falei muito mesmo que a gente iria começar no início do ano, porque era muito concreto. Serve de experiência, eu assumo essa responsabilidade de não começar em janeiro – afirmou o presidente.
No início deste mês, o ge publicou que havia a possibilidade de o local ser fechado só após o Campeonato Carioca de 2025. O Vasco está, neste momento, finalizando o projeto de reforma. O que mais atrasa o início da obra é a venda do potencial construtivo: o clube avançou em negociações com uma empresa para vender um terço do potencial, mas precisará de mais recursos.
O presidente também analisou os reforços da segunda janela, quando o clube associativo já comandava a SAF do Vasco. Na entrevista de apresentação de Philippe Coutinho, em julho, Pedrinho disse que as contratações de Souza e Alex Teixeira passaram por um aval técnico. O volante e o atacante, no entanto, não têm sido aproveitados pelo treinador Rafael Paiva.
– Só pontuando as contratações que foram feitas na janela. As três primeiras foram Coutinho, Souza e Alex (Teixeira), não preciso voltar nelas. É muito cruel você fazer uma avaliação em um momento duro, delicado. Vocês têm tanto acesso quanto eu e toda equipe de scout a qualquer atleta que vem. Ninguém consegue enganar ninguém. “Ah, vou trazer um jogador bom”. Se ele for ruim, vocês vão saber que é ruim. Vocês têm acesso a alguns aplicativos esportivos para ter dados, números, vídeos. O Maxime Rodríguez é muito bom jogador. Um ponto sobre ele é que foi divulgado um valor que foi repercutido. Ninguém se deu o trabalho (de checar), porque em Portugal você pode publicar o valor. Tá lá, no time Gil Vicente, por quanto foi feita a transação. Alguém foi lá olhar? Quanto falaram para vocês que foi a transação? Entra lá e vê. Foi 1,5 milhão (de euros). O salário dele é pequeno. A gente paga em 18 meses a transação, mas divulgam números absurdos e ele é muito bom jogador – avaliou Pedrinho.
– Eu não posso chegar hoje e falar nada sobre modelo de jogo. Todos os questionamentos sobre técnica, tática e escalação são direcionados para a comissão técnica. Óbvio que se pedirem a minha opinião, eu vou dar, mas não é a minha função. Hoje tenho um scout, gestores esportivos que passam para mim e eu dou o aval, a canetada, junto com o Amodeo. O Jean pode estar jogando bem ou mal, mas ele não pode ser convocado para a seleção chilena e ser ruim. Contra o Vitória, fez um bom jogo. Pode ter caído de rendimento. Mas é um contexto que de repente faz com que ele não renda o que pode, mas é um bom jogador. Para nós, e pegando o gancho da minha função, é muito mais fácil ir no embalo de uma onda, e é difícil ir contra a maré mesmo. Analisem com um pouco mais de calma a questão de jogar bem ou não, minutagem ou não, para a definição se o cara é bom ou não. Eu posso afirmar para vocês que os dois são bons jogadores – completou ele.
O Vasco contratou seis reforços na segunda janela: o volante Souza, os meias Philippe Coutinho e Maxime Dominguez, e os atacantes Alex Teixeira, Emerson Rodríguez e Jean David.
Leia outras declarações do presidente
Venda do potencial construtivo
Felipe Carregal (VP jurídico do clube): O que a gente tem hoje: a Prefeitura está terminando de fazer a redação de um decreto para regulamentar a lei. Nosso time está em contato com a Prefeitura contribuindo para essa redação. A estimativa é que esse decreto fique pronto até o final do mês. Em paralelo, como a gente depende desse decreto, a gente está trabalhando, está conversando com incorporadoras, já existe carta de intenção assinada. Inclusive, estamos com uma consultoria. Isso é normal, o fluxo de pagamento da incorporadora não vai casar com o nosso fluxo de obra. Então estamos estruturando uma solução financeira e jurídica, pensamos até em um fundo, para que, em paralelo com o tempo que está sendo gasto com esse decreto, a gente possa caminhar.
Pedrinho: Só para complementar, essas minutas que estão sendo trocadas são por 100 mil m², mais ou menos 1/3 do potencial.
Os jogos do Carioca de 2025 serão em São Januário?
– Enquanto a gente tiver o campo a gente vai jogar. São 100 mil metros quadrados (quase vendidos) e já tem interessados nos outros dois terços (do potencial construtivo). Mas tem esse mecanismo do dinheiro, porque a projeção de receita desse possível comprador não é agora, então a gente tem que arrumar ali ou um empréstimo com um banco ou alguma coisa para iniciar a obra, mas precisa sair o decreto e ser comprado. Aí é ver se com esse primeiro impacto financeiro a gente já consegue iniciar a construção. A gente poderia arrumar outras estratégias que eu não quero usar, por exemplo “vamos iniciar com as vendas dos camarotes”. Pode ser uma das alternativas se tiver tudo muito engasgado.
Carlos Amodeo, CEO da SAF: Considerando a mudança do calendário para 2025, a antecipação do término dos estaduais, provavelmente nós, sim, estaremos com São Januário à nossa disposição durante o campeonato estadual. Nossa equipe de marketing está pensando em alternativas para que o torcedor possa desfrutar dessas partidas que nós disputaremos no estadual do próximo ano como as últimas partidas de São Januário da forma como ele está antes da obra. Também estamos pensando em experiências para o torcedor aproveitar esses últimos meses.
Como está o projeto arquitetônico para a reforma de São Januário? Já existe entrada na Prefeitura para emissão de alvará?
– O projeto está pronto. A gente tem que esperar o decreto e depois vai dar andamento nisso. Mas o Sergio Moreira Dias (arquiteto responsável) tem tudo.
Vasco tem um projeto para o futebol?
– A questão do projeto esportivo tem duas vias. Enquanto não chegar um investidor, como a gente faz? Sem um investidor, o que a gente faz? Atacar as dívidas. Eu sei que dói pra c….. no torcedor porque dói em mim, só que dessa vez é de verdade. A gente vai atacar as dívidas. Se não existisse investidor, o planejamento seria atacar as dívidas, potencializar nossa categoria de base, que muitas vezes nós mesmos desvalorizamos nossas crias. Aí quando o cara sai, falam “pô, se estivesse no Vasco…”. Mas quando estava aqui, a gente não tinha paciência. Sempre foi isso, está falando um aqui que saiu da base. E temos que ser certeiros nas contratações. Isso é um planejamento de médio prazo. Se chegar um investidor, obviamente a gente muda o planejamento porque vai chegar um aporte, vai continuar atacando a dívida mas de uma forma mais agressiva. E vai ao mercado procurar jogadores de um nível muito melhor.
Base do Vasco
Pedrinho: Acho que vender barato é pela necessidade mesmo. A gente tem um potencial enorme aqui. Se pegar o jogo contra o São Paulo, jogou o Leandrinho, Estrella, JP. A gente tem o Lyncon, o Luiz Gustavo, que é um ótimo zagueiro. Tem o Paulinho lateral-direito, tem o Alegria, que está jogando. Temos que acreditar e potencializar os meninos. Obviamente que eles precisam de uma estrutura para isso. Esse é o DNA do Vasco. Se chegar um investidor, isso será passado para o investidor, que vai conhecer a história do Vasco. Quando você está em um bom momento, é só pegar um jogador bom da base e colocar num time que está em bom momento. A proposta chega diferente. O mercado é cruel, não existe amor no negócio, infelizmente. Para mim não existe negócios, negócios, amigos à parte. Para mim amigo vem sempre na frente. Só que no mundo não é assim. É mais ou menos isso.
Carlos Amodeo (CEO da SAF): O processo de restruturação visa criar condições para que o Vasco possa ter recursos para fazer os investimentos que precisam ser feitos. E aí não apenas em categoria de base, mas em infraestrutura. Precisamos qualificar nosso CT, desenvolver melhor nossas infraestruturas. Quando o clube está desestruturado, naturalmente o mercado enxerga isso, percebe a fragilidade e vem buscar seus principais ativos por um preço muito menor que nós exigiríamos ou que entendemos que os ativos valem pela nossa necessidade. Ajustar o clube é fundamental para fortalecer esse aspecto. Sem falar em questões relacionados ao potencial investidor. Quando tem um clube estruturado e organizado, com dívidas estabelecidas adequadamente dentro de um fluxo de pagamento, isso traz muito mais segurança para que o investidor possa fazer isso. E nós também precisamos mudar o Vasco de prateleira. Dois anos atrás, o Vasco vinha de uma prateleira abaixo. Quando você está numa prateleira abaixo, seus ativos ficam subavaliados. Quando muda de prateleira, seus ativos começam a ter valorização maior. Isso acontece num estalar de dedos? Não. Essa é uma questão progressiva, estamos trabalhando para que aconteça no menos prazo de tempo possível.
Existe expectativa de investimento alto no departamento de scout?
– Já fizemos algumas mudanças e começamos a entregar ali um perfil, um diagnóstico de atletas que entendemos que servem para o Vasco. Tem um pouco do que serve para o modelo de jogo do treinador e o que serve para o Vasco. Se os dois casarem, ótimo. Não posso fazer a vontade de um treinador se sei que um jogador só joga daquele jeito ali. Aí depois o treinador vai embora e o jogador fica ali e não serve. O Fortaleza é um ótimo exemplo, porque ele tem metade do valor da nossa folha salarial. Inclusive, estive com o Marcelo Paz (presidente do Fortaleza). Salvo engano, a folha do Fortaleza é de R$ 8 milhões. Ele foi muito assertivo nas contratações.
– Parte também da nossa comunicação alinhada com o scout. Lembra quando o Bruno Guimarães saiu do Audax e foi pro Athletico? Agora você imagina se eu trago um jogador do Audax e apresento aqui. Como vocês e a torcida avaliariam? O que precisamos entender é que temos que mostrar a capacidade de ser certeiro, mas nem sempre ser certeiro é o cara de nome. É por isso que tem muito mérito o que o Fortaleza fez com Moisés, com outros jogadores. O que a gente passa para análise de mercado é isso: perfil de atleta e a prateleira de mercado. Ali, a gente precisa ser certeiro. Provavelmente não vai ser um jogador com nome à altura, mas ele tem que responder tecnicamente. Acho que deixamos a desejar nessa janela, que poderíamos ter agido melhor. Não falando do Jean e do Maxime, em outros pontos.
Como a estrutura do clube afeta nas contratações do Vasco? Há planos para reestruturar o CT?
– Até com a possível obra, já estamos tentando estruturar o outro terreno do lado, que é nosso, para fazermos um complexo único. Facilita tudo, até em economia, você tem tudo no mesmo lugar. Com a questão do CT, o nosso não tem uma parte molhada. Isso é inacreditável. Mesmo sem o investidor, o Thiago (que trabalha com a equipe) já está levando pessoas lá para que a gente possa iniciar um processo de fazer a parte molhada dentro do CT para a próxima temporada. Jogador hoje prefere ir para o lugar que tem estrutura e de repente o clube nem é grande. Mas ele prefere isso: estrutura e salário em dia.
Polêmica sobre ingressos para os jogos em São Januário
– Houve uma precipitação na abordagem do jogo contra o Atlético-MG, por meio da ata, que é uma previsão do que é a perspectiva de venda. Foi divulgado que botamos 12 mil ingressos à venda, mas eu não posso falar de forma imediata porque eu preciso esperar o borderô. (Foram vendidos) 16.500. Alguém debateu sobre isso? Alguém voltou e falou “nós erramos”? Não. Nesse período, até eu me justificar, porque eu tinha que esperar o borderô, eu saí como ladrão, bandido.
– E de pessoas que viveram a vida inteira no Vasco aqui de ingressos, que hoje viraram os moralistas das redes sociais. Vivem até hoje do que ganharem de ingressos aqui. Aí me botam em um pacote, eu tenho que ficar ali de ladrão, de esquemeiro de ingresso durante horas porque não esperaram o borderô. E ninguém foi a público dizer “cara, nós erramos, o borderô é 16.500”. Eu venho sempre aqui tendo que desmentir, e faço isso com o maior prazer, sem problema nenhum. É só pra gente ter um pouco mais de cuidado. Você vai ferindo, ferindo, ferindo. E aí eu venho aqui mostrando qual é a realidade, porque está tudo comprovado. Eu não tenho motivo para mentir.
Amodeo: Nós já temos e desenvolvemos nos últimos 90 dias um projeto de integração das nossas categorias de formação (sub-14 até sub-20) com o futebol profissional. Já temos um projeto hoje estruturado pra isso, e pretendemos ao longo do próximo ano, mesmo dentro do processo de ajustes de gestão e de finanças, concentrar investimentos para que a gente possa unificar o nosso CT. Nisso, vamos ter uma racionalização na nossa infraestrutura, uma qualificação e uma melhoria de performance de formação e promoção dos nossos atletas da base para o futebol profissional pela integração de atividades que vamos ter.
Pedrinho: As pessoas estão incomodadas porque, quando o Vasco andar… Não vim para deixar nenhum legado, mas como essa palavra é muito repetida, o meu maior legado vai ser não aceitar nenhum sacana nessa cadeira (da presidência). A única gestão que chamou o Ministério Público para dentro de São Januário para investir cambistas foi a minha. O MP tá investigando. Só para ficar claro que não tem como fazer algumas insinuações numa gestão que veio aqui para tentar começar a arrumar a casa.
Possibilidade de melhorar contrato de Vegetti
– O Vegetti tem um ótimo salário e tem contrato com gatilho até 2026. É lógico que se eu puder melhorar o salário dele, eu vou melhorar. Sem causar danos financeiros ao clube. O que tem que ficar claro é que não vou melhorar nem diminuir salário de ninguém por desempenho. Se o jogador tem contrato até 2030, joga bem e pede aumento… Se jogar mal, eu posso diminuir? Tenho carinho enorme pelo Vegetti, e minha intenção é melhorar o salário dele. Um cara completamente profissional, sente a dor da derrota, sente o prazer da vitória, é um líder. É um cara extraordinário no dia a dia, com quem me identifiquei muito. Vou fazer de tudo para melhorar as condições.
Philippe Coutinho
– Tenho muita pena no sentido dele se lesionar. O Coutinho é muito parecido na questão de comportamento diário com o que eu tinha. Ele treina igual um cavalo, se mata de treinar, as pessoas passam para ele as métricas de intensidade e volume para ele ser poupado, e ele pede para treinar mais. Até por isso ele se machuca. Ele acha que tem que treinar o tempo inteiro e está numa cobrança informal. É injusto, quando você vê um profissional que ama o Vasco, e é uma pena ele se lesionar. A dedicação e respeito dele são enormes. Meu desejo é de que ele relaxe um pouco, está carregando um mundo nas costas. É igual a mim: quer consertar 40 anos de Vasco sem ter culpa de nada.
Referências técnicas de altos salários, Coutinho e Payet nunca estão prontos fisicamente. Qual o nível de satisfação de quem recebe para prepará-los?
– Estamos falando de um jogador (Payet) de 37 anos. O Coutinho tem 32. Todo o trabalho que é feito pelo Daniel Félix é muito forte. Tanto que quando a gente tem aquele nível de jogo contra o Bahia no primeiro tempo, a parte física não é questionada. Quando o time perde, a parte física é questionada. Temos que ter muito cuidado para fazer essa avaliação, porque em muitos jogos que a gente perdeu a sensação que ficou é que a gente correu menos que o adversário. Mas você pega as métricas, e (vê) que a gente teve mais volume, intensidade, tudo. A sensação foi inversa. Nada mais é do que correr errado, não é só uma questão física. O Daniel é um cara que se preocupa muito na questão do rendimento físico dos atletas. A idade pesa, principalmente pro Payet e ainda mais com a exigência emocional que houve esse ano, de jogar com muita pressão desde o início. A questão do Coutinho eu acabei de falar: não posso exigir nada além do profissionalismo. Se ele vai jogar bem ou mal, é uma avaliação no término da temporada. As minhas exigências são que respeite a instituoião, esteja no peso e treine de forma profissional. Se vai render ou não, no futebol pode acontecer tudo. Não posso determinar o que o campo diz.
Renovação com Payet é interesse do Vasco?
– Jamais vou usar qualquer artimanha para falar com um atleta, para que ele saia ou fique que não seja de uma forma justa. O Payet tinha acordado com a 777 um número de passagens por ano para sua família e isso não estava em contrato, então não tinha obrigação. Confirmei que estava apalavrado, fui lá e paguei as passagens. Falei com ele: “Nada do que sai (na imprensa) é o que penso, não tenho intenção nenhum que você saia”. Toda avaliação é feita ao término da temporada. São dois jogadores caros (Coutinho também) que talvez não terei condições de ter no elenco. Se os dois me derem resposta, eu vou dar um jeito de ter os dois. Amodeo que se vire. É uma questão de bom senso. Queria ter 20 Vegettis, Payets, Coutinho. Todos eles que estão lá, Cocão, Hugo, Léo Jardim… Todos eles, para não ficar uma conversa vazia. Mas não vou brincar com orçamento do Vasco. Se tiver uma resposta técnica e custo-benefício bom vamos tentar manter todos.
Amodeo: Nesse momento não vamos falar em números, mas faremos o investimento que precisa ser feito e teremos um patamar de folha salarial que nos permita montar um time competitivo num processo de transformação de elenco do ponto de vista técnico.
Futebol feminino
– O futebol feminino não tinha nem nutricionista. Temos o mesmo carinho, vamos direcionar receitas. Quando estava na associação, conseguimos liberar recursos que estavam presos.
Calendário para 2025
– Não tenho problema em falar. As pessoas falam “não briga com a CBF”, não vou brigar, eu vou brigar pelo Vasco.. O Julio Avellar, responsável pelo calendário, já não foi correto com relação à Copa do Brasil, na mudança de data da semifinal. Agora, porque três ou quatro clubes estão no Mundial, por mérito, “ah eu tenho culpa de ser campeão da Libertadores?”. Nenhuma. Mas eu também não tenho culpa de acabar o campeonato no dia 8 de dezembro e não poder dar férias para os jogadores. Tenho que fazer um mecanismo jurídico, de logística, mexer nas férias, tirar jogadores da Copa São Paulo, ou começar com um time muito alternativo e ser cobrado por resultados do Carioca. É um ano atípico por uma invenção da Fifa, está pensando nos quatro clubes. E os outros clubes? Que entrassem num acordo pelo Campeonato Carioca, para mudar, colocar os pequenos para jogar primeiro. Tenho que quebrar minha cabeça porque o cara que está lá para fazer o calendário não faz.
Montagem de elenco
– A gente sabe onde vai disputar, em qual prateleira. Por isso, todas as nossas conversas são muito internas. Às vezes é estratégia dos próprios empresários: começam a falar dos jogadores para que eles se valorizem e fique mais difícil a competição, financeiramente falando. As pessoas começam a falar “tá todo mundo se mexendo e o Vasco não”. Como que o Vasco não está mexendo? A gente trabalha com futebol, planejamento com três meses de antecedência. São falácias. Eu não vou prometer, porque a bola é muito cruel. Você pode montar o melhor time do mundo e não dar em nada, ou montar um time mais frágil e competir. O que eu conversei com eles desde o início é que a forma é inegociável. A forma está sendo boa? Não. Conversei acho que com o próprio Vegetti. Falei com ele: “Sabe quando vocês entenderam o pensamento do Vasco? Quando nos classificamos sobre o Atlético-GO”. Não jogamos nada, jogamos mal. Mas há muito tempo o Vasco não chegava nas quartas (da Copa do Brasil), era um feito legal. Entrou todo mundo p*** no vestiário. Fiquei feliz da vida. “Agora eles entenderam”. É a forma com que se joga. A torcida pode querer o craque, o genial, mas ela se identifica com quem se entrega.
– A gente pode ter 30 jogadores limitados, mas se eles derem a vida… A torcida pode ficar chateada com a derrota, mas ela vai entender. É isso que eu exijo. Não exijo que dê caneta, que faça gol de placa. A forma para mim é inegociável. O retrato que vi naquele dia do vestiário foi isso. Às vezes a gente não consegue manter a forma, e eles mesmos se cobram. Ninguém quer o mal de ninguém, a cobrança faz parte.
Local de pré-temporada
– Vai ser aqui no Rio de Janeiro, no centro de treinamentos. Não teve o convite da Florida Cup, a gente estava vendo a necessidade de sair do Rio de Janeiro, ir para Atibaia, só para dizer que saiu. Houve um consenso em termos de economia, logística, dinâmica… Os jogadores ficam num hotel 5 estrelas, tem toda aparelhagem no centro de treinamentos, podem ter acesso aos familiares, dia de treino integral eles dormem e nos outros vão para casa. Teve uma reclamação grande da pré-temporada no Uruguai, que não teve estrutura nenhuma, foi uma escolha ruim, influenciada pela comissão técnica. Na Europa eles passam dois meses fazendo pré-temporada para sustentar a temporada, aqui a gente faz maluquice.
Amodeo: Até pela complexidade do calendário. Com os ajustes que estão sendo feitos no calendário de futebol, a gente considera ter um ou dois amistosos fora do Rio, considerando a presença nacional da nossa torcida.
Pedrinho: Por exemplo, a gente vende o primeiro mando de campo para Brasília, aí a gente faz a última semana de preparação em Brasília e já faz um jogo lá.
Capasso e Orellano – emprestados a Olimpia e Cincinatti
– Como o contrato do Orellano foi – olha para Carregal e pergunta “posso falar mal feito?” (risos). É que tenho que ser verdadeiro. Obviamente o Cincinatti tem a opção de compra e provavelmente vai executar, mas o mecanismo para isso é muito ruim e lesivo ao Vasco. A questão do Capasso vai ter uma avaliação interna.
Amodeo: O Cincinatti tem até o dia 1º de dezembro para exercer a opção de compra de 60% dos direitos desse atleta nas condições estabelecidas pela gestão anterior, que, pelo desempenho atual do atleta, é um valor que a gente considera abaixo do potencial de mercado. Não temos a prerrogativa de impedir que essa transação. Eu já estou há cerca de 10 anos no mercado e percebo neste contrato cláusulas que foi a primeira vez que vi. São inusitadas e não usuais. Ainda não recebemos nenhuma formalização, a informação extraoficial é de que provavelmente vão manifestar o interesse.
Negociação com Lyon por Rayan
– Temos muita procura por ele. Às vezes fico numa queda de braço com o Amodeo. Vai, não vai? Vou quebrando alguns protocolos de uma governança, porque às vezes a gente tenta fazer malabarismos para que o jogador possa dar resposta por mais tempo, e com isso se valorize mais. Chega a proposta, tá bem encaminhada, a gente dá o ok e eu peço para segurar. Existe proposta, mas é muito difícil segurar. É um jogador que vamos fazer esforço para que desempenhe. Se houver a venda, vocês vão entender que é porque foi necessário.
– A proposta não é para o Botafogo, mas é do Textor para um time de fora. Se acontecer, a conversa é para ele ir para fora.
Incômodo com entrevistas de Textor e planos para utilização do Nilton Santos na ausência de SJ
– Ele tem que definir se a gente é amigo ou inimigo. Uma hora ele bate, outra me elogia. Ele deve ser bipolar (risos). Existe a possibilidade real de jogarmos no Engenhão. Toda vez que ele (Textor) der uma pancada, ele vai levar uma pancada. Tirando esse critério e a questão de que eu não sei o que acontece lá dentro em termos financeiros, eu o acho um personagem incrível. Acho que ele chegou para investir o Botafogo e entendeu que não é só o dinheiro, apesar de ter colocado muito. Ele está lá, convive, entendeu o que é o Botafogo, sentiu a necessidade do torcedor. Foi o que o Botafogo precisava. A boa relação é sempre importante. Vamos ter a necessidade de jogar fora de São Januário quando houver obra, e o Engenhão é uma boa oportunidade para a gente. O gramado deles é sintético de muita qualidade, diferente de outros que é muito ralinho e a boca fica quicando o tempo inteiro. Tem o apelido de tapetinho porque acho que a grama é um pouco mais alta, e ela rola mesmo como se fosse num belo tapete. É uma possibilidade que estamos vendo, rodando estádios para ver os gramados. É uma boa parceria que pode acontecer. A intenção é que a gente jogue no Engenhão, e que exista uma boa relação. Espero que quando houver essa conversa, ele esteja em um dia feliz (risos).
Amodeo: Outro ponto importante é nossa relação com o torcedor. Vamos ter um período de obras, razoavelmente extenso, e não podemos nos afastar. Pelo contrário, precisamos criar condições para que mais torcedores possam acompanhar os jogos do Vasco. O Engenhão é uma possibilidade muito atrativa para a gente. Temos hoje um estádio com capacidade para 20 mil pessoas, no Engenhão você mais que duplica isso. E isso nos permitirá fazer ainda mais ações para aumentar o nosso quadro de sócios. O potencial da torcida do Vasco é incrível para que a gente passe dos 100 mil sócios. Tendo um estádio de capacidade para 40 mil, isso vai facilitar, gerar mais atratividade. Não precisamos pedir para o torcedor ir, porque ele aparece com muita naturalidade.
Pedrinho: Na questão de aumentar os sócios, não é pelo Pedrinho, presidente que esteja aqui ou qualquer fase do clube. É lógico que quando se está ganhando, você empolga o torcedor. Hoje, a gente talvez nem tenha muito a oferecer. Quando o torcedor entender que (o programa de sócios) é uma grande receita pro clube, ele vai ter esse engajamento. Não é pelo presidente, é para manter o clube vivo. Se chegarmos a 100 mil, vai ajudar muito no orçamento.
Avaliação da janela. Departamento de futebol como um todo foi assertivo?
– Acho que a gente precisa ser mais. Poderíamos ter agido melhor. Não com relação ao Maxime e ao Jean, acredito que eles vão dar uma resposta positiva. Entramos num caixote de finanças muito difícil, e precisávamos ser certeiros. Como não houve uma resposta imediata nesses atletas, cai numa conta que a gente não faz um bom negócio. Em termos financeiros, fizemos, podem ter certeza disso. Em termos técnicos, acho que eles ainda vão dar uma resposta. Mesmo com pouco dinheiro, acho que a gente poderia ter sido melhor, e isso é uma avaliação técnica interna nossa. É uma responsabilidade, sim. Poderíamos ter feito uma janela melhor, em relação a trazer outros jogadores. A perspectiva é que na próxima a gente consiga ser mais assertivo.
Quando Coutinho chegou, vocês já tinham perspectiva de que as lesões em sequência poderiam ser um problema? O que pode falar ao torcedor?
– A gente sempre tem que falar de futebol, mas eu não consigo tirar o lado humano das coisas. Se o Coutinho fosse um jogador sem comprometimento, dedicação, eu não falaria. Ele é extremamente profissional. Quando a gente escuta a própria torcida machucando ele, ele se sente ferido como ser humano. Eu pago um ótimo salário, mas o Coutinho ganhava muito mais e deixou de ganhar muito mais. Se ele não tivesse deixado, mesmo eu pagando um ótimo salário, ele não viria. Ele só veio porque abriu mão de muita coisa. Não veio para se machucar, sacanear o clube, ser chinelinho. Não conversei com ele sobre isso, mas sinto que é isso que o fere porque ele é muito ser humano. “Abri mão de tudo, vim aqui para jogar, não tenho culpa por me machucar”. Isso cria uma responsabilidade dentro dele, que é onde me identifico, de querer treinar mais, mais, mais. De onde ele esperava o maior carinho (torcida), vem a crítica, e uma crítica pesada. Estamos normalizando muitas situações, as pessoas estão se achando no direito de tudo sem entender que por trás é um ser humano.
– O Coutinho é um cara muito humano, e às vezes fica triste pela agressividade das críticas. O que posso falar para ele, e já falei, é que relaxe. Que treine o que tem que ser treinado, nada além disso. E que bote na cabeça que, por mais que seja profissional todo o processo, quando entrar ali (em campo), é diversão. Existe uma frase que eu aprendi: “Ignorância é uma dádiva”. Eu, por muitas vezes, concentrei a minha vida inteira com um dos maiores jogadores que eu vi, que era o Felipe (Maestro). Eu era psicopata por dormir cedo. O William Bonner (apresentador do Jornal Nacional) dava boa noite e eu queria ir dormir. O Felipe ia para outro quarto, jogava baralho, chegava 1 da manhã e eu estava acordado preocupado. E pensando “caramba, amanhã tem clássico. O torcedor vai sair de casa. Se a gente perder o jogo, ele ainda tem que pegar um trem, chegar às 3h. Como ele vai acordar às 5h? Às vezes deixou de comprar um presente pro filho para ir ao jogo”. Eu vivia todo o ambiente do jogo, e trazia essa responsabilidade do sofrimento do torcedor para dentro de mim. Isso me ajudou? Não. Eu passava a noite mal, dormia mal. O Felipe, do jeito dele, conseguia deitar e dormir. No jogo, o que acontecia? O Felipe colocava o jogo no bolso, e eu igual a um pateta, me esforçando para jogar um pouco. O que tenho para falar para o Coutinho é para ele ser profissional como é, mas relaxar, tirar essa pressão que está em cima dele. Ele não veio para consertar nada.
Fonte: Globo Esporte