Pedrinho revela interessados na SAF do Vasco e estabelece critérios para venda
Durante entrevista nesta quinta-feira (14), Pedrinho fala sobre venda da SAF do Vasco da Gama e cita critérios para negociação.
Pedrinho concedeu entrevista coletiva nesta quinta-feira, em São Januário. O presidente do Vasco citou a intenção de vender a SAF e disse que, enquanto não aparece investidor, ele precisa trabalhar para manter o funcionamento do clube, mas que não tem o interesse de gerir o futebol.
– Enquanto eu for presidente do Vasco, a minha intenção vai ser vender a SAF. A minha intenção (com ênfase) é vender. Vender é um outro processo. Não posso ficar sentado esperando um investidor, porque tenho contas a pagar e preciso fazer com que o clube ande. Tenho dívidas, tenho compromissos e preciso fazer uma reestruturação financeira. O torcedor tem todo direito de nunca mais querer ouvir a palavra reestruturação, porque ela já foi dita milhões de vezes e nunca foi feito nada. A medida cautelar que demos entrada é o início desse processo para que o Vasco seja autossuficiente. Isso não tem nada a ver com não querer vender a SAF. Eu preciso fazer com que o clube consiga pagar os salários, e depois da medida vamos ver o próximo passo – disse Pedrinho.
– A associação não vai gerir o futebol se virar SAF. Isso é uma narrativa, vocês têm entendimento e têm que começar a entender o que é a história do clube. Por que eu falo sobre intenção de vender? Porque eu posso não encontrar um investidor. Aí eu vou ser cobrado porque eu falei que vou vender. Quando eu falo que tenho intenção de vender é porque eu quero vender. Eu vou conseguir? Vou ter um investidor? A gente está no mercado, atende todo mundo, algumas coisas são muito superficiais. A gente nunca vai pedir para o associativo ser majoritário. Primeiro porque a gente não tem esse desejo e, segundo, porque isso é uma maluquice. Ninguém vai investir milhões para outro mandar. E não é a minha intenção. Minha intenção é proteger a instituição com cláusulas de proteção – acrescentou.
A última entrevista coletiva de Pedrinho no Vasco havia sido no dia 16 de maio, um dia depois de o clube entrar com uma ação na Justiça para tirar a 777 Partners do controle da SAF. Desde que assumiu a gestão do futebol, o presidente só havia conversado com a imprensa na apresentação do meia Philippe Coutinho, no dia 13 de julho.
Em outubro, o Vasco abriu um processo formal de mediação com seus credores para equacionar as dívidas. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) conduz as negociações. O clube também informou que entrou com uma Medida Cautelar “para proteger o Vasco de eventuais ações, tais como penhoras, que possam atrapalhar ou criar obstáculos ao processo de reestruturação”.
Em meio a este processo, o clube, segundo afirmou Pedrinho nesta quinta, segue aberto a negociações com possíveis compradores para a SAF e há conversas em andamento. O presidente, no entanto, não informou o nome dos interessados. Há informações de que o magnata grego Evangelos Marinakis, dono de Nottingham Forest (Inglaterra), Olympiacos (Grécia) e Rio Ave (Portugal), quer comprar um clube no Brasil e o nome do Vasco está entre os avaliados.
– Existem alguns investidores, e eu tenho que tomar cuidado quando falo porque as pessoas acham que são negociações avançadas. Existem alguns e existem NDAs (sigla em inglês para acordos de confidencialidade) assinados desse início de conversa, que eu não vou chamar nem de negociação. Por meio desse acordo de confidencialidade, não posso falar quem são os investidores. O que posso falar é que já tem muito mais de um mês. Há conversas com mais de um investidor que são muito iniciais – afirmou Pedrinho, que completou:
– Tem um que já assinamos o acordo de confidencialidade e nem começamos a conversar. A conversa inicial é muito mais para você passar um diagnóstico, por isso há um acordo de confidencialidade, os números do clube. Essa conversa de conhecimento do que está acontecendo com o clube às vezes não consegue ser nem no primeiro dia, vão ser dois, três encontros só para mostrar a realidade. Se isso avançar, você vai para o segundo passo e começa a construir. Já houve investidores que estavam muito dentro (a favor do negócio) e não estão mais. Não por qualquer empecilho da gestão ou exigência. Simplesmente saíram. Não posso falar quem são os investidores pela questão do acordo de confidencialidade.
Pedrinho estabeleceu critérios para vender a SAF:
– Tem alguns critérios óbvios para a gente alinhar com um investidor: credibilidade reconhecida, saúde financeira, planejamento esportivo financeiro com prazos para de cumprimento, estrutura de CT com prazo de cumprimento, porque a gente pode botar “gastar R$ 50 milhões no CT” e nunca gasta. A gente precisa ter garantias para proteger a instituição para não cometer o mesmo erro cometido com a 777. Na minha única conversa presencial com o Josh (Wander, sócio-majoritário da 777), pedi garantias do aporte de R$ 270 milhões, e ele disse que as garantias eram as próprias ações.
– Vou fazer uma analogia simples: você compra meu carro e me paga no final do mês, aí quando chega no final do mês você não tem dinheiro para me pagar e devolve o carro. Aí o carro está com os quatro pneus carecas, sem o IPVA pago, sem gasolina, batido, com farol apagado. Isso não é garantia. A 777 pegou o Vasco com uma dívida, maior do que foi divulgada, aportou os R$ 310 milhões e deixou uma dívida muito maior. Eu tenho a intenção de vender a Vasco SAF. Quando isso vai acontecer? Não sei. As pessoas acham que têm várias pessoas batendo na porta, oferecendo 40 trilhões de dólares, e eu falo “não quero, porque adoro poder e vou reestruturar o Vasco”. Mentira.
O vice-presidente jurídico do clube, Felipe Carregal Sztajnbok, e o CEO da SAF, Carlos Amodeo, também participaram da entrevista. Um dos assuntos abordados por Amodeo foram as manobras do Vasco para manter o funcionamento do futebol mesmo sem o aporte de investidores.
– Primeiro, temos que potencializar as receitas do Vasco, que vinham até então sendo subutilizadas e subaproveitadas. O Vasco tem um potencial gigantesco, por todo o engajamento da sua torcida, de geração de maior volume de receitas. Com isso, tão logo anunciamos a contratação do Philippe Coutinho, fizemos uma campanha importante de sócios em que o torcedor prontamente respondeu. A gente sai de um patamar na nossa visão inaceitável para o Vasco, de 32 mil sócios, para um de 65 mil, 70 mil sócios. Isso muda de forma bastante expressiva a nossa receita recorrente e mensal. Mais do que isso: um clube da grandeza do Vasco, com a presença nacional que nós temos, não pode se dar o luxo de ter propriedades comerciais à disposição sem comercialização na metade da temporada – explicou Amodeo, que continuou:
– Nós trouxemos quatro novos patrocinadores, três já anunciados, um em vias de ser anunciado. E essas receitas de patrocínio também estão fazendo frente a uma nova geração de recursos para o clube, que tem permitido ao longo dos últimos meses que a gente tenha tido sucesso no sentido de cumprir todos os nossos compromissos em dia. Fora isso, temos um número enorme de iniciativas de reestruturação interna, de racionalização das nossas atividades, de redução das nossas despesas. Para que a gente possa também, com essas economias geradas, produzir um resultado melhor e ter disponibilidade de caixa pra enfrentar os nossos compromissos.
Outras declarações de Pedrinho:
Pronunciamento inicial
– Tenho muito cuidado quando vou me pronunciar, pela situação peculiar que o Vasco vive, todas as vezes que eu venho falar são sobre assuntos polêmicos e delicados. A minha preocupação é sempre com o desempenho no campo. Se a fala aqui fosse só sobre planejamento esportivo e avaliação de temporada, a gente poderia ter uma rotina muito mais próxima. Como os assuntos são recorrentes com relação ao que aconteceu com o clube, tenho receio que isso possa interferir na cabeça dos atletas, porque vamos falar sobre 777, SAF… Apesar de eu ser muito claro com eles passando toda essa situação, a minha preocupação é desempenho de campo porque a gente estava num bom momento na Copa do Brasil, tivemos uma boa sequência de vitórias antes, conseguimos duas vitórias seguidas antes do jogo contra o Fortaleza (na verdade, contra o Botafogo), eu estava com cuidado para esperar e poder falar. Se eu quisesse ser oportunista, eu falaria depois das vitórias contra Cuiabá e Bahia, porque a atmosfera dentro desta sala seria mais positiva. Eu já vivi altos e baixos nesses cinco meses com o controle da SAF.
– Todas as vezes que você fala com um momento melhor é natural que as pessoas estejam mais abertas para interpretar de uma maneira positiva. E também é natural que num momento mais delicado, apesar de eu não enxergar que a gente não vive um caos pela perspectiva do ano, tudo que eu vier a falar já tem a tendência de um ambiente mais negativo. Teve uma brincadeira na internet de um bingo com as frases que eu iria falar, porque poderiam ser repetitivas, e acho que todo mundo vai ganhar, porque se eu tiver que repetir 80 mil vezes o que aconteceu e se as pessoas não entenderam, eu vou continuar repetindo. Não vou normalizar o que a 777 fez com o Vasco. Não estou me colocando como salvador, mas já estaria no mínimo com quatro meses de salários atrasados, e isso já levaria uma saída coletiva dos atletas.
Intenção de vender a SAF é ser majoritário na operação?
– Não, o investidor vai ser majoritário, até porque é difícil achar. Ninguém vai botar dinheiro para outro mandar, e nem é a minha intenção. Um ponto para ficar claro é que em nenhum momento, em cláusulas contratuais com um possível investidor, vai ter qualquer exigência de que eu participe do futebol. Zero. Essa chance é zero. Não vai ter nenhum empecilho relacionado ao futebol. Todas as cláusulas vão ser de proteção à instituição. Agora, eu voltando para o associativo em uma possível venda, (caso) um investidor queira que eu participe, vou usar a mesma frase que usei quando tinha a 777: ‘Estou aqui para contribuir e colaborar’. Se precisarem da minha ajuda, é assim que vai ser. Mas eu não quero nada do futebol, nada.
Interesse do grego Marinakis na compra da SAF
– Surgem alguns personagens nas redes que são aproveitadores, oportunistas. Quando descobrem um possível investidor, soltam como se fosse ele trazendo um investidor. Com qual interesse? Isso é mentira. Nenhum investidor vai em qualquer personagem de rede social para chegar ao Vasco. É uma negociação muito séria, eles não precisam disso. Eles vêm até mim, por meio de um CEO, direto com o presidente do clube. Esses personagens tentam entrar no circuito para ter algum tipo de benefício. Seja no futuro se tornar candidato a vereador, seja algum interesse de ter comissão no negócio ou para dizer mesmo que quer ajudar o Vasco. E não é (assim). As pessoas usam o Vasco para se beneficiarem, e às vezes elas querem me atingir. Mas já falei isso 500 vezes: me atinja diretamente. Quando você fala com uma outra situação e colocando o sentimento do torcedor no meio, é sacanagem. Aí o torcedor tá ali, “viajando” com milhares de coisas. Ainda mais vendo o clube que virou SAF e está tendo sucesso, outro que ganhou título. E ficam brincando com o sentimento do torcedor.
Mesmo que não aconteça a venda da SAF, é possível arcar com salários em dia no futebol para a próxima temporada?
Amodeo: Quando assumimos a gestão do clube, através da concessão da medida liminar, encontramos os cofres do clube praticamente zerados. A partir desse momento, também nos deparamos que ainda não existia um volume de receitas do ano de 2025 antecipadas. A medida que foi tomada foi: não vamos antecipar receitas de 2025 para não comprometer o ano subsequente, e vamos aumentar o volume de receitas de 2024 para fazer frente aos compromissos que temos neste ano. Foi o que fizemos, já citei dois exemplos na resposta anterior. Para o próximo ano, o que posso dizer é que as receitas projetadas estão praticamente íntegras. Não houve antecipação dessas receitas. Isso nos dá uma previsibilidade de fluxo de caixa muito melhor para 2025, e as receitas de 2025 também deverão ser substancialmente maiores do que as que tivemos em 2024, e também nos anos anteriores.
Como vender com a arbitragem em andamento?
– A gente tem que dar autorização para uma possível venda dos 31% da A-CAP. Os 39% estão na arbitragem. Toda possibilidade de uma venda dos 39%, a arbitragem tem que ter ciência disso. Ou seja, se tiver acordo de venda desses 39%, ele vai acontecer dentro da arbitragem. O que acontece? Quando tem a supervisão feita na arbitragem, isso aumenta a segurança do Vasco e do investidor. Porque o ambiente é controlado pela Justiça. Todo processo legal entre Vasco, A-CAP e 777 está supervisionado pela arbitragem, está blindado. Então não tem problema nenhum. As pessoas estão confundindo esse negócio de 31% de um, 39% na arbitragem… que isso pode gerar problema. Não, o que a gente fez com a liminar foi dar segurança jurídica. Estando na arbitragem, isso aumenta muito mais. O que a gente precisa é de um investidor. Só que as pessoas acham que é igual o mercado livre, não é assim, cara. Estamos falando de um clube de futebol que está com mais de R$ 1 bilhão de dívidas. Que aumentou sua dívida mesmo com aporte de R$ 310 milhões. Isso que as pessoas têm que entender, acham que é desculpa. Acham que estou aqui dando desculpinha, me lamentando. Não, eu sou perguntado e tenho que falar.
– Eu gostaria de falar para vocês que tenho milhões para investir, que vou fazer um time superpotente, que vou ser competitivo, brigando por título, que vou ganhar a Copa do Brasil. Não vou fazer isso. Nós temos que passar por esse processo. Se o investidor chegar, a gente acelera essa reestruturação porque vem o aporte. Se o investidor não chegar, o clube tem que andar. O que eu tenho que ter é responsabilidade que nunca tiveram. Eu não estou pedindo paciência para o torcedor e não vou pedir, porque eu não tenho. Mas temos que passar por isso. Estamos trabalhando firmemente, paralelo a isso, para encontrar um investidor. Se a gente acelerar isso, a gente vai embora, vai acontecer. Agora, é muito cruel pegar esse gancho final, do investidor muito forte que o Botafogo tem, que foi muito assertivo nas contratações, deu tudo muito certo, podendo bater dois títulos importantes. Aí pega um rival que ganhou um título, pega o outro que vai disputar um Mundial. É muito cruel fazer essa comparação: “A gente não ganha nada…”. Não estou reclamando e não vou reclamar. Eu vim aqui para fazer isso e vou fazer. Me dói pra caramba? Dói, p***! Quem quer dar notícias que não são boas? Vai ser feito um processo de reestruturação. Esperamos que chegue um investidor para acelerar isso. Se não chegar, vamos fazer do mesmo jeito. Se não vamos só aumentar a dívida. E um dos pontos do investidor é atacar a dívida com dinheiro novo, o que não foi feito.
– O que foi feito no Vasco, que abrimos uma comissão de investigação, e é bom citar: senhor (Jorge) Salgado, senhor Vitor Roma, senhor Luiz Mello, senhor Adriano Mendes, senhor Julio Brant. Esses caras têm que prestar conta. E eu falo de quem e o porquê. Se não acontecer uma investigação, vamos normalizar o que foi feito aqui. O cenário é esse. Pode melhorar? Pode, e muito! Eu vejo um cenário para o Vasco muito positivo. Se a gente zerar as dívidas, acabou o problema, p***! O problema é dívida, a gente estava enxugando gelo. A gente paga via RCE, o juros é maior do que quanto você paga. Tem que atacar a dívida com dinheiro novo. Essa vai ser uma exigência para o novo investidor, que ele ataque as dívidas
Felipe Carregal completa: Essa ação está facilitando a venda. Está sendo conversado com os investidores, e todos vocês acompanham, que no mundo a 777, A-CAP e credores estão passando por uma situação de incerteza em relação à legitimidade para fazer esse processo. Então, para o investidor, traz segurança que essa venda seja feito com o aval do tribunal arbitral. Importante lembrar que a nossa decisão que afastou a 777 foi a primeira decisão do mundo nesse sentido. Esses 39% estão preservados. Repito: essa ação está facilitando a venda, os investidores perceberam isso. O Conselho Deliberativo, que é quem tem competência pelo estatuto para isso, já está investigando (os nomes citados por Pedrinho). As comissões estão montadas, já há depoimentos. Uns não foram, fugiram, outros foram. Mas isso está em andamento. Temos que aguardar o trabalho do Conselho.
Pode dar mais detalhes sobre o que Roma, Salgado, Luiz Mello fizeram? Pegaram dinheiro emprestado com o clube ou a SAF?
– O conselho de investigação vai falar para a gente o que aconteceu. A gente só precisa entender o mecanismo da venda. Só isso. Não pregamos transparência? Então precisamos entender o que aconteceu. Se não aconteceu nada, ótimo. É o que a gente espera, que não tenha acontecido nada. Se não aconteceu, eles vão ter que prestar contas.
E se a A-CAP vencer a arbitragem? Vão recorrer?
Carregal: A gente está trabalhando essa arbitragem. Ela vai ser iniciada novamente, porque a gente tinha suspendido por um prazo de 90 dias, e vamos aguardar o trâmite normal dessa arbitragem. Enquanto isso, a liminar nos dá o controle da Vasco SAF e o controle acionário.
Pedrinho: A A-CAP, pela legislação americana, não pode ser controladora de futebol. Ela não tem o desejo e, pela lei, nenhuma seguradora pode ser seguradora de futebol. As duas coisas não andam.
Fonte: Globo Esporte