Paulo Angioni enaltece figura de Eurico Miranda: ‘Deu voz ao Vasco’

Ex-gerente de futebol do Vasco da Gama, Paulo Angioni deixou as polêmicas de lado e elogiou o ex-presidente Cruzmaltino, falecido em 2019.

Eurico e Angioni na última passagem pelo Vasco
Eurico e Angioni na última passagem pelo Vasco (Foto: Paulo Fernandes)

Depois de mais de uma hora, Paulo Angioni, convidado do “Abre Aspas” 11 do ge, é avisado de que o tempo combinado para a entrevista estava estourado, mas pede para continuar. Num papo leve, mas com doses de profundidade, o diretor de futebol do Fluminense deixou recados.

Do início dos anos 1980, quando deixou o clube Municipal, na Tijuca, para trabalhar no Vasco por 14 anos, ele viu a psicologia entrar no futebol, mas quatro décadas depois entende que é preciso mais.

Para Angioni, é o momento de profissionais de psiquiatria entrarem para ajudar jovens atletas contra a pressão da profissão. No Fluminense, alguns atletas experimentam atendimentos pontuais com profissional de psiquiatria quando entendem haver necessidade.

Quem é: Paulo Sergio Scudieri Angioni

  • Formação: psicologia e administração esportiva
  • Carreira no futebol: Vasco, CBF, Flamengo, Palmeiras, Fluminense, Bahia e Olaria.

Aos 75 anos, o dirigente diz que a convivência com os jovens do futebol o mantém jovem. Ao mesmo tempo, sente-se incapaz de trabalhar na base pela dificuldade que seria “criar o filho dos outros”. Neste “Abre Aspas”, Angioni aborda o rótulo de “amigo dos jogadores” e lembra figuras com quem trabalhou, como Eurico Miranda – a quem considera “quase um gênio para o Vasco”.

Encantado com Fernando Diniz, ele vê semelhanças do treinador, psicólogo de formação como ele, com Telê Santana e cogita até possível gestão compartilhada no Fluminense e na seleção brasileira, caso o treinador seja o escolhido pela CBF.

Você se assumiu recentemente tricolor. Como foi começar a carreira num rival e ficar por tanto tempo no Vasco? Não houve oportunidade de já começar no Fluminense?

Paulo Angioni: — Isso é uma coisa bastante curiosa. Eu era torcedor mesmo, de ir a todos os jogos na arquibancada. Quando você entra para o esporte, esse lado do torcedor fica um pouco afastado do teu racional. Eu fui para onde me oportunizaram trabalhar. Na época, eu tinha a opção do Vasco e do Flamengo, então fui para o Vasco porque era o que, na época, melhor me atendia no sentido de futuro. Não financeiro, mas de futuro. Só vim a ter convite do Fluminense em 2000. Antes disso, nunca.

Em 1989, você contava a “O Globo” da integração de assistentes sociais, psicólogos e nutricionistas nas comissões técnicas e apostava em “no futuro ter gerações mais saudáveis”. Entende que isso aconteceu?

— Era uma necessidade minha trazer o psicólogo para dentro do esporte. É uma das primeiras coisas que fiz no Vasco na época, contratar pessoas para essa área. Contratamos a Claudia Bello, excelente psicóloga, ela montou equipe e começou a trabalhar. Antes, o Guarani já fazia trabalho de excelência e aqui mesmo no Fluminense tinha alguma coisa. Mas acho que, às vezes, a gente precipita alguns julgamentos porque não vê a amplitude que isso pode alcançar. Eu também jamais imaginaria que chegaria ao mundo a internet. Não tem como prever. Agora, fazendo corte sobre esse processo da psicologia, quero dizer que hoje eu não paro por aí.

— Hoje eu acho que departamento de futebol de clubes precisa de um psiquiatra, não só um psicólogo. Psicólogo só não resolve mais. Hoje existe a necessidade de algumas pessoas tomarem medicamento para sobreviver a esse exagero de cobrança que existe hoje, não há ser humano que aguente isso.

Isso se agravou com as redes sociais?

— Não vou responsabilizar a rede social, acho que o mundo avançou para isso. Por mais que você queira, hoje é um mundo mais desnudado. A pessoa está mais desprotegida, muito mais exposta pelo modernismo do mundo. A rede social contribui bastante, não tenho dúvida, e ela não atinge só a saúde mental do ser humano. Ela atinge até algumas profissões que são ligadas ao futebol.

Como você vê atingir o jogador?

— O jogador é a razão da minha vida no futebol. Não só é a minha sobrevivência, mas é a minha contribuição ao jogador. Até hoje vivo por causa disso, a minha longevidade se dá pelo jogador. Eles me atualizam, me estimulam, não me fazem um senhor. Eu sou sempre um jovem para eles e eles são sempre jovens para mim. Mas isso (psiquiatra) é útil para todos. Hoje vemos as pessoas do futebol, fora do campo também, sendo acometidas por doença. O futebol, durante muito tempo, foi hermeticamente fechado. As pessoas se protegem de toda forma, inclusive com o problema da doença. Não tinha coragem de chegar e falar: estou com síndrome do pânico. Eu me lembro que o primeiro caso de pessoa se declarar com pânico foi o Robert, ex-Santos. Aí encorajou outros a falar. Mais recentemente o Nilmar falou, de forma muito clara, o que fez ele se afastar do futebol. Mas tem muitas pessoas com receios, por limitações até intelectuais, alguma coisa nesse sentido, e eles não falam. A gente percebe mudanças de comportamento toda hora. A gente tem que estar atento a tudo isso, é o que faço de forma constante.

— Futebol de clube já está na hora de ter psiquiatra, porque você vai precisar eventualmente dar remédio, porque a pressão externa não tem mais volta, ela vai continuar existindo.
Pela formação também de psicólogo, como você, o Diniz te ajuda bastante nessa vigília?

— A gente debate muito isso. Para o Fernando, o futebol é o jogador de futebol. A grandiosidade do Fernando é revestida pelo desejo de ajudar o jogador. Isso é muito claro nele. Por tudo aquilo que ele viu no mundo do futebol, na juventude dele, quando foi jogador, quando pretendia ser jogador, ele traz essa coisa muito latente. Ele é inspiração, transpiração e humanidade. São os três requisitos mais valiosos dele. É difícil copiar o que o Fernando faz. Porque é coisa da cabeça dele, não aprendeu no banco da faculdade.

Como observa esses casos, infelizmente, repetidos de violência sexual que envolvem jogadores? Isso impacta bastante as novas gerações?

— Por mais experiente que sou, no mundo do futebol, não me encorajo a trabalhar na base de clube. Eu tenho uma filha só, sei como é difícil criar uma filha, imagina criar o filho dos outros? Não tenho capacidade para isso. Mas eu olho bastante para isso. E não desisto de ninguém. Não desisto do ser humano nunca.

— Tenho tido derrotas? Tenho, óbvio que tenho. Trabalhei com muita gente que mesmo a gente tentando ajudar, não consegue. Isso me ocasiona uma derrota. Quando não consigo salvar uma pessoa, eu sofro bastante. Talvez seja o maior sofrimento que tenho no futebol.

— Muitas vezes as pessoas são mal entendidas, o jogador é muito mal entendido. Mas eu respeito porque o futebol é emoção, muita emoção. Muitas pessoas falam do Edmundo, e é dificílimo entender isso. Eu o conheci chegando no Vasco, sabia que tinha vindo do Botafogo, uma vinda meio estranha, por causa de indisciplina. Isso sempre me preocupou. Então, numa preliminar entre Vasco e Botafogo, fez um gol antológico e aí surgiu o Edmundo. Como você pode imaginar esse jovem que sai do nada para o tudo de repente e não tem oscilações? Lógico que vai ter. E assim foi. Mas graças a Deus o Edmundo se tornou o jogador que se tornou e tem sua independência aí. Para mim é uma felicidade.

Ainda tem contato com ele?

— Claro. Quando eu conversei com ele (Edmundo) depois de ter parado de jogar, ele me disse: “Pô, Paulo, comigo você não precisa se preocupar, estou tranquilo para o resto da vida”. Isso para mim é uma vitória, uma grande vitória.
Você sempre teve boa relação com atletas?

— Sim. Durante muito tempo, não vou dizer que fui discriminado, mas fui visto de forma equivocada por alguns treinadores. Não vou citar nomes, mas diziam que eu era amigo de jogador. E realmente eu sempre fui amigo de jogador.

— O Romário, por exemplo, eu tinha uma fidelidade fantástica. Porque o Romário nunca disse para mim que ia à missa, que ia à igreja. Ele sempre falava a verdade: “Paulo, eu vou sair e em meia hora estou aqui”. Ele saía e meia hora depois estava lá. O Edmundo a mesma coisa, não tem mentira.

Era como se o acusassem de ser protetor de jogador?

— É, mas eu era um amigo de melhorar a vida deles. Não amigo por ser amigo. A amizade se faz presente até hoje porque construí isso. Eu era um consultor, um educador, uma pessoa que tinha tempo suficiente para atender a todos. Enquanto muita gente ficava no clube quando tinha treino, eu ficava o dia inteiro. Mas durante muito tempo me botaram esse rótulo de ser amigo de jogador e eu vivi esse rótulo durante muito tempo. Na época, de certa forma algumas pessoas até não entendiam muito isso.

— Hoje eles (treinadores) são obrigados a serem gestores de jogadores. Olha como o mundo muda. Continuei sendo amigo deles todos. Ou seja, eu já era moderno naquela época, eu já enxergava o futuro, porque naquela época eu cuidava do jogador. Hoje todos os treinadores têm a obrigação de cuidar do jogador.

Você falou no podcast do Fluminense no ano passado que você e Diniz tinham a missão de recuperar o John Kennedy. E estão conseguindo, certo?

— É porque a gente não evidencia essas coisas, até porque não interessa a ninguém. O John passou por todas as etapas aqui e hoje está numa nova etapa. E eu espero que seja definitiva para ele, porque tudo aquilo que ele poderia ter feito antes, ele fez. Só que agora ele saiu daqueles sonhos, que é normal em qualquer jogador… Têm uns que são mais ousados, que é o caso dele, mais visibilizado porque ele se permite visibilizar, mas acho que ele chegou no momento do lado adulto realmente. Deus queira que sim. Todo dia cumprimento ele por isso.

— E tem outra vitória que, lamentavelmente, não aconteceu aqui. Quando ele saiu daqui, foi derrota para mim, eu sofri muito. Mas graças a Deus está seguindo a vida dele, está jogando no Goiás, que é o Zé Ricardo. São jogadores a quem mais me entreguei para ajudar. Fiquei muito tempo debruçado nas conversas com o Zé Ricardo. Não fui feliz com ele aqui, mas estou feliz vendo ele seguir a vida em outro lugar. De uma forma ou de outra, serviu por tudo aquilo que a gente fez, a instituição Fluminense fez por ele.

Você passou pelo Palmeiras da Parmalat e pelo Corinthians da MSI, do Banco Excel. São clubes com muito aporte para investir e outros, como o atual Fluminense, com mais dificuldade financeira. O que deu de lição de um para o outro?

— Quando eu entrei na Parmalat, já era um momento em que eles queriam sair do futebol. Fiquei quase três anos e já sabia que a Parmalat não tinha muito mais interesse em se manter no futebol. Então era um processo de reconstrução. E eu fui escolhido pelo presidente da Parmalat na época. Não foi uma escolha do clube. Os resultados não eram bons, tinham contratado o Felipe (Felipão), as coisas estavam muito descompassadas. A Parmalat queria a manutenção, já o Palmeiras pensando numa substituição. E tive a felicidade de 20 dias depois ou 25, o Palmeiras foi campeão da Copa do Brasil contra o Cruzeiro. Isso me facilitou. Se não me engano, nos dois anos e meio, o Palmeiras contratou três jogadores: o Pena, do Rio Branco de Americana, o Jackson, do Sport, e a grande contratação que foi o César Sampaio, fui muito questionado na época. Tive o bom senso de mantê-lo até se readaptar ao futebol brasileiro. No final a gente contratou mais um, que foi o Argel, já com as torneiras totalmente fechadas, que foi um pedido insistente do Felipão.

— Na Parmalat eu tive um grande ensinamento, por isso que eu falo sempre para os mais jovens que você nunca conhece tudo. Eu já tinha passado pela seleção brasileira, mas isso não me dava a sabedoria que tive na Parmalat, quando sentei na cadeira e era da empresa, representava o poder financeiro, e olhei durante um bom período o futebol de fora. E aí eu vi que era um bobo de achar que sabia tudo de futebol. Estava longe de saber.

— A grande parte do futebol não se dá dentro do clube, e sim na sua periferia. Vocês estão tendo um exemplo agora: há quanto tempo está o processo corruptivo aí dessas casas de apostas? Eu admiti que nunca mais ia ver isso no futebol porque vivi a época da loteria esportiva em 1982 e sei como foi difícil conviver ali. Idiota é aquele que admite que conhece tudo, ninguém conhece.

Você falou da Loteria Esportiva de 1982, tivemos a Máfia do Apito em 2005 e agora envolve contatos com jogador. Como se prevenir quanto a isso?

— É muito complicado, você não consegue ter proteção, não consegue proteger tudo… Nós fizemos conversa muito direta em cima de coisas que estão escritas na lei. Foi só uma introdução para eles, para terem a convicção através do que está escrito. Foi muito mais mostrar a realidade de uma forma muito elucidativa. Isso alerta para o mal, acho que conscientiza. Não tem mais porque alertar, a coisa está aí. O alerta já foi dado.

O Marçal, do Botafogo, falou que ano passado foi procurado depois que tomou um cartão amarelo. Vocês tiveram o caso do Vitor Mendes. Mais algum jogador relatou algo a vocês?

— Nunca. Quando nós soubemos disso, estávamos viajando (para jogar em Belo Horizonte), foi uma surpresa. Não só para ele (Vitor Mendes), jovem, foi uma surpresa para mim. Jamais podia imaginar que fosse ver isso acontecer novamente, porque vi isso acontecer lá atrás na loteria esportiva. Mas aconteceu, e espero que as pessoas aprendam. Os jogadores do Fluminense têm toda a consciência e exatidão daquilo que está na lei.

Acha que hoje é mais fácil ou mais difícil combater isso do que era em 1982?

— É bem mais fácil hoje porque existe uma conceituação de uma vida curta. O jogador tem consciência disso. Antigamente as pessoas não tinham tanto essa consciência.

Você citou Romário, Edmundo… Em que categoria entra o Fred?

— Eu sempre digo para ele (Fred): “Você vai ser o último ídolo da história do futebol, cara”. É muito difícil existir ídolo agora, falo isso para ele. Ele acha que não, diz que eu sou maluco. Acho que o futebol hoje tem uma rotatividade muito grande, entendeu? Você pode ter saudade da pessoa, mas idolatria, idolatria mesmo é pouco comum. O Fred me lembra muito o Roberto Dinamite, cara que era muito assim também, se tinha 200 pessoas, ele atendia as 200.

Você tinha boa relação com Dinamite?

— Parte do que eu consegui, eu tive uma pessoa que acreditou em mim, e essa pessoa foi o Roberto. Eu tive várias situações difíceis de solução e ele sempre me protegia, ele sempre defendia aquilo que eu levava para os jogadores. Isso me ajudou muito no meu crescimento no futebol, porque eu era um cara que tinha aceitação do capitão do time, do maior ídolo da história do Vasco. Era uma pessoa especial. Roberto com 30 anos disse para o treinador deixar ele marcando volante para o Romário ficar lá na frente. Com 30 anos naquela época era considerado velho e ele falou isso. “Eu volto, vou marcar o volante, deixa ele lá na frente”. Você vê a simplicidade desse cara, a grandeza dele. Era grande demais.

Como estamos passando por sua trajetória, queria saber de Eurico Miranda. Como era essa convivência com figura tão marcante no futebol?

— O Eurico para mim foi um quase um gênio para a instituição Vasco da Gama. O Vasco era um clube sem voz. Um clube formado pela colônia portuguesa e que, até por respeito, são muito gratos ao Brasil, falando daqueles que lá estavam. Nunca foram homens de polêmica, da discussão, e o futebol precisa da discussão. Isso faz parte do futebol e o Eurico foi um homem que deu a voz ao Vasco. A voz do combate, a voz da manutenção da instituição. Ele nisso foi muito atuante. Por característica, já é uma pessoa personalizada ao Vasco. Convivi com Eurico de 86 a 93 direto, um grande parceiro. Um grande cara, com um coração gigante, generoso demais. Tinha suas particularidades, mas eram todas bem aceitas internamente, defendia o profissional dele de uma forma muito bonita.

— É uma perda para o futebol a ausência do Eurico. Eu falava algumas vezes para ele que poderia contribuir muito para o futebol no todo. Ele tinha que abranger mais o conhecimento dele, aquilo que ele lutava. Tinha que lutar de uma forma muito mais colegiada. Mas, se o objetivo dele sempre foi o Vasco, ele não abria mão de cuidar do Vasco.

Já ouvi que o Mário Bittencourt tem jeito parecido com o Eurico em algumas coisas. De falar frases de efeito, dar bastante entrevistas. Vê muitas semelhanças?

— A única diferença que tem é que o Eurico é da mesma geração que eu, e o Mário é bem mais novo. Mas o que eu falei um dia para o Eurico, eu já falei para o Mário. É uma pessoa que tem uma experiência já muito, muito grande no futebol, apesar de jovem (44 anos). Ele está no Fluminense há quase 20 anos como advogado, dirigente, vice de futebol.

— Mário é, digamos, mais suave do que o Eurico nas tratativas, ou muito mais suave. E, por toda essa competência que ele tem, eu já falei para ele que é hoje, para mim, no meu conceito, a maior liderança do futebol brasileiro. É uma pessoa que agrega o conhecimento de futebol a um lastro conhecimento jurídico que eu acho que ninguém tem no Brasil.

Você não chegou a trabalhar com o Telê Santana, mas o conheceu bem. Ele tinha questão muito forte de se preocupar com a educação dos jogadores, do extracampo. Vê semelhança com Diniz?

— O Diniz tem muita semelhança com o Telê nesse aspecto. Muitas semelhanças, inclusive. Mas na forma do jogo não, porque o Fernando, para mim, é único. A forma de jogo do Fernando é única porque é inspiração pura, e essa inspiração só ele tem. É difícil alguém aprender. Ele não tem constrangimento de pessoas virem aqui para vê-lo dar treino. Ele está sempre aberto para ajudar, mas a pessoa não vai aprender. É difícil, o Fernando é único, não tem dois. É o único em tudo, inclusive na forma de tratar.

Você já o conhece desde os tempos de jogador, não é?

— Há muito tempo. Trabalhei em três clubes diferentes com ele. A minha esposa gosta muito dele, da família dele. Um dia minha esposa disse: “Eu preciso do telefone do Fernando, quero ligar para ele”. Ela ligou para dizer: “Você tem quatro filhos, não pode ficar tão nervoso assim”. A minha esposa dando conselho para ele. Então ele é único, ele consegue mexer com a minha esposa. É o único, não tem dois Fernandos e nem vai existir outro.

Você acha que ele pode chegar a ser o que o Telê foi para o Brasil em termos de técnico?

— O Fernando já é o Fernando, hoje é matéria no mundo inteiro. Eu já ouvi profissionais europeus dizerem para mim que muita gente olha a forma como o Fluminense joga. Eu acho que vocês têm que incentivar o Fernando, estimular mais a falar e escrever, porque ele é diferente, diferente mesmo.

Você disse que a sua esposa falou para o Diniz relaxar. Aí lembrei da foto de vocês tomando uma cervejinha lá em Fortaleza. Coisa rara isso?

— Vou repetir para você o que eu já disse. O Fernando não é um cara de beber, raramente bebe. Eu quase nunca. Eu não gosto de cerveja. Eu gosto de cachaça com gelo. Quem estava tomando cerveja aquele dia eram os outros que estavam na mesa, umas 12 pessoas. Tem que viver um pouquinho. O Diniz estava tomando guaraná e antes eu tinha tomado uma cachaça.

Como você falou, hoje o Diniz é matéria no mundo inteiro, inclusive é tema na CBF. Vê chance de ele conciliar clube e Seleção? Ainda há espaço para isso?

— Acho que pode se adequar. Se ele é o melhor, como nós achamos que é o melhor, vamos escolher o melhor e vamos nos adequar a ele. Essas coisas todas para mim são muito simples. Você busca o melhor, ele é o melhor. Vamos ao melhor e vamos nos adequar ele. Isso é muito simples de enxergar.

Estamos falando muito do Diniz, mas você acha que o futebol brasileiro teve renovação com os treinadores?

— Hoje o futebol brasileiro não tem treinador porque tudo foi aposta. E aposta inibe quem contrata. Teve gente até fazendo uma coisa sórdida, de soltar o nome do indivíduo. Dependendo da repercussão aqui fora, no dia seguinte você chega e fala: “Então, meu amigo, a repercussão é muito grande contra você. Eu não vou contratar você”. Vamos pensar no que a gente fala, vamos olhar para frente. O cara que vem não é uma aposta, ele é um novo, é diferente. Há uma diferença grande entre novo e aposta. O novo é o jovem novo que está galgando um caminho. Aposta é a dúvida que se tem sobre ele. Hoje você não tem treinador, porque há muito tempo rotulou sete ou oito treinadores como os grandes. treinadores do Brasil e ficou uma ciranda entre esses sete ou oito. Foram envelhecendo e quem chegava era aposta. Eu não tenho medo dos competentes, eu tenho medo dos incompetentes. Aí hoje você reclama, tem uma série de treinadores estrangeiros aqui. Claro! O Brasil não tem treinador, não permitiram o novo de proliferar.

Para a gente encerrar. Você falou que está sempre pensando lá na frente. E o Thiago Silva?

— O Thiago Silva é uma coisa muito iminente aqui no Fluminense. É um jogador que tem um prestígio imenso, merecido. Tem qualidade excepcional. O presidente já conversou com ele lá no início do ano. mas eu acredito que depende muito dele. Ele já mostrou desejo de terminar aqui. Não sei se este ano, acredito que não, mas pode ser o ano que vem, como foi o caso do Marcelo, não é mesmo? Pelas últimas entrevistas que eu vi, de informações que eu tive, que de repente ele continua lá, mas não sei se vai até o final, não é? Ele vindo será muito bem abraçado aqui, com certeza.

Fonte: Globo Esporte

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