Pai aos 16 anos, Marlon Gomes vira referência do Brasil no Mundial Sub-20

Marlon Gomes, volante do Vasco da Gama, é um dos homens de confiança de Ramon Menezes na disputa do Mundial Sub-20.

Marlon Gomes com a camisa da Seleção Brasileira
Marlon Gomes com a camisa da Seleção Brasileira (Foto: Daniel Ramalho/Vasco)

Promessa de não cortar o cabelo, paternidade precoce, uma carreira inteira ao lado de um dos melhores amigos no Vasco e na Seleção, e o posto de “rabugento” da turma. É difícil escolher por onde começar para contar um pouco mais da trajetória de Marlon Gomes, que, com apenas 19 anos, tem história para escrever um livro de como se moldou até se tornar uma das referências do Brasil no Mundial Sub-20.

A versatilidade que apresenta em campo é fruto de quem teve que se acostumar a “jogar nas 11” fora dele. A saída de casa para morar no alojamento de São Januário, aos 15 anos, veio acompanhada da notícia quase que imediata da gravidez da filha Maitê, hoje com três anos. Amadurecimento na marra.

Autor de um gol e uma assistência na goleada por 6 a 0 sobre a República Dominicana, Marlin, como gosta de ser chamado, é intocável no time de Ramon que decide vaga nas oitavas de final do Mundial neste sábado. Às 15h (de Brasília), o Brasil mede forças com a Nigéria no encerramento do Grupo D.

Lidar com pressão é algo que o volante se acostumou cedo. Mesmo que no início as cobranças fossem dos amigos para cortar o cabelo, algo proibido pela mãe por causa de uma promessa que nem o próprio Marlon sabe dizer qual:

– Pedi a minha mãe para ao menos cortar mais baixo, porque dá muito desgaste ter que lavar, cuidar… Ela deixou cortar menor, mas não tudo. Obedeço muito a ela. Até hoje, não sei qual é a promessa.

A exigência da mãe é tanta que Marlon conseguiu dobrar os mais experientes no Vasco quando subiu para os profissionais. No lugar do tradicional trote de raspar a cabeça, ele tirou a sobrancelha para evitar quebrar a promessa.

Pressão mesmo, no entanto, o jogador teve que encarar com o nascimento de Maitê quando ele tinha apenas 16 anos. A paternidade chegou com uma dose de responsabilidade que Marlon Gomes entende ser natural e necessária para quem encara os desafios de se tornar jogador profissional.

– O atleta de futebol aprende a ser homem muito cedo. Tem as obrigações, muitos saíram de casa muito cedo, e comigo não foi diferente. Morei alojado no Vasco desde o Sub-15 e fui pai muito cedo. Minha mãe até brinca que eu tenho alma de velho, reclamo, sou rabugento e aparento ter mais idade. Mas é um fato de me trouxe muita maturidade e responsabilidade.

“Paizão” dos amigos, “filho” do irmão

O paizão dentro de casa leva as regras também para o vestiário e admite que fica no pé dos companheiros que se excedem nos momentos de descontração. Em uma época em que a tecnologia predomina, a preocupação com o “tempo de tela” que tem com Maitê ele repete com quem deixa de aproveitar momentos importantes na Seleção para ficar no celular:

– É até engraçado falar. Imagina um moleque de 19 anos dar esporro em outro da mesma idade com diferença de meses?

“Eu dou bronca na minha filha para sair do celular, do tablet, para brincar um pouco. Aqui não é diferente e falo com a rapaziada que esse momento é único. Milhões de pessoas queriam estar aqui, vivendo uma Copa do Mundo. Temos de desfrutar o momento”.

A postura vem muito da intimidade que Marlon adquiriu com uma geração que compartilha convocações desde o Sub-15. Com Andrey Santos, então, a relação é ainda mais próxima. Há meia década os dois dividem momentos na Granja Comary e em São Januário.

O sucesso do amigo, já vendido para o Chelsea, muitas vezes eleva a expectativa sobre o próprio Marlon. Situação que o jovem encara naturalmente.

– Eu e o Andrey temos uma relação de irmão muito boa e só penso em viver esses momentos ao lado dele. Ainda mais agora que está indo para o Chelsea. Fico muito feliz em ver a história dele. A vitória dele também é da minha família. Muitos me perguntam sobre pressão, comparação, e sempre falo que não. Me espelho nele por tudo que ele faz dentro e fora de campo.

A serenidade com que enfrenta essas situações Marlon garante ser fruto do que via dentro de casa. Um dos irmãos mais velhos, Matheus Claudino, também é jogador e defende o Figueirense. Observando o dia a dia, o volante teve a convicção de como construir seu futuro.

– Quando eu era menor, olhava para ele e queria fazer o mesmo. Ir treinar sozinho, chegar cansado, estudar, voltar para treinar… Isso foi criando em mim um senso de responsabilidade importante.

Com o cabelo aparado, mas sem cortes mais curtos, e com o amigo Andrey Santos ao lado, Marlon Gomes entra em campo neste sábado para ajudar a Seleção a avançar no Mundial. Com três pontos e saldo cinco, o Brasil tem boas chances de ser líder do Grupo D em caso de vitória sobre a Nigéria. Já um tropeço fará com que a classificação seja como um dos quatro melhores terceiros colocados.

Fonte: Globo Esporte

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