Paes revela ideias para São Januário, cutuca o Flamengo e elogia Salgado

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ainda falou sobre outros temas relacionados ao futebol carioca e alfinetou o Flamengo.

Sócios da 777 com o prefeito Eduardo Paes
Sócios da 777 com o prefeito Eduardo Paes (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

Vascaíno, Eduardo Paes é um dos incentivadores do estádio do Flamengo. Apesar de ter sugerido Deodoro, diz que o Gasômetro é um espaço viável e com estrutura para o empreendimento. Em entrevista, o prefeito explica que a transação entre Flamengo e Caixa não se trata apenas do valor do terreno, mas também do potencial construtivo que influi no valor final. E é onde ele diz que pode ajudar. Esse potencial é determinado pela prefeitura, que define se no local pode-se construir uma casa ou um prédio de 50 andares, caso do Gasômetro. Ele diz que aceita transferir esse potencial para outra região para que a Caixa não tenha perdas. Paes também alfinetou o presidente Jair Bolsonaro, pedindo que a Caixa não cobre pelo terreno e que tudo esteja pronto antes das eleições. Ele também diz que aceitará as exigências do Botafogo para continuar no Nilton Santos, além de ter projetos para São Januário e outros estádios da cidade.

O presidente te alfinetou por causa do estádio do Flamengo

Tem dois times que eu não torço, o Flamengo e o Bolsonaro. Mas se for pro bem do Rio de Janeiro eu estou junto para ajudar.

A cidade comporta mais um estádio?

O que eu acho, eu acho que um clube com as dimensões do Flamengo precisa de um estádio para chamar de seu. E o Maracanã tem uma dimensão pública, no sentido amplo da expressão, da palavra, que vai fazer com que o Maracanã sempre seja de todos os clubes, especialmente dos quatro grandes clubes do Rio. Por exemplo, o que aconteceu com aquele jogo do Vasco, em que o juiz deu uma liminar, graças a Deus, permitindo o Vasco jogar lá. Aquilo é muito fruto da dimensão pública do Maracanã. Então o presidente Landim está absolutamente correto em querer trabalhar para que o clube tenha um estádio para chamar de seu. Me parece isso, que o Maracanã vai ter sempre o Flamengo como protagonista pelo tamanho da sua torcida, pela sua importância, mas o Maracanã vai ser sempre da seleção brasileira, do Vasco, do Botafogo, do Fluminense, ele vai ter sempre essa dimensão pública.

Para a prefeitura qual é o melhor lugar?

Eu sempre vejo Deodoro como uma solução do ponto de vista burocrático e institucional mais simples. É uma área muito grande que pertence ao Exército Brasileiro com um baixo valor econômico, com baixo potencial construtivo, o que facilitaria muito, por exemplo, uma doação do presidente Bolsonaro. Por parte da prefeitura não tem o menor problema em ver o estádio ser construído no Gasômetro. Em relação ao Parque Olímpico, ali me parece que o imbróglio é muito maior sobre o ponto de vista do interesse econômico, do valor, então eu desaconselhei o presidente Landim a prosseguir por ali. No caso do Gasômetro, ao contrário do que o presidente Bolsonaro imagina, precisa sim da autorização da prefeitura. O potencial construtivo que tem aquela área é da prefeitura. Provavelmente a Caixa vai precisar muito da prefeitura para resolver a situação. Repito, mesmo não torcendo pelo Bolsonaro, mesmo não sendo torcedor dele, é pro bem do Rio de Janeiro, pro bem do Flamengo, nós vamos ajudar naquilo que for preciso. Agora é importante que ações sejam tomadas, não adianta ficar só no discurso. A Caixa precisa tomar logo essa decisão, encaminhar e quero aqui de público dizer, o que a presidente da Caixa entender necessário para ajudar o Flamengo, a prefeitura vai fazer e ela sabe que precisa muito da prefeitura para isso.

Pode dar exemplo de como a prefeitura poderia ajudar?

Aquele terreno vale muito, quem comprou foi a prefeitura. É uma operação muito sofisticada no Porto Maravilha. Nós aportamos esse terreno a um fundo imobiliário que é administrado pela Caixa. Ali você tem um potencial construtivo que é o que paga a operação do túnel, a derrubada da perimetral. Então esse potencial construtivo, vai ser uma conta que o Flamengo nunca vai conseguir pagar, vai inviabilizar o estádio. Vai custar muito mais do que a construção do estádio. Então provavelmente o que a Caixa vai nos solicitar é que a gente pegue esse potencial construtivo e transfira para outra área do Rio. E eu quero dizer aqui que eu topo transferir.

E transferiria para onde?

Aí eu não sei qual o pleito da Caixa. Mas eu transfiro. Vou assinar essa transferência ao lado do presidente Bolsonaro para ajudar o Mengão, autorizando a ele a ceder a área. Agora, tem que ceder a área, não pode querer vender pro Mengão porque seria um crime isso. E tem que ser feito antes da eleição. Tem que ser rápido isso. Promessa de quem está no governo para depois da eleição não serve. Tem que ser feito agora até dia dois de outubro.

Há a preocupação com a infraestrutura no entorno do Gasômetro, receio de que a cidade pare em dia de jogo.

Você tem metrô perto, tem trem perto, você tem o VLT chegando, vai ter um super terminal ali na frente. É óbvio, que como todo estádio não comporta muito carro. Mas essas coisas você consegue evitar.

Flamengo se esquiva de política, dá preço limite pelo Gasômetro e vê local com ressalvas

Mas hoje mesmo sem estádio há problemas naquela região.

É um lugar que para se chegar vai ter que ser através do transporte público.

Não é ruim para o desenvolvimento da cidade que haja tantos estádios em um raio tão pequeno? Naquela região já tem o Maracanã, São Januário e também o estádio do São Cristóvão.

Ao contrário, a gente entende que quanto mais concentrada for a cidade melhor vai ser a cidade. Tanto que nós estimulamos. Tem todo um programa de revitalização da Zona Portuária, tem empreendimentos residenciais sendo lançados ali, vai ter o programa Reviver Centro. Quanto mais você evita deslocamento pela cidade, melhor. Deodoro tem uma vantagem que é ter trem, BRT e a Transolímpica. Mas ali também é uma área boa.

Mas um estádio traz transporte, investimento imobiliário, mexe com a economia. Concentrar tudo em uma região não é perder a oportunidade de desenvolver outras áreas?

Aí vamos entrar em uma discussão urbanística. Nosso direcionamento todo é de consolidar o Centro do Rio de Janeiro que é a área com mais estrutura, mais transporte e que as pessoas deixaram de investir, residir. Todo nosso governo tem esse foco muito importante para recuperação da zona central da cidade. E São Cristóvão é uma dessas regiões, tem um potencial enorme. Eu tenho certeza que ali com uma solução inteligente, o deputado Pedro Paulo está ajudando nisso com o Landim, você tem como modelar um super empreendimento de um shopping center junto com o estádio, dá pra fazer alguma coisa direito.

Todo mundo está se mobilizando para ajudar o Flamengo, pelo menos verbalmente. O que o clube teria que dar como contrapartida?

Por pare da prefeitura nós estamos plenamente de acordo, não há nenhum tipo de exigência. A única coisa importante aqui é que a Caixa não cobre pela área, porque ela é uma área valorizada. Eu acabei de pagar em um pequeno trecho do terreno R$ 50 milhões para a Caixa. Então eu imagino que com o potencial construtivo que tem ali vai custar muito. O mais importante é que eu possa transferir o potencial construtivo. Isso é que o presidente não sabe, não entendeu, mas a gente topa transferir.

Já tem algum projeto por parte da prefeitura ou o Flamengo já apresentou algo?

Estudo da prefeitura sobre o que pode acontecer ali já tem vários. Ali é uma área que a gente sempre projetou na operação do Porto Maravilha, ali você pode fazer quase 50 andares de prédio, grande shopping center, já era uma área prevista para ter esse tipo de movimento. Por isso que estou dizendo que não é um problema o Flamengo construir um estádio ali. A gente já tinha a visão e a previsão de que ali seria uma área muito adensada e com muito uso.

A Barra ainda não foi descartada ainda

Eu estou à disposição do Flamengo para ajudar. De novo, são negociações privadas. A Avenida Ayrton Senna é uma avenida que tem uma infraestrutura de transportes, liga direto com a Linha Amarela, liga direto com a Transolímpica, Transoeste, Zona Sul, quer dizer, de fato é uma região central da cidade.

O senhor encontrou com o John Textor e falou sobre entendimentos. O que ficou entendido?

O Nilton Santos é um estádio muito bem localizado, foi importante que o Botafogo tenha assumido e a gente quer que o Botafogo permaneça com o estádio. Pelo fato de o Nilton Santos ser olímpico, tem a pista de atletismo, tem de fato um pouco esse defeito, a distância em relação ao gramado. E o Textor, na minha opinião, ele já tinha dado sinais públicos de que isso atrapalhava o desenvolvimento do Botafogo. O que eu disse pra ele é que nós desejamos tanto que o Botafogo fique com o Nilton Santos, que é um estádio da prefeitura, que a gente topa discutir essa alternativa, uma proposta dele para se aproximar a arquibancada do estádio. Provavelmente terão que fazer ali alguma obra até baixar eventualmente o gramado. Mas tem solução arquitetônica, de engenharia. É possível e a gente estaria de acordo. E que a gente busque a alternativa para a prática de atletismo no Rio.

Seria a construção de uma nova pista?

Sim, pode ser.

Caso aconteça algum problema e o Botafogo decida não ficar no Nilton Santos, o que a Prefeitura faria com o estádio?

Eu concederia de novo. Mas não vai acontecer não. O Botafogo vai ficar no Nilton Santos e vai ter nosso apoio.

A prefeitura está negociando a concessão de um terreno em Vargem Grande para o Botafogo.

Sim. Eu cedi no meu outro governo para o Vasco e Fluminense. Agora nós estamos licitando as obras de acesso aos dois CTs, foi uma pressão muito grande do Fluminense, mas no dia que eu fui tinha uma bandeira bonita com a cruz de malta ao fundo. Vai também de alguma maneira beneficiar e eu disse pro Textor e pro presidente do Botafogo, que a prefeitura dispõe de áreas em Vargem Grande e que a gente doaria, cederia como cedi para o Vasco e o Fluminense.

E isso tem data para acontecer?

Não. Isso foi apenas uma primeira conversa. Eu não o conhecia. Mas eu acho que tem ali uma visão muito interessante do futebol como negócios e isso é interessante. As vezes o torcedor mais apaixonado conversa com um sujeito desses e tem uma dificuldade de compreender. Mas é importante esse papel. É importante para os clubes, para o Rio. E ele tem uma visão muito importante do papel e do protagonismo do Rio de Janeiro, da importância dos quatro cubes cariocas no cenário mundial.

Ele também pediu para a sede da Liga ser no Rio de Janeiro.

Ele deu a dica. Vamos pressionar para a sede ser aqui. Já estamos articulando.

Sobre a cessão de terrenos, houve algumas críticas. O que a Prefeitura ganha em contrapartida quando faz essas concessões?

Ganha o Vasco, o Flamengo, o Fluminense e o Botafogo. Quando ganha esses quatro ganha o Rio. Esses clubes não são entidades privadas, eles são entidades públicas. Todos nós somos um pouco donos desses clubes. Claro que a gente é mais dono daquele que a gente torce. Não estamos falando de empresas privadas. Estamos falando de instituições cariocas, que tem uma importância enorme para a construção da identidade carioca. Elas têm importância econômica inclusive, não bastasse a questão afetiva.

O senhor falou que vai discutir melhorias para São Januário.

Eu tenho uma conversa muito avançada com o Salgado, que a ideia é a gente transferir o potencial construtivo, ou seja, o direito de construir em São Januário. Um exemplo, ele tem o direito de construir um prédio, vamos imaginar que ele pode construir um prédio onde está São Januário, nós vamos transferir esse potencial construtivo para que o Vasco possa vender isso para o setor privado em outras áreas da cidade, por exemplo a Barra. E o Vasco só poderia usar o recurso dessa venda para fazer a reforma do estádio de São Januário. É um direito com fim específico. Você ganha o direito, que é o de construir, você vende esse direito, só que o fruto desse recurso não pode contratar jogador, não pode pagar salário atrasado, não pode resolver dívidas do clube, só pode ser usado para obras de reforma de São Januário, que é o estádio mais lindo do Rio de Janeiro.

Tem planejamento para melhorias no entorno?

Ali é muito condensado, muito consolidado. Então não tem como ficar pensando em muita desapropriação ali. São Januário é um espetáculo. Ele precisa ser modernizado.

Como vascaíno aprova a SAF?

Aprovo. Acho positivo. Eu vejo no presidente Salgado um esforço muito grande. Os clubes são sempre movidos a muita paixão, e sem querer criticar as práticas do passado, eu vejo uma visão mais estrutural, mais estratégica, que começou com o Flamengo aqui no Rio. O Landim de fato é um exemplo de gestor. Mas você olha hoje pro presidente do Botafogo, presidente do Fluminense e pro Salgado do Vasco você vê muita qualidade na gestão dos clubes.

E para o Fluminense?

Não há nenhum pleito ainda do Fluminense em relação a estádio. Eu tenho a melhor relação com o presidente, então vamos aguardar.

Eles anunciaram uma reforma em Laranjeiras.

Estou de acordo. Laranjeiras é o estádio mais charmoso. São Januário é o mais bonito, mas Laranjeiras é o mais charmoso.

Também há projetos para outros clubes do Rio?

O que integra essa cidade? O que faz o sujeito atravessar o túnel? São duas instituições, escolas de samba e clube de futebol. Eu, por exemplo, nasci na Zona Sul. Mas o que me fez conhecer a cidade quando eu era garoto era assistir jogo contra o Bangu, em Moça Bonita; contra o Olaria, na Bariri; contra o Bonsucesso; contra o Campo Grande, no Ítalo Del Cima; isso que me fazia circular pela cidade. E ir na Portela, ir a Oswaldo Cruz e Madureira. Então é muito importante que a gente possa ter esses clubes da zona oeste, do subúrbio, em condições. A Portuguesa tem um estádio incrível, super confortável e bonito, então a gente está doando esse material das olimpíadas. Eu estou trabalhando para ajudar o Campo Grande, mas tem sempre a dificuldade burocrática. Eu tenho uma ótima relação com o pessoal do Olaria, então o que eu puder fazer para ajudar esses clubes, eu vou ajudar.

Fonte: O Globo

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