Leven Siano revela suas propostas para o Vasco
Luiz Roberto Leven Siano, candidato à presidência do Vasco, falou sobre suas propostas e comenta amizade com Edmundo.
Quem conversa com Luiz Roberto Leven Siano, 51 anos, tem a impressão de que, ao mesmo tempo, está diante de um torcedor fanático e um administrador que recém saiu de uma reunião que tratou dos rumos financeiros de uma empresa. Ao adotar um discurso que mescla palavrões e gírias com expressões do mundo financeiro, sem esquecer do bordão “Vai dar Vasco” que usa nas redes sociais, o advogado é, por ora, o única candidato declarado à presidência do clube de São Januário.
A campanha está em curso e na fase de concluir o Somamos, projeto que pretende implementar, caso seja eleito, para mudar o Vasco. A prioridade é captar novas receitas – tem a pretensão de alcançar US$ 400 milhões (R$ 1,6 bilhão) em seis anos – para alterar o atual cenário de crise financeira, que tem como maior exemplo o atraso salarial e os consequentes protestos de jogadores e funcionários.
– O mais importante é o dinheiro. É dinheiro, não tem outra solução. Por isso estou me antecipando para chegar com as soluções financeiras prontas. Eu, como presidente, não posso vender (o futebol) do Vasco para transformá-lo em clube empresa. Mas eu posso jogar na mesa do Conselho Deliberativo as propostas. Posso também apresentar outra alternativa, que é um empréstimo. Eu vou dar soluções. Se o Conselho vai aprovar ou não, é outra história. Essa é a maneira de resolver rapidamente os problemas do Vasco – resume Leven em uma entrevista de quase duas horas.
A quantia seria viável por receitas oriundas da reforma de São Januário, venda de naming rigths e licenciamento de produtos. Para, no entender do candidato, conhecido por ser amigo e advogado por 20 anos do ex-jogador Edmundo e por abominar a atual política do Vasco, deixar o clube rentável, sem dívidas, eficiente, inclusivo, na vanguarda tecnológica e campeão. Nem a dicotomia entre o plano e a sua difícil execução tira a certeza de Leven do sucesso da proposta:
– Eu comecei com muita desconfiança, me chamavam de lunático, e, de repente, esse maluco começou a ser o maluco beleza, o maluco do bem. Isso já é uma transformação. Grandes personagens da história da humanidade foram chamados de maluco. Quando Galileu disse que a terra girava em torno do Sol, foi chamado de maluco. Quando você sai da mesmice e pensa um pouco fora da caixa, é chamado de maluco.
Com eleições previstas para novembro, o atual cenário político do Vasco está indefinido. Se Leven é candidato, os prováveis adversários ainda não confirmaram se irão concorrer. Alexandre Campello, atual presidente, é lacônico ao falar sobre tentar a reeleição. Além deles, os conselheiros Luis Manoel Fernandes e Júlio Brant estão cotados. O GloboEsporte.com abrirá espaço a eles ou qualquer outro que oficializar a candidatura.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista com Leven Siano
A torcida do Vasco o conhece por ter sido advogado do ex-jogador e ídolo Edmundo. Antes disso, qual a sua formação profissional?
Eu fui formado na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante. Isso dá o título de administrador, afinal, em toda a escola militar você é formado em administração. É o curso dos militares. Sai com a habilitação de piloto de navio e oficial da Marinha, segundo tenente. E depois eu fiz a faculdade de Direito. Posteriormente, fui para a área de especialização marítimo e esportivo por conta do Edmundo. Não me senti confortável de cuidar dele por 20 anos sem ter uma especialização. Fiz direito e gestão esportiva.
Como teve início a amizade com Edmundo?
Ele foi trazido pelo Helinho, um amigo com quem jogava futevôlei. O Helinho é meu amigo de infância. Ele sempre me perturbava, dizendo que eu tinha de ajudar o Edmundo. Perguntei se o Edmundo tinha navio, afinal, eu era piloto. O Edmundo tinha contrato de imagem no Vasco e muito muito problema com a imprensa por causa do acidente em 1995. Ele foi me consultar se aquilo violava a imagem dele. Comecei a ajudar e quando me dei conta eu tinha 80 processos do Edmundo, de tudo que é coisa que se pode imaginar. Desde o macaco que tomou ou não tomou cerveja, passando pelos problemas familiares de separação, pensão, indenizações pelo acidente, contratos esportivos, contratos de publicidade, contratos de imagem, as relações com os clubes. Aquilo foi crescendo de uma maneira que eu virei um assessor direto do Edmundo em tudo que dizia respeito a ele.
E qual o motivo do recente rompimento entre vocês? Recentemente fez um vídeo dizendo ter saudade dele…
Eu nem sei se teve esse rompimento mesmo. Por mim, não teria acontecido. Eu disse a ele que iria me candidatar a presidente do Vasco e que adoraria ter o apoio dele. Mas entenderia caso ele não pudesse pois ele estava comprometido com outro grupo político (Sempre Vasco, de Júlio Brant) que eu achava que o projeto era só tirar o Eurico (Miranda, ex-presidente). Eu entendia que isso era pouco para o que o Vasco precisava. Então, comuniquei que uma vez que iria virar agente político não poderia patrocinar nenhum processo contra o Vasco. Seria antiético. Ele ficou chateado, nunca mais falou comigo.
Tem de perguntar a ele o motivo da chateação. O que eu sei é que, após eu ter comunicado que não ia mais cuidar dos processos, ele parou de falar comigo. Isso em 2018, final daquele ano. Completei os cinco anos de associação em janeiro de 2019 após ter me associado em janeiro de 2014. A primeira pessoa que eu conversei sobre foi ele. Era algo natural. Primeiro, pela nossa relação de amizade e profissional de 20 anos. E, segundo, pois ele era o ídolo da torcida.
No dia do vídeo, eu tinha recém-chegado de uma viagem à Europa, extremamente cansativa. Meu emocional foi lá no alto. Eu não sou político, virei político da noite para o dia. Não estava acostumado com esses haters da internet. Ainda estou aprendendo. Eu vi que no Vasco se criou muita mágoa entre pessoas que eram amigas e deixaram de ser por conta da política. Eu, então, resolvi fazer um discurso do coração. Quando se vira político, tem de tomar cuidado com o que você fala. Não tomei, fiz um discurso do coração. E não foi só o Edmundo o citado. Foi uma tentativa de acenar uma bandeira branca, um exemplo para todos os vascaínos perceberem que, no final das contas, torcemos todos para o mesmo clube. Do Edmundo, não tive resposta. Mas foi uma coisa propagada de forma positiva.
Qual a sua relação com o Vasco?
Nunca fui conselheiro, nunca integrei grupo político, nunca integrei nenhuma gestão. Tenho uma relação intrínseca com o clube por ser sobrinho-neto de Antonio Soares Calçada (ex-presidente de 1983 a 2000). Então, sempre via meu tio-avó envolvido nas coisas do Vasco. Ele foi um grande presidente. Nós não éramos muito próximos pois, na verdade, ele era irmão do marido de minha avó. Era colateral, digamos assim. Eu tinha mais contato pois os meus outros avós eram de Santa Catarina. Tinha uma relação, sem ser de amizade, mas existia. Por coincidência, eu nasci na frente de São Januário naquela maternidade. Me apaixonei pelo Vasco. Eu sou de 1968, tenho 51 anos e vou fazer 52. Roberto estava arrebentando na época, ele foi meu grande ídolo. E depois chegou o Edmundo, um ídolo que virou amigo.
E por qual motivo nunca fez parte da vida política do clube?
Não me associei e não me meti na política antes pois a circunstância da vida me levou a ser advogado do Edmundo. E sempre quis resolver as coisas da melhor forma possível. Por exemplo: ele me pediu para entrar na Justiça contra o Vasco quando teve três meses de salário atrasado, o que lhe daria direito de sair do clube. Só entrei na Justiça nove meses depois. Ele dizia que eu o enrolava, mas eu falava que tentava resolver com o Eurico. Sempre tentei resolver comercialmente pois o coração era vascaíno.
É criticável ter ações contra o Vasco e participar da política. Ou você é advogado ou é agente político. Jamais aceitaria esse papel. Então, como estava envolvido em conflitos com o Vasco não me via como participar da vida política. Mas isso não significa dizer que eu não tivesse experiência. Eu vivi situações que outras pessoas não tiveram oportunidade. Uma negociação do Edmundo com Eurico, de rompimento do Edmundo com Eurico… Nada acontece no ato, tudo é um processo. É um aprendizado para gerir crise. E, nos momentos de paz, sempre estive à disposição para ajudar. E ajudei muito o Vasco. Fui consultado, fui procurado. Desde situações jurídicas e relacionamentos institucionais.
Estou disposto a ajudar o Campello também, mas ele não aceita ajuda de ninguém que seja de corrente política diferente da dele. Como praticamente todo mundo é hoje pois ele se isolou tanto com esse comportamento, não tem ajuda de ninguém.
Por qual motivo não integra nenhum grupo político do Vasco?
Resolvi fazer uma candidatura totalmente independente de grupos políticos. Houve um momento que a criação de grupos políticos foi importante para o Vasco. A Cruzada foi pioneira na construção de fazer uma oposição ao Eurico e a como ele conduzia o clube. Foi positivo. Porém, hoje isso se tornou um mal ao Vasco. Há 33 grupos políticos, um colégio eleitoral de 4 mil pessoas. Se dividir, os grupos não formam chapa. É uma insanidade. É mais grupo político do que partido no Brasil. Eles ficam o tempo todo se guerreando. É um ambiente tóxico. Conselheiros, pessoas que querem ser conselheiros e os que orbitam nesses grupos formam ambientes que não produzem nenhum tipo de inteligência. Parece um bando de garotos mimados, de colégio maternal, de primeiro grau, fazendo bullyng uns com os outros. São pais de família, com certa idade, profissionais de mão cheia… É uma coisa de louco.
Eu percebi que se decidisse fazer parte de qualquer grupo estaria dentro desse ambiente tóxico. Então, preferi fazer uma candidatura apartidária. Isso não significa dizer que não há grupos apoiando. Muitos vascaínos hoje estão em grupos, o que não significa que é a maioria do colégio eleitoral. Uma última pesquisa feita mostra que esses 33 grupos alcançam não mais do que 20% do colégio eleitoral. Então, 80% dos vascaínos não estão em grupo político algum. Eu poderia até ignorar todos os grupos e, mesmo assim, ganhar a eleição. Mas aí seria ser radical.
Esse distanciamento não gera o risco de não ter condições de formar chapa? Pelo estatuto, é necessário ter a assinatura de 160 sócios (120 serão conselheiros titulares e 40, suplentes).
Falo sério. Não é papo de quem está em campanha. Ninguém tem mais voto do que a gente hoje. Nós temos cinco grupos de Whatsapp. Lotados. Qual o limite? 245? Só fazer as contas. 90% dessas pessoas são sócias e estão com a gente.
A maneira de lançamento da chapa, apartidária, é engraçado. Tem gente de tudo que é grupo que está comigo. Sempre coloco que com a gente não tem essa história de apoio por cargo. O critério é técnico. Vou colocar os melhores e quem comprou o projeto.
Mas, então, quem te apoia?
Eu aceito a adesão de grupos, tenho três na base de apoio: Templários do Almirante, Malta e Tradição Vascaína. Estão para chegar Aquiba Vasco e Raízes Vascaínas. São pessoas muito qualificadas.
Em termos de execução de projeto, sim, há outros apoiadores. O projeto não é de governo, é de estado. Quero criar condições estruturantes para mudar o clube. Eu tenho uma condição financeira que facilita me propor a isso. E tenho três escritórios e uma empresa de consultoria. Elas andam sozinhas sem mim. Além disso, tenho condições de não precisar nada financeiro do Vasco.
Como irá montar a sua chapa?
As pessoas que vão ser escolhidas para formar o Conselho Deliberativo não vão ser escolhidas por critério político. Vão ser escolhidas pelo critério de quem aderiu e quem está engajado na execução do projeto.
Uma das coisas que eu proponho é que o Sócio-Torcedor vote. Então, preciso mudar o estatuto para isso. Se o cara não concorda, não pode ser meu conselheiro. Ele vai ser meu conselheiro não porque gosta de mim, mas porque está acreditando no que o projeto propõe.
Como foi a elaboração do projeto?
Eu já fui diretor de associação e diretor de instituto. Eu sempre fui contra grupo de trabalho, grupo de estudo. Isso se faz na faculdade. Profissional faz planejamento. Então, a mania do Vasco é… Os grupos políticos fazem grupo de trabalho e discutem o sexo dos anjos e nenhum projeto é instalado. Eu nunca vi. Eu opero diferente. Eu proponho, pego algumas pessoas que acho que podem ajudar e agregar. Teve input (expressão da língua inglesa que significa entrada) do Luis Ribeiro, que já foi CFO (sigla inglesa para diretor financeiro) do Santander, teve input do Augusto Tanure, que convidei para ser CEO (sigla inglesa para diretor geral) do Vasco. Na parte de Remo, teve do Gilberto Pinho, que já foi vice de Remo. Na parte de basquete, teve do Jorge Verissimo, que foi diretor do basquete. Na base, do Geovani.
Ser novo na política tem uma grande desvantagem de não saber quem e por onde andar. E a política do Vasco é cheia de obstáculos e labirintos. Mas tem uma vantagem que é o fato de ter uma rejeição baixa. Quem está enfiado na política do Vasco, especialmente pela forma que a política do Vasco se deu nos últimos 20 anos, está de alguma maneira colecionando muitos inimigos. Se ouve “esse cara é ladrão”, “esse cara é bandido”… sempre que se fala de alguém é isso.
Para construir esse projeto eu ouvi muita gente. Ou ouvi muitos vascaínos. E eu acho sou o único cara que responde os vascaínos na internet. Eu coloquei o meu Whatsapp no Storie do Instagram. Então, ele foi invadido por torcedores. Respondo a todos. Tem gente que acha que eu coloquei alguém para responder. Aí, eu faço uma chamada de vídeo para provar que sou eu. Agora nem dou mais conta. Nos últimos sete dias, 20 mil pessoas viram o meu perfil. Está uma coisa de louco.
Quando você está aberto a ouvir e a ouvir críticas você está entendo para onde os vascaínos querem que o Vasco vá. Peguei esse feeling, fiz muitas reuniões. Me deu uma ideia do que as pessoas querem do Vasco. Muitas das vezes não dá para fazer como as pessoas dizem, mas aí entra minha parte que é administrar.
Mas ele foi formatado da minha cabeça. Para democratizá-lo, vou dar oportunidade a todos que fazem parte da nossa base de apoio a ter um mês para opinar. Aí sim vão se formar os grupos de trabalhos para se debruçar e procurar melhorar. E depois pretendo deixar em um site à disposição dos vascaínos para que possam aderir e dar sugestão para melhorar o projeto.
Quanto tempo demorou?
Foi o tempo dessa viagem que fiz recentemente, uns 25 dias. Eu fiz projeto de um avião para outro. Ele está concluído, mas precisa dessas depurações. Por agora, está “by” Leven Siano. Mas eu pretendo colocar “By Leven Siano & Others”. E nomear. Todos os sócios que participarem eu quero dar a oportunidade de assinarem o projeto. Isso é bacana pois dá legitimidade, um viés popular que o Vasco tem.
Quero coletar as assinaturas dos sócios para que as pessoas saibam que quem está indo para isso não está indo para o Leven, mas para o projeto. Temos de sair da discussão política de quem é. Temos de ir para o que se propõe fazer. Isso é inédito no Vasco.
O que o projeto propõe?
O principal ponto do projeto é tornar o Vasco um clube rentável, sem dívidas, eficiente, inclusivo, na vanguarda tecnológica e campeão. Tudo isso através de captação de recursos. A ideia é arrecadar US$ 400 milhões, que é o número mágico de R$ 1,6 bilhão, em seis anos. A principal proposta é a reforma do estádio, que já está fechada.
Vamos captar dinheiro em novas receitas. Queremos licenciar a marca do Vasco para ter time em diferentes países do mundo, queremos captar dinheiro com naming rights, algo raro no Brasil. Está previsto também a venda de equitis do clube (expressão em inglês que pode ser traduzida para “Ativo Privado”, uma modalidade de fundo de investimento que consiste na compra de ações de empresas que não estão na bolsa, mas têm boas faturações monetárias). E tem o exemplo do Benfica, de Portugal.
Como assim?
O Benfica é um grande case, também era um clube muito endividado, no mesmo patamar do Vasco, e se superou. É um clube que separou o futebol e tem várias empresas. As Casas Benfica arrecadam 30 milhões de euros por ano, vendendo tudo o que você pode imaginar. É fantástico.
Eu convidei o João Rodrigues, que foi o gerente de vendas dessas 247 lojas do Benfica, para ser o gerente das Casas Vasco. O conceito das Casas Vasco é o seguinte. Sabe Copa do Mundo, que você tem a casa de vários países, trazendo um pouco da cultura de cada um? É um lugar de vendas de produtos licenciados, mas também é bar, restaurante, local de eventos, você pode alugar para festas. O torcedor também pode se associar, votar, comprar produtos, eventos com os ídolos, uma série de alternativas para geração de receitas. Você monta um padrão e vende como franquia. O Vasco recebe uma cota mensal.
Mas, candidato, esses projetos levam tempo para serem implementados. Até soam eleitoreiros. Como captar dinheiro de forma mais rápida para resolver os problemas do clube?
O mais importante é o dinheiro. É dinheiro, não tem outra solução. Por isso estou me antecipando para chegar com as soluções financeiras prontas. Eu, como presidente, não posso vender (o futebol) do Vasco para transformá-lo em clube empresa. Mas eu posso jogar na mesa do Conselho Deliberativo as propostas. Posso também apresentar outra alternativa, que é um empréstimo. Eu vou dar soluções. Se o Conselho vai aprovar ou não, é outra história. Essa é a maneira de resolver rapidamente os problemas do Vasco.
Você só consegue dinheiro de duas formas. Com investimento ou dívida. Eu estou analisando todas as opções e até as eleições quero ter tudo mapeado, com todas propostas prontas. Se o vascaíno me contemplar com a vitória na eleição, chegarei na primeira reunião do Conselho e colocarei na mesa. O que vocês querem? Temos a possibilidade de um empréstimo do Banco de Luxemburgo, que nos empresta US$ 200 milhões a 5% ao ano. Ou vamos aceitar propostas de fora, Oriente Médio, dos russos ou de quem seja para comprar 51% do futebol do clube? Só que nesse caso será para sempre, e eles terão controle do futebol. Teremos de debater as alternativas.
Com todo respeito, eu não acredito na austeridade do “Desenvolve Vasco”. A solução chegará quando? Daqui a 50 anos, mantendo uma folha de futebol de R$ 3 milhões, como hoje? É claro que tem cortes que você tem que fazer. Sabe quantos funcionários tem o Vasco? 812. O custo administrativo do pessoal do Vasco é o dobro do custo do futebol. A folha total do Vasco custa R 9 milhões. R$ 6 milhões, praticamente, com o administrativo, e apenas R$ 3 milhões com futebol. Tem alguma coisa errada.
Como funcionaria a venda do futebol do Vasco?
No projeto de lei do deputado Pedro Paulo que está para ser aprovado no Congresso Nacional, você pode fazer a venda de três maneiras. Incorporação, cisão ou transformação. No caso do Vasco, provavelmente seria uma cisão. Você separa o clube do futebol. O futebol passa a ser outra empresa, com um percentual do clube e outro de uma ou mais empresas, e até de pessoas físicas. Todas as despesas e receitas referentes ao futebol passam a ser dessa empresa.
E como seria a reforma de São Januário?
Eu tenho o projeto com um cliente meu. É a Serneke, uma das maiores empresas de infraestrutura do mundo. A encomenda que fiz a ele é de um estádio que seja green bond (título climático de renda fixa). Se for dado, isso significará uma série de retorno de maior valor de termos de patrocínio. Os caras estão animados de entregar isso, a capacidade seria de 55 mil pessoas. O projeto vai me custar 80 mil euros, o que dá R$ 400 mil. Eu vou pagar isso.
Por que o estádio é o passo número 1? Porque você aumenta sua capacidade de tomar crédito. Ao invés de um jogo para 22 mil pessoas, você faz um jogo para 55 mil torcedores, com uma série de receitas de hospitalidade, com camarotes, cadeiras cativas, lugares que você vende para o ano todo. Serão 42 bares. Pelo projeto, manteremos o Colégio Vasco da Gama e ainda teríamos um hospital. É a maneira de ter retorno financeiro.
Não tem como esquecer do Maracanã porque durante três anos ficaremos sem estádio. Vamos sofrer com uma obra em casa. Depois da tempestade, vem a bonança. Serão três anos de sofrimento, teremos que jogar no Maracanã e no Nilton Santos.
O que pensa sobre futebol? Reforços, treinador e diretor de futebol…
Já procurei vários, mas não vou falar nomes. Jogadores de Copa do Mundo, estrangeiros e brasileiros. Sobre treinadores, conversei com cinco portugueses e um brasileiro. A escola portuguesa está em alta, tem o Mourinho, o Jesus, o Carlos Carvalhal, o Leonardo jardim. Mas é claro que isso tem um custo alto. Mas não sou eu que vou decidir isso. Quem decidirá isso é o futebol do futebol.
Eu tenho um nome definido para comandar o futebol, mas não vou dizer. Até porque tenho mais de um. Estou pensando em trazer alguém de fora para direção, o que seria algo inovador. Um europeu.
Muita gente o define como “maluco”. Como você se vê nesse processo?
Sou um cara muito autêntico. Não fui treinado para ser político. A minha maneira de ser, na minha vida pessoal, me levou a ter centenas de amigos que me adoram. A pessoa que olha no meu olho sente a verdade. Infelizmente, hoje, o vascaíno não acredita em mais ninguém, é desconfiado da sombra, briga com ele mesmo, e não acredita no Vasco. Ele tem que voltar a acreditar no Vasco. O Vasco é o único clube do Rio que tem estádio. Flamengo, Fluminense e Botafogo não têm estádio. Não é qualquer clube no mundo que tem 20 milhões de torcedores. Isso é um diferencial. Temos que entender quem nós somos.
Acredito que muitos vascaínos já acreditam no nosso projeto hoje. Mas até novembro estaremos mais fortes, à medida que documentos começarem a aparecer. Eu comecei com muita desconfiança, me chamavam de lunático, e, de repente, esse maluco começou a ser o maluco beleza, o maluco do bem. Isso já é uma transformação. Grandes personagens da história da humanidade foram chamados de maluco. Quando Galileu disse que a terra girava em torno do Sol, foi chamado de maluco. Quando você sai da mesmice e pensa um pouco fora da caixa, é chamado de maluco.
Quem eu tenho conversado tem entendido que o Vasco não tem solução que não seja algo inovador. Se continuarmos aplicando as mesmas técnicas de gestão, não vamos sair desse buraco e vamos virar um América. As pessoas têm que ter essa percepção. O Vasco tem potencial pela marca que é, pelo fato de ter um estádio e uma torcida significativa.
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