Léo Jardim e outros goleiros se manifestam contra nova regra de pênaltis

Nova regra proíbe que os goleiros provoquem os batedores no momento da cobrança de pênaltis, o que tem gerado polêmica.

Léo Jardim em jogo contra o Atlético-MG
Léo Jardim em jogo contra o Atlético-MG (Foto: Daniel Ramalho/Vasco)

Engessados numa regra pesada e numa disputa desigual contra batedores. A 11 metros de distância, eles precisam evitar o gol, bem comportadinhos, entre 7,3 metros de raio e 2,4 metros até a trave para cima. É um resumo do que passam os goleiros diante da atualização da regra em disputa de pênaltis. De acordo com o novo texto da IFAB – a associação internacional da Fifa que regula as leis no campo de jogo -, o goleiro não pode “se comportar de forma a distrair injustamente o cobrador”.

A alteração provocou reações diversas entre os goleiros. A mudança tem muito a ver com o goleiro campeão do mundo, Emiliano “Dibu” Martinez, que provocava, dançava e esbanjava confiança. No Brasil, a esmagadora maioria dos goleiros lamentou a regra.

Curiosamente, alguns preferiram não se manifestar publicamente – temerosos de qualquer tipo de retaliação -, mas os poucos que deram entrevista ao ge foram enfáticos, como já havia sido Gabriel, goleiro do Coritiba:

– Eu até perguntei: “cara, eu não posso me movimentar?” “Não, você não pode tirar a atenção do atacante, não pode…” Daqui a pouco vão engessar o goleiro e falar para o cara bater – ironizou Gabriel, do Coritiba, ao ge.

Assista ao depoimento dos goleiros

Ele sofreu gol de pênalti na primeira rodada, no Maracanã, na derrota para o Flamengo por 3 a 0, num duelo particular contra Gabigol, um especialista com aproveitamento altíssimo em toda a carreira. Mas a mudança já faz efeito nesta disputa, muitas vezes mental, entre o batedor e o goleiro.

De acordo com levantamento do Espião Estatístico do ge, entre clubes apenas da Série A – contando tempo regulamentar e disputa de pênaltis -, houve aumento de 12,4% na eficácia dos batedores, indo a quase 90% de aproveitamento nas 34 penalidades desde que a regra passou a valer, no dia 11 de abril.

Compare

Pênaltis de times da Série A em 2022

  • 417 cobranças
  • 316 convertidas
  • 75,8% de aproveitamento
  • 101 cobranças perdidas (24,2%)
  • 76 defendidas (18,2%)
  • 13 trave/travessão (3,1%)
  • 12 para fora (2,9%)

Pênaltis de times da Série A em 2023 (de 11/04 a 01/05)

  • 34 cobranças
  • 30 convertidas
  • 88,2% de aproveitamento
  • 4 perdidas (11,8%)
  • 3 defendidas (8,8%)
  • 1 para fora (2,9%)

Santos, do Flamengo, Fábio, do Fluminense, Everson, do Atlético-MG, e Rafael, do São Paulo, cada um ao seu estilo, também protestaram sobre a mudança de regra.

– Eu não vejo uma regra para o batedor, só para os goleiros – resumiu o goleiro do São Paulo.

Rafael considerou haver muito rigor e exagero na alteração – “daqui a pouco o goleiro não vai poder fazer mais nada”:

– Não tem nenhuma norma falando que o batedor não pode vir devagar, fazer paradinha… Na verdade, são só regras que atrapalham o goleiro o tempo inteiro.

– Ali é um jogo mental. Eu acho que tem que ser realmente dentro de um limite, não pode retardar o jogo, mas também acho que a gente não pode ficar calado numa situação de só ficar parado. Acho que vale essa provocação, esse jogo mental. É do jogo, é do esporte, achei que foi muito pesada essa nova regra, porque acaba limitando muito as ações dos goleiros – comentou o jogador do São Paulo.

“Aumentou mais o tamanho do leão para os goleiros”

Goleiro mais velho em atividade na Série A, Fábio, de 42 anos, especialista em defesa de pênaltis, lembrou a evolução da posição, mesmo lamentando também a mudança.

– Tinha que facilitar mais, sempre dificulta né (risos). Não tem nenhuma regra que ajuda aos goleiros ter mera facilidade nas cobranças. Sempre a adversidade é cada vez maior – comentou.

– Mas acho que é pela evolução da posição, por isso também é algo positivo. Os goleiros estão se dedicando, a preparação de goleiros também, aí cada vez mais dificulta, cada vez mais se tem maior envergadura, agilidade, pelo trabalho, pelo biotipo de cada um. Infelizmente ficou mais difícil. Mas nunca é fácil para os goleiros. É matar um leão todo dia. Mas agora aumentou mais o tamanho desse leão – brincou o goleiro do Fluminense.

Everson, goleiro do Atlético-MG, tinha números na ponta da língua em cobrança de pênaltis – na ocasião da entrevista ao ge, no início do mês passado. Eram 10 cobranças de pênalti defendidas e 16 para fora (ou seja, que não entraram). Convocado por Tite durante a passagem do treinador pela Seleção, o goleiro também endureceu:

– O pênalti é um momento decisivo para o atacante, ele está ansioso para fazer o gol. Cada um usa da sua artimanha, desse jogo mental na penalidade. A gente só fica um pouco magoado, acho que posso usar essa palavra aqui, porque o goleiro não pode conversar com o atacante, o goleiro não pode fazer uma provocação com o goleiro. O atacante quando faz gol pode provocar o goleiro. Então, a gente vê que cada vez mais eles estão querendo que saia gol. É claro que o gol é momento mais bonito do futebol, mas o goleiro é uma peça importante para o jogo – comentou Everson, que vai seguir com estudos dos adversários para compensar a desvantagem ainda maior.

Contratado pelo Flamengo no ano passado, Santos tinha aproveitamento considerado alto para goleiros em pênaltis no Athletico. No clube paranaense, das 78 penalidades que enfrentou, pegou 17, sofrendo 50 gols. O restante foi para fora ou bateu no travessão. Aproveitamento superior a 20%. No Flamengo, essa taxa por enquanto é bem menor.

– Eu acho bem complexo isso aí. De qualquer forma dificulta um pouco para nós, goleiros. A gente já está ali cara a cara com o atacante e não tem muito o que fazer. Fica um pouco mais puxado para o nosso lado, não poder distrair o batedor em algum momento. Mas é respeitar as regras e fazer nosso papel – disse, sobriamente, o goleiro do Flamengo.

O ge procurou a comissão de arbitragem da CBF sobre as recomendações, mas não teve retorno. Consultamos todos os goleiros da Série A, 14 responderam, 11 disseram que não concordam com a nova regra, dois preferiram não se manifestar e um considerou que a mudança é indiferente.

Veja a posição de cada um

Série A

  • Atlético-MG – Everson – contrário
  • Bahia – Marcos Felipe – preferiu não se manifestar
  • Coritiba – Rafael – contrário
  • Cuiabá – João Carlos – contrário. Walter preferiu não se manifestar
  • Flamengo – Santos – contrário
  • Fluminense – Fábio – contrário
  • Fortaleza – Fernando Miguel e João Ricardo – contrários. Mauricio Kozlinski: indiferente
  • Goiás – Tadeu – contrário
  • Palmeiras – Weverton – contrário
  • Santos – João Paulo – contrário
  • São Paulo – Rafael – contrário
  • Vasco – Leo Jardim – contrário

Fonte: Globo Esporte

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1 comentário
  • Responder

    Eu acho justo a proibição, do mesmo jeito que os batedores foram proibidos de dar paradinhas na HR de bater, aí vcs não falam nada né porque os favorece…

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