Jornalista exalta apoio da torcida após acesso do Vasco à Série A
O jornalista Douglas Ceconello exaltou o apoio da torcida do Vasco da Gama após o Clube conquistar o retorno à Série A.
O relógio já andava próximo dos 45 do segundo tempo no estádio Novelli Junior e, mesmo que houvesse um gol de lambuja no placar, os vascaínos estavam receosos em transformar as laringes em trombone para enfim anunciar o retorno à primeira divisão. Era compreensível — a torcida vascaína sabia com o que estava lidando, um time que insistia em cambalear mesmo sendo carregado no colo. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça, como diria algum filósofo niilista sentado num boteco de São Cristóvão que amanhã vai se dar ao direito de emitir um único sorrisinho maroto — com os olhos, que seja.
Porque o maior acerto do Vasco na campanha do acesso foi um dia ter construído São Januário, templo futebolístico, etílico e cultural sem o qual o retorno seria impossível. Em sua casa, os cruz-maltinos eram praticamente empurrados rumo à vitória na base do assopro, da forma que fosse — e, quando acontecia, ninguém sabia exatamente como veio. Até olhar para a arquibancada e observar o imenso movimento popular que conseguia arrastar aquelas camisas pelo campo. Futebol mesmo, talvez o Vasco tenha jogado durante uns oito minutos nos 38 jogos da campanha.
Fora de casa, o time sentia-se como quem acorda dentro do ônibus em uma cidade estranha. E neste domingo lá estava a cosmopolita e exagerada Itu, tentando dar contornos ainda maiores para a desventura vascaína desses últimos anos. Grande parte da tensão acabou dissipada quando o zagueiro Lucas Dias recebeu vermelho logo aos dois minutos por cometer pênalti, convertido de forma catedrática por Nenê. No restante do jogo, no entanto, o Vasco tratou de reconstruir a imensa parede de agonia — suspiro sobre suspiro, ganido sobre ganido. Afinal de contas, mesmo com um jogador a mais, nunca conseguiu controlar a partida. Bem pelo contrário: o Galo de Itu estava desasado, mas era valente. E, após a expulsão de Andrey Santos, com praticamente todo o segundo tempo pela frente, o técnico Jorginho mexeu no time aparentemente com a única intenção de se recolher como um pardal que prevê o aguaceiro.
Por essas circunstâncias acima expostas, quase ao fim do jogo os vascaínos estavam ferrenhamente reticentes em relação à felicidade que teimava em lhes bater à porta — parecia impossível não levar dois gols em três minutos. Acontece que para subir o Vasco precisou jogar contra tudo e contra todos (e, sobretudo, contra o próprio Vasco). O único que tomou as medidas adequadas e fez tudo certo foi o torcedor vascaíno, que desde a primeira rodada escolheu entrar numa espécie de transe — transformou a esperança em desvairada crença, desprezando os fortes indícios da realidade impiedosa que emergiam a cada escalação anunciada, a cada substituição de Jorginho ou a cada gol do Sampaio Corrêa. Talvez justamente por isso, exatamente no momento em que a hipnose já estava para acabar, o torcedor se mostrasse tão cético em relação ao que os olhos insistiam em lhe mostrar. Provavelmente conferia o cronômetro e pensava, ainda que sem conseguir formular o pensamento: “Não acredito que fiz tudo isso sozinho”.
Fonte: Blog Meia Encarnada