Jair Pereira recorda Carioca pelo Vasco e convívio com Dener
O técnico Jair Pereira recordou a conquista do Campeonato Carioca de 1994 pelo Vasco e falou da saudade do ex-jogador Dener.
A conquista do Campeonato Carioca de 1994 pelo Vasco traz para Jair Pereira uma grande recordação: o convívio com Dener. Ao “De Casa com o LANCE!” da última terça-feira, o técnico recordou que a chegada do meia a São Januário exigiu muita calma.
– O Dener era um cara muito engraçado, alegrava o ambiente, coisa que me ajudava, porque eu sempre procurei fazer treinamentos que fossem agradáveis aos meus jogadores. Mas o início foi meio difícil. Ele vinha da Portuguesa, do Grêmio, onde era tratado como astro, mas chegou em um lugar no qual eu tratava com firmeza. Ele era técnico, habilidoso, mas tive que conversar com ele: “você veio para cá para ser campeão, mas o vestiário é meu” – afirmou.
O cartão de visitas do camisa 10 proporcionou uma reação que surpreendeu Jair Pereira.
– A gente fez dois amistosos na Argentina, contra o Newell’s Old Boys. Eles tinham até o Maradona na equipe… Aí o Dener driblou todo mundo e voltou com a bola. Eu falei: “pô!”. Ele me disse: “professor, sabe de uma coisa? Prefiro chutar uma bola na trave a fazer um gol, me dá mais uma sensação” – declarou.
O treinador recordou que teve de lidar com o temperamento do camisa 10. Inclusive, Dener acabou gerando uma situação inusitada nos bastidores do clube.
– Ah, chegava atrasado a treino, tive que falar com ele e começou a mudar isso… Agora, teve uma história engraçada na hora da pesagem, que é quando o jogador fica de sunga e vai para a balança. O Silveira (funcionário do Vasco que faleceu em março deste ano) falou: “Dener, vem pesar!”. Ele deu azar que eu estava chegando. Aí perguntei: “Como é que é, Dener?”. Aí ele foi e disse: “Não, eu estava brincando, vou pesar sim” (risos) – disse.
Jair Pereira revelou que chegou a dar um alerta ao meia em relação às viagens que fazia para São Paulo. Dener dormia com o banco de seu carro reclinado na madrugada do dia 19 de abril de 1994 quando seu amigo Oto Gomes Miranda dormiu ao volante, às 5h30. O veículo colidiu com uma árvore na Lagoa Rodrigo de Freitas e o camisa 10 morreu aos 23 anos asfixiado pelo cinto de segurança com a batida.
– Ele tinha mania de toda sexta-feira ir para São Paulo. Eu falava “não vai de carro, vai de avião”. Olha, se tivesse me ouvido, talvez não tivesse morrido – e, em seguida, é categórico:
– Esse cara ia para a Seleção, ia ficar milionário! Os próprios companheiros gostavam dele, sabiam que com o Dener a vitória estava garantida – completou.
Aos 74 anos, o ex-treinador do Cruz-Maltino contou o desafio de manter a equipe na briga pelo título. Uma delas foi dentro de campo.
– Entrou o Jardel, tivemos que mudar nosso sistema de jogo, pois ele atuava mais enfiado. Aí é preciso você conhecer bem os jogadores que tem à disposição e colocar em campo – disse.
Aos seus olhos, a vivência do elenco falou mais alto para o Vasco se consolidar em campo e garantir o tricampeonato estadual.
– O Ricardo Rocha ajudou muito. Os jogadores mais experientes, o (Alexandre) Torres, o Carlos Germano abraçaram o clube. Falamos que “vai fazer muita falta, mas temos de ir para frente, tem um título em jogo”. Tanto que perdemos para o Flamengo, mas depois colocamos a cabeça no lugar, vencemos o Botafogo e conquistamos o título ao vencer o Fluminense – e, em seguida, detalhou:
– O time era muito bom. Tinha o Dener, Ricardo Rocha, o Valdir que era fantástico, o Pimentel, Luisinho, Leandro. O segredo é você saber escolher bem os jogadores. Por mais que tenha conhecimento técnico e tática, você tem de saber selecionar o time – completou.
Lancenet