Horácio Junior analisa história de Barbosa e diz: ‘Vascaíno tomou as dores do Barbosa’

O vice de Responsabilidade Social e História do Vasco, Horácio Junior, fez questão de desacatar o carinho da torcida vascaína com Barbosa.

Barbosa é um dos grandes ídolos do Vasco
Barbosa é um dos grandes ídolos do Vasco (Foto: Arquivo Nacional)

Quando era estagiário no jornal “O Estado de S. Paulo”, em 2000, fui encarregado de parte do material de 50 anos da Copa do Mundo de 1950. O editor me pediu que entrevistasse o zagueiro Juvenal porque este era apontado como um dos culpados no fatal gol de Ghiggia que deu o título ao Uruguai. Achei Juvenal por telefone e ele atendeu ranzinza: reclamou que, depois que morreu o goleiro Barbosa, ligavam sempre para ele para repercutir as “falhas” naquela final. Era ele e Bigode, os dois zagueiros.

De fato, o goleiro Barbosa respondeu a vida inteira como tinha “falhado” naquele chute. Só que para os vascaínos, aqueles que o conheciam melhor, era um ídolo, provavelmente o maior goleiro da história do clube, figura marcante no time histórico do clube, o Expresso da Vitória, das décadas de 40 e 50.

Não por acaso, neste sábado em que o ex-jogador faz 100 anos, o Vasco lhe faz uma justa homenagem nas arquibancadas. Está lá escrito o nome de Barbosa com o número 100, entre outras ações. O CT do clube já tem o nome do goleiro.

“Sem nenhum estímulo comercial externo sugerido pelo clube, o vascaíno tomou as dores do Barbosa”, analisou o vice de Responsabilidade Social e História do Vasco, Horácio Junior. “A torcida vascaína de forma espontânea disse que esse cara não pode carregar essa cruz sozinho. O vascaíno muito mais ciente de suas conquistas resolveu abraçar o Barbosa. Nenhum jogador da época tem esse carinho. Eu apostaria mais nessa indignação (do que na questão de luta antirracista). O que fizeram com ele foi uma sacanagem. É um sentimento de defesa, de acolhimento”.

Horácio Junior lembra que, quando o Brasil levou de 7 a 1 da Alemanha, não houve apenas um culpado pelo fiasco. É fato que Felipão levou uma carga negativa, que Thiago Silva foi achincalhado por se emocionar, mas todos seguiram suas vidas, voltaram a jogar.

Barbosa continuou no Vasco e fechou sua carreira com seis Estaduais e o título Sul-Americano de 1948. Lembremos que os campeonatos locais eram os mais relevantes naquela época. Mas seguiu respondendo só sobre seu suposto erro. Ao se analisar as imagens possíveis daquele lance, nem sequer dá para ter certeza que houve uma falha, em um chute rápido que quica.

Para Horácio Junior, a “sentença” contra Barbosa é uma construção coletiva que tem a ver com a mídia, embora não seja exclusiva dela. Lembra como o escritor Nelson Rodrigues falava em seu “frango” – Nelson, diga-se, que admitia assistir mal aos jogos. “A mídia cria uma memória coletiva. Não dá para cravar que a mídia culpou o Barbosa. Mas o que acontece: pessoas como Armando Nogueira falam ‘absolvo mais ainda o Barbosa quando vejo o lance’. Uma coisa esquisita: ele é um juiz para fazer esse tipo de julgamento?”, questionou o dirigente vascaíno.

A ponto de o goleiro ter sido barrado de um treino da seleção na década de 90 porque o então técnico Carlos Alberto Parreira não queria que ele fosse visto ao lado de Taffarel.

Há a óbvia discussão se a perseguição a Barbosa era fruto do racismo estrutural no Brasil e no futebol. Não esqueçamos que goleiros negros passaram a sofrer certo preconceito no futebol como qualquer um que acompanha futebol antigamente pode constatar. Um goleiro como Dida ajudou a espantar isso, o vascaíno Hélton também.

Há a óbvia discussão se a perseguição a Barbosa era fruto do racismo estrutural no Brasil e no futebol. Não esqueçamos que goleiros negros passaram a sofrer certo preconceito no futebol como qualquer um que acompanha futebol antigamente pode constatar. Um goleiro como Dida ajudou a espantar isso, o vascaíno Hélton também.

“Hélton sofreu (esse preconceito), o Lucão sofreu. Tem que ser (negro) para sentir, então, não posso falar. Ser branco é um privilégio. São experiências diferentes. Acredito que boa parte disso daí foi um racismo estrutural, embora nunca ninguém tenha falado”, lembrou Horário Junior.

O Vasco tem os seus laços históricos na defesa contra o racismo pela sua recusa em disputar o Carioca sem negros na década de 20. Mas o acolhimento a Barbosa, que vem talvez nos últimos dez anos, tem mais a ver com uma reação à perseguição. E um movimento de fora para dentro, da torcida para dentro do clube.

Os vascaínos não absolveram Barbosa porque ele nunca foi culpado, mas lhe deram um carinho que lhe foi negado em vida. Talvez seja uma lição para a forma como vemos o futebol.

Fonte: Blog do Rodrigo Mattos

Comente

Veja também
Escalação do Vasco contra o Fluminense

Confira a escalação do Vasco da Gama contra o Fluminense na partida deste sábado, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro.

Vasco confia na vitória contra Ramón Díaz na Justiça

A diretoria do Vasco demonstra confiança total em um desfecho favorável em disputa judicial contra Ramón Díaz.

Vasco tenta quebrar tabu de 7 anos contra o Fluminense

O Vasco não vence um clássico contra o Fluminense como visitante desde 2018, e tenta quebrar o tabu neste sábado.

Nome de Rafael Tolói volta à pauta no Vasco

A diretoria do Vasco da Gama voltou a conversar com o estafe do zagueiro Rafael Tolói após aprovação de Fernado Diniz.

Mateus Carvalho será titular contra o Fluminense

O volante Mateus Carvalho treinou entre os titulares do Vasco na atividade de sexta-feira e será titular contra o Fluminense.

Relacionados do Vasco contra o Fluminense

Confira os jogadores do Vasco da Gama relacionados para o jogo contra o Fluminense, neste sábado, pelo Campeonato Brasileiro.

Desfalques e pendurados do Vasco contra o Fluminense

Confira os desfalques do Vasco da Gama para o clássico contra o Fluminense neste sábado, no Maracanã, pelo Brasileiro.

Fernando Diniz e Renato Gaúcho se enfrentam pela 11ª vez; veja números

Fernando Diniz e Renato Gaúcho se enfrentam neste sábado no clássico entre Vasco e Fluminense, pela 10ª rodada do Brasileiro.

Vasco x Fluminense fazem clássico em reencontro de treinadores e clubes

Fernando Diniz e Renato Gaúcho têm semelhanças dentro e fora de campo e voltam ao comando de Vasco e Fluminense.

Veja quais jogadores têm mais chance de fazer gol em Fluminense x Vasco

O Vasco da Gama enfrenta o Fluminense neste sábado e deposita todas as fichas em Vegetti para balançar a rede.

Sair da versão mobile