Frases marcantes de Luxemburgo não surtiram efeito no Vasco; relembre

O técnico Vanderlei Luxemburgo retornou ao Vasco da Gama com falas marcantes, porém não surtiu o efeito esperado em campo.

Vanderlei Luxemburgo
Vanderlei Luxemburgo (Foto: ge)

“Campeonato de 12 jogos”, “Talles vai voltar a jogar”, “o primeiro ponto é não tomar gol”, “o campeonato está manchado”…

O iminente quarto rebaixamento do Vasco para a Série B é o primeiro de Vanderlei Luxemburgo, o treinador mais vitorioso do Brasileirão. Além dos cinco títulos e das sete classificações para a Libertadores (nos pontos corridos), normalmente com times ofensivos e de futebol vistoso, o técnico ficou marcado por frases chamativas. O discurso que mescla questões táticas com a linguagem boleira desta vez não surtiu o efeito desejado.

Desde o dia 4 de janeiro, quando foi apresentado, Luxa concedeu 14 coletivas, fez dois pronunciamentos e falou por um total de 343 minutos. Foi engraçado, usou palavrões, confrontou a imprensa, reconheceu erro, reclamou da arbitragem, exaltou a grandeza do Vasco e apontou o caminho que imaginava ser o correto para a manutenção na Série A.

O ge revisitou as falas do comandante e, especialmente a partir do diagnóstico da situação feita na primeira manifestação pública, mostra o que não deu certo no trabalho de pouco menos de dois meses.

Campeonato próprio de 12 jogos

Vanderlei Luxemburgo assumiu o Vasco em 17º lugar, portanto, na zona de rebaixamento após a demissão de Ricardo Sá Pinto – este havia sido contratado para o lugar de Ramon Menezes, efetivado depois da saída de Abel Braga. Faltando 12 jogos para o término da competição, o treinador, ao traçar o objetivo de manter o time na Série A, traçou um campeonato particular.

“Qual é nosso objetivo? Um campeonato de 12 jogos para sermos campeões ou vices. Assim, com certeza, o Vasco continua na Primeira Divisão”.

Últimos 10 clubes colocados antes da estreia de Luxemburgo
Últimos 10 clubes colocados antes da estreia de Luxemburgo (Foto: ge)

Não foi o que aconteceu, e o Vasco teve um dos piores desempenhos, mesmo entre os times da parte de baixo da tabela desde a chegada do treinador.

Campeonato particular de Luxemburgo
Campeonato particular de Luxemburgo (Foto: ge)

Priorizar confrontos diretos contra o Z-4

“Temos confrontos diretos, né? A nossa manutenção passa muito por esses jogos”.

Na coletiva de apresentação, Luxa foi questionado sobre confrontos diretos, ou seja, duelos contra equipes da parte de baixo da tabela. Das 12 partidas, o Vasco enfrentaria sete equipes que estavam entre as dez últimas posições quando da estreia do treinador. O desempenho foi ruim:

5 pontos, ou seja, 27% de aproveitamento (uma vitória, dois empates e três derrotas).

  • Atlético-GO: 0 a 0
  • Botafogo: vitória por 3 a 0
  • Coritiba: derrota por 1 a 0
  • Bragantino: derrota por 4 a 1
  • Bahia: 0 a 0
  • Fortaleza: derrota por 3 a 0
  • Goiás: última rodada

Recuperação de Talles

“Talles foi lançado aqui com 16 anos. Todo moleque passa por altos e baixos. Ele é um menino bom, ouve. Tenho certeza de que vai voltar a jogar o que jogava. É questão de confiança. Ele é irreverente, é indolente na arte de jogar futebol. Se disser que ele não pode driblar, que tem de passar de primeira e que não pode dominar no peito, esquece. Ele não vai jogar. Tem de deixar fazer o que os outros não conseguem, ser diferente”.

Não foi na gestão de Luxemburgo que o problema surgiu. Desde o começo da temporada, Talles esteve abaixo da expectativa no Vasco: o jovem não conseguiu repetir as atuações que o alçaram ao posto de promessa em 2019.

Mesmo com o apoio, o atacante não recuperou o bom futebol. Com Luxa, marcou apenas um gol no Brasileiro. Antes da chegada do treinador, tinha gols dois e uma assistência. O técnico chegou a perder a paciência, após muito tempo com elogios ao garoto, e o deixou no banco em duas rodadas – foi titular em nove (números que podem mudar caso ele atue diante do Goiás na quinta-feira).

Mais frases de Luxa sobre Talles:

“Talles tem de se reencontrar com a vontade e a motivação”.

“Existe uma campanha muito forte contra o Talles, mas ele é patrimônio do clube”.

“Futebol é assim: se eu coloco o Pec e ele vai mal, vocês falam assim.. não tem de ver o outro?”

“Falei para o Talles, que ele tinha de driblar. Jogador como ele não pode ser feijão com arroz”.

Defesa deixa a desejar

“O primeiro ponto para ganhar é não tomar gol. No futebol, se tem três resultados: ganhar, perder ou empatar. Sem sofrer gol, você já tem um resultado, que é o empate. Se fizer meio a zero, se ganha três pontos. Três vitórias são nove pontos, e isso acrescenta muito no que queremos. O time pode ser reativo ou ativo, o mais importante é termos 11 jogadores em campo evitando que o adversário faça um gol na gente. Até porque um gol nosso vai sair. Temos um artilheiro, que coloca a bola para dentro se ela chegar”.

Se nos dois primeiros jogos com o treinador o time não sofreu gol, a reta final mostrou queda da rendimento. Em 11 partidas sob comando de Luxa, o Vasco sofreu 15 e marcou oito gols. Saldo de sete negativo (números que podem mudar de acordo com a última rodada).

Em 2019, quando salvou o Vasco da queda, Luxa conseguiu fortalecer a defesa. Agora, teve dificuldades. Logo no primeiro jogo, não pôde escalar Ricardo Graça, que precisou operar o apêndice. Apostou em Werley e Leandro Castan, mas o primeiro logo se machucou também.

Marcelo Alves e Castan, então, formaram a dupla mais usada. Em todo o ano, contando os outros técnicos, 12 formações diferentes foram testadas. Com 54 gols sofridos em 37 rodadas, é a terceira pior defesa do campeonato.

Apoio da torcida

A tentativa frustrada de contratar Zé Ricardo, como substituto de Sá Pinto, fez a torcida do Vasco defender a volta de Luxa. Antes do contato, o treinador se manifestou nas redes sociais dizendo não ter sido procurado. Ao assumir o cargo, lembrou do carinho pela passagem de 2019, quando conseguiu manter o Vasco na Série A.

“Único mulambo (referência a flamenguista) que eles gostavam. Então, poxa, essa é a resposta deles sobre o carinho comigo”.

Luxa tentou canalizar esse apoio ao grupo de jogadores da rede social – dada a impossibilidade de ter público nos estádio, um efeito da pandemia:

“Há um problema agora com o Vasco e todos os clubes: não temos o torcedor no estádio. Temos de buscar motivação própria. Agora, a torcida tem a mídia social. Se os caras meterem a porrada na gente, mete ao contrário. Nós precisamos de elogio. Torcida, nos apoiem na mídia social”.

Aconteceu. Houve apoio até físico. Após a vitória sobre o Atlético-MG, a torcida cercou o carro do treinador na saída de São Januário, o que gerou aglomeração. Para o jogo contra o Corinthians, a torcida lançou a #MilagreDeItaquera. E, claro, também houve cobranças e críticas ao técnico.

Desafio, ambiente e trabalho

Logo na apresentação, dada a situação do Vasco, ele disse “não ser covarde”. Tampouco tratou o trabalho como desafio. Disse ser uma convocação: “Quem tem competência não se sente desafiado”.

“Senti o ambiente tenso. Quero um ambiente responsável, mas não tenso. O Vasco precisa de trabalho”.

Houve trabalho. Com Luxa, o elenco passou a treinar mais, inclusive em período integral. Folgas foram cortadas, as viagens passaram a ser com dois dias de antecedência.

Política e salários deixados de lado

Luxa disse que iria fazer e realmente fez: blindou o grupo da instabilidade política e das reclamações de salários atrasados. Os dois assuntos não apareceram tanto em entrevistas.

“Não existe pacto. Isso é conversa fiada. Nosso compromisso é manter o Vasco na Série A. Não queremos saber de salário, de política. Torcedor, eu não faço curva. Estou aqui com os jogadores para dizer que nosso objetivo é ficar na Série A”.

Recuperação da Covid-19

Antes de assumir o Vasco, Luxa foi diagnosticado e se recuperou da Covid-19. Ficou com uma sequela: muita tosse ao falar. O treinador superou a dificuldade, jamais se abateu com a limitação e ainda teve o papel de alertar para os riscos da doença.

“Ela (a p…) continua viva. Nem o Covid deixou ela sonsa, não. Continua olhando para o céu. Esse negócio é complicado, falar para a população usar máscara”.

O assunto foi recorrente nas entrevistas.

“A Covid afetou meu pulmão. Se eu falar muito, vem um pigarro, sinto falta de ar, por isso a tosse. Vamos esperar o tempo certo para beber um vinho e uma cachaça. Falo e tenho vontade de tossir. Covid, seu filho de uma égua”.

Flamengo em outro patamar

Ao enfrentar o Flamengo, Luxa mudou o time. Sacou Talles e escalou Gabriel Pec. Não deu certo. No intervalo, mudou a estratégia e até substituiu Benítez. O Vasco melhorou no segundo tempo, mas foi insuficiente. Derrota por 2 a 0 e muitas explicações a dar. Uma delas, aliás, pegou mal, ao lembrar uma expressão usada pelo atacante rubro-negro Bruno Henrique em 2019.

“Jogo do Flamengo você descarta, claro que você quer ganhar pela rivalidade, por tudo que envolve um clássico Flamengo e Vasco, mas o Flamengo está brigando por outro patamar”.

No dia seguinte, ao completar a coletiva do pós-jogo, cancelada por conta de um problema técnico, o treinador tratou de dizer que os clubes são equivalentes em grandeza, mas atualmente disputam objetivos diferentes no Brasileirão.

Reclamação contra a arbitragem

A primeira reclamação contra a arbitragem aconteceu no 4 a 1 diante do Bragantino. Luxa reconheceu que o Vasco foi inferior, mas apontou a falta de critério de Leandro Vuaden. No entender do técnico, o árbitro deveria ter marcado falta em Andrey no lance do terceiro gol do time paulista.

O tom subiu no empate sem gols com o Bahia. Se reconheceu ter sido correta a expulsão de Castan, o técnico disse que Gregore deveria ter levado vermelho por falta em Benítez. Leonardo Gaciba, chefe da Comissão Nacional de Arbitragem, foi o alvo.

“O Gregore deveria ser expulso, foram dois pesos e duas medidas. Gaciba, não pode arrumar desculpa”.

Posteriormente, a CBF admitiu o erro do árbitro Wilton Pereira Sampaio. Postura diferente da adotada no jogo contra o Internacional. Em nota oficial, a entidade disse que pediu esclarecimentos à empresa responsável pela operação do VAR quanto à falha técnica que impediu o uso das linhas de impedimento no primeiro gol colorado. A CBF afirmou que, mesmo assim, o lance foi checado pelo VAR e não houve erro constatado. O Vasco alega que o volante estava impedido. O caso motivou pedido de anulação do jogo no STJD, algo ainda em análise.

“A linha não funciona, e o Gaciba vem com cascata. O campeonato está manchado por todos os erros”.

Responsabilidade?

Antes do Vasco, Luxa trabalhou no Palmeiras. Começou o ano, foi campeão paulista e acabou demitido apesar da melhor campanha na Libertadores. A equipe paulista foi campeã sul-americana, com o português Abel Ferreira. Perguntado se poderia se considerar campeão, o treinador do Vasco negou. E lembrou o ano de 2002, quando saiu no começo do Brasileiro no qual o Verdão seria rebaixado.

“Quem ganhou foi ele. A minha ajuda foi até aquele momento, deixei o Palmeiras líder geral, isso foi importante para a sequência de jogos. As pessoas me responsabilizam pela queda do Palmeiras pois eu saí. Como culpado? Palmeiras teve todo o campeonato pela frente. É como agora: quem foi campeão foi o Abel”.

Após o jogo contra o Corinthians, Luxa respondeu dessa forma quando questionado se o trabalho no Vasco era o pior da carreira:

– Assim você está pegando pesado demais, você não pode me responsabilizar pela queda em 12 jogos. Eu não posso fugir da responsabilidade, mas você vir com uma pergunta agressiva… Não cabe, cara. Minha proposta foi ajudar o Vasco da Gama em 12 jogos, e você não reconstrói uma equipe em 12 jogos. É muito pouco para colocar tudo em prática. Você esbarra daqui e ali. Me permita divergir de você. Tenho parcela de culpa porque sou responsável.

Outras frases marcantes

“Discussão (em campo) tem de ter. Não estamos em igreja ou teatro. É futebol”.

“O Henrique, o pessoal pega no pé dele. Falei para ele colocar algodãozinho no ouvido e jogar”.

“Agora é ‘pijama training’, alimentação e descanso”.

“Se o Werley jogar não achando que é o melhor do mundo, é eficiente. A simplicidade é fundamental, ele jogou o feijão com arroz”.

“Vocês (jornalistas) só veem o que não dá certo”.

“A análise é sempre pelo lado negativo. Se o Benítez saiu e o time melhorou, a substituição foi boa”.

“Léo Matos jogou muito tempo na Rússia, lá o couro come. Então, por isso, ele tem excesso de força e faz muitas faltas”.

Fonte: Globo Esporte

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