Entrevista de Felipe sobre crise na Taça Guanabara

Na "era Paulo César Gusmão", sobrou para ele e Carlos Alberto servirem de bode expiatório no Vasco.

Ele já foi chamado de “presidente da resenha” no Vasco. Experiente, bem-sucedido, o colecionador de títulos Felipe, de 33 anos, é o avesso do garoto de temperamento forte do começo de carreira em São Januário. Pela proximidade com Edmundo, chegou a ser rotulado, certa época, de Animalzinho. Mas o tempo se encarregou de curá-lo do comportamento rebelde. Casado, pai de dois filhos, o tranquilo Felipe é um dos líderes da equipe. Ainda assim, teve o prestígio abalado no começo da temporada.

Se hoje o meia é incontestável na equipe campeã da Copa do Brasil, quando Paulo César Gusmão ainda era o treinador, sobrou para ele e Carlos Alberto servirem de bode expiatório pelos maus resultados no Campeonato Carioca. Afastado do grupo, teve de treinar à parte. Nesta entrevista ao iG, Felipe revela sua mágoa com o episódio. Conta que até hoje nunca lhe esclarecem a punição e mostra desapontamento com PC Gusmão.

Felipe lembra que nos mais momentos mais delicados do treinador, partiu em sua defesa. Mas lá na frente, soube que o comandante queria demiti-lo. Na noite desta quarta-feira, o Vasco enfrenta o Corinthians, no Pacaembu, pela oitava rodada do Campeonato Brasileiro. O clássico terá um charme especial, pois marcará a estreia de Juninho Pernambucano, que volta ao clube que o projetou para o futebol dez anos depois de um demorado até breve. Felipe analisa a chegada do companheiro e comenta também as chances do time de brigar pelo título nacional.

iG: Há uma motivação extra para o jogo contra o Corinthians por causa da estreia do Juninho?
Felipe: Só de jogar contra o Corinthians, um time grande, de tradição, já é uma grande motivação. É o líder do campeonato. São vários ingredientes nesta história. E, claro, a estreia do Juninho, que é num momento importante.

iG: Você precisou se readaptar na sua volta ao futebol brasileiro. Acredita que Juninho terá as mesmas dificuldades?
Felipe: Apesar de o Juninho estar muito bem fisicamente, com certeza a gente vai fazer o possível e o impossível para ele render e fazer o melhor, porque, se ele fizer o melhor, o Vasco vai ganhar muito. Vamos ver em campo o que é o ideal para ele em termos de posicionamento.

iG: O time vai correr por ele?
Felipe: Os mais jovens, como Rômulo e Allan, vão dizer: “Deixa que a gente corre por você”. Mas, apesar de o Juninho estar com 36 anos, ele ainda corre como um garoto. E o grupo estará ali atento para ele poder desempenhar o melhor dele. Vamos, sim, ajudá-lo.

iG: E onde você acha que o Vasco vai ganhar com ele?
Felipe: Além da técnica e do talento, o Vasco vai ganhar muito nas bolas paradas. Antes, a gente só tinha o Bernardo. O Vasco, a curto prazo, será muito mais forte.

iG: Falando agora da arrancada do Vasco depois de um começo de temporada claudicante, o que foi determinante para aquela virada?
Felipe: A chegada do Ricardo (Gomes) motivou os jogadores. Ele ganhou respeito e a confiança do grupo com a maneira fixa, sincera, transparente. Sabe se impor sem dar um grito, sempre orientando. E também as chegadas do Diego Souza, Alecsandro, Leandro. Jogadores experientes, com bagagem, que arrumaram o time. O começo de temporada é complicado porqueo time volta das férias e os times pequenos já estão treinando desde o final do ano. A parte física fica comprometida.

iG: Você se sentiu bode expiatório quando foi afastado depois do jogo como o Boavista?
Felipe: Olha…Você ser afastado por indisciplina é uma coisa. Já fui punido por indisciplina. Mas, naquele momento, não fiz nada. Até hoje não tenho uma resposta para te dar.

iG: Isso faz quatro meses e até hoje não se justificaram?
Felipe: Se você for perguntar ao Roberto (Dinamite, presidente), ele vai dizer que não sabe quem pediu…Se você for perguntar ao Rodrigo (Caetano, diretor-executivo), ele vai te responder a mesmo coisa. Dizem que foi para me preservar.

iG: O que se passou na época?
Felipe: Começou a intenção do PC (Paulo César Gusmão, ex-treinador), que me tirou faltando cinco minutos para terminar o primeiro tempo contra o Boavista com o time perdendo por 2 a 0. Em cinco minutos, você não vai resolver nada. Podia esperar o intervalo. Na época, o time estava mal, a torcida criticava muito eu e o Carlos Alberto, os mais experientes. Acredito que tentaram botar a culpa em mim e tirar o foco de outras pessoas. Quando você é o principal jogador, tem o bônus e o ônus, entendo perfeitamente. Mas você ser punido pelo que você não fez é complicado.

iG: Como era a sua relação com o PC Gusmão?
Felipe: Profissional.

iG: Apenas profissional?
Felipe: Olha…Eu sempre procurei ser franco com todo mundo. Desde que comecei a jogar. Me lembro no Brasileiro, quando queriam tirar ele, eu fui a público e disse que ele era um grande treinador, que não tinha culpa de nada, que não merecia sair. Comprei a briga dele. Mas é complicado, sempre tratei ele com franqueza, e de repente na tua frente a pessoa tem uma postura e, por trás, é outra.

iG: E por que você diz isso?
Felipe: As pessoas no Vasco dizem que ele queria me mandar embora.

iG: Hoje, aos 33 anos e experiente, como você lida com as críticas?
Felipe: Não leio jornal há muitos anos. Mas não leio na vitória e na derrota. O Vasco ganhou a Copa do Brasil e eu não fui ler o que disseram de mim. Não vejo nada, mas os críticos estão fazendo o papel deles. Só não aceito perseguição. Às vezes, o cara não gosta de você e escreve um monte coisa sobre você, mas se esquece que você tem família, que tua esposa pode ler, teus filhos podem ler. Disso eu não gosto. Parei de ler jornal para evitar este tipo de chateação. Hoje me preocupo apenas em jogar e me concentro no meu trabalho. Prefiro ficar sem saber as coisas.

iG: Qual a sua avaliação sobre a atuação da imprensa no Brasil?
Felipe: Respeito o trabalho de todos, mas são um pouco exigentes. Querem resultado imediato e na minha opinião, em alguns casos, há tratamento diferenciado com os jogadores. Kaká, por exemplo: tem boa imagem, nunca vi criticarem ele pesado. O Ronaldo, pelo ídolo que foi e por tudo o que representou, estava gordinho no fim da carreira mas vocês ficavam cheio de preocupação para não manchar a imagem dele e falavam do peso dele com cuidado. Se fosse com outro jogador, o tratamento seria diferente.

iG: Onde você acha que o Vasco pode chegar neste Brasileiro?

Felipe: O Brasileiro é um campeonato diferente da Copa do Brasil . A Copa do Brasil é mata-mata. No Brasileiro, temos como administrar, manter a regularidade, ter um elenco forte, qualificado. É bom se reforçar com algumas peças porque se trata de campeonato longo, cheio de lesões. É, na minha opinião, o campeonato mais difícil. Para mim, sete, oito times estão em condições de lutar pelo título, e o Vasco está neste bolo. Acredito no Cruzeiro, no São Paulo, no Internacional, no Corinthians…Há muitas equipes qualificadas e em condições de brigar.

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