Éder Luís deixa fase ‘Chico Bento’ e vira malandro carioca em dois ano

Morador da Barra da Tijuca, Eder Luis não esconde que praia é a sua diversão na Cidade Maravilhosa. Para quem se acostumou com a fazenda desde cedo...

O dia 1º de agosto marca os dois anos do atacante Eder Luis no Vasco. Desde a estreia no empate sem gols com o Flamengo, passando pelo gol do título da Copa do Brasil em 2011, as emoções foram intensas e vieram acompanhadas de uma mudança no estilo de vestimenta e comportamento. O jogador não perde o jeito simples de quem foi criado até os 14 anos na comunidade de Almeida Campos, interior de Minas Gerais. Porém, já se permite ouvir um pagode, utilizar óculos de sol e até colocar gel no cabelo. Aos poucos, o apelido de “Chico Bento” – personagem criado pelo cartunista Maurício de Souza – fica para trás e dá lugar a malandragem carioca.

Morador da Barra da Tijuca, Eder Luis não esconde que praia é a sua diversão na Cidade Maravilhosa. Para quem se acostumou com a fazenda desde cedo, o mergulho no mar é quase que um ritual para o camisa 7 de São Januário. Na companhia da mulher Rose, dos filhos Luiza e Davi, o atacante de 27 anos segue o processo constante de adaptação ao jeito carioca de ser.

Os dois anos foram suficientes para colecionar histórias, relembrar bons momentos e até revelar algumas insatisfações. Durante 30 minutos, Eder Luis conversou com a reportagem do UOL Esporte na praia da Barra da Tijuca. Ainda sem saber o que está por vir, a certeza é a de que o grupo do Vasco que levantou a Copa do Brasil de 2011 resgatou a grandeza do clube e trouxe de volta a paixão do torcedor. “O Vasco estava carente de títulos. Muitas pessoas ficaram escondidas, os torcedores não tinham o mesmo gosto pelo time. Isso vai desanimando e conseguimos reencontrar essas coisas”, afirmou. Confira a entrevista exclusiva com Eder Luis:

A mudança no Rio de Janeiro

“A vida aqui é outra e a praia influencia muito. É o tipo de coisa que não tem como fugir. Conheci Belo Horizonte, São Paulo, Lisboa… Isso me fez aprender e ter o ritmo das cidades, mas quando estou de férias parece que nunca fui para a cidade grande (risos). É fácil acostumar com coisas boas. Sempre vou à praia, teatro, cinema… Vou a tudo que não tem muito lá em Uberlândia. Não pretendo morar aqui depois que deixar o Vasco. Quero voltar para a minha cidade pelos amigos e família. Mas depois que você conhece o Rio de Janeiro sempre vai querer voltar, isso pretendo fazer muitas vezes”.

Ajuda de Felipe e as dificuldades na cidade

“Conversamos muito e ele me ajuda com os lugares para sair com a família. Mas não deixo muito a Barra da Tijuca. Ele é daqui e conhece tudo. Quando cheguei minha esposa estava com medo do Rio de Janeiro e o Felipe foi importante na adaptação. O meu problema maior foi com o centro da cidade. Tomei um susto. Tive que ir lá, peguei o carro, mas não deu certo. Não consegui resolver nada e depois pensei se valeu a pena (risos). Voltei para casa e no outro dia fui de táxi. Quando tenho que sair da Barra chamo o táxi. Aqui dentro do bairro me viro, é muito fácil, estou adaptado demais (risos)”.

Apelido de Chico Bento dos companheiros

“Muita gente fala isso e não tem como esconder. Mas essas coisas vão acabando com o tempo (risos). Não sou muito fã e acho que não tem nada a ver comigo também. Muita gente fala que gosto de fazenda, mas levo na boa. Faz parte”.

A mudança no repertório musical

“Não tem como largar o sertanejo, a música da minha terra. Mas tenho que escutar muito o samba daqui do Rio de Janeiro e o pagode. É a música de vocês, não é? Escuto, mas procuro lembrar sempre de tudo o que gosto, as minhas raízes, a fazenda, não tem como. Presto atenção em tudo, mudo um pouco às vezes, mas sempre lembrando a minha terra”.

Resumo dos dois anos de Vasco

“Foi uma oportunidade e sempre considerei o Rio de Janeiro como o centro do futebol brasileiro. Foi uma escolha para a projeção de carreira. Era um momento em que fui para o São Paulo e depois voltei para o Atlético-MG. Tive destaques, fui para o Benfica-POR e fiquei um pouco escondido. O Vasco passava por uma dificuldade tremenda em 2010, mas pude aproveitar bem o primeiro ano, o seguinte e estender o contrato por mais quatro anos. Sei que acertei na decisão”.

Carência de títulos e quebra do jejum de oito anos

“O Vasco não era um time que brigava por títulos quando cheguei. A ideia era a manutenção na primeira divisão. Mesmo nas dificuldades conseguimos fazer as coisas acontecerem. O Vasco tem uma camisa muito forte, mas estava carente de títulos. Muitas pessoas ficaram escondidas, os torcedores não tinham o mesmo gosto pelo time. Isso vai desanimando e estamos reencontrando as coisas e brigando novamente. O futebol mudou muito, mas a torcida tem que ter orgulho do que estamos fazendo. Acredito que não somos um time brilhante, mas conseguimos chegar às decisões e isso precisa ser lembrado. O Vasco é um clube grande e merece”.

O gol do título da Copa do Brasil

“É bom fazer gol, mas o meu momento no Vasco desde a chegada é positivo. Não foi só isso. Fico feliz quando chego bem nos lugares. As pessoas falam muito comigo desse gol. Sem dúvida vai ficar na memória”.

A convivência com as vaias da torcida

“O torcedor tem todo o direito de gostar de um ou outro jogador. Mas acho que existe uma injustiça grande com alguns atletas. Tenho que ter paciência e saber conviver. Em alguns momentos você pensa realmente se vale a pena se sacrificar tanto e não ser valorizado como merece. É uma situação complicada, mas faz parte do futebol. Da mesma forma que existem os que não gostam também estão aí os que gostam. Não vale a pena jogar as coisas para o alto por causa disso. Nunca deixei de entrar em campo e fazer o meu melhor. Quando fui assinar o contrato novo apareceram propostas boas. Não falo isso para emocionar ninguém, mas quando você gosta do clube é diferente. O torcedor tem que pensar dessa maneira. Eu quis ficar no Vasco e não é por um jogo que time ou jogador não prestam. Por isso, o torcedor tem poucos ídolos no futebol atual. Recentemente, alguns jogadores estavam aqui, mas saíram chateados. Quando renovei e ouvi as primeiras vaias, pensei: “Será que valeu a pena ficar e ter deixado coisas boas?”. É difícil você entender, mas assinei por quatro anos e não me arrependo. Vamos pensar lá na frente e tentar ajudar ao máximo para que o time conquiste títulos. No futuro, se tiver que ficar ou sair tomamos uma decisão”.

As dificuldades encontradas para desempenhar o melhor futebol em 2012

“Ninguém consegue fazer uma coisa perfeita sem ter boas condições. Hoje, o Vasco não tem um campo para treinar e preservar o gramado para os jogos. Isso é fácil falar para quem está lá em cima. No Engenhão, as condições são muito difíceis. Isso complica muito a minha característica. Já me acostumei a ter um erro a mais do que os outros, é normal. Sempre acelero o jogo e tento o diferente. Se for apenas pegar a bola e tocar não vou errar. Em alguns momentos você não tem a condição ideal e erra ainda mais. Porém, sei que tenho futebol para reverter qualquer situação difícil”.

Título Brasileiro

“Estamos bem no primeiro turno, próximos do líder e isso torna as coisas mais fáceis. No segundo turno, as coisas mudam muito e temos grandes chances. Tem muita coisa pela frente, mas o nosso elenco é capaz de superar as dificuldades. Pedimos para que o torcedor nos apoie até o final nesse momento. Em muitos jogos a torcida pode ganhar e nos impulsionar para o título”

A convivência com Ricardo Gomes

“Foi um drama grande que ele passou com o AVC. Um cara que estava ao nosso lado, nos respeita e deu uma lição de vida enorme. Um ser humano que brigou com a morte de maneira fantástica. Essas coisas ensinam a batalhar sempre. O Ricardo está sempre de bom humor. É preciso sorrir para superar as coisas ruins. Torcemos para que ele volte e tudo possa dar certo. É um treinador muito bom taticamente e excelente para quem trabalha com ele. Realmente é uma exceção no futebol”.

A lição em dois anos de Vasco e Rio de Janeiro

“Persistir é a palavra nesses dois anos. Desde que cheguei foi assim. Nunca deixamos de trabalhar e batalhar pelas coisas boas. Os resultados estão acontecendo”.

uol

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